O empate a zeros contra o Bolonha, a meio da semana e a contar para a Liga dos Campeões, saiu dos planos do Benfica — mas não atrapalhou o momento de enorme confiança da equipa de Bruno Lage. Se é certo que a ausência de vitória com os italianos pode complicar as contas europeias em janeiro, também é certo que os encarnados não perdem há mais de um mês e aproximaram-se muito da liderança do Campeonato em poucos dias.

Este domingo, na Vila das Aves, era tempo de prosseguir um calendário complexo, preenchido e intensificado pelo jogo contra o Nacional, adiado desde outubro, que terá de ser cumprido a meio da próxima semana. Os encarnados visitavam o AVS já depois de o Sporting interromper uma série de quatro derrotas consecutivas com uma vitória contra o Boavista, ou seja, já com a certeza de que estavam também obrigados a ganhar para continuarem a dois pontos da liderança dos leões — e com menos um jogo.

Ficha de jogo

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AVS-Benfica, 1-1

14.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Clube Desportivo das Aves, na Vila das Aves

Árbitro: João Gonçalves (AF Porto)

AVS: Simão Bertelli, Nacho Rodríguez, Baptiste Roux, Cristian Devenish, Fernando Fonseca, Luís Silva (Jaume Grau, 60′), Gustavo Mendonça (Rodrigo Ribeiro, 82′), Kiki Afonso (Vasco Lopes, 60′), John Mercado (Tunde Akinsola, 60′), Zé Luís (Nenê, 41′), Lucas Piazon

Suplentes não utilizados: Pedro Trigueira, Jorge Teixeira, Léo Alaba, Jonatan Lucca

Treinador: Daniel Ramos

Benfica: Trubin, Alexander Bah, Tomás Araújo, António Silva, Jan-Niklas Beste, Leandro Barreiro (Di María, 61′), Kökçü (Florentino, 75′, Amdouni (Schjelderup, 81′), Fredrik Aursnes, Aktürkoğlu (Rollheiser, 75′), Arthur Cabral (Pavlidis, 61′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Issa Kaboré, Otamendi, Gianluca Prestianni

Treinador: Bruno Lage

Golos: Amdouni (17′), Cristian Devenish (90+4′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Arthur Cabral (39′), a Lucas Piazon (45′), a Cristian Devenish (45+1′), a Fernando Fonseca (74′), a Jan-Niklas Beste (78′)

“Temos de olhar para nós próprios. Sentimos que tínhamos um objetivo até ao final do ano que foi alterado em função das circunstâncias. Mas nada muda e de nada vale se não ganharmos os nossos pontos. O fundamental é ter um foco determinante, com energia muito positiva, como equipa, como nós falámos antes do treino, para vencer o jogo. Depois o jogo seguinte e depois o jogo seguinte. Para já é ver um jogo de cada vez. Vamos encontrar uma equipa com energia positiva, que fez um bom jogo com o Sp. Braga, e temos de estar no nosso melhor, com as nossas dinâmicas, para criar as oportunidades que temos criado”, atirou Bruno Lage na antevisão da partida.

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Ora, sem Álvaro Carreras, que estava castigado por acumulação de cartões amarelos, o treinador encarnado aproveitava para fazer uma pequena revolução no onze inicial. Otamendi, Di María, Florentino e Pavlidis começavam todos no banco, enquanto que António Silva, Leandro Barreiro, Amdouni e Arthur Cabral saltavam para a titularidade, com Jan-Niklas Beste a ocupar o lugar de Carreras na esquerda da defesa. Do outro lado, num AVS que não vencia desde setembro, Daniel Ramos colocava Zé Luís como referência ofensiva, apoiado por John Mercado e Lucas Piazon.

O jogo começou muito dividido, com o Benfica a ter mais bola mas de forma algo inconsequente, sem conseguir aproximar-se da baliza de Simão Bertelli. A primeira oportunidade pertenceu mesmo ao AVS, com John Mercado a rematar ao lado na sequência de um erro de António Silva (10′), e os encarnados responderam com um pontapé de Amdouni que o guarda-redes avense encaixou sem grande dificuldade (12′).

A equipa de Daniel Ramos demonstrava não ter grandes pruridos na hora de aproveitar os espaços que o Benfica dava, principalmente no momento da saída de bola, e poderia mesmo ter inaugurado o marcador à passagem do quarto de hora inicial com um cabeceamento de Zé Luís que passou ao lado (16′). Na jogada seguinte, porém, reinou a eficácia encarnada: Amdouni combinou com Aursnes e Aktürkoğlu, recebeu na área e atirou colocado para bater Simão (17′).

O Benfica assumiu o controlo absoluto do jogo depois do golo e o AVS deixou de ter capacidade para explorar a dimensão ofensiva da equipa — sendo que Daniel Ramos foi até forçado a mexer, por lesão de Zé Luís, lançando Nenê. Os encarnados aplicavam uma pressão alta que deixava o adversário muito reduzido ao seu último terço, sem espaço para respirar ou sair com a bola controlada, mas também não criavam muitas oportunidades para aumentar a vantagem.

Aktürkoğlu teve uma boa ocasião para marcar já nos descontos, com um remate em jeito que passou ao lado (45+3′), e minutos antes tinha sido Kökçü a atirar também ao lado de livre direto (45+1′). Já nada mudou até ao intervalo, com o Benfica a chegar ao fim da primeira parte a vencer o AVS pela margem mínima e através de uma exibição tranquila, ainda que longe de impressionante.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e a primeira oportunidade voltou a pertencer ao AVS, com John Mercado a rematar por cima (46′), ainda que Aktürkoğlu tenha respondido de imediato com um pontapé que também saiu demasiado alto (48′). O jogo regressou tal como tinha sido interrompido, com o Benfica a ter mais bola e ao AVS a limitar-se a atuar na expectativa, e o tempo ia passando com raríssimos pontos de interesse.

Bruno Lage mexeu à passagem da hora de jogo, trocando Arthur Cabral e Leandro Barreiro por Pavlidis e Di María e colocando Aursnes numa zona mais recuada do meio-campo, e procurou evitar que os encarnados ficassem demasiado dormentes — até porque o AVS estava a crescer na partida. Nenê era o grande inconformado, com um remate por cima (58′) e outro para defesa de Trubin (63′) e um cabeceamento ao poste (66′), e o guarda-redes ucraniano tornou-se crucial ao parar também um pontapé perigoso de Fernando Fonseca (66′).

O treinador encarnado percebeu que a equipa estava a permitir que o jogo partisse, para além de ter perdido a capacidade de ter bola, e lançou Florentino e Rollheiser para tentar recuperar o controlo do meio-campo. A partida manteve-se algo incaracterística, sem que os avenses desistissem de explorar o nervosismo defensivo da equipa de Bruno Lage, e Vasco Lopes ainda teve uma boa oportunidade para marcar (86′) antes de o balde de água fria aparecer nos descontos.

Na última jogada do jogo, Cristian Devenish saltou mais alto do que todos os outros e cabeceou para bater Trubin e garantir a igualdade (90+4′). O Benfica escorregou, empatou com o AVS na Vila das Aves e perdeu pontos pela primeira vez com Bruno Lage, perdendo desde já a possibilidade de saltar para a liderança do Campeonato na próxima quinta-feira contra o Nacional. Num dia em que procurou gerir esforços e poupar titulares, o treinador encarnado acreditou mais na sorte do que no juízo — e acabou traído por muito mais do que o azar.