Valdés, Jordi Alba, Piqué, Busquets, Xavi, Cesc Fàbregas, Cristian Tello (que joga no FC Porto) e outros festejam no meio do relvado a conquista de um título mundial de futebol. Com Pep Guardiola a treinar e Puyol como adjunto, é a primeira vez que a seleção consegue arrecadar um troféu desta importância. A primeira, sim, porque estes rapazes já não representam Espanha — agora jogam pela Catalunha.
Mas de que falamos nós, afinal? Esta imagem não passa do sonho de alguém que ambiciona ver uma Catalunha independente. E só se torna ainda mais agradável se a seleção catalã vencer a final contra Espanha. A região ainda não se separou do poder de Madrid, mas um homem já fantasiou com importantes momentos da História futura da Catalunha. Chama-se Víctor Colomer, é um jornalista com gosto por fotomontagens, acaba de editar um livro e falou ao Observador sobre as eleições regionais do próximo domingo, que prometem dar um grande impulso à causa separatista.
Há de tudo neste Llibre de les marevelles (adivinhou, é O Livro das Maravilhas). Há uma Última Ceia em que Jesus tem o típico pa amb tomàquet (pão com tomate) na mão, um avião da Catalunya Airlines, a cerimónia de entrada da Catalunha na NATO, a chegada do primeiro catalão à Lua, uma visita oficial do presidente da Generalitat a Barack Obama e um discurso na ONU. Víctor Colomer não se fez rogado.
“No princípio, a ideia era simplesmente imaginar aquelas situações novas pelas quais a Catalunha passaria” caso se tornasse um Estado autónomo, explica este jornalista ao Observador. Primeiro, Víctor fez fotomontagens para calendários — os Catalonia Dreamin’ — “mas depois, como aquilo se vendeu muito bem”, decidiu fazer um livro. O resultado, que está nas bancas das livrarias, mas também em várias plataformas online, é um volume de grande dimensão com 85 fotomontagens: as já referidas e outras brincadeiras catalãs a fotografias famosas.
“É tudo muito futurista, otimista”, admite Víctor, que assina há mais de trinta anos uma coluna de entrevistas diárias no jornal local da cidade-natal, Sabadell, a uns 20 quilómetros de Barcelona. Cristian Tello, jogador do FC Porto, é de lá e já foi um dos entrevistados. O jornalista assume que a escolha de editar o livro agora não é inocente, quando estamos a escassos dias das eleições regionais que deverão ser ganhas pelos independentistas do Juntos Pelo Sim com larga maioria. É então um ato político?, perguntamos. “Um ato político no sentido em que quer trazer menos crispação” à campanha atual.
Por estes dias, Espanha é um país em sobressalto. Multiplicam-se as acusações entre os responsáveis catalães e o governo de Madrid, sobe de tom a discussão política e avolumam-se as dúvidas sobre as reais condições da Catalunha para declarar a independência unilateralmente, como pretende o Juntos Pelo Sim. Estas imagens, com um claro pendor humorístico, servem para amenizar o ambiente.
“Em Espanha estão todos chateados. Quando falam do tema, gritam. Aqui falam esperançosos e sonhadores. Estão todos contentes com a possibilidade de fazer um país novo”, diz.
Víctor Colomer compara a atual situação a uma disputa conjugal. A mulher quer separar-se, pedir o divórcio e começar uma vida nova, mas o marido não deixa e ameaça mesmo matá-la caso ela saia de casa. “Assim é a atitude de Espanha: cada dia há uma ameaça diferente”. Já se percebe assim que Víctor não esconde que quer ver a Catalunha separada de Espanha. Aliás, nem o título do livro é inocente. El Llibre de les Meravelles foi uma das primeiras obras escritas em catalão, no final do século XIII, pelo escritor Ramon Llull.
“Quando penso numa Catalunha independente, fico com pele de galinha. Eu não voto pela independência por razões económicas, é um voto puramente emocional”, conta.
Apesar da vontade que tem em se separar de Espanha — “temos muita inveja dos portugueses!” –, Víctor Colomer diz-se um “independentista crítico”. Quer isto dizer que tem medo. “Quando o inimigo não for Madrid, tenho medo de que o inimigo se possam tornar os imigrantes e os europeus”, afirma, receoso de que “apareçam partidos xenófobos”.
Então e essa história de o Barcelona ter de sair da Liga Espanhola se a Catalunha se tornar independente, como se resolve? Facilmente, diz: criava-se uma liga ibérica, com clubes de Portugal, Espanha e Catalunha. Uma ideia semelhante já teve o presidente da Liga, Pedro Proença. “Já imaginaste um Barcelona – FC Porto?”, ri-se.