“Profissionais da Crise”

Em 2005, Rachel Boynton realizou o documentário “Our Brand is Crisis”, sobre a eleição presidencial na Bolívia em 2002, e o papel que os experimentados consultores políticos norte-americanos tiveram nela. “Profissionais da Crise” é a ficcionalização dos acontecimentos do documentário, com Sandra Bullock no papel da consultora de um dos candidatos (Joaquim de Almeida) e Billy Bob Thornton no do outro. A personagem de Bullock mudou de sexo quando George Clooney, também produtor do filme, realizado por David Gordon Green, decidiu que não iria entrar nele. E é ela a inesgotável força motriz desta fita que quer ser realista, sarcástica e cínica para com o mundo da política e os seus protagonistas — e consegue sê-lo, até certo ponto –, mas acaba por ceder à previsibilidade e ao moralismo pronto-a-usar. Sandra Bullock, no entanto, nunca desilude e vale a deslocação. 

“Montanha”

Aos 31 anos, João Salaviza é o único realizador português a ter ganho as recompensas máximas, na categoria da curta-metragem, de dois dos três maiores festivais de cinema do mundo, A Palma de Ouro de Cannes por “Arena” (2009) e o Urso de Ouro de Berlim por “Rafa” (2012), só lhe faltando ser distinguido em Veneza. Depois de sete curtas documentais e de ficção, Salaviza estreia-se nas longas-metragens com “Montanha”, onde encontramos por toda a parte a sinalização temática, dramática e cinematográfica das curtas-metragens que o precederam, nomeadamente dos já citados “Arena” e “Rafa”, bem como “Cerro Negro” (2012), desde os ambientes citadinos suburbanos até ao interesse pelas personagens adolescentes em crise familiar. Só falta a “Montanha” uma história mais definida, sólida, atarefada de peripécias, para justificar a hora e meia de duração. 

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“More”

Aproveitando a estreia, esta semana, do novo filme de Barbet Schroeder, “Amnésia”, é reposto, em cópia restaurada digital, o primeiro filme do realizador, “More”, de 1969. É uma história algo datada, dos tempos finais do movimento “hippie” e do psicadelismo, sendo também um dos primeiros filmes — ou até mesmo o primeiro — que fala das drogas e do seu consumo (no caso, da heroína) não como uma experiência positiva, “libertadora”, e um gesto de revolta social, mas sim como um flagelo mortal. O enredo passa-se em Ibiza, Klaus Grünberg e Mimsy Farmer são os principais intérpretes, a fotografia tem a assinatura do grande Nestor Almendros e a música é dos Pink Floyd. Ironicamente, o sítio onde uma das personagens morre de “overdose” transformou-se num local de peregrinação para os viciados.

“O Segredo dos Seus Olhos”

É muito, muito raro que o “remake” feito em Hollywood de um filme estrangeiro não seja ou um desastre, ou, na melhor das hipóteses, descartável. Há excepções, como é o caso de “O Aviso”, de Gore Verbinski, sobre “Ring – A Maldição”, de Hideo Nakata. E agora, também de “O Segredo dos Seus Olhos”, de Billy Ray, que adapta à realidade dos EUA pós-11 de Setembro o notável filme argentino homónimo de Juan José Campanella, vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro  em 2010, bem como de vários prémios Goya. Nicole Kidman, Julia Roberts e Chiwetel Ejiofor são os principais protagonistas de “O Segredo dos Seus Olhos”. O filme foi escolhido pelo Observador como a estreia da semana, e pode ler a crítica aqui.