Uma exposição que explora a noção do estranho na obra de Paula Rego (1935-2022) e Francisco de Goya (1746-1828), com 42 obras da artista portuguesa, é inaugurada em 27 de setembro no Museu Holburne, no Reino Unido.

Intitulada “Uncanny Visions: Paula Rego and Francisco de Goya” (“Visões estranhas: Paula Rego e Francisco de Goya”, em tradução livre do inglês), a exposição ficará patente até 5 de janeiro de 2025 naquele museu localizado em Bath.

De acordo com o site do museu, esta será a primeira exposição a mostrar, em conjunto, “Los disparates” (1815-1823), de Goya, e a série “Nursery Rhymes” (1989), de Paula Rego, na sua totalidade.

A mostra inclui ainda uma seleção de objetos tridimensionais de Paula Rego — esculturas e adereços de estúdio — e, “pela primeira vez, uma seleção de gravuras de Goya que a artista possuía, e que pendurava à volta da cama, sendo estas as primeiras e últimas imagens que contemplava todos os dias”.

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Contactado pela agência Lusa sobre o número de obras de Paula Rego presentes na exposição e a respetiva proveniência, o museu respondeu por e-mail que reunirá ao todo 77 obras, 42 da autoria da pintora portuguesa.

Todos os empréstimos provêm de coleções públicas e privadas do Reino Unido, incluindo do acervo da família de Paula Rego, que partiu de Portugal para Londres com 17 anos, para estudar na Slade School of Fine Art, onde conheceu o futuro marido, o artista inglês Victor Willing.

“Tanto Goya como Rego estão desde há muito associados ao conceito de estranheza. Os temas e as imagens presentes na obra de ambos têm raízes em elementos populares e folclóricos, e recorrem a um sentimento de familiaridade desconcertante e inquietante, seja através do absurdo das regras sociais — captado por Goya — ou da crueldade dos versos da infância, notado por Rego”, refere um texto sobre a exposição enviado à Lusa pelo museu Holburne.

Por outro lado, “Los disparates” de Goya, é apontado pelo museu como “um conjunto de gravuras que tem recebido consideravelmente menos atenção e exposição ao público do que as suas outras séries”.

As “Nursery Rhymes” de Paula Rego são uma série de mais de 30 gravuras e águas-fortes produzidas em 1989 que ficarão expostas com cinco gravuras adicionais feitas em 1994 para acompanhar uma publicação ilustrada editada pela Thames & Hudson.

A mostra explora a forma como dois artistas — que viveram com um século de diferença — recorreram a motivos visuais e dispositivos narrativos semelhantes para transmitir uma gama universal de emoções humanas.

O percurso expositivo foi criado para “examinar a forma como a influência de Goya em Rego, reconhecida pela própria artista, é visível através dos meios e técnicas que utilizou, bem como através de alguns dos seus temas e estética”.

“Os visitantes desta exposição poderão observar como a tradução visual única de Rego de rimas infantis tradicionais, ensinadas a crianças pequenas, apresenta um grau de ironia e um toque sinistro próximo do espírito de Goya”, sublinha ainda o texto do museu.

Para além do estranho, a exposição explora noções comuns a ambos os artistas, como o absurdo e a sátira, o folclore, o humor, a violência, a sensualidade, o engano, o sobrenatural, o antropomorfismo e a animalização.

“Abrangendo os aspetos maravilhosos, bizarros e assustadores da experiência humana através do trabalho de dois artistas ibéricos dotados de uma visão perspicaz da alma humana, a exposição é uma oportunidade única para experimentar a mestria técnica, composicional e narrativa de dois gigantes artísticos”, sustenta o texto do The Holburne Museum.