O presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), Joaquim Evangelista, acredita que o futebol português está vulnerável a eventuais casos de apostas ilegais e viciação de resultados.
O responsável reagia assim ao caso que envolveu o jogo Feirense-Rio Ave e que obrigou à suspensão temporária das apostas desportivas pouco antes do início daquela partida. Em declarações ao programa Bola Branca, da Rádio Renascença, Joaquim Evangelista admitiu mesmo que o caso não o deixava surpreendido.
“Somos um país com problemas ao nível da sustentabilidade do futebol, com investimento estrangeiro cuja origem não é verificada. Não há dúvidas [que Portugal é um país exposto a este tipo de fenómenos]”, afirmou Evangelista, antes de defender uma maior “regulamentação e legislação”.
Joaquim Evangelista aproveitou ainda para pedir a colaboração dos jogadores de futebol. “Os jogadores sabem lidar com isto, têm de estar preparados para estas ameaças, até mais bem preparados do que os dirigentes. Agora, quando forem abordados e reconhecerem sinais deste fenómeno devem ter coragem para os denunciar”.
Na segunda-feira à tarde, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa decidiu suspender as apostas no Placard para o encontro entre as equipas de Santa Maria da Feira e de Vila do Conde, devido a um fluxo anormal de dinheiro apostado no jogo a contar para a primeira liga de futebol nacional. A decisão partiu do Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos e em causa estavam suspeitas de combinação dos resultados. Outras casas de apostas desportivas, como a Betclic e a Bet.pt, também decidiram suspender as apostas.
Entretanto, o Expresso avançou com mais detalhes sobre o caso. Ao contrário da informação inicialmente divulgada, a aposta não seria de 100 mil euros, mas sim de 50 mil euros. Por confirmar está também a nacionalidade do apostador: de acordo com o que foi avançado num primeiro momento, o apostador seria um cidadão chinês, com residência na cidade da Póvoa de Varzim. Essa informação, no então, ainda não foi confirmada.
De esclarecer no entanto que, e também ao contrário do que alguns órgãos de comunicação escreveram, a aposta nunca poderia ser proveniente da China, já que a lei portuguesa obriga a que todos os jogadores tenham residência fiscal em Portugal. O apostador em causa utilizou o mesmo número de contribuinte (NIF) e investiu cerca de 50 mil euros em apostas pouco antes da partida. O facto de existir um volume tão elevado de apostas realizadas por uma só pessoa num jogo de importância diminuta fez soar imediatamente os alarmes.
Os treinadores de Feirense e Rio Ave também já reagiram ao sucedido. “O Estado português deve começar a verificar isso e a ter maior vigilância sobre o assunto. Não se pode difamar o futebol português como por vezes se difama. O bom jogo que se viu hoje [na segunda-feira] foi a melhor resposta para as suspeitas que se levantaram”, afirmou Nuno Manta Santas, da equipa de Santa Maria da Feira. “A questão das apostas mexe com qualquer profissional. O mundo do futebol sente-se incomodado”, afirmou o treinador dos vila-condenses, Luís Castro. O jogo terminaria com a vitória do Feirense, por 2-1.
O caso vai mesmo chegar ao Parlamento: o CDS-PP vai pedir a audição parlamentar do Serviço de Regulação e Inspecção de Jogos do Turismo de Portugal para analisar a decisão de suspender das apostas que envolviam a partida entre Feirense e o Rio Ave. O Serviço de Regulação e Inspecção de Jogos, está sob a dependência do Turismo de Portugal, é tutelado pelo Ministério da Economia é o órgão competente de fiscalização da exploração e prática dos jogos de fortuna ou azar concessionados pelo Estado.
Recorde-se que em maio de 2016, quatro jogadores do Oriental, quatro jogadores do Oliveirense, dirigentes do Leixões e um dirigente dos Super Dragões foram detidos por suspeitas de combinação de resultados, no âmbito da “Operação Jogo Duplo”.