A temporada dos furacões está na reta final, mas ainda ‘mexe’. Três estão atualmente ativos no Oceano Atlântico: o Leslie, que está a iniciar o seu percurso entre Cabo Verde e a América do Sul, o Milton, que está no Golfo do México, e o Kirk, que começará a ser sentido nos Açores esta segunda-feira, dirigindo-se depois à Península Ibérica.

Quando passar pelo Norte de Portugal continental, o Kirk já terá perdido o estatuto de furacão, uma vez que ficará sem grande parte da intensidade com a passagem por águas frias, e deverá ser uma tempestade extra tropical forte que se fará sentir com muito vento e chuvas intensas.

Nos Açores, os efeitos da passagem do Kirk vão sentir-se a partir do final da tarde desta segunda-feira, principalmente nos grupos Ocidental e Central dos Açores. Pelas 9h00 locais de segunda-feira (10h00 em Lisboa), o centro do ciclone tropical Kirk (furacão de categoria 1 na escala de Saffir-Simpson), “encontrava-se a cerca 850 km a oeste dos Açores, ilha das Flores, com deslocamento para nordeste a uma velocidade de 48 km/h”, afirmou a delegação açoriana do IPMA à Lusa .

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Rita Mota, meteorologista desta delegação disse, no sábado, que o centro do furacão deverá “passar a oeste-noroeste do arquipélago”. Dessa forma, as ilhas do Corvo, Flores, Faial, Pico, São Jorge, Terceira e Graciosa deverão registar “um aumento da intensidade do vento e da agitação marítima”. São esperadas “rajadas até 100 km/hora” no grupo Ocidental e “rajadas até 85 km/hora” no Central.

Deverá ser na altura em que passar pelo Norte dos Açores, antes de se dirigir a território continental, que perderá essa designação e passará a ser uma tempestade. “À medida que se desloca para leste, o centro do ciclone tropical irá passar a norte do arquipélago como tempestade tropical, provocando um agravamento do estado do tempo em todas as ilhas do arquipélago“, referiu a meteorologista Tânia Viegas.

Os Açores preparam-se

Devido à passagem do Kirk nos Açores, o IPMA colocou o Corvo e as Flores sob aviso vermelho devido à agitação marítima (e às previsões de que as ondas possam atingir 19 metros de altura máxima) entre as 00h e as 6h locais de terça-feira. As duas ilhas estarão ainda sob aviso laranja entre as 00h e as 9h de terça-feira devido ao vento e sob aviso amarelo por precipitação por vezes forte (entre as 12h e as 18h de segunda-feira).

O grupo Central dos Açores estará sob aviso amarelo por agitação marítima entre as 00h e as 18h de terça-feira. As ilhas do Faial, Pico, Terceira, São Jorge e Graciosa estarão também sob aviso amarelo por precipitação, por vezes forte e acompanhada por trovoada, das 15h de segunda-feira às 6h de terça-feira.

Entretanto, a população da ilha do Corvo, nos Açores, já está a preparar-se para a passagem do Kirk. Foram retirados os barcos de pesca e desportivos do porto da ilha e recolhidos outros objetos com maior risco de serem projetados pelo vento.

“Estamos já a tentar proteger aquilo que parece ser mais vulnerável, nomeadamente em locais onde se prevê que a ondulação do mar seja muito alta”, afirmou o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova do Corvo, José Manuel Silva, à agência Lusa.

O autarca do único município da mais pequena ilha dos Açores, com 400 habitantes, adiantou também que não foi para já ativado o Plano Municipal de Emergência, mas a partir da tarde de segunda-feira ficará “um piquete de prevenção com alguns elementos da Comissão de Proteção Civil Municipal para acudir alguma situação que possa ocorrer”.

“Estamos a ter os cuidados que se devem ter numa altura destas e tendo em conta as previsões”, sublinhou José Manuel Silva, admitindo que a estrada em redor do aeroporto possa vir a ser encerrada durante a tarde de segunda-feira. “Estamos em alerta, os bombeiros também irão estar. Tudo de prevenção para o que for necessário. E esperemos que o ciclone passe sem grandes efeitos”, referiu.

