Vasili e Aleksei Berezutski, Guillermo e Gustavo Barros Schelotto, Cristian e Damiano Zenoni, Andreas e Thomas Ravelli, Rafael e Fabio Pereira da Silva. Estas são apenas algumas das mais famosas duplas de irmãos gémeos que o futebol viu nascer. Os mais famosos serão Frank e Ronald de Boer, que espalharam tanta e tanta magia no Ajax, Barcelona e Holanda. Um atuava do lado esquerdo do centro da defesa, outro situava-se do meio-campo para a frente, na direita. O mesmo fenómeno acontece agora no Funchal, na Choupana, desde janeiro. Luís juntou-se a João para dar uns pontapés na bola, como certamente faziam nas ruas empoeiradas de Beja. E um deles marcou esta noite ao Sporting. Madeirenses e lisboetas empataram a duas bolas na primeira mão da meia-final da Taça de Portugal.

A primeira parte foi uma beleza. Não tanto no futebol requintado, com 22 homens a tratar a bola como se fosse uma princesa vinda do além. Não, mas foi interessante pela quantidade de jogadas de perigo. O Sporting liderou o primeiro tempo na posse de bola (61%), nos remates (6-5) e cantos (7-1), mas foram os madeirenses quem estiveram mais perto de marcar, cortesia de Tiago Rodrigues, que chutou com uma senhora pujança ao poste esquerdo de Rui Patrício.

O Nacional ameaçou cedo. Aos 3′, João Aurélio sacou o cruzamento e, ao segundo poste, Lucas João e Marco Matias complicaram a vida um ao outro e falharam o primeiro golo da noite. A resposta chegou cinco minutos depois, por William Carvalho, que falhou ao segundo poste o que parecia certo. O desvio de Carrillo a canto de André Martins teve toque de mel e promessa de glória. Num ping-pong desenfreado, um minuto depois foi Luís Aurélio, de cabeça, que fez a bola passar a centímetros do poste da baliza dos leões.

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Gottardi, que mais tarde contribuiria para a taquicardia de muito boa gente ao deixar uma bola bater e passar por cima da trave, negaria o golo a Tanaka (24′) e Paulo Oliveira (25′). Este foram 25 minutos de loucos. Oportunidades, velocidade, ousadia, tudo no mesmo tacho com especiarias mil. Mas alguém colocaria o fogo em lume brando, e a coisa acalmaria.

Intervalo na Choupana. Chega a surpreender como é que esta primeira parte chega ao fim sem golos. A ginga, a entrega e a disposição das tropas prometiam um festival, qual jogo de andebol, mas culminou num cinzento 0-0. Entre muitas preocupações para Marco Silva, que iam desde a situação no campeonato à eliminação da Liga Europa, passando até na ausência de Nani, o treinador tem mais um dado para analisar e esmiuçar: o Sporting não marca golos na primeira parte há seis jogos. Seis. É dose, senhores…

O segundo tempo começou da mesma forma que a primeira: Nacional a assustar os visitantes, com mais um remate de Tiago Rodrigues, um médio emprestado pelo FC Porto. E, tal como acontecera antes, o Sporting reagiu, por Carrillo. Mas o “senhor Golo”, o cavalheiro mais desejado por esses campos esverdeados, chegaria aos 49′: Tiago Rodrigues bateu o livre, Rui Patrício tentou agarrar, mas a bola escorregou e… Luís Aurélio, um dos gémeos, encostou para a baliza deserta. Já o irmão, João, havia feito a mesma brincadeira, em 2009/10 (marcar ao SCP).

Há histórias e histórias. Em House of Cards, por exemplo, a tal ascensão meteórica de Frank Underwook até à presidência dos EUA, com jornalistas e senadores “despachados” pelo caminho, a surpresa é o prato do dia. Somos surpreendidos, o queixo cai, a imaginação passeia até ao infinito, as duvidas palpitam em qualquer mente. Neste Nacional-Sporting não, a lengalenga do ping-pong era para levar a sério, ó se era. Ao golo de Luís Aurélio juntou-se o empate por Tobias Figueiredo, apenas cinco minutos depois. O central impôs-se a Rui Correia e Aly Ghazal e encostou para a baliza do impotente Gottardi, 1-1.

Quatros minutos volvidos… ping! Pois, mais um golo, agora do Nacional. Marçal cruzou, da esquerda, com o pé direito; Lucas João, com mais de 190cm, disse “sim senhor” e promoveu um abraço caloroso entre a bola e as redes da baliza de Rui Patrício. O pong chegou logo a seguir pelo felino Slimani, que viu o empate negado por Gottardi.

Seguir-se-iam muitas substituições e a expulsão de Miguel Lopes, que ficaria fora de si, gritando na direção do árbitro e de Tiago Rodrigues, a quem acusaria de mergulhar. Seriam 20 minutos com dez contra um Nacional competente, mas nem por isso impermeável.

E como ao longo deste texto fomos inimigos da imprevisibilidade, gritando as maravilhas de um narrativa como House of Cards e deixando antever uma resposta obrigatória a qualquer ação, falta confirmar o que o guião prometia: o Sporting empataria. Aconteceu aos 82′, por Carlos Mané. O extremo, que começou mexido, que driblou muito e perdeu algumas bolas, recebeu de Adrien e tocou, em arco, para o fundo da baliza de Gottardi, que bem se esticou, mas a bola tinha o destino traçado, 2-2.

Ponto final na Choupana. O empate a duas bolas acaba por ser justo e sorri ao Sporting, graças aos golos fora. Mas houve pouco controlo, pouca competência na defesa, ineficácia na pressão no meio-campo e ferrugem nas combinações no ataque. Faltou muita coisa. Faltou golo, pedalada, faltou entrosamento e até confiança. É natural. É que este Sporting só ganhou um dos últimos sete jogos — Benfica (1-1), Belenenses (1-1), Wolfsburgo (0-0), Gil Vicente (2-0), Wolfsburgo (0-0), FC Porto (0-3), Nacional (2-2). Segue-se agora o Penafiel, em casa, para a Liga, para começar a inverter a história do passado recente. A segunda mão da Taça joga-se a 8 de abril. Há muito para mudar até lá…