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Francisco, um jogador que sabe fazer a sua seleção (a crónica do Famalicão-Sporting)

33 remates, 13 enquadrados, 62 ações na área: Sporting voltou a ganhar de forma quase natural num dia histórico para Quenda onde Francisco Trincão mostrou o que é jogar na sombra dos outros (0-3).

Francisco Trincão foi um dos melhores do Sporting em mais um triunfo dos leões no Campeonato frente ao Famalicão
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Francisco Trincão foi um dos melhores do Sporting em mais um triunfo dos leões no Campeonato frente ao Famalicão

MIGUEL RIOPA

Francisco Trincão foi um dos melhores do Sporting em mais um triunfo dos leões no Campeonato frente ao Famalicão

MIGUEL RIOPA

Está longe de ser um dérbi até pelos quase 350 quilómetros que separam as duas cidades, também não é um clássico pelo historial de confrontos entre ambos os conjuntos, ainda fica a dever ao chamado jogo grande frente a conjuntos com maior tradição no futebol nacional. No entanto, e quando no calendário aparecer uma deslocação do Sporting a Famalicão, pode falar-se num passado recente de “o” jogo. Não seria decisivo até por estarmos ainda na nona jornada, não enfrentava qualquer contexto especial tendo em conta que surge colocado entre Liga dos Campeões e Taça da Liga para os leões, chegava sobretudo como um barómetro para medir o atual momento da formação verde e branca com liderança na Liga e boa posição na Champions.

Famalicão-Sporting. Pote marca mas VAR anula golo (0-1, 13′)

Mas o que tem afinal de especial um Famalicão-Sporting? Várias coisas. Foi em Famalicão que Jorge Silas fez a última partida no comando dos leões em março de 2020, com uma derrota que precipitou a saída e um investimento superior a dez milhões de euros num técnico que tinha pouco mais de dez encontros na equipa principal do Sp. Braga. Foi em Famalicão que nasceu o célebre “Onde vai um,vão todos”, quando os lisboetas empataram a dois na campanha que terminaria com o título de 2020/21. Foi em Famalicão que a equipa de Amorim cedeu os primeiros pontos no Campeonato de 2021/22. Foi em Famalicão que, depois de uma tarde triste e de violência fora de campo sem jogo pela falta de policiamento, o Sporting deu o último passo decisivo para ganhar a Primeira Liga de 2023/24 com um único golo de Pedro Gonçalves.

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“Não é só o clube, há uma junção do clube, do estádio. Vive-se muito o Famalicão naquele estádio. E depois é o treinador, é muito difícil bater as equipas do mister Evangelista. Demorámos muito tempo para vencer o Famalicão. No ano passado foi um passo importantíssimo na conquista do título. Só têm uma derrota no Campeonato, são difíceis de bater e têm jogadores talentosos. Gostam destes jogos grandes. Estão numa fase de formação onde o talento está lá e nestes jogos sentem-se muito confortáveis. Defendem bem, fazem excelentes transições. Jogam de forma diferente este ano, às vezes com um falso avançado, diferente do que acontecia com o [Jhonder] Cádiz. Esperamos um jogo complicado”, admitira Rúben Amorim antes da partida frente a um adversário que bateu o Lagoa na Taça após uma série com uma derrota e quatro empates.

Em paralelo, e depois dos regressos de Pedro Gonçalves, Matheus Reis e St. Juste no último jogo frente ao Sturm Graz, o técnico leonino mostrava-se satisfeito com a possibilidade de já contar também com Diomande mas com festejos comedidos. “Nunca estamos descansados, o que nos ajuda é não sobrecarregar jogadores”, explicara o treinador verde e branco, sem abrir o jogo em relação às opções iniciais mas reforçando que a possibilidade fazer uma maior rotatividade acaba por ser uma mais-valia para uma equipa que começa a ser apontada a uma época histórica onde pudesse sagrar-se bicampeã nacional muitas décadas depois e chegasse um pouco mais longe na Liga dos Campeões. Aí, entre confiança, evitava (mais) pressão.

