Matematicamente, ainda é possível. Afinal, o tempo televisivo total de “Guerra dos Tronos” até agora, à beira da estreia da oitava e última temporada a 15 de abril, é de 67 horas. Mas descontando sete horas de sono, oito de trabalho, tempo para outros afazeres sociais ou de ordem biológica, é possível que já não dê para rever tudo o que ficou para trás. Não pode ser por acaso que o inverno já se tinha ido embora e voltou.
Se até ao dia em que se depara com este artigo ainda não palmilhou nem um metro do território do reino de Westeros, ou na eventualidade de já se ter embrenhado de tal forma no universo televisivo da saga imaginada por George R.R. Martin (As Crónicas de Gelo e Fogo) que já está tudo confuso – afinal, já lá vai ano e meio desde o final da temporada anterior, isto para não falar da estreia original nos idos de 2011 –, está na altura de aceitar que nem toda a gente tem vida para acompanhar viagens que duram oito episódios. E está na altura de abraçar todos os spoilers que se seguem (o alerta está dado).
[o trailer da oitava e última temporada de Guerra dos Tronos:]
Enfim, há dragões, relações complicadas entre famílias e familiares (felizmente, este é o país de Eça de Queirós e Os Maias prepararam os seus leitores para tudo), questões meteorológicas, exércitos de gente morta e de gente castrada (não necessariamente por esta ordem), penúltimos episódios de temporada épicos e, a pairar sobre os Sete Reinos, um trono enorme feito de ferro. E agora, ao bom estilo da coleção da editora Europa-América, há também este resumo temporada a temporada (e uma breve indicação sobre as “casas”, que é o mesmo que dizer “famílias”, mais importantes da série). Isto é para os preguiçosos que ainda assim querem saber se valar morghulis ou nem por isso. O que faria mais sentido havendo tempo para aprender a falar High Valyrian. Não há.
Casa Targaryen
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Aerys Targaryen II, o Rei Louco, teve três filhos: Rhaegar (o mais velho), Viserys e Daenerys (a única sobrevivente nos tempos que correm, pelo menos até à revelação sobre um certo bastardo…); Rhaegar, que tinha casado com Elia Martell, mais tarde voltou a casar (em segredo, o que se revelou ser um problema) com Lyanna Stark: é desta união quase desconhecida que terá nascido Jon Snow, que foi criado como filho bastardo de Ned Stark. (O símbolo é o dragão – são os donos originais do Trono de Ferro, depois de terem “unificado” os Sete Reinos, que até aí eram autónomos)
Primeira temporada
Questões familiares
Nesta era pré-binge watching, os irmãos Stark ainda estavam todos juntos no seu bastião nortenho de Winterfell, felizes, a brincar com os seus lobos de estimação. Depois, o bastardo Jon Snow partiu para se juntar à tropa de elite Night’s Watch que guarda A Muralha, o pai Ned foi (com as filhas Sansa e Arya) para King’s Landing – a capital do reino, por assim dizer – com o Rei de Westeros, Robert Baratheon, e o pequeno Bran foi empurrado de uma torre pelos gémeos Lannister. (Se já está confuso com as relações familiares, é normal – foi para isso que preparámos uma cábula.) Até hoje, os Stark nunca mais se conseguiram juntar todos no mesmo espaço. Isto não seria nada de mais, as famílias são mesmo assim, cada um segue o seu rumo, não se tivesse dado o caso de, entretanto, o rei ter morrido, o pai Stark ter sido tramado e decapitado por descobrir que o herdeiro do trono era bastardo, Jon Snow se ter deparado com umas criaturas que toda a gente julgava extintas e de haver, num reino distante, uma herdeira legítima a começar a erguer-se das cinzas (quase literalmente) e a chocar três ovos de dragão, isto depois de se ter casado e ter(mos) perdido demasiado cedo o líder Dhotraki Jason Momoa (perdão, Khal Drogo).