A Autoridade Marítima Nacional e a Marinha também alertaram, esta segunda-feira, para o agravamento da agitação marítima nos Açores, “a partir da madrugada de terça-feira, 8 de outubro, até à manhã de quarta-feira, 9 de outubro”.

A Autoridade Marítima Nacional e a Marinha recomendam à comunidade piscatória e da náutica de recreio que se encontra no mar “o eventual regresso ao porto de abrigo mais próximo e a adoção de medidas de precaução”. À população em geral pedem que não realize passeios junto à orla costeira e nas praias, nem pratique atividades em zonas expostas à agitação marítima ou atingidas pela rebentação, como falésias e zonas de arriba.

Terça-feira, a tempestade chega à Península

Tudo aponta para que os restos do furacão Kirk atinjam o Norte da Península Ibérica, muito perto da Corunha, percorrendo depois o Golfo da Biscaia antes de se desfazerem em França. Paula Leitão, meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), explica que em território nacional os efeitos que se farão sentir, “mais do que do furacão propriamente dito”, serão da “superfície frontal que [o Kirk] tem associado porque transporta uma massa de ar muito quente e húmida”.

Em Portugal continental, a passagem do Kirk vai começar a sentir-se a partir do final da tarde de terça-feira, dia 8, mas os efeitos “mais gravosos serão principalmente na madrugada de quarta-feira”, indica a meteorologista. Com base nas previsões disponíveis até ao momento, os portugueses devem esperar “ventos de sudoeste muito fortes, com rajadas até 100 km/hora nas terras altas e até 90 km/hora no litoral a Norte de Lisboa”.

Há ainda previsão de “precipitação muito forte, persistente e com bastante intensidade nas regiões Norte e Centro”, ainda que deva chover em todo o país nesse dia. Deverá também ser verificada uma “agitação marítima muito forte“, sendo que as ondas serão “do quadrante oeste, temporariamente de sudoeste” e podem “atingir cerca de seis metros de altura”.

Questionada, pelo Observador, sobre se a trajetória do furacão ainda se pode alterar antes do final do dia de terça-feira, Teresa Leitão afirma que o IPMA tem “alguma confiança na previsão atual” e defende que existe uma “grande probabilidade” de que não esteja “muito errada”.

Apesar dos ventos fortes e da chuva persistente, o Kirk não vai afetar as temperaturas. Rita Leitão explica ao Observador que a “massa de ar que este furacão está a transportar é muito quente e húmida, por isso é que vai chover muito”.

O ar ficará, de certa forma, “abafado“, mas as temperaturas vão manter-se estáveis. “Na quarta-feira em particular temos a temperatura a rondar os 22 a 24 graus Celsius, mais ou menos em todo o país. Não há grandes oscilações, só o interior é que tem temperaturas um bocadinho mais baixas, como Viseu com 16 graus Celsius na temperatura máxima, por exemplo”, afirma a meteorologista do IPMA.

Questionada sobre se é comum que um furacão tenha a força que o Kirk tem apresentado ao longo dos últimos dias (chegou a ser de categoria quatro numa escala com cinco níveis de intensidade) e que chegue à Europa na reta final da temporada, Rita Leitão diz que sim.

“Ao longo do verão, a água do mar vai aquecendo. Quanto mais quente estiver mais condições há para que os furacões se formem, tenham alguma intensidade e sejam mais persistentes. No fim do verão é quando a água está mais quente, porque veio acumulando calor. E ainda não teve condições para arrefecer“, nomeadamente porque ainda não existiram, por exemplo, períodos de “noites frias”.

Ainda assim, o meteorologista norte-americano Philip Klotzbach, que diz ser especialista em “previsões sazonais de furacões na bacia do Atlântico”, nota que a presença de Leslie, Milton e Kirk marca a primeira vez desde 2018 (com Leslie, Michael e Nadine) que no mês de outubro esse oceano tem, ao mesmo tempo, três “tempestades que receberam um nome”.

*Notícia atualizada às 16:45 de segunda-feira (7/10/24) com novas informações do IPMA, noticiadas pela Lusa, relativas à aproximação do Kirk aos Açores