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A cultura ímpar do Centro de Portugal

Seja arte antiga, graffiti, artesanato ou património classificado pela UNESCO, o Centro de Portugal é um viveiro de cultura. Conheça as suas diversas vertentes.

Não há país sem cultura- isto é certo. Mas o que podemos considerar cultura? No Centro do país o conceito é lato, abarca todos e é para todos. Da arte antiga e sacra à arte urbana que está pelas ruas; da arquitetura industrial aos museus que contam as histórias desta região; da criação artística inovadora ao património centenário classificado pela UNESCO: no Centro de Portugal todos encontram a cultura que mais lhes interessa.

Propomos-lhe uma rota com alguns dos mais interessantes exemplos de que a cultura vive no Centro no país e, para conhecer outros projetos, museus e monumentos, acompanhe o Podcast “Aqui, Entre Nós”.

Cultura à solta pelas ruas

No Centro de Portugal existem verdadeiras cidades-museus ou cidades-galerias, como lhes queiramos chamar, que exibem surpreendentes obras de arte e valorizam a identidade criativa e cultural dos seus lugares. Admiráveis contadoras de histórias e de vidas, podem ser apreciadas a qualquer hora do dia, todos os dias.

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As ruas de Ovar são um autêntico museu a céu aberto e os culpados são os azulejos. Por aqui há mais de 800 painéis de azulejos, bem conservados desde meados do século XIX. Pode perder-se por estas ruas e pelos seus azulejos, que vão além do azul e amarelo e mostram a diversidade desta indústria na região de Aveiro, mas garanta que encontra dois pontos: o Atelier de Conservação e Restauro do Azulejo e a Igreja Matriz de Santa Maria de Válega, com a sua fachada (e interior) profusamente decorada e colorida de azulejo. É um edifício único no país que o vai deixar de boca aberta!

A 20 minutos de carro, a arte é outra — mas também anda à solta pela rua. A arte urbana em Estarreja vive um bom momento, muito por causa do Festival ESTAU — Estarreja Arte Urbana que dá espaço a artistas nacionais e internacionais, como Bordalo II, Tiago Galo, Marina Capdevila ou Milo. Comece pelo mural do artista mundialmente consagrado Vhils: o retrato da D. Florinda, uma das agricultoras da terra que mantém o cultivo tradicional de arroz no Esteiro De Salreu, na Ria de Aveiro. A técnica de picotar a parede é a assinatura do artista, inconfundível no universo da arte urbana. A partir daí, descubra a cidade.

A cultura também anda à solta na Figueira da Foz, em Cantanhede e Mira, onde o mar, elemento unificador da população destes concelhos, ficou marcado pelo projeto “Mar que nos Une” a partir do qual nasceram três obras de Bordalo II, o artista ecológico.

Em Cantanhede, mais precisamente na Praia da Tocha, podemos apreciar a “Belemnite”, no edifício do CIAX – Centro de Interpretação da Arte Xávega, e em Mira “O Borralho”. No Cabo Mondego, Figueira da Foz, a “Amonite”, grupo extinto de moluscos que existiu há milhares de anos na zona, capta a atenção do visitante.

Na Região de Leiria é o Festival Fazunchar que, com uma intensa conceção artística, enche anualmente o espaço público de Figueiró dos Vinhos, com obras murais de nomes reconhecidos ou talentos emergentes da pintura e artes plásticas, portugueses e estrangeiros.

Arte Urbana, Viseu

Na cidade de Leiria, o “Leiria, Paredes com História”; ou em Viseu, o “Festival Street Art de Viseu” levam-nos por rotas da arte urbana que permitem conhecer alguns trabalhos, – impressionantes desafios que homenageiam e exaltam o valor do território, – assinados por Vhils, Bordalo II, Add Fuel, PichiAvo, Os Gêmeos, Draw e Contra, Sebas Velasco e Zoer, Akacorleone, Ricardo Romero, Daniel Eime e Nuno Viegas, entre tantos outros.

 

O mais antigo festival de Arte Urbana em Portugal,- o WOOL, esse, pertence à Covilhã. Adotando o nome da sua indústria, a lã reúne todos os anos artistas de todo o mundo para pintar murais, grafitar paredes e realizar outras intervenções artísticas que engrandecem o passado ilustre desta terra, enquanto um dos mais importantes centros de produção de lanifícios do país.

No final, novas criações de enorme expressão artística contemporânea, tal como aconteceu no Festival Artístico de Linguagens Urbanas (FALU), em Caldas da Rainha, ou no Com-Templ.-Arte em Tomar, atribuem um novo dinamismo e colorido às paisagens urbanas e rurais da região. Vale a pena conhecê-las. Ali à vista de todos, são deslumbrantes.