Se só puder ver dois episódios: “Theking’s road”; “Baelor”
Ranking de mortes: Esta temporada leva o prémio para “Morte mais surpreendente”. Afinal, Ned Stark era um bom homem, um herói à séria, além de ser interpretado por Sean Bean e de os espectadores serem ainda demasiado inocentes para o que os esperava.
Segunda temporada
Isto não vai acabar bem e ainda agora começou
Está lançada a dança da cadeira, ou seja, do trono. E nesta ronda só jogam os Lannisters, uma família com relações entre irmãos ligeiramente mais complicadas do que na família Stark. Os gémeos Jaime e Cersei dão uma nova dimensão ao conceito de incesto – twincest – e têm vários filhos em comum, ainda que Cersei fosse casada com o falecido rei e todos achem que aquelas crianças são os herdeiros de Baratheon. Joffrey, o mais velho, assume o trono, mantém Sansa Stark como noiva e prisioneira (Arya Stark conseguiu fugir e pelo caminho ainda é salva por um Homem sem Rosto de Essos) e Tyrion Lannister, o mal-amado irmão anão de Cersei e Jaime, e muito competente a beber vinho, torna-se seu conselheiro. Mas as forças da oposição estão a caminho: Robb Stark, o filho mais velho de Ned, proclamou-se Rei do Norte e quer vingar a família; Stannis Baratheon, irmão do falecido rei, tenta invadir King’s Landing (sem sucesso); e Daenerys Targaryen, da família a quem os Baratheon tinham originalmente usurpado o trono, continua lá longe a criar os seus dragões bebés. Já Jon Snow passa a maior parte do tempo para lá da muralha, com os selvagens excluídos do reino, e conhece uma ruiva que o vai lembrar muitas vezes que ele “não sabe nada”.
Se só puder ver dois episódios: “The ghost of Harrenhal”; “Black water”
Ranking de mortes: Neste caso, o galardão vai para “Morte mais organizada”, mesmo no sentido militar. Vê-se pela primeira vez como surgem os White Walkers, o exército dos mortos, e é por causa deles que toda a gente tem medo do inverno.
Terceira temporada
Os Stark já não tinham nada, mas tudo piorou
Arya Stark passa a temporada toda a viajar para tentar chegar a Winterfell, acompanhada por um homem gigante e cheio de cicatrizes (Hound, que, aliás, inspira aqui uma nota – há muitas personagens secundárias que mereceriam mais atenção, e muitas acabam por se tornar os grandes preferidos dos espectadores). Já Sansa Stark continua à mercê dos Lannister, que decidem casá-la com Tyrion, surpreendentemente o mais decente dos irmãos-vilões, e arranjar outra noiva para Joffrey, tentando estabelecer uma aliança com a família Tyrell (isto, parecendo um pormenor, traz à série a atriz Diana Rigg). Robb, o Rei do Norte, quebra a promessa de se casar com a filha de Walder Frey, que o tinha ajudado. E quando parece que tudo está a correr um bocado mal às mulheres nesta temporada, ainda vai correr tudo muito pior a toda a gente. Se nunca ouviu falar do Casamento Vermelho, fique a saber que a cor da boda não foi escolhida por causa dos arranjos florais: a vigança de Frey é tremenda e morre muita gente, incluindo Robb e Catelyn Stark, a matriarca da família. Arya vê tudo acontecer. E os Stark perdem tudo. Ou melhor, perdem mais ainda.
Se só puder ver dois episódios: “Kissed by fire”; “The rains of Castamere”
Ranking de mortes: O prémio aqui só podia ser o de “Mortes mais sangrentas”.
