Pode não ser para todos ter estampado na roupa uma imagem de um ambiente paradisíaco de férias, mas é impossível negar a atração. Flores, vegetação e derivações que trazem mar ou animais em padrões pintados com muita cor são a receita chave de uma camisa havaiana ou aloha. A peça nasceu em pleno Pacífico e o nome denuncia que se tornou embaixadora do local de origem. Depois vieram os fãs, o sucesso e a conquista do mundo. A camisa havaiana tem uma história com pelo menos 90 anos e um lugar especial no guarda-roupa masculino.
O primeiro objeto da cultura havaiana a fazer sucesso no continente norte-americano terá sido o ukulele, através da música. Mas depois foi a vez da camisa havaiana e esta não só nunca mais saiu de moda como transcendeu fronteiras. A revista Smithsonian, publicação do Smithsonian Institute dedicada à ciência e à natureza, diz que as origens da camisa aloha estão “perdidas na história”, contudo os primeiros registos no Havai datam das décadas de 1920 e 30. A peça deverá a sua existência às mulheres japonesas, quando estas decidiram adaptar os tecidos dos quimonos em camisas de homem. Coloridas e floridas, tal como o próprio Havai, as camisas ganharam popularidade entre os turistas que as levaram nas suas bagagens de regresso ao continente, onde estas peças de roupa continuaram a espalhar o seu charme.
As camisas tinham-se já tornado num sucesso comercial, quando em 1941 o Havai passou de paraíso a inferno com os ataques japoneses a Pearl Harbour. Como tantas outras coisas, a produção de camisas esteve em pausa enquanto toda a indústria estava focada no esforço de guerra. Quando a moda das camisas regressou à normalidade, os elementos japoneses, como por exemplo as flores de cerejeira, caíram em desuso e deram lugar a motivos mais próprios da cultura local, contudo voltariam anos mais tarde.
Quando os oficiais que se deslocaram ao Havai durante a guerra regressaram ao continente levaram na bagagem a famosa camisa havaiana de recordação e lançaram toda uma nova onda de popularidade para a peça colorida. Nos anos 1960 a camisa aloha conquistou o país e alguns locais de trabalho até terão adotado a “Aloha Friday”, a sexta-feira em que o dress code incluía a colorida camisa. Nas duas décadas seguintes a peça começou a ser produzida em massa e a imagem de boa disposição e descontração, aliada a alguma exuberância, chegaram a atirar a “shirt aloha” para a categoria de roupa de fim de semana e de chefe de família em dia de churrasco.
Há coisas que não mudam e quando se trata de tendências de moda há dois tipos de empurrão que fazem milagres: as celebridades e o cinema e a camisa aloha chegou a ambos os universos. Elvis Presley no filme Blue Hawaii (1961), Nicolas Cage em Raising Arizona (1987), Leonardo DiCaprio em Romeu e Julieta (1996) e Brad Pitt em Era uma vez em Hollywood (2019), todos contribuiram e fazem, de certa forma, parte da história da camisa aloha. Se há alguma coisa que o antigo presidente Richard Nixon e a estrela pop da atualidade Harry Styles têm em comum, é esta peça de roupa. Os turistas que visitavam o Havai nas primeiras décadas do século XX eram ricos e famosos o que ajudou a dotar a peça de vestuário de uma certa classe e poder. E, quando chegou a aprovação do espião irresistível James Bond, as camisas com flores em muitas cores passassem a ser também peça digna de guarda-roupa de homem de ação.
Da imensa popularidade à vulgaridade foi um pequeno salto, mas a camisa Aloha conseguiu recuperar o estatuto e até tornar-se um ícone e referência cultural. No livro The Aloha Shirt (Patagonia, 2016) o autor Dale Hope conta a história desta peça num volume bem colorido que conta com uma série de conteúdos que vão de recortes de jornal e revistas a memorabilia, incluindo centenas de imagens de camisas. O Honolulu Museum of Art (HOMA) tem em exibição a exposição Fashioning Aloha, e até 1 de setembro vai contar a história dos 90 anos da camisa havaiana. A mostra parte da coleção de Linda Arthur Bradley, uma professora de história do traje da Universidade do Havai.
Importa não esquecer que a camisa havaiana é, afinal, uma peça com tradição enraizada no seu local de origem e existem por lá fabricantes locais da chamada “velha guarda”. Kahala afirma ter sido uma das primeiras marcas a produzir estas camisas. Fundada em 1936, no início, todas as camisas eram feitas por encomenda com tecidos dos quimonos. No site da marca contam que durante a guerra na década de 1940 a seda foi racionada e o rayon passou a ser o material de eleição. A textura acetinada manteve-se e os padrões passaram a incluir elementos típicos da zona, como os peixes, as palmeiras ou as flores.
A presença desta peça tornou-se tão comum e até impactante que, além das marcas dedicadas a produzi-la, há ainda as marcas de moda que não resistem à ocasional inspiração havaiana nas suas coleções e sobressaem nas passerelles as coloridas camisas. O selo dos prestigiados nomes da moda ajuda a camisa Aloha a manter o estatuto de objeto de desejo e o desafio da criatividade vivo.
Inspire-se em alguns modelos com o shopping da fotogaleria em cima.