Repor a percentagem de rendimento que os políticos perderam durante o tempo da troika é uma “benesse para os mesmos beneficiados de sempre” ou uma valorização necessária e que já vem tarde? Foi esta a discussão que marcou o debate desta quarta-feira de manhã no Explicador, na rádio Observador, com o deputado Pedro Frazão, do Chega, e o antigo porta-voz do PS Vitalino Canas em confronto.

Para o ex-deputado do PS, as propostas de PS e PSD neste sentido fazem sentido, uma vez que os políticos não têm uma “atualização” salarial há vários anos e têm mesmo sido “ultrapassados” por outros profissionais com tarefas semelhantes. O valor dos salários dos políticos, avisou, impede que sejam atraídos “políticos competentes, com capacidade para tomar decisões e bagagem suficiente”, para essas funções. “Não estou a dizer que a AR deva estar pejada de doutorados, grandes empresários, mas essa componente seria importante e é cada vez mais difícil”.

Além disso, defendeu o socialista, este seria um “caso excecional” que se trata não propriamente de um aumento, mas de uma recuperação de valores antigos, que eram aplicados há 14 anos, antes da entrada da troika em Portugal, uma vez que todos os outros cortes já foram revertidos. “Não há função mais importante e impactante na nossa vida diária do que as decisões dos políticos”, defendeu Canas.

Ora a posição do Chega é diametralmente oposta, tendo o deputado Pedro Frazão declarado que o partido é “absolutamente contra” a medida e que os políticos portugueses já ganham “muito acima da média dos salários” no país. “Os políticos têm de dar o exemplo e não podem estar sistematicamente a distribuir benesses e privilégios entre si, e é isso que parece que está a acontecer entre PS e PSD”, que classifica como “os mesmos beneficiados de sempre”.

“É uma total desconexão da realidade económica portuguesa e uma inversão das prioridades”, disparou o deputado do Chega, que disse encontrar uma contradição entre a prioridade dada pelo PSD à inversão deste corte à indisponibilidade para aumentar as pensões em 1,5%, como o Chega quer — mesmo admitindo que os valores em causa, e o respetivo impacto orçamental, seriam muito diferentes. Frazão defendeu ainda a proposta do Chega para “cortar para metade” o número de autarcas em Portugal, mas, desafiado a concretizar a ideia, argumentou apenas que “não são necessários tantos vereadores” e que o Estado tem de ser mais “eficiente”.

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