O aviso apareceu no dia anterior. Espanha, campeã do mundo em 2000 e 2004 e presença habitual nas decisões do Mundial de futsal, foi eliminada pela surpreendente Venezuela logo nos oitavos de final. Ou seja, Portugal defrontava o Cazaquistão esta quinta-feira com a certeza clara de que não podia facilitar se quisesse chegar aos quartos de final da competição.

No Uzbequistão, a Seleção Nacional chegava à primeira ronda a eliminar depois de ter ficado no primeiro lugar do grupo na fase anterior, com três vitórias contra Panamá, Tajiquistão e Marrocos, e defrontava uma equipa que venceu duas das três jornadas e só ficou no segundo lugar do respetivo grupo devido à diferença de golos depois de empatar com Espanha. Mais do que isso, reencontrava o adversário das meias-finais do Mundial 2021, o ano em que se sagrou campeã do mundo, num jogo que só ficou decidido nas grandes penalidades.

Três jogos, três vitórias: Portugal goleia Marrocos e fica no 1.º lugar do grupo antes dos oitavos de final

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“O Cazaquistão é das seleções mais estratégicas do mundo. O Kaká tem a equipa muito bem organizada, sabem gerir muito bem os ritmos e os momentos do jogo. Nós estamos cá para tentar inverter essa estratégia. Que o jogo seja mais de acordo com o que nós queremos e com a forma como nos queremos impor no jogo. Nesta fase ainda não há fadiga. Deus queira que tenhamos muitos jogos acumulados nas pernas. Não vai haver fadiga, nem física nem mental”, disse Jorge Braz na antevisão da partida.

O selecionador lançava o cinco inicial que tem sido mais habitual desde o início do Campeonato do Mundo, com Edu, João Matos, Bruno Coelho, Pany Varela e Erick. Do outro lado, onde o ex-Sporting Léo Jaraguá era baixa por castigo depois de ter sido expulso no último jogo da fase de grupos, Kaká tinha o ex-Belenenses Higuita, Douglas Júnior, Daribay, Tursagulov e Yessenamanov — e um apoio inegável nas bancadas, muito fruto da proximidade geográfica com o anfitrião Uzbequistão.

Portugal começou o jogo a controlar, com mais bola e com uma iniciativa claramente permitida pelo Cazaquistão, que não tinha qualquer problema na hora de manter o bloco mais baixo para depois lançar transições rápidas. Nessa lógica, a primeira oportunidade pertenceu à Seleção Nacional, com Tomás Paçó a cabecear ao lado depois de uma reposição de Pany Varela (5′). O jogador do Sporting voltou a tentar a sorte pouco depois, com um remate rasteiro que Higuita defendeu (7′), e os cazaques deram o primeiro sinal de perigo com um pontapé forte de Douglas Júnior que passou ao lado (7′).

A equipa de Jorge Braz foi mantendo um controlo aparente do jogo, com mais posse de bola e mais ocasiões de perigo — onde se inclui um remate ao lado de André Coelho (9′) –, mas ficava claro que o Cazaquistão provocava muitas dificuldades à defesa portuguesa sempre que acelerava. Até que, mais ou menos a meio da primeira parte, os cazaques conseguiram mesmo abrir o marcador: reposição rápida de Douglas Júnior e Yessenamanov, ainda de muito longe, atirou de pé esquerdo para surpreender Edu e alcançar a vantagem (10′).

Depois do golo, o jogo voltou à lógica anterior. Portugal tinha mais bola, sempre permitida pelo Cazaquistão, mas não conseguia esconder as dificuldades defensivas sempre que os cazaques aceleravam e só causava mais perigo quando Zicky estava em campo. O jogador do Sporting oferecia objetividade ao ataque português, ainda que à custa de muito desgaste e muitos duelos individuais, mas a Seleção não conseguiu aproveitar e foi mesmo a perder para o intervalo — e muito graças a uma defesa enorme de Higuita, que evitou o golo de Afonso Jesus no último instante (20′).

A segunda parte não poderia ter começado da melhor maneira para Portugal. Com pouco mais de 15 segundos disputados, Bruno Coelho converteu um livre em força e Zicky, na área, desviou de calcanhar para empatar o jogo (21′). Ainda assim, e mesmo com o resultado igualado, o Cazaquistão mantinha a mesma estratégia e preferia dar preponderância ao momento defensivo, avançando apenas na sequência de erros portugueses.

Tomás Paçó ficou perto de marcar, com um remate à malha lateral (27′), e os cazaques responderam do outro lado com um pontapé rasteiro que Edu defendeu (28′). O tempo ia passando e o Cazaquistão só atacava com recurso às subidas de Higuita, mas Portugal não tinha capacidade para criar oportunidades de forma constante e começava a acusar alguma ansiedade no momento de gestão das faltas.

Até que, a 14 segundos do fim, a sorte demonstrou não estar do lado do campeão em título: Tursagulov bateu Edu num dos últimos lances do jogo (39′) e atirou o Cazaquistão para os quartos de final, eliminando Portugal e deixando a Seleção Nacional sem possibilidade de continuar a defender o troféu conquistado em 2021.