Quem se lembra da primeira vez (oficial) contra a Albânia? Foi em outubro de 1996. Já lá vão uns aninhos. Na altura jogava-se o apuramento para o França-98, aquele que nunca chegaria. Luís Figo, Hélder Cristóvão e Rui Costa explicaram na altura como se dizia três-zero em bom português.
Agora, rumo ao Euro-2016, novamente com França no horizonte, Portugal voltou a enfrentar os guerreiros do Balcãs. Que diferença. Antes era à base da força e pontapé para a frente. Hoje em dia já querem jogar, ou dão sinais disso, tentando. Foi assim que começaram, com os portugueses sem apertar muito o cerco, enquanto os albaneses se deliciavam com um carrossel não muito oleado. A agressividade é a de 1996, mas a organização está melhor.
Paulo Bento colocou em marcha a renovação da seleção. William Carvalho e André Gomes, que fazia a sua estreia, foram titulares no meio-campo lusitano, juntamente com João Moutinho. Vieirinha fez de Ronaldo e Éder assumiu a posição mais avançada no campo.
Nani cumpria a 75.ª internacionalização e até teve direito a vestir a braçadeira de capitão. Foi ele o primeiro a causar perigo, depois de um livre lateral. E repetiu a dose nem dez minutos depois, no capítulo dos sustos, pois claro. Boa combinação com Moutinho e remate cruzado, forte. O extremo do Sporting tinha André Gomes numa posição mais atrasada na área, mas preferiu tentar resolver sozinho. Nani foi, porventura, o melhor na primeira parte. Estava confiante.
Moutinho parecia estar de volta, mas foi caindo. Tal como Portugal. Talvez não seja coincidência. Os portugueses foram perdendo gás e pressionavam menos. Com a bola, a coisa não melhorava muito: estavam sem ideias. Éder era solicitado de forma muito suicida – do género: “és grande, desenrasca-te”. Nuno Gomes e Postiga gozavam de outro tipo de futebol (apoiado) por parte dos colegas. Faltava também paciência com a bola nos pés, o que não permitia aos laterais, João Pereira e Fábio Coentrão, subirem para fazerem mossa.
Os albaneses só sabiam criar perigo pelos corredores, mas raramente. Nani voltou a aparecer antes do intervalo: driblou um albanês e rematou forte. A bola seria intercetada por Mavraj. Quando já todos olhavam para o relógio, Rui Patrício foi chamado a intervir: Roshi deu um bigode a William Carvalho já dentro da área, pelo lado direito, e tentou cruzar atrasado. Valeu o guarda-redes do Sporting, com segurança. Intervalo.
Paulo Bento decidiu abanar o jogo. Saltou o Cavaleiro, a flecha do Desportivo, para o lugar de Vieirinha. Mas quando se esperava que Portugal entrasse com outra atitude, foi a Albânia a agarrar o duelo com as duas mãos. Nem que fosse na ousadia. As linhas continuaram a ser a melhor forma de perturbar o conforto alheio. Bastaram três minutos, neste segundo tempo, para Roshi voltar a aparecer na direita. O cruzamento do albanês passeou-se por toda a grande área lusa até que João Pereira empurrou a bola para canto.
A má notícia chegaria aos 52′. Roshi voltou a aparecer na linha, disse “adeuzinho” a Ricardo Costa e cruzou com categoria. Balaj deu um passo atrás e chutou de primeira. Que grande, grande golo. Este avançado, de 23 anos, do Slavia Praga, fez lembrar os matadores de antigamente, como Klinsmann e Van Basten. E congelou Aveiro.
O selecionador português não gostou nada do que viu e começou a avançar as peças do xadrez. William saiu e entrou Ricardo Horta. Outra estreia. Horta, o número 10 do Málaga, não tardou para dar nas vistas. Primeiro, uma diagonal que culminou com um remate por cima. Depois um míssil, com cheiro a craque, ao poste esquerdo de Berisha. Antes foi Nani a tentar de longe…
O relógio continuava imparável rumo aos 90. Já se adivinhava uma surpresa na jornada inaugural, apesar da invasão ao meio-campo albanês nos minutos finais. Coentrão e André Gomes ainda ameaçaram o empate perto do fim. O ritmo baixo da primeira parte, aquele tão típico português “mais minuto menos minuto marcamos” correu mal. As maratonas começam com o primeiro metro e a seleção começou cedo a tropeçar. Sim, o melhor jogador do mundo esteve ausente. Mas não é desculpa. Faltou muita coisa. A calculadora piscou, assim, o olho à seleção desde o início.
No final, o Estádio de Aveiro ofereceu uma assobiadela à seleção portugueses. E lenços brancos a Paulo Bento. Quem diria?