Os primeiros jogos oficiais ainda vão demorar, a apresentação “particular” tornou-se de forma automática um momento que ficará na história. A promessa era comum a todos os candidatos à presidência do FC Porto mas André Villas-Boas não demorou a passar das palavras aos atos e, em pouco tempo, os alicerces para os dragões terem também uma equipa de futebol feminino estavam montados. Desenhou-se a secção, escolheu-se o treinador, teve início o recrutamento com esse ponto alto de ser um conjunto que ficaria para sempre nos livros dos azuis e brancos e a nuance de jogar a 3.ª Divisão. Com o plantel feito e a estrutura montada, surgiu o primeiro “prémio” de reconhecimento com a apresentação oficial aos adeptos a realizar-se em pleno Estádio do Dragão. No final, aquilo que sobrou foi a imagem de vitalidade de um clube em mudança.
“Há aqui um enorme sentido de responsabilidade por vestirem a camisola azul e branca. Começámos este projeto e vocês vão fazer parte da história do clube. Tenham bem noção do momento que estão a viver. Daqui a 20/30 anos vai falar-se disto, deste momento histórico do FC Porto, do que vem nos jornais, nas revistas e redes sociais. É um momento de grande orgulho. Que recordem sempre este momento com grande emoção. Que corra bem a época, há uma responsabilidade grande, não tenham pressa em subir divisões, façam o vosso caminho pausadamente. Este é um projeto de construção mas estou seguro que, daqui a dois anos, já estamos na Primeira Liga a partir a casa toda. Muitos parabéns e boa sorte”, reforçou André Villas-Boas, presidente dos dragões, num discurso antes do encontro partilhado pelos meios do clube.
O número 1 dos azuis e brancos contaria na tribuna com as presenças de Rui Moreira, líder da Câmara Municipal do Porto, Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, e Pedro Proença, líder da Liga Portugal, além de Mónica Jorge, vice-presidente para o futebol feminino da FPF, e Francisco Neto, selecionador nacional há mais de uma década. Com eles e com mais de 30.000 espectadores, numa enchente que acabou por surpreender os próprios responsáveis tendo em conta o número de portas que estaria inicialmente aberto para a estreia. Mais do que isso, foi uma enchente para a história.
“Portistas, vocês não param de nos encher de orgulho! No primeiro jogo da nossa equipa feminina aqui no estádio do Dragão, batemos o recorde de assistência de jogos de futebol feminino em Portugal! Já somos mais de 30 mil e ainda muitos mais se vão juntar a nós ! Obrigado por terem feito história connosco”, tinha anunciado o clube através das redes sociais, antes do anúncio oficial nos altifalantes e ecrãs do recinto a dar conta dos 31.093 adeptos que marcavam presença no recinto na manhã deste domingo. Ou seja, a estreia do FC Porto num encontro particular frente à União de Leiria (que terminou em goleada por 9-0, num jogo onde o resultado acabava por ser o menos importante) superou o melhor dérbi entre Benfica e Sporting no feminino, com 27.221 pessoas na Luz em 2023. Essa foi a grande vitória dos azuis e brancos.
“É um dia absolutamente histórico para o FC Porto. Se houvesse dúvidas sobre a força do futebol feminino e da falta que faz ao FC Porto, hoje ficaram todas dissipadas. É uma adesão monumental por parte dos sócios e adeptos do clube. Um trabalho inexcedível por parte do Zé Manuel [José Manuel Ferreira, diretor da secção], do Graça, do Daniel Chaves [treinador], de toda a equipa que em tão pouco tempo montou um projeto tão bom e tão digno, ao nível dos valores do FC Porto. Havia muita ansiedade pela entrada do FC Porto no futebol feminino sénior, com um projeto digno do seu nome. Quando se tornou realidade, a adesão foi maciça, com muita gente interessada em representar as nossas cores. Conseguimos, também com ajuda de outros clubes, montar equipas competitivas e fomos atrair muito talento de clubes que nos rodeiam e que nos ajudaram e permitiram que elas viessem representar o clube do seu coração. Quero agradecer-lhes por esse esforço, por permitirem que isto acontecesse”, destacara antes do jogo Villas-Boas ao Porto Canal.
“Trata-se muito de recuperar alguns anos de atraso, nomeadamente a nível infraestrutural, porque estas miúdas vão precisar de condições de treino que são do FC Porto e não de andarem com a casa às costas, como temos um pouco no nosso futebol de formação. Isso são passos que queremos dar muito em breve com a construção da nova cidade desportiva. Isso vai permitir que os jogadores da formação e também que as jogadoras tenham outras condições para chegarem ao topo. Em primeiro lugar recuperar esses anos de atraso, depois continuar a criar equipas competitivas, essa foi a palavra que passei às jogadoras no balneário”, acrescentou o presidente dos azuis e brancos ainda antes do arranque da partida onde o FC Porto foi sempre melhor e chegou ao intervalo já a ganhar por 5-0 com golos de Matilde Vaz (2′), Verónica Khudyakova (15′ e 43′), Catarina Pereira (15′) e Inês Oliveira (36′). No segundo tempo, entre várias alterações feitas por Daniel Chaves, o ritmo da partida caiu mas Renata Correia (49′), Lara Gabriel (60′), Carol Brito (86′) e Carocha fizeram o 9-0 no final de uma festa que fica na história do FC Porto e no Dragão.