Casa Stark
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Eddard “Ned” Stark casou com Catelyn Stark, descendente da Casa Tully, e tiveram cinco filhos: Robb, Sansa, Arya, Bran e Rickon; Além dos filhos biológicos, Ned teria alegadamente um bastardo, que foi criado com eles: Jon Snow. Porém, Ned estava só a cumprir um pedido feito no leito da morte pela irmã, Lyanna Stark, que tinha tido aquele filho com Rhaegar Targaryen; Até ver, de todo o clã, restam apenas Sansa, Arya e Bran. (O símbolo é o lobo – são os senhores de Winterfell, governantes do reino do Norte)
Quarta temporada
A família manhosa que fica com Winterfell
Depois de um casamento vermelho, um casamento roxo – que é a cor da cara de Joffrey depois de ser envenenado na própria boda. Menos um Lannister, mais uma Stark em fuga: no meio da confusão, e com a ajuda do escorregadio Littlefinger, Sansa consegue finalmente fugir (Arya também vai fugir, mas para Braavos, na esperança de reencontrar o Homem sem Rosto). Já o bon-vivant Tyrion Lannister leva com a culpa pela morte do seu sobrinho-rei, tem de aceitar uma luta com a própria irmã Cersei para não ser condenado à morte e acaba por depender do irmão Jaime para escapar. Mas antes de partir em busca de Daenerys, dos seus dragões e dos exércitos que esta vai reunindo em territórios distantes, e sobre quem já se ouvem rumores, consegue matar o próprio pai quando este estava na sanita, até porque ele tratava-o mesmo mal. A norte, Jon Snow volta para a Muralha para avisar a Night’s Watch do ataque planeado pelos selvagens e a família Bolton, muito manhosa, fica com Winterfell depois da matança dos Stark.
Se só puder ver dois episódios: “The lion and the rose”; “Oathkeeper”
Ranking de mortes: Oberyn, o príncipe que lutou em nome de Tyrion Lannister pela sua vida, merece uma nota pela “Morte mais violenta”. Dói só de pensar. E ele não merecia.
Quinta temporada
Sim, aquela em que morre o bonitão
Sansa, que por esta altura já se pode candidatar ao título de mais condenada à desgraça de todas as mulheres da série, acaba por aceitar casar com o sádico Ramsay Bolton, só para garantir que há pelo menos um Stark em Winterfell. Já Cersei, que entretanto tinha posto o seu filho mais novo no trono, acaba por se deixar quebrar pela ascensão de uma ordem religiosa muito fundamentalista, o que dá origem a uma caminhada de penitência em que pela primeira vez tempos pena dela. A Night’s Watch vence a batalha na Muralha contra os selvagens, mas só contando com a ajuda de Stannis Baratheon, que anda um bocado alucinado por causa de Melisandre, uma feiticeira poderosa. No fim, Jon Snow torna-se o líder da brigada de elite. Fraco consolo, tendo em conta que se encontrou pela primeira vez com o Night King, o líder dos White Walkers, e que acabou por ser assassinado numa rebelião dos seus próprios homens. E sim, é difícil que tenha passado ao lado deste spoiler na internet quando o episódio foi emitido.
Se só puder ver dois episódios: “Hardhome”; “Mother’s mercy”
Ranking de mortes: A morte de Jon Snow tem de levar o prémio de “Morte mais badalada”. Mas, como se verá mais à frente, também podia ser a “Morte mais sobrevalorizada”.
Casa Baratheon
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Robert Baratheon casou com Cersei Lannister e acredita que teve três filhos com ela: Joffrey, Myrcella e Tommen (ainda que estes sejam filhos do incesto entre Cersei e o irmão gémeo Jaime); Na verdade, o que Robert teve foi vários filhos bastardos com várias mulheres;
Robert tinha também dois irmãos: Stannis e Renly. Ambos morreram também, bem como a sua descendência, o que faz com que, oficialmente, esta linhagem esteja extinta. (O símbolo é um veado negro – quando a série começa, é a família que detém o trono, depois de ter liderado a revolta que quase exterminou os Targaryen, na sequência do que se acreditava ter sido o rapto de Lyanna Stark por Rhaegon)
Sexta temporada
E nesta o bonitão regressa
Quem ficou à espera entre uma temporada e outra sofreu imenso antes de chegar a esta revelação, mas aqui é mais simples: Jon Snow ressuscita com a ajuda da feiticeira Melisandre. E finalmente lá se lembra de ir ajudar a família a recuperar Winterfell, dando origem à Batalha dos Bastardos (entre Snow e Ramsay Bolton), à vingança mais do que merecida de Sansa, e à proclamação do bastardo Stark como Rei do Norte. Há também uma nova Rainha para os Sete Reinos de Westeros – Cersei arranjou uma forma “explosiva” de destruir a ordem religiosa, mas isso acabou por lhe custar a vida do último filho. Mas é como se costuma dizer – se queres uma coisa bem feita, faz tu mesmo. Entretanto, ainda longe, Daenerys conquista também o apoio dos Dhotraki e dos marinheiros das Ilhas de Ferro, e já está muito perto de se tornar a ameaça que andou cinco temporadas a preparar-se para ser. Arya transforma-se numa assassina de elite depois de treinar com os Sem Rosto e começa a sua vingança por Walder Frey. E Bran – aquele que caiu da torre, ainda se lembram? –, agora paralítico, converteu-se numa espécie de super-vidente denominado Corvo de Três Olhos. É ele que, numa visita ao passado, percebe que Jon Snow não é um bastardo qualquer. Só não é um Stark. É um muito legítimo Targaryen.
