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Catamo voltou como Geny(o) no jogo que se transformou numa ode a Amorim (a crónica do Moreirense-Sporting)

Este artigo tem mais de 6 meses

Dois golos, duas bolas no poste, domínio total sempre com uma identidade de jogo bem definida: vitória do Sporting com o Moreirense foi o resumo de uma era de quatro anos com vários "títulos" (0-2).

Pedro Gonçalves bisou a meio da primeira parte e praticamente sentenciou a vitória do Sporting em Moreira de Cónegos
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Pedro Gonçalves bisou a meio da primeira parte e praticamente sentenciou a vitória do Sporting em Moreira de Cónegos

MIGUEL RIOPA/AFP

Pedro Gonçalves bisou a meio da primeira parte e praticamente sentenciou a vitória do Sporting em Moreira de Cónegos

MIGUEL RIOPA/AFP

Mal chegou, entre críticas pelo valor da contratação e contestação à Direção liderada por Frederico Varandas, Rúben Amorim fez um par de treinos, ganhou em Alvalade a um Desp. Aves reduzido a nove muito cedo e foi para casa, como os jogadores e basicamente toda a população portuguesa devido à pandemia. Se a aposta já tinha sido colocado em causa sobretudo pelos montantes, com o tempo e o futebol parado ainda mais se foi refletindo sobre aquilo que era descrito como um all in de um presidente que na mesma época apostava no quarto treinador. Agora, quase quatro anos depois, o trajeto que vai colocar agora o técnico como o segundo com mais encontros de sempre no comando do Sporting à frente de Paulo Bento e apenas trás de Szabo acaba por remeter para uma das frases chave no dia da apresentação em pleno Hall VIP do Estádio José Alvalade: “As pessoas perguntam: ‘E se corre mal?’. E eu pergunto: ‘E se corre bem?’”. E tem mesmo corrido.

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“Quando treinamos uma equipa grande tudo o que foi feito para trás já não conta. Basta ver o Benfica, o treinador às vezes é contestado e no ano passado foi campeão. Ganhamos um dia e no dia a seguir já nada conta. Para o Sporting é importante voltar a ser campeão, ainda falta tudo por fazer porque já não ganhamos há um ano e tal, já esquecemos o que é ganhar títulos. Num clube grande há que seguir em frente. Sobre o treinador, sou um novato ainda, estou onde me sinto bem, não faço grandes planos para o futuro, como fazia quando era jogador. A família é importante, sou um treinador que não faz grandes planos, que vive o dia a dia e o futuro logo se verá”, apontou nesse sentido Rúben Amorim, a propósito dessa marca que seria obtida em Moreira de Cónegos, “casa” da grande revelação do Campeonato que é o Moreirense.

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Mais do que os quatro títulos conquistados pelo Sporting (uma Liga, duas Taças da Liga e uma Supertaça), mais do que o regresso à fase de grupos da Liga dos Campeões com uma passagem aos oitavos, mais do que a valorização de jogadores da formação que saem por milhões ou os reforços que têm amortização desportiva e financeira, a grande marca que o técnico foi deixando no clube é a recuperação do verdadeiro estatuto de um clube grande. O que significa? Que um conjunto como o Sporting não pode pensar em ser campeão de 20 em 20 anos, tem de ser de dois em dois ou ano a ano (como o técnico um dia referiu em conferência). Esse é o maior legado que Amorim está a sedimentar em Alvalade, sendo que a presente época voltava a colocar os leões na luta pelo título e o jogo com o Moreirense assumia uma parte importante nesse trajeto, com o treinador a focar antes do encontro por mais do que uma vez que os elogios não podem mexer com a equipa.

“Se somos a melhor equipa do Campeonato? Não vi jogos do Benfica e do FC Porto, assim que acabámos o jogo com o Young Boys começámos a estudar o Moreirense. O FC Porto e o Sp. Braga não desistem, não estamos à frente do Benfica. Estamos num bom momento, não somos ingénuos, mas um resultado muda tudo. Os jogadores não devem ler nada nesta fase porque vão ser enganados. Um empate muda aquilo que dizem e o que sentem em relação à equipa”, destacara Rúben Amorim, numa ideia que expressara por várias ocasiões na temporada de 2020/21, ainda sem público nos estádios, quando os leões andavam nos lugares cimeiros da classificação e com a possibilidade de quebrarem um longo jejum de títulos (como veio mesmo a acontecer nessa época, seguindo-se um segundo lugar em 2021/22 e um quarto em 2022/23).

