Primeiro teste, superado com distinção. No encontro de estreia no US Open, e mesmo tendo pela frente um adversário que não atravessava o melhor momento com cinco derrotas consecutivas, Nuno Borges mostrou a sua melhor versão, não deu hipóteses num encontro que começou a ganhar por 5-0 no set inicial e fechou o triunfo por 3-0 com os parciais mais expressivos entre todas as vitórias que conseguira em Grand Slams. Segundo teste, superado com distinção. Frente a um Thanasi Kokkinakis que tinha eliminado antes Stefano Tsitsipas, Nuno Borges retirou toda a capacidade de explosão e aceleração ao australiano, foi melhor nos pontos decisivos tirando vantagem e todas as vantagens e carimbou mais um em três sets para chegar pela primeira vez à terceira ronda do Major norte-americano. Seguia-se o terceiro teste no US Open.

A par das grandes exibições nos singulares, Nuno Borges ia fazendo também o seu caminho em pares com o habitual companheiro, Francisco Cabral. Após um triunfo inicial frente ao belga Zizou Bergs e ao húngaro Fabian Marozsan, a dupla portuguesa bateu também os polacos Hugo Nys e Jan Zielinski na segunda ronda, avançando assim para os oitavos. “Não estávamos a conseguir ganhar muitos pontos na resposta, estávamos todos a servir bastante bem, com boas percentagens. O tie break foi bem conseguido. Mantivemos as rotinas que estavam a correr bem e fomos muito felizes em dois ou três pontos importantes, em que conseguimos jogar muito bem na resposta. Fizemos um bom encontro, melhor do que na primeira ronda. Estamos satisfeitos e vamos continuar à procura de melhorar”, comentou no final à agência Lusa.

Por norma, os torneios de pares em Grand Slams até são vistos com alguma “desconfiança” para jogadores como Nuno Borges, que se vão desgastando e pagando a fatura depois no quadro de singulares. Neste caso, a dupla nacional até funcionava como um acrescento para o caminho de Nuno Borges no US Open, com cada vez mais confiança para poder saltar de ronda em ronda nas duas variantes. E essa confiança era necessária até tendo em conta que, ao contrário do que deveria acontecer em termos teóricos, o português, que ocupa o melhor ranking no ATP (34.º), voltava a partir como favorito na terceira ronda de singulares onde iria defrontar Jakub Mensík, checo que ocupa o 65.º posto da hierarquia mas que conseguiu surpreender logo na ronda inaugural Felix Auger-Aliassime antes de bater depois o australiano Tristan Schoolkate.

Depois de ter feito história no Open da Austrália ao chegar pela primeira vez a uma quarta ronda de um Grand Slam, neste caso superando no terceiro jogo o búlgaro Grigor Dimitrov, Nuno Borges podia igualar o feito (que antes só João Sousa conseguira, no US Open de 2018 e em Wimbledon, em 2019) tendo como a possibilidade mais forte um reencontro com Daniil Medvedev caso o russo vença Flavio Cobolli. Foi isso que aconteceu. E num jogo de loucos em que salvou três match points, Nuno Borges fez mais história.

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Os dois primeiros sets tiveram uma história diametralmente oposta mas que deixava sinais para o encontro de loucos que teríamos pela frente. No início, Nuno Borges perdeu a oportunidade de quebrar o serviço a Mensík em dois dos primeiros três encontros de serviço, salvou depois um ponto de break e um set point e acabou por levar tudo para o tie break, chegando a ter uma vantagem de 4-3 antes de perder os dois últimos pontos e o parcial por 7-5. De seguida, um autêntico arraso: o português chegou ao 4-0 cedendo apenas um ponto nos dois primeiros encontros de serviço de Mensík, viu o checo fazer o break, reagiu de imediato com o contra break e fechou o segundo set com um triunfo por 6-1 perdendo apenas… 12 pontos.

Jakub Mensík, à semelhança do que tinha acontecido nos dois encontros anteriores, tinha momentos em que se ligava ao jogo e parecia ser quase uma parede capaz de devolver tudo (entre vários ases, que são a imagem de marca dos seus jogos de serviço) e outras fases em que cometia inúmeros erros não forçados quase que “desligado” daquilo que se estava a passar no court. Foi isso também que marcou os dois sets seguintes, quase como se esse interruptor chegasse a Nuno Borges, capaz do melhor e do pior com poucos. A abrir, o português fez o break, consentiu o contra break, deixou o checo passar para 4-2 e perdeu quatro pontos de break no encontro em que Mensík fechou em 6-3; depois, perdeu dois set points para fazer o 6-3, consentiu o break, salvou três match points no tie break mas fechou com uma vitória fantástica por 8-6.

Contra tudo o que se poderia pensar perante os acontecimentos (para o bem e para o mal), a decisão iria mesmo para um quinto e decisivo set. Aí, entre visíveis dificuldades físicas à mistura do checo depois de ser obrigado a nova maratona, Nuno Borges não deu hipóteses: entrou com um break, salvou um ponto de break para o 2-0, voltou a quebrar o serviço de Mensík para o 3-0, segurou o seu jogo de serviço para o 4-0. A vitória era mesmo uma questão de tempo e chegou de “bicicleta”, com o português a fechar o encontro com um 6-0 perante a ovação do público que foi vibrando com a partida incluindo portugueses (com bandeiras do país ou camisolas… do Sporting) que acabaram em festa com novo feito histórico.