A temporada dos furacões está na reta final, mas ainda ‘mexe’. Três estão atualmente ativos no Oceano Atlântico: o Leslie, que está a iniciar o seu percurso entre Cabo Verde e a América do Sul, o Milton, que está no Golfo do México, e o Kirk, que vai passar pelos Açores e depois dirigir-se à Península Ibérica.

Quando passar pelo Norte do nosso país, o Kirk já terá perdido o estatuto de furacão, uma vez que ficará sem grande parte da intensidade com a passagem por águas frias, e deverá ser uma tempestade extra tropical forte que se fará sentir com muito vento e chuvas intensas.

Tudo aponta para que os restos do furacão Kirk atinjam o Norte da Península Ibérica, muito perto da Corunha, percorrendo depois o Golfo da Biscaia antes de se desfazerem em França. Paula Leitão, meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), explica que em território nacional os efeitos que se farão sentir, “mais do que do furacão propriamente dito”, serão da “superfície frontal que [o Kirk] tem associado porque transporta uma massa de ar muito quente e húmida”.

A passagem do Kirk vai começar a sentir-se a partir do final da tarde de terça-feira, dia 8, mas os efeitos “mais gravosos serão principalmente na madrugada de quarta-feira”, indica a meteorologista. Com base nas previsões disponíveis até ao momento, os portugueses devem esperar “ventos de sudoeste muito fortes, com rajadas até 100 km/hora nas terras altas e até 90 km/hora no litoral a Norte de Lisboa”.

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Há ainda previsão de “precipitação muito forte, persistente e com bastante intensidade nas regiões Norte e Centro”, ainda que deva chover em todo o país nesse dia. Deverá também ser verificada uma “agitação marítima muito forte“, sendo que as ondas serão “do quadrante oeste, temporariamente de sudoeste” e podem “atingir cerca de seis metros de altura”.

Questionada, pelo Observador, sobre se a trajetória do furacão ainda se pode alterar antes do final do dia de terça-feira, Teresa Leitão afirma que o IPMA tem “alguma confiança na previsão atual” e defende que existe uma “grande probabilidade” de que não esteja “muito errada”.

Neste momento, o Kirk é um furacão de categoria três (numa escala de cinco). Deverá ser na altura em que passar pelo Norte dos Açores, antes de se dirigir a território continental, que perderá essa designação e passará a ser uma tempestade.

Em território insular, os efeitos da passagem do Kirk vão sentir-se a partir do final da tarde de segunda-feira, principalmente nos grupos Ocidental e Central dos Açores. Rita Mota, meteorologista da delegação dos Açores do IPMA, disse à agência Lusa este sábado que o centro do furacão deverá “passar a oeste-noroeste do arquipélago”, sendo que as ilhas do Corvo, Flores, Faial, Pico, São Jorge, Terceira e Graciosa deverão registar “um aumento da intensidade do vento e da agitação marítima”. São esperadas “rajadas até 100 km/hora” no grupo Ocidental e “rajadas até 85 km/hora” no Central.

Devido à passagem do Kirk nos Açores, o IPMA colocou o Corvo e as Flores sob aviso vermelho devido à agitação marítima (e às previsões de que as ondas possam atingir 17 metros de altura máxima) entre as 00h e as 6h locais de terça-feira. As duas ilhas estarão ainda sob aviso laranja entre as 00h e as 9h de terça-feira devido ao vento e sob aviso amarelo por precipitação por vezes forte (entre as 12h e as 18h de segunda-feira).

O grupo Central dos Açores estará sob aviso amarelo por agitação marítima entre as 00h e as 18h de terça-feira. As ilhas do Faial, Pico, Terceira, São Jorge e Graciosa estarão também sob aviso amarelo por precipitação, por vezes forte e acompanhada por trovoada, das 15h de segunda-feira às 6h de terça-feira.

Apesar dos ventos fortes e da chuva persistente, o Kirk não vai afetar as temperaturas. Rita Leitão explica ao Observador que a “massa de ar que este furacão está a transportar é muito quente e húmida, por isso é que vai chover muito”.

O ar ficará, de certa forma, “abafado“, mas as temperaturas vão manter-se estáveis. “Na quarta-feira em particular temos a temperatura a rondar os 22 a 24 graus Celsius, mais ou menos em todo o país. Não há grandes oscilações, só o interior é que tem temperaturas um bocadinho mais baixas, como Viseu com 16 graus Celsius na temperatura máxima, por exemplo”, afirma a meteorologista do IPMA.

Questionada sobre se é comum que um furacão tenha a força que o Kirk tem apresentado ao longo dos últimos dias (chegou a ser de categoria quatro numa escala com cinco níveis de intensidade) e que chegue à Europa na reta final da temporada, Rita Leitão diz que sim.

“Ao longo do verão, a água do mar vai aquecendo. Quanto mais quente estiver mais condições há para que os furacões se formem, tenham alguma intensidade e sejam mais persistentes. No fim do verão é quando a água está mais quente, porque veio acumulando calor. E ainda não teve condições para arrefecer“, nomeadamente porque ainda não existiram, por exemplo, períodos de “noites frias”.

Ainda assim, o meteorologista norte-americano Philip Klotzbach, que diz ser especialista em “previsões sazonais de furacões na bacia do Atlântico”, nota que a presença de Leslie, Milton e Kirk marca a primeira vez desde 2018 (com Leslie, Michael e Nadine) que no mês de outubro esse oceano tem, ao mesmo tempo, três “tempestades que receberam um nome”.