“A maioria dos espetáculos são estreias em Portugal e há duas estreias absolutas no programa ‘Carta Branca'”, indicou a programadora Aida Tavares em declarações à agência Lusa sobre a temporada 2024-2025, referindo-se às novas criações nas áreas da música e dança, de Selma Uamusse e Victor Hugo Pontes, por encomenda do CCB.

Responsável há cerca de oito meses pela direção artística para as artes performativas e pensamento do CCB, cargo instituído no final de 2023 por Francisca Carneiro Fernandes, nova presidente da Fundação CCB, Aida Tavares foi convidada para o novo ciclo estratégico anunciado na altura.

A temporada 2024-2025 abre com a artista multidisciplinar brasileira Christiane Jatahy, a 14 e 15 de setembro, com o espetáculo “Depois do Silêncio”, que parte da obra do escritor Itamar Vieira Júnior.

“O espetáculo que esta encenadora nos traz é uma reflexão sobre o passado esclavagista no Brasil, abordando esse capítulo duro e negro da sua história, e o impacto que teve na vida de muitas pessoas desenraizadas”, referiu, acrescentando que, sobre a mesma temática, está prevista uma conversa com a criadora.

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Na mesma temática está ainda marcada a exibição do filme semidocumental “Cabra marcado para morrer” (1984), do realizador brasileiro Eduardo Coutinho, sobre a vida de João Pedro Teixeira, líder camponês assassinado em 1962.

Sobre o desenho da próxima temporada, Aida Tavares sublinhou a importância, pela primeira vez, de resultar de duas direções artísticas do CCB: a valência das artes performativas e a da arte contemporânea, com Nuria Enguita, desde maio à frente do espaço que veio substituir o antigo Museu Coleção Berardo.

“Na última temporada já houve alguns cruzamentos [entre estas duas valências], e, desse ponto de vista, somos um espaço único no país que permite esta relação de ter um museu de arte contemporânea e, ao mesmo tempo, auditórios com trabalho nas artes performativas. Seguramente que as temporadas seguintes terão mais trabalho neste sentido”, avançou à Lusa a antiga diretora do Teatro São Luiz, em Lisboa.

Como exemplo desse cruzamento na programação, indicou a exposição “Intimidades em Fuga. Em torno de Nan Goldin” – fotógrafa norte-americana conhecida pelo seu trabalho artístico sobre corpos LGBT+ – comissariada por Nuria Enguita, que será acompanhada por um programa de música e uma performance no auditório do centro de espetáculos.

Nas estreias absolutas, o CCB irá apresentar duas criações encomendadas aos artistas Selma Uamusse, na música, e Victor Hugo Pontes, na dança, ambos para marcar os 50 anos de liberdade após a revolução do 25 de Abril.

A nova temporada terá, segundo Aida Tavares, mais espetáculos de teatro do que a anterior: “É, para mim, uma questão importante, apresentar as companhias com mais récitas”, assinalou.

Nessa linha, uma das companhias em destaque nesta temporada será a dos Artistas Unidos: “É uma companhia, que, infelizmente, ainda não encontrou um espaço definitivo de residência, e, por isso, convidámo-los para fazer aqui a sua abertura de temporada, aproveitando também para homenagear Jorge Silva Melo, fundador do grupo que foi também programador do CCB durante alguns anos”.

Os Artistas Unidos vão levar a cena as peças “Búfalos”, de Pau Miró, e, já em 2025, em fevereiro, uma nova adaptação de Robert Icke e Duncan Macmillan da obra “1984”, de George Orwell.

Nos espetáculos da área internacional, destacou ainda “In C”, da companhia de dança da coreógrafa alemã Sasha Waltz, o espetáculo “Hécuba, não Hécuba”, do encenador e dramaturgo português Tiago Rodrigues, estreada no Festival d´Avignon, em França, e o Ballet de Lorraine, com um duplo programa, incluindo a peça “Folia”, do coreógrafo português Marco da Silva Ferreira.

Na música, a programadora destacou a presença da Academia de Música Antiga de Berlim para apresentar a obra “Stabat Mater” de Vivaldi e a interpretação da 8.ª sinfonia de Mahler.

Está ainda prevista a apresentação da ópera “Jenufa”, de Leos Janácek, também pela Orquestra Sinfónica Portuguesa e pelo Coro do Teatro Nacional de São Carlos.

Sobre o título da temporada – “O Futuro É Agora” – explicou que está relacionado com a ideia da memória dos lugares: “Quando construímos a programação, uma das questões essenciais foi pensar que estamos num local com fatores importantes como a geografia, a escala e a relação com a cidade e o país. Pensei que este conceito refletia o futuro que é urgente que seja agora, e que seja pensado com base na memória do primeiro equipamento cultural construído depois do 25 de Abril”.

Questionada sobre o valor envolvido no orçamento para a nova temporada, Aida Tavares indicou que “foi o mesmo da temporada passada, cerca de dois milhões de euros”.

Uma novidade no funcionamento do CCB será, com esta nova temporada, a alteração aos horários dos espetáculos, que, durante a semana, vão passar a começar às 20:00, ao sábado às 19:00, e ao domingo às 17:00, “um pouco na linha dos outros espaços culturais”, revelou a programadora.