A Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior organização criminosa do Brasil, é suspeita de estar a usar Portugal para lavar dinheiro obtido com o trafico de drogas no país de origem. Uma investigação do jornal Público revela agora que, ao longo do último ano, empresários ligados à PCC terão tentado adquirir de forma anónima os clubes de futebol do Varzim, Vilaverdense e Felgueiras, e acabaram por se instalar em Fafe.

De acordo com um relatório dos Serviços de Informação e Segurança (SIS), são aproximadamente mil elementos ligados ao grupo.

Um dos suspeitos de integrar um esquema de lavagem de dinheiro para o PCC — e centro das negociações com os clubes — é Ulisses de Souza Jorge, agente de Éder Militão que utilizou o ex-portista para chegar a empresários desportivos de Portugal, como Pinto da Costa e o filho, Alexandre Pinto da Costa. Foi dessa forma que propôs a compra da futura Sociedade Anónima Desportiva do Varzim Sport Club, operação que falhou. Junto do brasileiro Christiano Lino de Menezes, investigado pelas autoridades brasileiras por ligações ao PCC, Ulisses Jorge fez ainda uma proposta ao Vilaverdense, de dois milhões de euros, e ao Felgueiras, de 2,5 milhões.

Os empresários acabaram depois por chegar ao Fafe, onde trabalham atualmente, e têm como líder da sociedade para o futebol do Fafe, em nome da UJ – Football Talent — sociedade de Ulisses Jorge, sediada em Portugal —, o antigo jogador do FC Porto, Benfica e Sporting, Vanderlei Fernandes Silva, que iria também estar à frente de uma futura SAD do Varzim.

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“Tenho dito às autoridades portuguesas que, a partir do momento que se identifica uma estrutura do PCC em Portugal com esse nível de organização interna e de integrantes, significa que está muito bem estruturada e com carácter de permanência”, disse Lincoln Gakiya, promotor de Justiça e um dos principais investigadores do crime organizado no Brasil.

Tal como acontece no Brasil, o PCC reproduz em Portugal a mesma estrutura interna, tendo por isso “um sector disciplinar, uma espécie de tribunal interno para resolver questões de disciplina entre os membros e onde são decididas sentenças de morte e penalizações a quem não respeita os estatutos da organização”. A prisão é um local de eleição de recrutamento do PCC, que acaba por ter a capacidade de se multiplicar “dentro do sistema penitenciário”.

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“Em Portugal, identificámos que já têm responsáveis no sistema prisional masculino e feminino”, afirmou, no entanto, acredita que o nosso sistema prisional não está preparado para este tipo de criminosos organizados e estruturados.

A crescente presença desta rede criminosa em Portugal demonstra assim o papel do país enquanto porta de entrada de droga para a Europa. Tendo os portos de Lisboa e Sines nas rotas de tráfico, o PCC controlará o desembarque, armazenamento e distribuição para outros destinos europeus, segundo dados do SIS.