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A Polícia Judiciária deteve o segundo dos cinco presos que fugiram da cadeia de Vale de Judeus no dia 7 de setembro. Fernando Ribeiro Ferreira, o único português que ainda estava a monte (depois da recaptura de Fábio Loureiro em Marrocos no mês passado), foi agora detido em Trás-os-Montes. Foi conduzido para a prisão de Chaves depois da captura e deverá ser encaminhado ainda hoje para a prisão de segurança especial de Monsanto, em Lisboa.
“O evadido do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, Fernando Ribeiro Ferreira, de 61 anos, foi recapturado, em Trás os Montes, pela Polícia Judiciária, depois de um persistente, complexo e ininterrupto trabalho de investigação e de recolha de informação desta Polícia, desde o dia da fuga, a 07 de setembro de 2024”, explica a Polícia Judiciária em comunicado.
Em conferência de imprensa, Manuela Santos, diretora nacional da Unidade Contra Terrorismo da PJ, adiantou que, ainda que a decisão seja dos Serviços Prisionais, Fernando Ferreira deverá ser encaminhado para a prisão de Monsanto, a única classificada como prisão de segurança especial. Ainda sobre a operação da Polícia Judiciária, Manuela Santos referiu que “o paradeiro já era conhecido há uns dias” e que tentou fugir quando percebeu que ia ser apanhado.
Luís Neves, diretor nacional da PJ, acrescentou ainda que Fernando Ferreira foi detido “numa pequena localidade muito próxima de Espanha”. Na casa onde o recluso foi capturado — estaria sozinho —, foram também encontradas armas com silenciador, walkie talkies e outros materiais que, acreditam as autoridades, terão sido utilizados na fuga que aconteceu a 7 de setembro, da prisão de Vale de Judeus. Toda a operação de recaptura — que ainda continua, uma vez que ainda faltam três presos —, acrescentou Luís Neves, foi “um trabalho de filigrana e demorado”.
Ainda sobre a fuga de 7 de setembro, além dos três reclusos que continuam por recapturar, a Polícia Judiciária está também a tentar encontrar as pessoas que ajudaram os cinco reclusos a fugir. “Houve a participação de outros indivíduos e é também nesse sentido que estamos a trabalhar.”
O evadido de Vale de Judeus, Fernando Ribeiro, de 61 anos, foi recapturado, em Trás os Montes, pela @PJudiciaria , depois de um persistente, complexo e ininterrupto trabalho de investigação e de recolha de informação, com a colaboração da @GNRepublicana. pic.twitter.com/UHJLoNK5rd
— Polícia Judiciária (@PJudiciaria) November 22, 2024
A operação montada pela Judiciária para capturar este português “com extensa carreira criminal — referenciado pela prática de criminalidade especialmente violenta, mas também no âmbito da criminalidade altamente organizada, dos quais se destacam os crimes de associação criminosa, homicídio, rapto, roubo à mão armada, tráfico de estupefacientes e detenção de arma proibida” — contou com a colaboração da GNR.
A PJ lembra que no seu cadastro Fernando Ribeiro “tem como data da primeira reclusão o ano de 1980, cumprindo, aquando da fuga, uma pena de prisão de 24 anos, associada a 11 condenações”. Sobre o agora detido “recaía um mandado de detenção internacional emitido pela autoridade judiciária competente, constando de notícia vermelha na Interpol”.
Continuam ainda a monte três fugitivos, todos eles de nacionalidade estrangeira: Rodolf Lohrmann, conhecido como “El Ruso”, e que foi responsável pelo rapto do filho de um ex-ministro na Argentina; Mark Roscaleer, o inglês que já conseguiu fugir da prisão e que já foi condenado pelos crimes de sequestro e roubo; e Shergili Farjiani, o georgiano que tem no cadastro crimes violentos, furto e falsificação de documentos.
Quem é, afinal, Fernando Ferreira?
Natural da Lousã, Fernando Ferreira estava a cumprir pena máxima no estabelecimento prisional de Vale de Judeus. A lista de crimes é vasta: tráfico de estupefacientes, associação criminosa, furto, roubo e rapto. Era líder de um grupo violento a que se dava o nome de Mosqueteiros, de acordo com o Correio da Manhã. Este gangue (de que também fazia parte um ex-polícia) assaltava supermercados, ourivesarias e levava a cabo sequestros, muitas vezes recorrendo à violência.
Em 2010, Fernando Ferreira raptou um empresário em Condeixa-a-Nova — e manteve a vítima em cativeiro durante quatro dias, como relata o Jornal de Notícias. A vítima não teve acesso a água, alimentos e foi agredida e eletrocutada, revelando ao Correio da Manhã que lhe batiam “todos os dias” e apertavam-lhe “os dedos dos pés com um alicate”. Em troca da libertação do empresário, os agressores (o homem natural da Lousã teve ajuda de outros cinco homens) exigiram 20 milhões de euros.
Garantindo que tinha esse dinheiro na conta, a vítima convenceu os agressores a levá-lo ao banco, onde estaria o dinheiro. No local, o empresário conseguiu alertar os funcionários para a situação e acabou por ser salvo. Já Fernando Ferreira, foi detido na sequência do sequestro. Como tinha cadastro, foi-lhe aplicada a pena mais gravosa.
Ministra da Justiça elogia trabalho da polícia: “Deixa-nos com um sentimento de orgulho”
A ministra da Justiça já reagiu à captura do segundo fugitivo de Vale de Judeus, dizendo que o trabalho das autoridades “deixa-nos com um sentimento de orgulho e confiança nas nossas forças policiais, que todos devemos enaltecer”.
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Rita Alarcão Júdice acrescenta que “este êxito só foi possível graças ao trabalho de investigação persistente e competente da PJ”, enaltecendo a colaboração entre as várias forças policiais, “em particular a colaboração da GNR”: “Os profissionais que todos os dias trabalham para que tenhamos um país mais seguro merecem a nossa gratidão e reconhecimento”.
Fábio Loureiro foi o primeiro dos cinco a ser recapturado
Exatamente um mês depois da fuga dos cinco presos, considerados perigosos, de Vale de Judeus, em Alcoentre, a Polícia Judiciária anunciou a recaptura de um deles — Fábio Loureiro, conhecido como Fábio “Cigano” foi detido em Marrocos pelas autoridades daquele país.
“O evadido do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, Fábio Loureiro, foi detido, ontem, pelas 22h00, em Tânger, pelas autoridades marroquinas, com a colaboração das autoridades espanholas, em estreita articulação com a Polícia Judiciária (PJ) que, desde o dia da fuga, a 7 de setembro, desenvolveu um trabalho ininterrupto de investigação e de recolha de informação”, explicava no mês passado a Judiciária.
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A operação foi desencadeada em menos de 24 horas e “contou com o forte apoio da Cuerpo Nacional de Policia (CNP) espanhol e da Direção Geral de Vigilância Territorial Nacional (DGST) marroquina, com base em informação credível da PJ, de que Fábio Loureiro estaria em Marrocos, sobre quem recaía um mandado de detenção internacional emitido pela autoridade judiciária competente, constando de notícia vermelha na Interpol”. O detido aguarda agora o desenrolar do processo de extradição para Portugal.