Meio milhão de portugueses formou-se em instituições privadas nos últimos 30 anos, segundo a Associação Portuguesa do Ensino Superior Privado (APESP), que teme a redução de alunos e pede mais autonomia para tentar aumentar o número de estudantes.

Um em cada quatro diplomados do ensino superior formou-se numa instituição particular ou cooperativa entre os anos letivos de 1996/1997 e 2023/2024, segundo dados do Observatório da APESP, que será lançado terça-feira.

“Sem o ensino superior privado, boa parte da população não teria tido oportunidades de estudar e hoje estaríamos com anos de atraso no que toca à formação”, disse o presidente da APESP, referindo-se à década de 80, quando os privados começaram a abrir escolas onde não havia qualquer oferta educativa.

Em meados dos anos 90, “passou a haver estabelecimentos por todo o país, nomeadamente no interior”, recordou António Almeida Dias, sublinhando que o Estado “só conseguiu chegar a muitas zonas do país muitos anos mais tarde”.

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A inauguração de novas escolas públicas, nomeadamente de institutos politécnicos no interior do país, traduziu-se numa transferência de alunos do ensino privado para o público, um fenómeno que foi agravado pela crise financeira.

Entre 2010 e 2014, muitas famílias deixaram de conseguir pagar as propinas e isso sentiu-se nas instituições privadas, quando os privados voltaram a ver o número de alunos diminuir.

Nos últimos cinco anos, diz António Almeida Dias, as escolas têm vindo a recuperar paulatinamente o número de alunos (“um aumento de 6% ao ano”), mas tendo em conta a diminuição da natalidade em Portugal, em breve voltarão a ser menos se não forem tomadas medidas.

Por isso, o presidente da APESP gostaria que as instituições tivessem mais autonomia, para tomar algumas medidas, como por exemplo a gestão de vagas: “Se quiser ter um curso só com estrangeiros, entendo que deveria ter autonomia para escolher e gerir as nossas vagas. Deveríamos ter essa liberdade. Temos conseguido captar alunos estrangeiros, mas gostaríamos de ter mais liberdade e autonomia para decidir”, defendeu.

Dos cerca de 500 mil estudantes de escolas privadas que obtiveram um grau ou diploma superior foram poucos os que não conseguiram um emprego: Do total de diplomados desde o início do século até 2021, 97,4% estão a trabalhar, segundo dados do Observatório.

Dos formados no setor particular e cooperativo, quase um terço (32%) diplomou-se nas áreas das ciências empresariais, administração e direito, seguindo-se as áreas da saúde e proteção social (17%), ciências sociais, jornalismo e informação (16%), segundo o Observatório, que irá analisar dados estatísticos e fazer investigação nesta área.

Atualmente, a rede do ensino superior privado é constituída por 62 instituições, vinte de ensino superior universitário e 42 de ensino superior politécnico, oferecendo 1.262 cursos conferentes de grau ou diploma, segundo dados divulgados na véspera da APESP celebrar 30 anos.

No passado ano letivo, estas instituições tinham 8.612 professores, dos quais 5% eram estrangeiros. A média de idades era de 49 anos, havendo 51% de homens para 49% de mulheres. No total, 57% dos docentes já são doutorados.

Em termos de rácio, havia 10,3 estudantes por docente.