A associação Quebrar o Silêncio insistiu este sábado na necessidade de um plano nacional de combate e prevenção da violência sexual contra crianças, sublinhando o atraso de Portugal em relação a uma realidade que muitos desconhecem.

A posição da associação de apoio a homens vítimas de violência sexual surge na sequência de um relatório publicado na quinta-feira pela agência das Nações Unidas para a infância, a UNICEF, que revelou que em Portugal é reportado um caso por cada dia de escola.

“À luz da divulgação do estudo da UNICEF, a Quebrar o Silêncio apela à criação urgente de um plano, devidamente estruturado, de combate e prevenção da violência sexual contra crianças”, defende a Quebrar o Silêncio.

Em comunicado, a associação escreveu que as reações ao relatório “são sintoma que indica o quão atrasado está Portugal em matérias sobre abuso sexual de crianças e uma oportunidade única para avançar nos direitos humanos das crianças vítimas”.

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“É comum vermos docentes que não sabem o que fazer”, relatou Ângelo Fernandes, fundador da associação, referindo que, na maioria dos casos, os professores dizem comunicar a situação à direção, à psicóloga da escola ou à família, mas raramente às autoridades competentes.

Dados de 2023 relativos a violência nas escolas, citados no relatório “Violência Sexual contra as Crianças”, apontam para um caso de violência sexual reportado a cada dia escolar, o que leva a diretora da agência em Portugal, Beatriz Imperatori, a pedir “sistemas de proteção” e “tolerância zero” para com este tipo de violência, e a instar o Estado a reforçar o conhecimento da realidade no país e a implementar “políticas públicas eficazes”.

A nível internacional, as primeiras estimativas globais e regionais de sempre sobre a violência sexual contra crianças revelaram que mais de 370 milhões de raparigas e mulheres foram vítimas de violação ou abuso sexual antes dos 18 anos.

Entre os rapazes e homens, o número de vítimas de violação ou abuso sexual durante a infância ronda entre os 240 a 310 milhões.

A UNICEF adiantou ainda que se a análise for alargada a violência sexual sem contacto físico, abrangendo, por exemplo, violência verbal ou em ambiente digital, “o número de raparigas e mulheres afetadas aumenta para 650 milhões a nível mundial e o número de rapazes e homens para 410 a 530 milhões, o que realça a necessidade urgente de estratégias integradas e ambiciosas de prevenção e combate a todos os tipos de violência contra crianças”.