“Temos essa ambição mas não sei dizer. Já disse que estamos preparados e num nível diferente mas não quero aumentar a pressão. A ambição é essa, acho que temos capacidade para isso. Precisamos de sorte, competência, sorte nas lesões também. Essa é a nossa ambição. Se o vamos fazer? Vamos esperar pelo fim e não dizer agora nada sobre isso para aumentar a pressão. Queremos ganhar o campeonato, é óbvio. O esforço de toda a gente para manter o plantel foi a pensar em sermos bicampeões, há 70 anos que não acontece. E isso leva-nos novamente à Champions, podemos compensar a parte financeira. Queremos muito fazer história. Se vamos fazer? É deixar correr os jogos…”, referira a esse propósito, numa fase em que o Sporting somava apenas vitórias no Campeonato e estava dentro do top 8 da classificação na Champions.

Amorim não queria pressão a mais, Amorim também não quer deixar a pressão. Com quatro alterações na equipa muito ligadas aos aspetos físicos, entre os regressos de Pedro Gonçalves e Diomande ao onze e as idas de Hjulmand e Maxi Araújo para o banco, o resultado na primeira parte ainda enganava mas uma entrada a todo o gás no segundo tempo acabou de vez com um jogo que nunca levantou grandes dúvidas e terminou com uma vitória natural do Sporting. Gyökeres voltou a brilhar com um movimento fantástico que abriu o marcador, Geovany Quenda fez história tornando-se o mais novo de sempre a marcar pelos leões na Liga, Debast e Daniel Bragança justificaram mais uma vez o porquê de assumirem estatuto de titulares e depois, mais uma vez, houve Francisco Trincão. O internacional não marcou, não assistiu e não ficou diretamente ligado a nenhum golo mas voltou a mostrar como tem um futebol que supera todos esses números. Com e sem bola, o esquerdino sabe sempre fazer a sua melhor seleção – e Amorim já percebeu bem isso.

Ficha de jogo

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Famalicão-Sporting, 0-3

9.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Municipal de Famalicão

Árbitro: Fábio Veríssimo (AF Leiria)

Famalicão: Zlobin; Calegari, Mihaj, Justin de Haas, Rafa Soares; Zaydou (Liimatta, 67′), Topic; Gil Dias (Samuel Lobato, 58′), Gustavo Sá (Mathias de Amorim, 43′), Rochinha (Mario González, 67′) e Aranda

Suplentes não utilizados: Carevic, Tommie van de Looi, Riccieli, Rodrigo Pinheiro e Afonso Rodrigues

Treinador: Armando Evangelista

Sporting: Franco Israel; Debast, Diomande (St. Juste, 71′), Gonçalo Inácio; Geovany Quenda (Maxi Araújo, 71′), Daniel Bragança, Morita (Harder, 81′), Nuno Santos (Geny Catamo, 46′); Trincão, Pedro Gonçalves (Hjulmand, 64′) e Gyökeres

Suplentes não utilizados: Kovacevic, Matheus Reis, Ricardo Esgaio e Bruno Ramos

Treinador: Rúben Amorim

Golos: Gyökeres (57′), Geovany Quenda (63′) e Gonçalo Inácio (86′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Gonçalo Inácio (22′) e Zaydou (51′)

À semelhança do que tem acontecido nos últimos encontros do Campeonato, o Sporting voltou a conseguir uma entrada afirmativa e com algumas aproximações de perigo que foram deixando a sensação de receio no Famalicão na hora de arriscar transições – o que foi deixando o encontro praticamente no meio-campo dos visitados. Daniel Bragança, aproveitando uma segunda bola perdida na área, rematou forte mas a tentativa bateu em de Haas quando seguia para a baliza. Geovany Quenda, em mais uma jogada de envolvimento a passar pelos três corredores, desviou na área descaído sobre a direita mas o lance voltou a ser cortado. Até quando a bola foi à baliza não deu golo: Daniel Bragança abriu bem em Nuno Santos depois de uma viragem rápida do centro de jogo, Gyökeres deu um ligeiro toque na área e foi esse momento que acabou por colocar Pedro Gonçalves em posição irregular quando marcou mas viu o lance anulado pelo VAR (11′).

