Um discurso, várias abordagens, um sem número de assuntos comentados à margem. Numa altura em que a atualidade dos principais clubes está praticamente “parada” devido aos compromissos das seleções, André Villas-Boas, presidente do FC Porto, foi orador na 18.ª Conferência do Conselho da Europa dos Ministros do Desporto, que se realizou na Alfândega do Porto, e aproveitou depois não só para reforçar a importância de ter o clube azul e branco neste tipo de iniciativas mas também para comentar vários temas da atualidade, do Portal da Transparência à auditoria forense que está a ser realizada ao universo dos dragões, passando pelas paredes pintadas junto ao Dragão aos assobios dos adeptos nos últimos encontros em casa.
“Depois de ter sido atleta, formador e treinador, sempre me interessei pelo desporto como um todo, como uma das mais completas e belas construções humanas, capaz de unir através de uma linguagem universal, de ultrapassar obstáculos entre e comunidades, de educar e formar, de incluir, capaz de levar o individuo à superação fruto do seu trabalho e do trabalho do grupo. Mas, há sempre um reverso da medalha. Por isso, o desporto tem que ser pensado, discutido porque não pode perder a sua capacidade de ser uma das raízes-força de evolução do individuo e das sociedades. No dia em que os ataques à sua integridade se impuserem massivamente e o desporto passar a andar a reboque e não a liderar, as sociedades perderão uma das suas maiores e mais universais referências”, começou por dizer o número 1 dos dragões.
“O Portal da Transparência que lançámos resulta de um compromisso que assumimos com os nossos sócios e com o mundo do desporto. O FC Porto tornou pública toda a informação relevante sobre matérias institucionais, organizacionais, económico-financeiras, de planeamento e contratuais. Em conformidade com os mais elevados padrões internacionais de transparência e acesso à informação, prestamos sempre as nossas contas. Tornámos transparente todas as formas e proveniências de financiamento, a rastreabilidade das transferências de atletas e a natureza dos contratos, um tampão a qualquer operação que favoreça a criação de terreno fértil à corrupção ou à troca de favores. A própria UEFA elogiou este passo que demos em nome da integridade e que esperamos se torne uma regra entre outros clubes. Discrição e secretismo no decorrer de negócios não tem de terminar em opacidade”, reforçou, entre outros exemplos como o de Cardoso Varela, internacional Sub-17 que “caiu nas malhas de determinados agentes”.
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“Não iremos virar a cara à denúncia, à cooperação ativa com as autoridades e as instâncias judiciais. Assim o temos feito. Queremos e desejamos que muitas das entidades nacionais governamentais e as instituições ligadas ao desporto invistam cada vez mais na auto-regulação, na execução da lei mas também sejam capazes de passar da omissão e da passividade para a condenação pública e judicial cada que vez que estivermos perante atos bárbaros de violência, discriminação e corrupção ativa e passiva no desporto. Esses são os tempos que não queremos de volta ao futebol português e onde os seus verdadeiros adeptos não se reconhecem. Hoje urge a ação e não o silêncio. O terreno precisa de mais apoio, de ver consequências reais e efetivas, de ter razões para dizer que no desporto o crime não é compensador”, enfatizou Villas-Boas.
“O FC Porto tem dados significativos, nomeadamente com a criação do Portal da Transparência e através de ações como estas. Gostava de salvaguardar aqui primeiro um ponto de honra que é para o FC Porto estar presente numa Conferência do Conselho da Europa dos Ministros do Desporto onde se discute a evolução do desporto, principalmente no que diz respeito à manipulação de resultados, apostas ilegais e corrupção. Para nós, estar nestes palcos é algo fundamental porque é aqui que se transmitem as mensagens e é aqui que se combate de uma forma ativa a corrupção. Hoje é aqui, amanhã e nos próximos dias na Assembleia Geral dos Clubes em Atenas, na Associação de Clubes Europeus, na sexta-feira em Milão no festival da Gazzetta dello Sport. Esses são os palcos internacionais onde o FC Porto deve estar”, frisou depois o líder portista, à margem desse discurso na Conferência do Conselho da Europa dos Ministros do Desporto.
Nesse sentido, o presidente dos dragões abordou também o ponto de situação da auditoria que está a ser feita ao universo dos azuis e brancos: “Temos concluídos dois anos de auditoria forense mas queremos andar mais uns anos para trás nessa investigação, que nos tem trazido resultados algo surpreendentes. Continuaremos a investigar, este é um compromisso que tenho com os sócios do FC Porto que me elegeram e é para isso que iremos continuar a investigar as más praticas ou situações de que desconfiamos nos últimos anos. Temos algumas conclusões e pedimos agora para estender mais um pouco essa investigação. Penso que em finais de outubro/inícios de novembro iremos dar a conhecer aos sócios conclusões dessa investigação”.
Ainda à margem da mesma intervenção esta terça-feira, André Villas-Boas abordou as paredes pintadas no Estádio do Dragão com mensagens contra si e contra o técnico Vítor Bruno, bem como os assobios que de quando em vez se vão ouvindo e que levaram por exemplo Samu Omorodion a festejar golos pedindo apoio para a equipa. “No caso dos assobios, parece-me um movimento orgânico num Dragão soberano, as pinturas nas paredes é uma patetice de uma encomenda infantil para tentar desestabilizar o FC Porto. Os Super Dragões, enquanto associação e Grupo Organizado de Adeptos, distanciou-se imediatamente e nós não temos nada a ver com isso. É uma patetice, uma infantilidade de um infeliz qualquer sem valor”, referiu.
“Os adeptos do FC Porto sempre foram muito exigentes, é um clube que não quer estar três anos sem ganhar o título nacional, por isso o tribunal das Antas e do Dragão é muito conhecido. Esteve ausente nas últimas sete épocas e isso é uma evidência, agora regressou em força e os adeptos sentem essa ansiedade e têm-na demonstrado. Os adeptos são soberanos e quando têm de assobiar, assobiam. Ninguém está aqui para perder e essa é a mensagem que o mister e eu temos passado. Para nós são situações normais de lidar, temos registado o desagrado dos atletas perante essa situação e isso é um sinal de uma reeducação da massa adepta portista, porque se revelam descontentamento é porque também tem de haver uma reeducação e uma nova forma de estar no estádio”, acrescentou ainda sobre os assobios nos dois últimos encontros.