Uma investigação do The New York Times, publicada no dia em que uma sondagem dá vantagem ao candidato republicano, revela que Donald Trump terá evitado pagar vários milhões de dólares em impostos recorrendo a um método altamente questionável do ponto de vista legal.

Perante a indisponibilidade por parte de Trump para publicar as suas informações fiscais, algo inédito nas últimas décadas, o The New York Times virou-se para os documentos ligados aos pedidos de insolvência nos casinos de Donald Trump em Atlantic City.

Em termos simples, a estratégia de Donald Trump passou por criar uma parceria entre ele próprio e uma empresa detida por si a 100%. Até aqui, nada de extraordinário, já que é comum incorporar os negócios para evitar responsabilidade pessoal caso o negócio não dê certo. Mas o The New York Times escreve que Trump foi bem mais longe: ignorando os conselhos da sua própria equipa de advogados e consultores fiscais, Trump recorreu a um método que, segundo os especialistas ouvidos pelo jornal, vão além da mera exploração de lacunas na lei, como Trump diz que gosta de fazer, censurando Clinton por não ter corrigido essas lacunas.

Escudando-se pessoalmente das perdas dessa parceria que formou e de negócios como o casino Trump Taj Mahal, Trump levou a sua empresa a emitir obrigações (dívida) que foram compradas por bancos, fundos de investimento e investidores individuais. Foram mais de 500 mil milhões de dólares, emitidos com juros elevados que, logo no primeiro ano, começaram a não ser pagos.

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No final da década de 80 e início da década de 90, os prejuízos acumulados pelos negócios de Trump (que se converteram, é claro, em prejuízos para quem tinha comprado essa dívida) acabaram, contudo, por servir para Donald Trump deduzir na sua fatura de impostos.

Para Trump conseguir apropriar-se das deduções, tinha, contudo, de contornar as regras que preveem que as dívidas perdoadas pudessem beneficiar os investidores que quisessem recuperar pelo menos parte das suas aplicações. Aí, segundo o jornal norte-americano, Trump fez algo que os seus próprios advogados lhe terão dito que era legalmente dúbio: trocar quotas de participação por nova dívida, o que permitia usar a dívida insolvente para abater na conta pessoal de impostos.

Foi troca por troca, o que é pouco ortodoxo porque a quotas de participação numa empresa falida valeriam muito pouco, ao passo que as obrigações tinham o seu valor nominal, mais elevado, mesmo se olharmos para o valor recuperável da dívida. Já na altura, a prática era legalmente questionável — passou a ser ilegal em 2004.