“Apoio dos adeptos? Vejo-os mais confiantes com o clube em si. Sentem que há um caminho mas mais global do que localizado na equipa de futebol. O clube está melhor, veem que há jogadores talentosos e isso ajuda a criar uma onda positiva. Mas no ano passado também enchemos o Estádio numa época difícil. Os adeptos sentem que o clube está saudável e há uma ligação entre os jogadores e os adeptos”, acrescentara, falando também dos muitos bilhetes vendidos aos adeptos verde e brancos para o encontro desta noite.

A casa cheia confirmou-se, o bom momento do Sporting ainda mais e a oitava vitória consecutiva surgiu de forma quase natural apesar da diferença de intensidade e qualidade entre a primeira e a segunda parte. Pedro Gonçalves marcou e leva sete golos e seis assistências nos últimos dez jogos, Francisco Trincão assistiu e tem seis golos e três assistências nos derradeiros seis encontros, Geny Catamo voltou a fazer uma exibição a todo o gás pela direita e Gyökeres até teve uma das exibições com menor influência dos últimos meses. Tudo isso, junto, acaba por ser uma ode à era Amorim. O lugar na história do clube já ninguém lhe tira mas a identidade que a equipa mostra desde 2020 mesmo que com movimentações e estilos diferentes, a forma como consegue potenciar jogadores “desconhecidos” como Geny Catamo, a maneira como recupera talentos como Francisco Trincão e a capacidade que tem de tirar o melhor de Pedro Gonçalves em qualquer posição mostra que, entre os títulos que procura, Amorim continua a ter os seus “títulos” todas as semanas.

Ficha de jogo

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Moreirense-Sporting, 0-2

22.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Comentador Joaquim de Almeida Freitas, em Moreira de Cónegos

Árbitro: Fábio Veríssimo (AF Leiria)

Moreirense: Kewin Silva; Dinis Pinto, Marcelo, Maracás, Frimpong; Ismael (Ofori, 79′), Franco; Madson Monteiro (Antonisse, 74′), Alanzinho (Castro, 79′), Camacho (Kodisang, 74′) e Luís Asué (Mingotti, 86′)

Suplentes não utilizados: Caio Secco, Ponck, Pedro Amador e Aparício

Treinador: Rui Borges

Sporting: Adán; Eduardo Quaresma, Coates, Gonçalo Inácio; Geny Catamo, Hjulmand, Morita (Daniel Bragança, 89′), Nuno Santos (Matheus Reis, 82′); Francisco Trincão, Pedro Gonçalves (Marcus Edwards, 89′) e Gyökeres

Suplentes não utilizados: Franco Israel, Luís Neto, Fresneda, Diomande, Ricardo Esgaio e Koba Koindredi

Treinador: Rúben Amorim

Golos: Morita (3′) e Pedro Gonçalves (23′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Nuno Santos (56′)

Se todos os treinadores imaginam inícios perfeitos do jogo, Rúben Amorim não conseguiria desejar melhor em Moreira de Cónegos. Depois de uma primeira boa jogada que terminou com o desvio de um defesa para canto, Nuno Santos foi ao lado direito do ataque marcar a bola parada com o efeito para dentro, Kewin Silva teve uma saída mal calculada da baliza e Frimpong, num lance meio atabalhoado com Morita, acabou por atirar contra o japonês na tentativa de cortar a bola e daí resultou o 1-0 (3′). O início com a corda toda não ficou por aí, com oito ataques nos 12 minutos iniciais e grande fulgor ofensivo pela ala direita, com Francisco Trincão a aproveitar uma recuperação em zona alta de Gyökeres para testar a meia distância para defesa de Kewin Silva (11′) e logo a seguir Geny Catamo a deixar dois adversários pelo caminho numa diagonal para o meio que acabou com um remate forte para nova defesa do guarda-redes brasileiro (12′).

