A fadista Fábia Rebordão recria temas e compositores que ouve desde sempre, no seu novo álbum, “Pontas Soltas“, a sair sexta-feira, e algumas parcerias que a deixam “muito feliz”, como disse em entrevista à agência Lusa.

De acordo com Fábia Rebordão, o novo álbum “estava pensado há algum tempo”, tinha começado a concretizá-lo depois de ter sido mãe, há dois anos e meio. “Ainda não tinha encontrado o tempo certo” para fazer o álbum, “e desde a minha maternidade, em que pude descansar e repousar as ideias, avaliá-las e amadurecer” o projeto, definiu-se “o momento certo para o fazer”. “No fundo”, prossegue a fadista, “Pontas Soltas” “é a recriação de temas e compositores que oiço desde sempre, e de algumas parcerias que me deixam muito feliz”.

O álbum soma 14 temas, entre eles “A Voar por Cima das Águas“, de Fausto, “Elixir da Eterna Juventude“, de Sérgio Godinho, “Fado Tropical“, de Chico Buarque, e “Juras” (Pedro Bandeira / Alfredo Mendes), de Esmeralda Amoedo.

Entre as parcerias registam-se Ney Matogrosso, em “A nossa guerra” (Jorge Fernando), Renato Teixeira, em “Romaria” (Renato Teixeira), Zeca Baleiro, em “Fado Tropical” (Chico Buarque), e Custódio Castelo, em “Saudades do Brasil em Portugal” (Vinicius de Moraes).

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Fábia Rebordão referiu-se às parcerias como “uma partilha de arte e de música”, que surgiram de “uma forma natural”, algumas em rodas de amigos, como aconteceu com Ney Matogrosso, numa tertúlia na casa do músico Paulinho Mendonça, no Rio de Janeiro.

Nesta tertúlia Fábia cantou “A Nossa Guerra“, acompanhada pelo músico Jorge Fernando, que produz o álbum com o também músico Kapa de Freitas.

“O Ney [Matogrosso] adorou o tema e, até perguntou ao Jorge [Fernando], ‘Não tens mais destas?’. Surgiu a ideia e gravámos o tema juntos”, contou.

Fábia Rebordão considerou que “é notória a emoção que ambos” depositaram na interpretação da canção, e salientou que foi “um resultado feliz”.

Do alinhamento fazem parte também “Justino da Tipoia” (Carlos Conde/Fado Pena, de Fernando Freitas), do repertório de Fernando Maurício (1933-2003), e “Café de Camareiras” (Gabriel de Oliveira/Manuel Maria/Alfredo Marceneiro), com arranjos de Jorge Fernando, ao qual se referiu como “muito criativo”: “Quando pega nas coisas começa a viajar e a divagar e deixa que a emoção tome conta dele”.

Fábia Rebordão disse ainda que “encontrou um parceiro ideal” em Kapa de Freitas.

Sobre a interpretação com novos arranjos, a cantora assegura que não “se perdeu nem a raiz nem a matriz do fado, o que é muito importante”. “Ao mesmo tempo”, prossegue, essa nova abordagem “dá uma contemporaneidade aos temas”.

A fadista sustentou que se deve procurar “esta evolução, esta modernidade, mas mantendo sempre o cunho da raiz, esta verdade que é o fado, um estado de alma, uma forma de estar na vida”.

Fábia Rebordão destacou ainda que os dois produtores — Jorge Fernando e Kapa de Freitas — foram ao encontro do que pretendia, um álbum “mais orgânico, ao bater do coração, mas não perdendo de vista uma certa modernidade”.

“Da mesma forma que é tradicional, tem os fados ‘Pena‘ e o ‘3/2/1’, o ‘Café de Camareiras‘, e tem este lado fadista, trágico e intenso”, o álbum está também “de braço dado com a modernidade”, realçou.

Sobre a escolha do tema de Fausto (1948-2024), a fadista lembrou “o privilégio de ter convivido muito com o músico”, que morreu no final do passado mês de junho.

“O Fausto até me foi ouvir cantar à casa de fados algumas vezes, e tive o privilégio — e foi um presente enorme que ele me deu —, de ser sua convidada no concerto [dele] na Casa da Música”, no Porto, em 2021.

Amiga da família, a quem mostrou a nova gravação de “A Voar por Cima das Águas“, antes de sair em ‘single’, Fábia Rebordão lamentou não ter tido oportunidade de a dar a ouvir ao autor. A reação da família, no entanto, disse à Lusa, deixou-a “imensamente feliz e tranquila”.

No novo álbum, Rebordão assina letra e música do ‘tema-título’, “Pontas Soltas“, que “foi o início desta jornada” das “últimas músicas” que compôs antes do nascimento da filha, e que foi defendida por Jonas no Festival RTP da Canção, em 2022.

“Todas estas canções, compositores, e estes meus heróis musicais são pontas soltas da minha vida que se unem neste meu trabalho”, argumentou.

“Barquito Corcel“, o tema de abertura do álbum, é uma canção que o seu autor, Jorge Fernando, já cantava muito ao vivo, e que considera “especial”: “Nós sentimo-lo a bater cá dentro, é especial, tem qualquer coisa, tem personalidade, tem carisma”.

A fadista partilha com Renato Teixeira, o autor de “Romaria“, uma criação de Elis Regina (1945-1982). A história desta parceria começou numa visita do compositor a Lisboa, para quem Fábia Rebordão cantou esse ‘clássico’. Teixeira disse-lhe que “a canção ganhou uma cara e uma dimensão que não conhecia”, e propôs-lhe gravarem-na juntos. “Eu fiz a minha versão, cantei com o meu sotaque português [europeu], à minha maneira, e foi uma parecia feliz”.

Este é o quarto álbum de Fábia Rebordão que começou a cantar aos 14 anos. Estreou-se discograficamente em 2011, com “Oitava Cor“, a que se seguiu “Eu” (2016) e “Eu Sou” (2021), estabelecendo um percurso a que se refere como “interessante e consistente”, reconhecendo-se como uma intérprete “impulsiva”, “muito satisfeita, até ao ínfimo pormenor, com este novo álbum”.

“Este álbum retrata as minhas influências musicais, de muitas coisas que ouvi e que me compõem enquanto compositora, intérprete e artista”, rematou Fábia Rebordão.