Museus inesperados

Começamos por um projeto completamente diferenciador, um museu a céu aberto, pioneiro da arte contemporânea na paisagem: o “Experimenta Paisagem”.

São roteiros que percorrem lugares inspiradores na paisagem da Beira Baixa: as Obras de Arte da Cortiçada – “Moongate” em Oleiros, “Farol dos Ventos” em Proença-a-Nova e “Véu” na Sertã, para além das duas Rotas das Linhas de Água – Menina dos Medos, em Sobral Fernando, e Magma Cellar, em Cunqueiros, ambos no concelho de Proença-a-Nova.

  • Moongate, Oleiros
  • Véu na Sertã
  • Farol dos Ventos, Serra das Talhadas, Proença-a-Nova

Podem ser realizados a dois, em família ou com os amigos, e até sozinho. Uma coisa é certa…vão surpreender toda a gente.

Gente que também vai adorar mergulhar no imaginário do brincar e do brinquedo, em Vagos. Com um acervo composto por milhares de peças, o Museu do Brincar apresenta um universo imenso que vai do brinquedo de fabrico português ao brinquedo estrangeiro, passando por material escolar, mobiliário, vestuário de época, espaços lúdicos como a escola do estado novo, o teatrinho, o atelier, sem esquecer os brinquedos óticos, a casa da árvore ou o castelo onde se vivem grandes aventuras.

E são muitas as aventuras e viagens que se podem viver no Centro de Portugal. No Museu LOAD ZX Spectrum a viagem realiza-se ao passado da informática. Localizado na cidade de Cantanhede, o espaço é dedicado, tal como o nome indica, ao ZX Spectrum, um computador pessoal lançado em 1982, responsável por introduzir milhões de pessoas à informática e à programação. O museu abriga uma coleção de mais de 1.500 itens, incluindo computadores, jogos, revistas, manuais e outros objetos relacionados ao computador. É uma atração imperdível para os fãs de retrogaming e informática.

Suba, depois, a bordo de uma locomotiva e parta à descoberta de mais de 160 anos de história do caminho-de-ferro em Portugal. Sabe que pode almoçar dentro de uma carruagem? Onde? No Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento.
O espaço ocupa o antigo Complexo Ferroviário desta cidade. Com uma área de 4,5 hectares (cerca de seis campos de futebol) e 19 linhas ferroviárias, transmite a memória imperdível das Antigas Oficinas do Vapor, das suas máquinas, dos seus sons, cores e cheiros.

Num edifício que por si só é um excecional ponto de interesse, exemplo da Arte Nova caldense, fala-se não de comboios, mas de bicicletas. O Museu do Ciclismo foi inaugurado em 2009 e mostra a forte relação desta modalidade com a cidade de Caldas da Rainha. Descubra aqui bicicletas antigas, uniformes e troféus e perceba como a história do ciclismo em Portugal pedala pelo Centro do país…sem parar. É que não muito longe daqui, em Torres Vedras, encontramos o Museu do Ciclismo Joaquim Agostinho. O espaço, imperdível, preserva a memória do grande ciclista torriense e promove o ciclismo enquanto prática desportiva e social. Vai gostar de o visitar.

No Museu das duas Rodas, situado no Centro de Alto Rendimento de Anadia, em Sangalhos, a história local, nacional e internacional da bicicleta mas também da motorizada, aprende-se através de um importante espólio documental e de uma grande panóplia de peças e acessórios, autênticas raridades. Único do género no país, o Museu das Duas Rodas abriga uma coleção de mais de 150 veículos, incluindo bicicletas, motorizadas, triciclos e quadriciclos. Um dos veículos mais antigos em exposição é uma bicicleta do séc. XIX.

  • Museu do Ciclismo Joaquim Agostinho, Torres Vedras
  • Museu do Ciclismo, Caldas da Rainha
  • Museu das duas Rodas, Anadia

Não se fique por aqui. Com uma rica herança cultural, o Centro de Portugal oferece-lhe uma variedade de opções de museus, núcleos museológicos e centros de interpretação para explorar.

A genialidade do Património Mundial

Para falar dos monumentos do Centro de Portugal reconhecidos pela UNESCO como Património da Humanidade, seguimos a Rota Património Mundial do Centro de Portugal e começamos pela Região de Coimbra: são 81,5 hectares de património classificado. Falamos da Universidade de Coimbra, Alta e Sofia: espaços vivos, marcados pela mais antiga universidade portuguesa que se atualiza e renova a cada dia, com novas gerações de estudantes a manter tradições como o fado de Coimbra e a Monumental Serenata. Museus, ruas estreitas e arquitetura antiga — este Património Mundial é completo.

