O Presidente chinês, Xi Jinping, manteve esta segunda-feira várias reuniões bilaterais com líderes africanos, no âmbito do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), prometendo mais investimento e cooperação sem interferir nos assuntos internos dos países africanos.

De acordo com as agências internacionais de notícias, pelo menos 50 chefes de Estado e de governo são esperados em Pequim até ao final da semana, incluindo os líderes da República Democrática do Congo (RDCongo), Félix Tshisekedi, da Nigéria, Bola Tinubu, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa, sendo também esperado um encontro com o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, que esta segunda-feira esteve em Xangai no âmbito do fórum económico China-Moçambique.

Os encontros desta segunda-feira foram marcados pelas promessas chinesas de investimento, sendo que no caso da RDCongo, uma das maiores fontes de recursos naturais necessários para a transição energética, e fornecedor de mais de 60% do cobalto comprado pela China, o gigante asiático comprometeu-se a “aprofundar a cooperação em matéria de agricultura e processamento de minérios”.

Na reunião com o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, os dois países anunciaram que elevaram o nível de cooperação à categoria de “associação de cooperação estratégica integral para a nova era”.

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Nas reuniões, Xi Jinping adaptou o discurso público a cada um dos países, tendo defendido, no caso da reunião com o chefe militar do Mali, na sequência do golpe de Estado, “o direito à autodeterminação do povo africano na hora de decidir o seu destino futuro”, o que contrasta com as exigências ocidentais de uma eleição para escolher os líderes locais.

O Presidente do Mali, coronel Assimi Goita, de acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros chineses, citado pela agência espanhola de notícias, a EFE, elogiou a posição de Pequim de “opor-se à interferência nos assuntos internos de outros países”.

A cimeira desta semana tem como pano de fundo a crescente competição entre os Estados Unidos e a China em África pela influência política e pelo acesso aos recursos naturais.

Habituado a apresentar o gigante asiático como o seu principal rival, Washington adverte regularmente contra o que considera ser a influência nefasta de Pequim no continente, nomeadamente no aumento do endividamento através de empréstimos envoltos em secretismo e que configuram uma armadilha da dívida, ou seja, condições muito prejudiciais para os países que não cumpram os compromissos financeiros.

O FOCAC deste ano terá também uma cimeira empresarial e terminará com dois documentos – uma declaração e um plano de ação para guiar a cooperação entre China e África nos próximos anos.

A China é o maior parceiro económico de África, e desde o início deste século até 2022 já emprestou mais 170 mil milhões de dólares (153,78 mil milhões de euros) para 1.243 iniciativas, de acordo com os dados do Centro de Desenvolvimento Global de Políticas, da Universidade de Boston.

Desse total, quase 60 mil milhões de dólares foram canalizados para projetos na área da energia e quase 50 mil milhões foram para projetos no setor dos transportes.

Apesar de ainda ser o maior parceiro do continente africano, o financiamento chinês aos países africanos caiu para menos de mil milhões de dólares (904,6 milhões de euros) em 2022, o último ano para o qual há dados compilados, representando o valor mais baixo em quase duas décadas.

Desde o pico de 28,5 mil milhões de dólares atingido em 2016, em 2021 a China fez apenas sete empréstimos no valor de 1,22 mil milhões de dólares, e em 2022 o valor caiu para 994 milhões de dólares, com apenas nove financiamentos, o nível mais baixo desde 2004.