O antigo Presidente moçambicano Joaquim Chissano reconheceu, esta quarta-feira, que o país “vive um momento grave” e afirmou que “ninguém deve impor o seu candidato” a Presidente, escolhido em eleições, porque “fica perigosamente perto de golpe de Estado”.
“Em janeiro, o novo Presidente toma posse. Aguardemos os resultados, ninguém deve impor o seu candidato. Forçar o seu candidato fica perigosamente perto de golpe de Estado ou tomada de poder por meios inconstitucionais e tal não deve ser aceite de nenhuma maneira”, afirmou Chissano, chefe de Estado de 1986 a 2005, numa mensagem de quase 10 minutos divulgada esta quarta-feira.
A posição surge numa altura em que Maputo se prepara para a anunciada manifestação nacional convocada pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados das eleições gerais de 9 de outubro anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que deram a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975), com 70,67% dos votos, mas que ainda têm de ser validados pelo Conselho Constitucional.
Esta quarta-feira, cumpre-se também o sétimo dia de paralisação e manifestações em todo o país, convocadas também por Venâncio Mondlane contra os resultados eleitorais, com a generalidade a levar à intervenção da polícia, que dispersa com tiros e gás lacrimogéneo, enquanto os manifestantes cortam avenidas, atiram pedras e incendeiam equipamentos públicos e privados, tal como já tinha acontecido nos protestos de 21, 24 e 25 de outubro.
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“Mas alguma leitura deve ser feita. Há um nível de descontentamento que deve ser tido em conta. O nosso país é grande, a nossa população é jovem, há talentos em muitos participantes na política, tanto nos partidos antigos como nos partidos novos. Há que aproveitar esses talentos. Eleições costumam ser períodos de aumento de conflitos, mas também podem servir para descobrir novos talentos para refletir de novo sobre o valor da unidade”, afirmou Chissano, na mesma declaração.
Acrescentou que “os jovens devem merecer mais atenção da governação”, embora sublinhando que “não será possível resolver tudo e já”, mas que “novas iniciativas devem ser desenvolvidas para apoiar a habitação dos jovens, por exemplo”.
“O nosso país vive um momento grave. Grupos manifestam-se com violência nas ruas, queimam pneus, atacam lojas. Parece que querem estabelecer um clima de desordem no país. Tudo isto ocorre porque alguns dos concorrentes às eleições consideram que já venceram mesmo antes dos resultados finais terem sido anunciados. Compreendemos essa frustração, mas fiquemos serenos, não haja maior valor que a vida. Já perdemos vidas demais. Já houve destruições de mais”, afirmou igualmente.
“Se eu vejo coisas injustas e elas existem, acho que o meu candidato ganhou, porque as denunciou, portanto, se ele não ganha, é porque houve fraude. Mas o resultado das eleições não é ditado por aquilo que eu penso. As eleições são a soma de várias vontades, as minhas e as de outros compatriotas. Aquilo que eu considero verdade só é verdade se resultar da soma das opiniões livremente expressas por todos os cidadãos”, disse Chissano, apelando à “serenidade e equilíbrio”.
“Não são bons os discursos de que só eu estou preparado porque fui investido de alguma missão. Isso é válido em algumas igrejas e religiões, mas eleições são sobre governação, bem servir o povo, escolher a melhor política de emprego, inventar maneiras de empregar pessoas, incentivar iniciativas de jovens e dar apoio necessário para os próprios se auto empregarem”, disse.