‘Na Terra de Santos e Pecadores’
Realizado por Robert Lorenz, que trabalha com Clint Eastwood, Na Terra de Santos e Pecadores tem um jeito de western irlandês e é um filme de ação muito superior àqueles que Liam Neeson tem feito sucessivamente após o sucesso da série Taken. Ele é Finbar Murphy, um assassino profissional que vive numa vila costeira na Irlanda do Norte dos anos 70, e que, farto de mortes e apoquentado pela sua consciência, quer pendurar a arma. Só que a chegada inesperada de um comando do IRA, liderado por uma militante feroz e fanática (excelente Kerry Condon) vai complicar tudo. O argumento da fita põe a caracterização das personagens, o seu relacionamento e o dilema interior de Finbar acima da ação (que, quando eclode, é bem filmada e com um viés original), e Neeson está rodeado de “secundários” da melhor cepa (Ciarán Hinds no chefe de policia local, Colm Meaney no “patrão” de Finbar, e Jack Gleeson num jovem assassino que quer ir para Hollywood singrar na música). Do melhor que pode ver no género este ano.
‘Breves Encontros’/’O Longo Adeus’
A Midas Filmes propõe, num mini-ciclo, os dois primeiros filmes da realizadora russa Kira Muratova (1934-2028), que nasceu numa zona da Roménia hoje parte da Moldávia, e se naturalizou ucraniana após o fim da URSS e a independência da Ucrânia). Quer Breves Encontros (1967), quer O Longo Adeus (1971), foram vetados pelos censores comunistas e só se estrearam nos anos 80, e percebe-se porque é que estes ficaram desagradados e desconcertados. Ecoando com intensidade, no estilo visual e no modo de contar, as Novas Vagas ocidental e de Leste da altura, os dois filmes ignoram as normas, as rotinas e os estereótipos do realismo socialista, pondo em cena, com muito pouca ortodoxia formal, duas histórias que mergulham no quotidiano e nas relações de amizade, sentimentais e familiares das mulheres, nas suas dissonâncias e harmonias, e aspirações e frustrações (a própria Muratova interpreta uma das três principais personagens de Breves Encontros). Para começar a descobrir a obra desta importantíssima cineasta.
‘Motel Destino’
A nova fita do brasileiro Karim Aïnouz, autor de títulos como O Céu de Sueli, Praia do Futuro ou A Vida Invisível, competiu em Cannes este ano e tem como protagonista Heraldo (Iago Xavier), um marginalzeco em fuga do seu bando, que o considera responsável pela morte violenta de um outro membro. Heraldo encontra refúgio num motel manhoso da costa do Ceará em que vive, tornando-se no seu faz-tudo e acabando por se meter na cama com Dyana (Nataly Rocha) a mulher do proprietário. As personagens de Motel Destino são tão básicas como desinteressantes, a história é raquítica e repetitiva e o desenlace adivinha-se com mais de uma hora de antecedência, a banda sonora contínua dos gemidos dos hóspedes que usam o estabelecimento para encontros sexuais de ocasião torna-se insuportável rapidamente, e a atmosfera de miserabilismo berrante e encardido, e sexualidade chungosa e aluada que define o motel e domina o filme, não ajuda mesmo nada.
‘Terra Queimada’
Realizado pelo alemão de origem turca Thomas Arslan, este é o segundo de uma trilogia de filmes policiais protagonizada por Trojan (Misel Maticevic), um ladrão profissional solitário e errante. O primeiro, Nas Sombras (2010), pode ser visto na plataforma de streaming Filmin. Trojan está de volta a Berlim após alguns anos de ausência, e começa a perceber que também o mundo do crime está a mudar, e que as oportunidades para um criminoso da velha escola como ele estão a escassear. Os seus conhecidos e associados ou desapareceram, ou deixaram o ramo, e depois de não conseguir vender um conjunto de relógios Rolex que roubou, Trojan fica sem chão. Quem lhe vale é Rebecca, um antigo contacto que abriu uma empresa de consultoria mas continua a coordenar golpadas importantes, e o mete numa equipa que vai roubar um valioso quadro. Terra Queimada foi escolhido como filme da semana pelo Observador.