Universidade de Coimbra, Alta e Sofia

A sul, na Região de Leiria, ergue-se um edifício majestoso: o Mosteiro de Santa Maria da Vitória, galardoado em 1983 e também conhecido por Mosteiro da Batalha. É uma obra-prima do Gótico português e levou mais de 150 anos a ser finalizado. Não é líquido que possamos usar o termo “finalizado”, em boa verdade, já que as Capelas Imperfeitas, para sempre por terminar, são uma das suas mais mágicas salas, com vista para o céu.

A menos de 30 quilómetros deste fabuloso Mosteiro está o de Santa Maria de Alcobaça, quase tão antigo quanto a nacionalidade portuguesa, classificado Património Mundial da Unesco em 1989. O seu fundador foi D. Afonso Henriques, em consequência da conquista de Santarém. É aqui que se visita a mais famosa história de amor portuguesa: os túmulos de D. Pedro e D. Inês estão frente a frente na igreja no Mosteiro para que, diz-se, no dia do juízo final, os seus corpos se ergam e se vejam em primeiro lugar um ao outro.

Daqui seguimos para o Médio Tejo que guarda a última joia desta lista, carregada de simbolismo e misticismo: o Convento de Cristo, em Tomar, inscrito na lista de Património Mundial em 1983.
Mandado erguer em 1160 por D. Gualdim Pais, Grão-Mestre da Ordem do Templo, viria a ser a sede dos cavaleiros-monges em Portugal. Construído ao longo de centenas de anos pelas mãos de alguns dos mais reconhecidos mestres e arquitetos de cada período da sua história, este monumento cruza elementos de vários estilos. Destaca-se o Manuelino na icónica Janela do Capítulo, ornamentada com motivos marinhos em honra à Época dos Descobrimentos e com o globo, símbolo do Mundo que o Reino queria e viria a conquistar.

  • Mosteiro da Batalha
  • Mosteiro de Alcobaça
  • Charola, Convento de Cristo, Tomar

Nesta casa dos Templários, aprecie com tempo a magnífica charola na igreja original do século XII, uma capela circular privada, apenas para os cavaleiros — as fotografias vão ter dificuldade em captar a sua beleza tão única e particular.

Cidades com arte

No Oeste, a Vila de Óbidos é uma das Cidades Criativas do Centro de Portugal. Esta rede da UNESCO distingue cerca de 250 cidades de todo o mundo que usam artes como o cinema, a literatura, a música, as várias formas de artesanato ou a gastronomia para se desenvolverem e envolverem as suas populações e os seus visitantes. A vila de Óbidos está nesta rede pela sua forte ligação à Literatura: projetos dedicados aos livros como o Festival Folio ou o Latitudes (vocacionado para a literatura de viagens) ou programas de residências literárias e vários prémios literários e livrarias, resultam numa vila onde se respira o cheiro dos livros.

  • Caldas da Rainha, Cidade Criativa do Artesanato e Artes Populares
  • Óbidos, Cidade Criativa da Literatura
  • Covilhã, Cidade Criativa do Design

Bem perto, Caldas da Rainha é distinguida pelo Artesanato e Artes Populares desde 2019, já que é centenária na produção de cerâmica. Esta indústria nascida no final do século XV empregou boa parte da população local e cativou artistas de renome como Rafael Bordalo Pinheiro, no século XIX. Hoje é parte incontornável da identidade da terra.

O património industrial levou outra cidade do Centro de Portugal a ser reconhecida pela rede das cidades criativas, desta vez na categoria Design. Falamos da Covilhã e de espaços como o New Hand Lab ou o Museu Nacional dos Lanifícios da Universidade da Beira Interior. Nestas instituições olha-se para a tradição da região da Serra da Estrela nesta área e promove-se a inovação e a vanguarda.

Na Beira Baixa e na Região de Leiria, outras duas cidades integram esta rede da UNESCO, ambas por causa da Música. A primeira é Idanha-a-Nova, onde o adufe é rei e onde acontece um número impressionante de festivais ao longo do ano, como o Boom Festival, o Fora do Lugar ou o Eco Festival Salva a Terra.

Idanha-a-Nova, Cidade Criativa da Música

A segunda é Leiria, cidade cujas praças, jardins, ruas e salas de espetáculos são lugares vivos e dinâmicos, de encontro de pessoas, onde se vive a música através de eventos como o Festival A Porta, o Extramuralhas, o Música em Leiria, o Ópera na Prisão ou os Concertos para Bebés. Aqui, a prática antiga desta arte levou à construção da Casa da Cidade Criativa da Música, uma obra de Gonçalo Byrne que, numa parede de espelho, reflete o icónico Castelo de Leiria.

Leiria, Cidade Criativa da Música

O Centro de Portugal é uma região com uma cultura viva e vibrante onde a história e a tradição se encontram com a modernidade. Venha com tempo e explore cada recanto.

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