Se só puder ver dois episódios: “Battle of the bastards”; “The winds of winter”
Ranking de mortes: Nesta temporada acontece, sem dúvida a “Morte mais triste”. Hodor, um matulão muito simpático que passou a série toda a ajudar Bran e a dizer apenas uma palavra (“Hodor”), sacrifica-se pelo grupo. E descobre-se que o que ele andava a dizer desde pequeno era afinal “Hold the door”, que é aquilo que ele tem de fazer na altura da sua… morte. A linha do tempo está mesmo toda baralhada.
Casa Lannister
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O patriarca, Tywin Lannister, casou com Joanna Lannister, e teve três filhos: os gémeos Cersei e Jaime, e Tyrion; Cersei, viúva de Robert Baratheon, teve três filhos com ele, que na verdade são do irmão Jaime, os já referidos Joffrey, Myrcella e Tommen. À medida que estes vão herdando o trono, os Lannister vão gerindo o Trono de Ferro em seu nome;
Tanto Joffrey como Tommen chegaram a casar com Margaery Tyrell. Nenhum dos descendentes sobreviveu, mas Cersei, Jaime e Tyrion continuam bem vivos. (O símbolo é um leão – quase desde o início da série, são eles que governam os Sete Reinos)
Sétima temporada
A mãe de todos os dragões foi a jogo
E pronto, Daenerys chega a Westeros para ocupar aquilo tudo com a ajuda dos seus dragões e de um título real impossível de decorar, mas que inclui ser da Casa Targaryen, Filha da Tormenta, Quebradora de Correntes, Mãe de Dragões… e não há espaço para mais. Bem aconselhada, convoca Jon Snow, e a partir daí entram os dois numa aliança e num permanente debate sobre dobrar ou não dobrar o joelho. Entretanto, com as duas irmãs Stark a darem um excelente exemplo em Winterfell sobre como unir esforços com competência, a ideia é que todos os reinos de Westeros se deixem de questiúnculas entre si e mantenham tréguas para lidar primeiro com o Exército dos Mortos, que de repente ficou mais inteligente e conseguiu recrutar Viserion – um dos dragões de Daenerys. A Muralha cai, Jaime deixa Cersei sozinha pela primeira vez e, finalmente, depois de muitas previsões precipitadas do Instituto Meteorológico dos Sete Reinos, chegou mesmo o Inverno. Os dados estão lançados para a temporada final. Ah, quase no fim, Jon e Daenerys dormem juntos. E sim, se fizeram bem as contas às ligações familiares, não são apenas ambos Targaryen… são tia e sobrinho. Pois. Ainda assim, há quem continue a torcer pelo amor deles, o que prova que não é só em Westeros que há gente estranha.
Se só puder ver dois episódios: “The spoils of war”; “Beyond the wall”
Ranking de mortes: No meio dos combates travados entre os Lannister e Daenerys, a matriarca da Casa Tyrell, Oleanna, protagoniza a “Morte com mais estilo” de toda a série. Acaba-se a sua linhagem e perde para os Lannister, mas classe é classe.