Há um laço preto em tudo o que diga respeito ao Grande Prémio de Barcelona. É em Montmelò que estarão centradas todas as decisões de um Campeonato do Mundo de MotoGP que cumpriu tudo o que prometera, que se encontra na antecâmara de inúmeras mudanças de pilotos que foram sendo confirmadas para 2025 e que vai agora decidir o campeão. Jorge Martín tem uma mão e meia no troféu, só necessitando que nada de anormal se passe para confirmar o que parece anunciado há algumas semanas. Já Pecco Bagnaia, atual bicampeão, anseia por uma conjugação cósmica que lhe permita fazer o que apenas dois pilotos conseguiram este século: ganhar três vezes consecutivas como Valentino Rossi e Marc Márquez. No entanto, ninguém esquecia tudo o que se passou em Valência e que impediu que tudo acontecesse no circuito Ricardo Tormo.

Era à luz deste contexto que se iria começar a perceber nos treinos livres o que cada um estava a render num circuito onde o italiano ganhou em 2024 mas o espanhol terminou na segunda posição. Em paralelo, muito se ia escrevendo sobre os 24 pontos de diferença entre ambos. Houve inclusivamente o “desenho” de uma alegada conspiração que estaria a ser preparada pela Ducati para que a vitória pudesse ir parar ao seu piloto de fábrica, com a teoria desenhada pelo ex-piloto Casay Stoner a ser de imediato contrariada por todas as partes envolvidas a começar pela Ducati, que garantiu não ter feito qualquer diligência em prol de nenhum dos envolvidos. Um pouco de polémica para apimentar o que já estava devidamente condimentado.

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Ao mesmo tempo em que se discutia o título, havia outras “lutas” ainda em aberto. Marc Márquez, que se vai mudar para a Ducati, tentava ainda tirar o terceiro lugar no Mundial a Enea Bastianini, que está a caminho da KTM. Já Pedro Acosta e Brad Binder, que serão companheiros em 2025 com a ascensão do espanhol à equipa de fábrica, tentam desempatar quem será o melhor piloto da KTM em 2024. No meio de tudo isso, Miguel Oliveira estava de regresso às pistas após cinco corridas de ausência (Indonésia, Japão, Austrália, Tailândia e Malásia) pela operação às múltiplas fraturas do rádio do braço direito. Também essa “novidade” seria um dos destaques em Barcelona, apesar das naturais cautelas que o português ainda relevava.

Miguel Oliveira regressa à competição no Grande Prémio de Barcelona de MotoGP

“Estou feliz por estar de volta, por fazer o contacto com toda a equipa. Não foram tempos fáceis, sobretudo num período em que julguei que podia voltar, mas ainda era cedo para isso. Não sei quanto é que o pulso me pode limitar mas estou otimista. Não estou a 100%, mas a uns bons 90%. É sempre bom deixar a equipa num bom tempo e com um bom resultado mas não sei o que posso esperar. O circuito presta-se muito bem à nossa mota. O objetivo neste momento é muito mais o futuro do que deixar a equipa com uma vitória mas se puder acontecer é um enorme gosto”, comentara o piloto de Almada em declarações à SportTV.

A última corrida do ano, que marcaria a despedida da Trackhouse Racing (que terá na próxima época o japonês Ai Ogura ao lado de Raúl Fernández), serviria também de rampa de lançamento para o contacto com a nova equipa para 2025, a Prima Pramac com motores da Yamaha, onde será companheiro de Jack Miller. “Não vamos ter muito tempo para nos adaptar à mota mas a primeira sensação é pouco indicativa. Depois vamos para as férias de inverno com essa sensação e chegar a Sepang o mais bem preparados possíveis. Jack Miller? Sempre tivemos uma boa relação, é um tipo muito engraçado, o ambiente na box vai ser relaxado”, comentou Miguel Oliveira, que era um dos pilotos que deixaria o capacete, um fato e as botas para serem leiloadas com os fundos a reverterem para as vítimas das inundações na Comunidade Valenciana.

A sessão matinal de treinos, que teve o japonês Taakaki Nakagami como o mais rápido à frente de Pedro Acosta e Álex Márquez, não foi propriamente um grande barómetro para aferir sobre o momento de Miguel Oliveira. O português terminou com o 21.º registo, à frente do companheiro Raúl Fernández, com as Aprilia a terem um desempenho modesto tendo Maverick Viñales como o mais rápido com o oitavo tempo. Com Martín em quinto e Bagnaia em sétimo, as atenções estavam centradas na parte da tarde e naquilo que todas as equipas conseguiriam fazer para colocar os seus pilotos no top 10 com acesso direto à Q2.

A primeira parte da sessão vespertina foi começando a definir de outra maneira a hierarquia. Com Marco Bezzecchi a cravar bons tempos e Álex Márquez e Pedro Acosta a confirmarem os registos da manhã, Pecco Bagnaia parecia um pouco mais rápido do que Jorge Martín mas ambos sempre em tempos que permitiriam uma passagem direta à Q2. Já Miguel Oliveira, à semelhança de Maverick Viñales e Aleix Espargaró, dava um outro ar das Aprilias, andando até meio da sessão entre a 12.ª e a 16.ª marcas sabendo que teria sempre de melhorar e muito os tempos para aspirar a uma entrada direta na Q2 que se mostrava bastante complicada pelo rendimento das Ducati. Ainda assim, e como é habitual, só no final surgiriam as decisões.

A 13 minutos da bandeira de xadrez, quase a dar o mote para tudo o resto, Jorge Martín conseguiu colocar-se na primeira posição à frente de Bezzecchi e Enea Bastianini. Estava aberto o período de time attack, com o português a entrar com pneus macios à frente e atrás sem sucesso antes de regressar de imediato às boxes. 1.39,214 era a fasquia deixada pelo líder do Mundial, que foi superada pelo improvável Johann Zarco, que atravessa um grande momento mas ainda não tinha aparecido (1.39,197). De seguida apareceu Bagnaia, o primeiro a rodar em 1.38 (1.38,918) e a ficar com a pole position, à frente de Jorge Martín (quinto). Já Miguel Oliveira terminou com a 20.ª posição, prescindindo de uma última volta nos segundos finais.