Centenas de desenhos, pinturas, fotografias, cadernos e imagens digitais do realizador Jean-Luc Godard vão ser reveladas na Fundação de Serralves, no Porto, no âmbito de uma exposição inédita a ser inaugurada na quarta-feira.
A exposição Tendo em Linha de Conto os Tempos Atuais, cujo título provém de um plano de “Trailer do filme que nunca existirá Guerras de Mentira“, apresenta na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, em Serralves, em estreia absoluta, pinturas, desenhos, cadernos, imagens digitais e fotografias que integram a obra plástica de Godard (1930-2022), desde a sua adolescência até 2022, explicou esta terça-feira o diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira, António Preto, durante visita para jornalistas.
“Noventa por cento das obras que são apresentadas nesta exposição são inéditas em absoluto. É a primeiríssima vez que estas obras vão ser apresentadas. É o caso, por exemplo, do último caderno que o Godard produziu e que se chama Test amen ts, que é apresentado pela primeira vez e que é, no fundo, a súmula, um testamento estético e afetivo daquilo que foi o percurso de Jean-Luc Godard”, declarou António Preto.
Para o diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira e para Serralves “é um grande privilégio” receber a exposição Jean-Luc Godard: Tendo em Linha de Conto os Tempos Atuais, que é organizada por um “coletivo de quatro pessoas que contam entre os mais próximos colaboradores de Godard ao longo da última década e meia” e que assinam esta exposição com a designação Coletivo Ô Contrarie!, composto por Fabrice Aragno, Jean-Paul Battaggia, Nicole Brenez e Paul Grivas (sobrinho do realizador Godard).
A exposição abre com fotografias do realizador expostas nas paredes do corredor da Casa Manoel de Oliveira e com um texto explicativo onde se pode ler que pela primeira vez se vai apresentar o percurso de Jean-Luc Godard “enquanto criador de imagens fixas, desde a sua infância até 2022”.
“Grande parte das obras visuais de Godard (pinturas, desenhos, cadernos, imagens digitais), bem como fotografias de família tiradas por sua mãe Odile Monod, nunca foram mostradas antes“, acrescenta o texto introdutório.
Durante a visita para os jornalistas, Paul Grivas destacou as imagens do tio captadas pelo telemóvel, mas também pôs em evidência os primeiros desenhos e pinturas que Godard fez, bem como um caderno feito em novembro de 1947 onde está desenhada a família burguesa a “agredir” o realizador.
Numa segunda sala da exposição, pode apreciar-se algum do trabalho realizado dos anos 1960 até ao ano da morte de Jean-Luc Godard.
Estão expostos cadernos sobre os filmes de Godard, bem como canetas, tesouras, réguas, charutos, isqueiros, telemóvel e até um caderno amoroso que Jean-Luc fez para oferecer à sua amada Ana quando tinha 37 anos.
A exposição, que vai estar patente até 13 de maio de 2025 na Casa do Cinema Manoel Oliveira, vai ter, paralelamente, um ciclo de cinema, conferências e conversas.
Para quarta-feira está marcada com a exibição da curta-metragem “Scénarios” (2024), a última obra do realizador.
Parte fundamental da Nouvelle Vague francesa, movimento que revolucionou o cinema a partir dos anos 1950, Godard teve uma longa carreira premiada, que vai desde o galardão de melhor realizador, em Berlim, logo por O Acossado (1960), até um Óscar honorário, entregue em 2010 numa cerimónia à qual não compareceu.
Autor de obras influentes para várias gerações de realizadores, como O Desprezo (1963), com Brigitte Bardot, Bando à Parte (1964), Pedro, o Louco (1965) ou os mais recentes Filme Socialismo (2010) e Adeus à Linguagem (2014), Jean-Luc Godard ficou conhecido “pelo seu estilo de filmar iconoclasta, aparentemente improvisado, bem como pelo seu inflexível radicalismo”, como recordou o jornal The Guardian no obituário do cineasta.