Este IndieLisboa é para velhos. E para adultos de todas as idades. É até para as crianças, com o IndieJúnior. O que a 12.ª edição do festival internacional de cinema independente quer mesmo mostrar, a partir desta quinta-feira, é que não está a ficar velho. O público vai poder ajuizar isso mesmo até 3 de maio, em 260 filmes para ver no Cinema São Jorge, na Culturgest, na Cinemateca e, pela primeira vez, no Cinema Ideal.

O espírito indie esteve menos visível nas edições mais recentes. Foi Nuno Sena, que partilha a direção do festival com Miguel Valvede, que o disse, na apresentação à imprensa. “Era a resposta a algumas críticas que nos tinham sido feitas em relação à edição de 2014, de ter havido algum abrandamento na intensidade do festival. Sem assumir esse abrandamento, reconhecemos que houve eventualmente coisas que não estiveram à altura dos pergaminhos do Indie”, disse ao Observador. “Se calhar como em 2014 houve menos novidades, as pessoas acharam que o Indie estava a ficar velho”.

Para provar que não é nada disso, a direção bicéfala tomou nota das críticas e apresenta, a partir de hoje, reformulações. “Encontrámos um equilíbrio daquilo que as pessoas vão reconhecer, com algumas novidades de secções, espaços e parceiros”, explicou. O Cinema Ideal entra no circuito. O orçamento de cerca de um milhão de euros é menor em termos monetários, mas o apoio em serviços e contrapartidas de parceiros privados aumentou, o que faz com que o orçamento da 12.ª edição seja ligeiramente superior ao do ano passado.

Na programação, a grande mudança que salta à vista é a extinção das secções Pulsar do Mundo, Cinema Emergente e Observatório. No seu lugar nasce a secção Silvestre, que se quer mais abrangente, menos restrita e menos condicionada a questões temáticas ou de longevidade dos seus autores, disse Nuno Sena. “É possível ver aqui uma primeira obra e um veterano, que é o que vai acontecer. A ideia é o convívio entre tendências, vozes e estilos dentro do cinema contemporâneo”.

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Ao contrário do que chegou a ser escrito em alguns órgãos de informação, “Capitão Falcão” não vai ser o primeiro filme português de sempre a abrir o IndieLisboa. “Em 2010 abrimos com o ‘Fantasia Lusitana’, de João Canijo. Por coincidência, também era sobre o fascismo português, ainda que num tom mais sério”, esclareceu Nuno Sena. O filme de João Leitão conta a história do primeiro super-herói português, ao serviço de António de Oliveira Salazar durante o Estado Novo, e inclui referências que vão do Major Alvega aos Power Rangers. A ideia inicial era exibir o filme no dia 25 de abril, mas a decisão acabou por ser a de fazer a estreia nacional já esta quinta-feira, às 18h30, na sessão de abertura no Cinema São Jorge.

“É de produção totalmente independente, com recursos muito limitados”, disse Nuno Sena, que destacou a necessidade de o cinema português se libertar de alguns estigmas. “Parece que estamos sempre à procura de filmes sérios e comédias ligeiras. E este faz a ponte entre tratar um tema muito sério, mas também conseguir desmistificá-lo com uma comédia de costumes, uma comédia satírica que brinca com algo que ainda hoje é um tema com que é difícil brincar”.

Falando em filmes independentes, este ano o IndieLisboa estreia o seu próprio filme. “Aqui, em Lisboa” Em 2013, para celebrar o 10.º aniversário, o festival convidou quatro realizadores a filmarem em Lisboa. Dominga Sotomayor e Marie Losier (vencedoras da Competição Internacional com “De Jueves a Domingo”, em 2012, e “The Ballad of Genesis and Lady Jaye”, em 2011, respetivamente), e Denis Côté e Gabriel Abrantes mostram pela primeira vez o resultado esta sexta-feira, 24 de abril, às 21h30, no Cinema São Jorge. Quatro autores, quatro visões diferentes da cidade de Lisboa.

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“Capitão Falcão”, “Aqui, em Lisboa” e “While We Were Young” são filmes integrados na secção de Sessões Especiais, assim como “Força Maior“, ficção de Ruben Östlund escolhida para a sessão de encerramento, a 3 de maio. A Competição Nacional conta com 20 filmes, dos quais quatro são longas-metragens: “Gipsofila“, de Margarida Leitão, “A Toca do Lobo“, de Catarina Mourão, “Uma Rapariga da sua Idade“, de Márcio Laranjeira, e “Os Olhos de André“, de António Borges Correia.

Na Competição Internacional do IndieLisboa, as 11 longas-metragens que vão ser apresentadas são todas inéditas em Portugal, salientou o diretor e programador. Chegaram de países como Brasil, Estados Unidos, França, Irão, México, Roménia e Turquia. “São 11 filmes que regressam à matriz indie. Estamos a apresentar propostas de autores que vão marcar a agenda cinematográfica”, disse. Um dos destaques vai para “Listen Up Philip“, um filme “de um dos mais promissores realizadores da geração indie do cinema americano contemporâneo”, Alex Ross Perry. A cinematografia que chega da Europa de Leste também continua forte. “Nas longas-metragens tivémos uma ótima primeira obra, ‘Koza’, de um realizador deslocado [Ivan Ostrochovský]. Há também o ‘Aferim!’, do romeno Radu Jude”.

Ao todo, concorreram ao IndieLisboa 4500 filmes, número recorde que, para Nuno Sena, deixa transparecer um crescimento na produção mundial, tanto em países com grande tradição de cinema como de países do Sudeste Asiático, da América Latina e da América Central. Dos 4500, houve um que surpreendeu especialmente.

Ming of Harlem

“Ming of Harlem”, ou o filme sobre o homem que tinha um tigre em casa

“Enquanto descoberta e surpresa, esse prémio vai para o ‘Ming of Harlem‘, um filme de um realizador britânico, filmado em Nova Iorque”, contou Nuno Sena. O documentário pega na história insólita, mas verídica, de um homem que viveu durante vários anos com um tigre no seu apartamento. “O caso veio a público quando o animal atacou o dono. A maneira como o realizador pega nessa história e consegue, depois da surpresa inicial, surpreender ainda com uma apresentação visual do que aconteceu foi um dos maiores prazeres que tive enquanto programador”. Está na Competição Internacional e pode ser visto dia 26 de abril, às 21h30, na Culturgest, ou dia 29 de abril, às 22h00, no Cinema Ideal.