O Governo Regional dos Açores vai lançar um concurso público para a elaboração de um estudo sobre o impacto dos manuais digitais nas escolas, que deverá estar concluído dentro de ano e meio, revelou esta quinta-feira a secretária da Educação.
“Devemos completar o caderno de encargos nos próximos dias, para podermos ter a contratação já feita durante o mês de janeiro, pretendendo que este processo de avaliação se inicie em janeiro ou fevereiro e com a duração de 18 meses”, explicou a governante, durante uma audição na comissão de Assuntos Sociais do parlamento açoriano, reunida na ilha Terceira.
Sofia Ribeiro foi ouvida pelos deputados na sequência de uma proposta apresentada pela bancada do PS, o maior partido da oposição no arquipélago, que defende a realização, no espaço de apenas seis meses, de uma avaliação ao processo de introdução de manuais digitais nas escolas da região.
A titular da pasta da Educação nas ilhas considerou, porém, que para analisar de forma adequada o impacto das novas tecnologias nas aprendizagens dos alunos, e por parte de uma entidade externa, é necessário mais tempo.
“Precisamos de ter um período temporal para fazermos estas comparações”, defendeu.
A deputada socialista no parlamento açoriano Inês Sá lamentou, no entanto, que o executivo regional de coligação PSD/CDS-PP/PPM não tenha ainda dado início a um processo de avaliação da utilização dos manuais digitais nos estabelecimentos de ensino no arquipélago.
“Já podíamos ter feito isto há algum tempo, se já tivéssemos preparado isto, pelo menos, ao fim do primeiro ano de implementação dos manuais digitais, já estaríamos hoje com uma base sólida, que nos permitisse saber se é este ou não o caminho certo“, salientou a deputada do PS.
António Lucas, do Sindicato de Professores da Região Açores (SPRA), também ouvido pelos deputados, concordou com a avaliação proposta pelos socialistas e sugeriu que o processo seja feito com maior celeridade.
“Sobre as intenções do Governo de fazer a avaliação, eu não tenho conhecimento, não ouvi. De qualquer forma, consideramos que é de toda a pertinência começar-se a fazer essa avaliação, quanto mais cedo melhor”, insistiu o dirigente sindical.
Segundo explicou, a introdução de manuais digitais nas escolas dos Açores obrigou os professores a fazerem papel de “polícias” na sala de aula, procurando saber o que é que os alunos estão a ver nos tablets e nos computadores.
“Eu, neste momento, faço mais policiamento da sala de aula do que fazia com os manuais em papel“, admitiu António Lucas, acrescentando que é difícil controlar o que é que os alunos estão a consultar na internet.
Também António Fidalgo, do Sindicato Democrático dos Professores dos Açores (SDPA), defendeu uma avaliação ao impacto da utilização de manuais digitais na região de forma célere.
“O que nos parece é que esse estudo deve ser realizado o mais depressa possível. Não sei se o Governo Regional já tem noção do caderno de encargos, dos contactos e das universidades que o vão fazer, mas que rapidamente ele terá de ser feito, sim. O ideal seria que no próximo ano letivo tivéssemos alguns dados credíveis”, insistiu António Fidalgo.
O sindicalista, que sugeriu que fossem ouvidos professores, auxiliares, alunos e também encarregados de educação, a propósito do estudo, considerou existir uma contradição em relação ao uso de novas tecnologias nas salas de aula.
“Não podemos estar a proibir os telemóveis e depois introduzimos o ecrã em todas as aulas, permanentemente, das oito da manhã às cinco da tarde”, afirmou.
A introdução de manuais digitais nas escolas dos Açores arrancou há cerca de dois anos, de forma experimental, e apenas para os alunos do 6.º e 9.º ano de escolaridade.