Três meses depois das duas Assembleias Gerais que fizeram correr muita tinta na Luz, o Benfica voltou a reunir os associados para decidir uma proposta global final de alteração aos estatutos do clube. Se o cenário já era cinzento antes de junho deste ano, não melhorou depois desse dia 15, que deixou à vista as fragilidades da direção de Rui Costa, que culminou com o chumbo dos orçamentos para esta temporada e que, até ver, continuam sem uma reação por parte do presidente e a sua direção.

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Assim, este sábado ficou por mais uma ida dos adeptos benfiquistas ao Estádio da Luz. No horizonte estava mais um longo dia de trabalhos e de debate, numa Assembleia Geral extraordinária que teve mais de extraordinária do que propriamente de Assembleia Geral. Na ordem de trabalhos encontravam-se três pontos — discussão e votação da proposta da direção, das propostas admitidas e a votação final das alterações aos Estatutos —, mas seria de prever que este momento fosse utilizado para voltar a marcar uma posição contra a direção do clube. O que é certo é que a proposta única global começou por ser aprovada por larga maioria, com mais de 95% dos votos dos 1.644 sócios.

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Depois de uma pausa para almoço de mais de duas horas, os trabalhos foram retomados da parte da tarde e foi aí que o caldo entornou. A apresentação e discussão das propostas de alterações à revisão dos Estatutos, na especialidade, começou com alguma confusão e lentidão, com os sócios a queixarem-se de não saberem no que é que estavam a votar. Depois de um dos pontos ter demorado uma hora a ser votado, João Diogo Manteigas, candidato nas eleições de 2025, fez um requerimento à mesa da Assembleia-Geral e pediu o adiamento dos trabalhos. Fernando Seara recusou e continuou.

Pouco depois, o presidente da mesa da Assembleia-Geral referiu que Manteigas retirou o requerimento, prosseguiu e foi aí que o sócio João Pinheiro interpôs novo requerimento, nos mesmos moldes do anterior. Depois de ser votado favoravelmente, determinou-se a suspensão da Assembleia-Geral mas, segundo disse João Diogo Manteigas em declarações aos jornalistas, Seara anulou esse requerimento, foi contestado e foi aí que apresentou a sua demissão. No interior do Pavilhão, os vídeos que circulam nas redes sociais mostram a contestação dos sócios.

Depois de alguns minutos de ânimos exaltados, Rui Costa usou da palavra para acalmar o ambiente e pediu aos sócios para os trabalhos continuarem, agora sob orientação de José Pereira da Costa, vice-presidente da mesa, que garantiu que a Assembleia-Geral podia prosseguir. E assim foi. Até bem perto das 20 horas, foram aprovados praticamente todos os pontos discutidos, com destaque para o que definia as cores dos equipamentos principais: o principal a vermelho e branco e o alternativo a branco e vermelho. Antes do 22.º artigo, o presidente das águias usou da palavra e terminou a Assembleia-Geral, que agora terá de ser remarcada para um prazo máximo de 30 dias. Na nova reunião serão concluídos os procedimentos.

“Quero agradecer e pedir desculpa uma vez mais pela forma como começou a segunda parte da reunião. Não chegou ao fim o processo. Era difícil. Garanto que o que mais me interessa e a esta direção são estatutos novos e melhores para o Benfica. Não posso deixar de agradecer também a quem assumiu a presidência da mesa da Assembleia Geral”, disse Rui Costa aos sócios, garantindo ainda que o Benfica terá novo estatutos assim que a revisão for concluída: “Faço votos para que este processo chegue — não digo a bom porto —, mas a bom Benfica”.

Com a primeira chamada marcada para as 9h30, só meia-hora depois é que os trabalhos começaram no Pavilhão N.º 1 do Estádio da Luz, aquando da segunda chamada, apesar da grande afluência por parte dos sócios benfiquistas. Num dos primeiros esclarecimentos feitos pela mesa, ficou a saber-se que os sócios que se encontram no estrangeiro não perdem o direito de voto com a abolição do voto eletrónico, algo que tinha levantado muita poeira nos últimos tempos.

Jaime Antunes, vice-presidente do Benfica, foi um dos primeiros a usar da palavra e, depois de explicar todos os procedimentos, frisou que o clube “vai continuar a ser dos sócios”, apesar de não ser o mesmo “de há 50 anos”. O primeiro aplauso da manhã aconteceu quando Raquel Vaz Pinto, membro da comissão de revisão, agradeceu a dois sócios do clube que integram os podcasts  Benfica Independente, Sérgio Engrácia e João Tibério. Seguiu-se o confirmar do regresso do voto físico e a garantia de que o emblema do Benfica “passa a estar no equipamento principal e alternativo com as suas cores genuínas” e novos aplausos.

Nessa altura e em comunicado, João Diogo Manteigas destacou “um dos dias mais importantes da história recente do clube”. “Um Benfica mais participativo, próximo dos sócios, transparente e democrático estará sempre perto de vencer. Com esta participação, estou seguro que, no final do dia, o Benfica vencerá”. João Noronha Lopes, candidato em 2020, também marcou presença, à semelhança de Francisco Benítez, do movimento Servir o Benfica e candidato em 2021, que sublinhou “uma proposta de estatutos que dignifica a tradição democrática do clube”.