O Lounge, espaço de Lisboa que nas últimas duas décadas recebeu numerosos concertos, festas e outros espetáculos e encontros, vai fechar portas a 31 de dezembro. A informação foi partilhada no Instagram esta segunda-feira à noite.
“Foi decisão da senhoria não renovar”, conta ao Observador Mike Mwaduma, proprietário do Lounge e arrendatário do espaço na Rua da Moeda. “Nem sequer nos foi dada a hipótese de negociar”.
Na publicação nas redes sociais pode ler-se: “O tsunami de brilho postiço que tem inundado a cidade e divergências em relação aos interesses da senhoria põem fim a esta viagem. É humano, é negócio”.
O responsável pela sala de espetáculos esclarece que o contrato termina no início de 2025. “Foram feitos vários aditamentos. O contrato tinha anos, a última renovação foi há cinco anos, e termina no início de 2025. Foi decisão da senhoria não renovar”, lamenta.
“Tanto quanto sei já haverá algum espaço interessado em ocupar o nosso espaço e sei que a senhoria instalou há algum tempo no prédio um alojamento local, eventualmente as reviews dos turistas não nos são favoráveis”, adianta ao Observador o responsável pelo espaço noturno. “Embora cumpramos todos os requisitos são obviamente negócios incompatíveis”, acrescenta.
Há 25 anos que o Lounge funciona no número 1 da Rua da Moeda, no Cais do Sodré. Por ali passaram nomes como Ian Svenonius, Win Butler, Mac deMarco, Weyes Blood ou Sonic Boom. “Na altura não havia ali nada”, nota Mário Valente, programador do espaço “desde a primeira noite”. “O problema não é o turismo, o problema não é a diversidade da oferta, o problema é cada vez mais estar-se a pensar nos sítios com uma perspetiva de imediata de lucro e de rendas”, diz ao Observador. “Não é um discurso anti-turismo, é demasiada ganância”, solta.
“Está-se a quebrar um circuito”
Sem planos para futuro, Mike Mwaduma alerta para a importância de espaços como aquele que vai fechar: “A ideia do Lounge continua a ser pertinente, os concertos que promovemos funcionam bem, continua a ser um projeto pertinente e continua a não haver muitas salas como esta, ainda mais nesta escala”.
“Lisboa tem alguns espaços com programação de uma escala maior, mas estas casas pequenas que conseguem promover e apoiar pequenos concertos e bandas emergentes está a acabar. Está-se a quebrar um circuito que chegou a ser bastante forte”, critica. “As bandas não começam na garagem e no passo seguinte vão para um estádio”, aponta. “Há um processo de crescimento e passa por sítios como o Lounge”.