Uma nova descida das taxas de juro por parte do BCE, já no próximo mês, tornou-se mais provável nesta segunda-feira, depois de um dos principais indicadores avançados sobre as perspetivas económicas da zona euro apontar para uma forte quebra na atividade no mês de setembro.

Os chamados índices de gestores de compras (PMI), medidos pela S&P Global, caíram tanto no setor dos serviços como no setor industrial, levando a que o índice compósito tenha baixado de 51 pontos em agosto para 48,9 pontos. A expectativa dos analistas, em média, apontava para que o valor saísse mesmo no limiar dos 50 pontos (que faz a fronteira entre uma expansão e uma contração da atividade), mas a desaceleração face ao mês de agosto foi muito maior do que o que se previa.

“O grande declínio no PMI compósito da zona do euro sugere que a economia está a desacelerar de forma acentuada, que a Alemanha está em recessão e que o impulso da França nas Olimpíadas foi apenas sol de pouca dura”, afirmam os analistas da Capital Economics, em Londres, numa nota de reação aos números divulgados esta segunda-feira.

O banco holandês ING lembra que “no mês passado, houve um aumento no PMI dos serviços, que foi principalmente devido ao maior fulgor relacionado com as Olimpíadas em França”. “Mas, agora que os Jogos acabaram, o sentimento do setor de serviços retomou a tendência de queda, com o PMI dos serviços a cair para 50,5 pontos em setembro e a apontar para uma estagnação na atividade“.

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O sub-índice que mede a atividade no setor industrial também baixou, de 45,8 pontos para 44,5 pontos. “Foi um final de trimestre muito dececionante, o que, para nós, significa que o crescimento do PIB ainda terá sido menor do que os (pouco entusiasmantes) 0,3% do segundo trimestre”, lamenta o ING.

Euro perdeu valor face ao dólar assim que os PMI foram revelados. FONTE: TradingEconomics

A divulgação dos indicadores PMI, por terem surpreendido pela negativa, levaram a uma quebra imediata da cotação do euro que, face à divisa norte-americana, baixou para menos de 1,11 dólares.

“A desaceleração no crescimento económico está a dar um impulso às ‘pombas’ no Conselho do BCE”, afirmam os analistas do Commerzbank, em alusão aos membros do BCE (como Mário Centeno) que defendem uma descida maior dos juros. “Numa fase em que as autoridades monetárias consideram que a ameaça da inflação foi, basicamente, derrotada, a atenção irá voltar-se cada vez mais para a fraqueza da economia”, acrescentam os especialistas do banco alemão.

Na última reunião de política monetária, em que foi decidido mais um (o segundo) corte de 25 pontos-base nos juros, Christine Lagarde manteve tudo em aberto mas praticamente todos os sinais que deu, de acordo com os analistas, foram no sentido de apontar para uma maior probabilidade de novos cortes de juros só em dezembro (e não em outubro). Mas o BCE admitiu, como tem vindo a fazer, a possibilidade de cortar os juros caso a inflação continue a dar tréguas e o desempenho da economia surpreenda pela negativa – o que parece ser aquilo que dados como estes (PMI) parecem estar a indicar.

“Que sera, sera…”. Mas o BCE só deve voltar a descer as taxas de juro perto do Natal

Os economistas do BCE preveem, nas projeções trimestrais atualizadas na última semana, uma inflação abaixo de 2% em 2026. As novas projeções apontam para uma taxa de inflação média de 2,5% em 2024, 2,2% em 2025 e 1,9% em 2026.

Para a inflação subjacente, aquela que exclui os preços da energia e dos alimentos não-processados (e dá um retrato mais fiel das pressões inflacionistas) “as projeções para 2024 e 2025 foram ligeiramente revistas em alta“, porque “a inflação nos serviços foi superior ao esperado”. Porém, os economistas do BCE “continuam a esperar um declínio rápido da inflação subjacente, de 2,9% este ano para 2,3% em 2025 e 2,0% em 2026”.

Já as projeções de crescimento económico na zona euro foram revistas (ligeiramente) em baixa, apontando-se agora para uma expansão económica de 0,8% neste ano de 2024, menos uma décima do que aquilo que se estimou em junho. Para os próximos anos, também há revisões (negativas) de uma décima: 1,3% em 2025 e 1,5% em 2026.