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Moreirense-Sporting em vídeo]

Apesar do autêntico murro no estômago que é sofrer logo a abrir, ainda para mais com a equipa em melhor fase no Campeonato e numa série de triunfos consecutivos, o Moreirense foi tentando serenar em termos defensivos e a olhar para todos os espaços para sair em transições rápidas mas o Sporting controlava como queria o encontro, não só a nível de ritmos e momentos como na ocupação de espaços que fazia com que os cónegos não conseguissem sequer chegar ao último terço. Se com bola os leões estavam bem, sem ela eram ainda melhores e foi assim que nasceu o segundo golo da partida numa jogada com tanto de simples como de bonita a eficaz: Francisco Trincão ganhou a bola um pouco à frente da linha do meio-campo, conduziu a bola até combinar na direita com Geny Catamo, cruzou rasteiro para a área e Pedro Gonçalves, vindo da esquerda para o meio, só teve de encostar para o 2-0 ainda cedo no encontro (23′).

Era quase uma “conjugação cósmica”: uma equipa confiante, em vantagem logo a abrir, a conseguir ter os espaços para criar desequilíbrios, a manter o seu primeiro terço resguardado de qualquer problema das unidades ofensivas dos visitados a ponto de o Moreirense não ter tocado na bola na área verde e branca uma vez durante toda a primeira parte (e o único remate, de Madson Monteiro, saiu muito, muito, muito por cima aos 43′). Mais: a forma de atacar em jogo organizado a partir de trás, com uma quase “paragem” da bola entre os centrais a chamar o adversário para jogar depois rápido e ao primeiro toque em busca dos espaços que iam ficando em aberto, ia criando situações de perigo. Assim, e já depois de um remate de Nuno Santos de fora da área que foi desviado por Kewin Silva para o poste, Gyökeres ganhou espaço pela esquerda, cruzou tenso e Pedro Gonçalves ficou perto do bis (44′). Rui Borges “agradecia” a chegada do intervalo para corrigir.

O técnico dos cónegos optou por corrigir posicionamentos, movimentações e marcações sem fazer qualquer alteração nos jogadores mas era fundamental começar melhor para estabilizar a equipa e a partir daí partir para outro “jogo”. Não foi o que aconteceu. Aliás, logo a abrir o Sporting voltou a estar muito perto do golo, com Hjulmand a recuperar uma bola a meio-campo, a dar em Pedro Gonçalves à entrada da área no corredor central para o remate em jeito de pé esquerdo ao poste antes da recarga com sucesso mas em fora de jogo de Trincão (47′). Pouco depois, Geny Catamo teve mais uma incursão pela direita com Trincão a jogar mais por dentro para dar a linha, fletiu para o meio e rematou em arco de pé esquerdo por cima (52′). A partida podia ter acabado aí, o Moreirense “sobreviveu” e lá conseguiu encontrar o contexto para voltar à partida.

Rúben Amorim pedia mais intensidade à equipa. Percebia-se o porquê. Ainda que sem oportunidades para visar a baliza de Adán a não ser mais um remate muito ao lado de Madson Monteiro, houve mais Alanzinho no jogo, o próprio Camacho, entre as dificuldades de andar a acompanhar Geny Catamo, quis começar a ir aparecendo mais na frente. Resultados? Poucos ou nenhuns. O Sporting teve apenas dois remates para fora do estádio de Hjulmand e Gyökeres antes de mais uma cavalgada do sueco pela esquerda do ataque com um remate de ângulo reduzido para defesa de Kewin Silva (77′) mas os minutos passavam com os leões a terem o controlo da partida mesmo perdendo quase na totalidade a inspiração em termos ofensivos e a segurarem a vantagem antes de mais um encontro a contar para a Liga Europa enquanto os adeptos faziam a festa, que só não foi maior nos descontos porque Kewin Silva voltou a tirar o golo a Francisco Trincão (90+3′).

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