A Câmara de Coimbra decidiu avançar para a compra do imóvel à empresa proprietária do edifício, numa aquisição feita a ‘meias’ com o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU), assumindo a copropriedade do Teatro Sousa Bastos (o município fica com o rés do chão, onde está previsto um espaço cultural, e o IHRU com os cinco pisos superiores, reservados para habitação), afirmou à agência Lusa o presidente do município, José Manuel Silva, referindo que a operação será feita no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
O projeto prevê um investimento do IHRU de 3,1 milhões de euros (incluindo a aquisição e reabilitação da sua parte) e a Câmara espera investir entre 1,5 milhões a dois milhões de euros no espaço cultural (a aquisição da sua parte da propriedade ronda os 150 mil euros que não são financiados), esclareceu a vereadora com a pasta da ação social, Ana Cortez Vaz.
O Teatro Sousa Bastos, situado na Alta de Coimbra e abandonado há mais de 30 anos, já contou com vários projetos, o último dos quais formulado pelo atual proprietário e aprovado em 2017, quando o município era liderado pelo PS, que previa a transformação daquele edifício histórico num bloco de apartamentos, reservando o rés-do-chão para um espaço cultural, num empreendimento da empresa Eiclis, cujo responsável tinha admitido em 2023 que não tinha intenção de avançar com a empreitada a breve prazo.
“Sempre esteve nas nossas intenções recuperar o Sousa Bastos, mas não era uma situação fácil. Aproveitámos a oportunidade do PRR e do Arrendamento Acessível”, salientou José Manuel Silva, referindo que o processo de compra já teve autorização do primeiro-ministro.
A aquisição será do edifício, mas também do projeto já previamente aprovado em 2017, que irá sofrer ligeiras alterações, para garantir que o mesmo possa ser executado dentro do prazo do PRR (que termina em 2026), aclarou.
O projeto prevê a construção de 32 habitações, 30 T0 e dois T1, tal como previsto aquando da sua aprovação em 2017.
Questionada pela agência Lusa sobre o porquê de manter T0 e T1, a vereadora Ana Cortez Vaz afirmou que há procura de habitação por parte de pessoas sozinhas e casais, e que alterar substancialmente o projeto nesta altura poderia implicar o seu não financiamento pelo PRR.
O processo já teve aval do IHRU e do Governo, e o município espera que se possa lançar o concurso público de conceção e construção em breve, referiu.
Segundo Ana Cortez Vaz, havia a possibilidade de o projeto ser alterado e transformar tudo em habitação, mas a autarquia decidiu “manter a vertente cultural”, que ficará com uma área de cerca de 700 metros quadrados.
“Com este projeto, juntamos três coisas: reabilitamos um imóvel histórico, asseguramos mais habitação que precisamos e devolvemos o espaço cultural à cidade”, salientou a vereadora.
A Câmara irá avançar, por agora, com a compra da sua parte da propriedade, mas o projeto de transformação do rés-do-chão em espaço cultural terá de aguardar por algum tipo de financiamento ou comparticipação financeira, nomeadamente através do novo quatro comunitário, notou José Manuel Silva, que também tem a pasta da cultura.
De acordo com o presidente da Câmara de Coimbra, o destino a ser dado ao espaço cultural será discutido com a União de Freguesias de Coimbra, defendendo que não será um espaço de “utilização exclusiva de uma única entidade”.
“É um momento, para nós, de grande satisfação, e de profunda sensação de dever cumprido. Disponibilizamos à cidade a reabilitação de um dos seus edifícios mais icónicos, mantemos a sua vertente cultural e, em simultâneo, proporcionarmos mais 32 fogos para arrendamento acessível”, vincou José Manuel Silva.