“As mil e uma noites”, os três filmes de Miguel Gomes sobre Portugal e a austeridade, foram exibidos esta semana no Festival de Cannes, onde foram recebidos em clima de elogio pela crítica internacional.

Este tríptico, composto pelos filmes “O inquieto”, “O desolado” e “O encantado”, inspirado nos contos populares árabes de “As mil e uma noites”, foi selecionado para a Quinzena dos Realizadores, uma das iniciativas paralelas ao festival, e mereceu o aplauso da imprensa presente em Cannes.

O filme tem hoje referência de primeira página no jornal francês Libération, que o descreve como um “épico”, “um organismo narrativo mutante”, que tem por base a realidade portuguesa perante um governo que impôs políticas de austeridade, entre 2013 e 2014.

Na edição de hoje, o Le Monde escreve que a obra é “uma epopeia fantástica, uma canção de amor aos derrotados da História, que são os portugueses de uma Europa em crise”.

A propósito de “O desolado”, por exemplo, a revista Sound & Sight refere-se à “inexplicável sedução do cinema surrealista”, sublinhando que Miguel Gomes apresenta uma obra singular e original, inovadora e “inexplicavelmente agradável de ver”. A Variety fala de um “festim sensual e intelectual”.

Na publicação Indiewire lê-se que “As mil e uma noites” é, até agora, um “dos mais memoráveis, distintivos e mágicos filmes do festival”, enquanto o Télerama escreve: “Obra monumental e atípica composta por três filmes, entre ficção e documentário, sobre um Portugal atingido pela crise”.

Já o Hollywood Reporter afirma que a obra de Miguel Gomes é um “testemunho do poder das histórias feitas para entreter”, mas também das que “cristalizam as preocupações” dos espetadores, embora alerte que o conjunto dos três filmes, totalizando seis horas, terá a vida dificultada para uma estreia comercial em França.

Para os críticos de Cannes, numa votação que é feita durante o festival, “As mil e uma noites” é o quarto melhor filme exibido nesta edição, logo a seguir a “The assasssin”, de Hou Hsiao Hsien, “Cemetery of splendour”, de Apichatpong Weerasethakul, e “Carol”, de Todd Haynes.

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De acordo com a revista Première, “O inquieto”, o primeiro filme, terá estreia comercial em França a 24 de junho.

“As mil e uma noites” traça a história de um país mergulhado numa crise económica, em austeridade e desemprego, misturando realidade e a fantasia dos contos populares, narrados pela rainha persa Xerazade.

O filme, que se reparte em três volumes – decisão tomada pelo realizador durante a montagem – parte de reportagens feitas pelos jornalistas Maria José Oliveira, Rita Ferreira e João de Almeida Dias, sobre portugueses que sofreram com as medidas impostas pela “troika”.

Rodado em película, o filme é uma coprodução entre Portugal, França e Alemanha, e tem um orçamento de 2,7 milhões de euros. Deverá estrear nos cinemas portugueses em outubro.

A atriz Crista Alfaiate interpreta o papel de Xerazade. O elenco inclui atores profissionais e amadores, como Adriano Luz, Carloto Cotta, Gonçalo Waddington, Joana de Verona, Rogério Samora, Margarida Carpinteiro e Cristina Carvalhal, entre outros.