Tim Berners-Lee não considera que a vaga de entusiasmo com a inteligência artificial (IA) — ou, nas suas palavras, o hype — seja infundada. “Não, a IA não é um ciclo de hype, é real. De certa forma, a maneira como trabalhamos passa por pôr as máquinas a fazer coisas por nós”, diz o criador da World Wide Web, que mudou a forma como se navega na internet.
Berners-Lee é uma presença habitual em conferências de tecnologia, onde reconhece que já viu vários ciclos de hype. “Em Davos, houve um ano em que todos os edifícios estavam cobertos com cartazes de blockchain. Mas depois a blockchain não deixou o mundo tão entusiasmado como algumas pessoas achavam. E agora é a IA a cobrir todos os edifícios.”
De regresso à Web Summit, ao lado de John Bruce, com quem gere a empresa Inrupt, o cientista britânico reconhece que os grandes modelos de linguagem (LLM) foram uma espécie de momento “bingo” na indústria. “Estamos surpreendidos, acho que quase todas as pessoas que conheço estão surpreendidas, pela forma como aconteceu, mas agora chegou.” Para uma boa parte do mundo, a sigla LLM entrou no glossário através das interações com um serviço chamado ChatGPT, baseado num LLM, e desenvolvido pela OpenAI.
Berners-Lee defende que, à medida em que a IA se torna mais popular, é importante ter em conta temas como a privacidade e a segurança. “É muito importante ter uma IA que trabalhe para mim”, frisa. É a mesma mensagem que tem defendido nos últimos anos, em que tem estado a promover o desenvolvimento de um protocolo de privacidade, chamado Solid.
“As pessoas têm a sensação de que estão presas num sistema que nem sempre tem em conta os seus interesses. Mas somos programadores, podemos criar coisas novas e estamos a fazer coisas novas, que respeitam as pessoas. Eu consigo resolver as coisas porque sei programar, mas as pessoas que não o sabem fazer devem ter a mesma oportunidade que eu.”
John Bruce, a outra parte da dupla no palco da Web Summit, considera que a União Europeia tem feito “um trabalho bastante bom” em matéria de regulação, mencionando o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) e, mais recentemente, o AI Act, o primeiro enquadramento regulatório para a IA. “Têm feito um trabalho bastante bom na questão de se juntar para a regulação (…), que nos EUA não tem existido.”