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Famalicão-Sporting em vídeo]

A qualidade do Famalicão é evidente em qualquer ação, mesmo que os últimos resultados não apontassem nesse sentido, mas o Sporting conseguia fazer prevalecer o trabalho sem bola para anular aquelas que seriam as virtudes da equipa da casa. Foi assim durante 20 minutos, com domínio total dos verde e brancos, deixou de ser assim em definitivo a partir dos 25 minutos, altura em que o Famalicão começou a conseguir a saltar as zonas de pressão leoninas, ligou setores com Topic e Gustavo Sá a agarrarem mais no jogo e criou também perigo na área contrária, com Aranda a desviar de primeira um cruzamento da direita para a baliza mas o golo a ser anulado de imediato pelo árbitro assistente, numa decisão confirmada depois pelo VAR (25′). As principais características do início da partida tinham mudado de vez e imperava agora o equilíbrio.

O intervalo ainda estava longe mas não demorou a tornar-se próximo, com os minutos a passarem sem que ambas as equipas conseguissem furar a organização defensiva contrária. Não foi por falta de tentativas, com Zlobin a evitar tudo o que aparecia entre um remate ao lado de Francisco Trincão (33′), um desvio no meio da confusão da pequena área de Pedro Gonçalves (35′) e uma estirada fantástica a novo tiro de Trincão já nos descontos, com a recarga a ser depois evitada por Mihai para canto quando se encaminhava para a baliza. O Sporting acabava por cima com o guarda-redes do Famalicão a ser a grande figura e Rúben Amorim a ter mais um motivo de preocupação que se pode transformar num problema a médio prazo, com Nuno Santos a chocar joelho com joelho com Zaydou e a sair de maca para os balneários em claro sofrimento.

Se a primeira parte tinha terminado com o Sporting a tentar de novo colocar o Famalicão na sua área, a entrada para o segundo tempo foi ainda mais forte. O próprio Rúben Amorim, que subiu um pouco mais cedo dos balneários para falar com Geny Catamo antes da entrada em campo, colocava-se com aquela postura de quem só quer ouvir o apito inicial para confirmar que era nesse momento que tudo poderia mudar. Mudou e de forma decisiva: Zlobin começou por fazer mais duas defesas gigantes a remates de Pedro Gonçalves e Bragança (47′) mas nada conseguiu “inventar” para a enxurrada de futebol ofensivo leonino, com Gyökeres a inaugurar o marcador num grande trabalho individual após assistência de Morita (57′) e Geovany Quenda a marcar pela primeira vez pelos seniores do Sporting na recarga a uma primeira tentativa de Trincão (63′).

Ainda houve mais um remate com perigo de Quenda para nova defesa de Zlobin mas a fatura do encontro na Áustria para a Champions não demoraria a chegar, com Diomande e Quenda a saírem por motivos físicos para as entradas de St. Juste e Maxi Araújo (antes Pedro Gonçalves já tinha dado o lugar a Hjulmand) e a equipa leonina a demorar até ligar o verdadeiro botão de “controlo do jogo” e o Famalicão a criar perigo num remate de Topic para defesa apertada de Franco Israel (70′) e num falhanço isolado na área de Liimatta que não desviou da melhor forma e perdeu uma grande oportunidade (72′). Foi a janela de oportunidade, fechou-se a porta de vez e ainda houve tempo para o terceiro golo, com Gonçalo Inácio a surgir na linha entre Zlobin e a defesa para desviar de primeira uma cruzamento de Geny Catamo da direita (86′).

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