O setor bancário “está hoje claramente numa situação mais robusta do que na crise financeira passada”, garantiu eesta terça-feira a vice-governadora do Banco de Portugal, na abertura de um evento da Associação Portuguesa de Bancos (APB), no dia em que arrancou o julgamento do processo BES, cujo colapso marcou o ponto mais difícil da crise financeira em Portugal. Esse foi um caso que, para o presidente da APB, Vítor Bento, “não aconteceria hoje” dadas as mudanças no setor bancário.

“Hoje o setor bancário está claramente mais robusto do que era antes da crise financeira passada”, referiu Clara Raposo, assinalando o aumento dos requisitos de capital trazidos pelas regras de Basileia e outros fatores como a supervisão única bancária. “Alguns podem considerar que a regulação foi longe demais, é legítimo que o pensem”, afirmou Clara Raposo, contrapondo essa ideia com o que diz ser o aumento da robustez do setor financeiro.

Ainda falta, acrescentou, uma “peça” que é a garantia de depósitos única a nível europeu (proposta conhecida pela sigla EDIS), que “é essencial para incrementar confiança e evitar ‘corridas aos depósitos’ bancários, contribuindo para alterar a relação entre bancos e os estados.

As declarações foram feitas numa conferência organizada pela Associação Portuguesa de Bancos (APB), comemorativa dos 40 anos da associação. À margem da sessão, o anfitrião do evento, Vítor Bento, fugiu a comentar a coincidência com o julgamento do caso BES – banco do qual foi presidente, por poucas semanas, em substituição de Ricardo Salgado – mas acabou por considerar que um caso como esse não aconteceria hoje.

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“Nas condições que temos, julgo que não acontecia hoje. Os bancos têm uma limpeza de balanço, uma estrutura de governance que não tem qualquer comparação com o que havia há 10, 12 anos”, afirmou Vítor Bento.

Segundo o economista, a “reputação do setor é hoje muito melhor” devido ao trabalho feito pelos bancos desde então e defendeu que atualmente Portugal tem uma “banca saudável, confortável, empenhada em apoiar a economia e a sociedade”.

Questionado se o BES ainda é um peso para os restantes bancos, o presidente da APB considerou que é “um peso refletido nas contribuições extraordinárias exigidas aos bancos que se portaram bem”.

Na abertura da conferência, a vice-governadora do Banco de Portugal tinha destacou o “aumento da concorrência” (não só de bancos de outros países como outros players de serviços financeiros) como um dos principais desafios para o setor, além dos riscos associados à cibersegurança e a transição climática.

Para Clara Raposo, há ainda o desafio do “euro digital”, a moeda digital de banco central que o BCE está a preparar (ainda sem confirmação de que irá mesmo avançar). Esta inovação “terá implicações no custo de financiamento dos bancos, mas o Eurossistema está consciente dos riscos para a rentabilidade dos bancos”, garante a vice-governadora do Banco de Portugal.

Vem aí o euro digital. O vírus vai matar as moedas e notas (e ameaçar os bancos)?