Frederico Varandas

no discurso na Câmara Municipal de Lisboa

A minha primeira palavra vai para o sócio e adepto do Sporting. No passado dia 5 deram uma demonstração exemplar de civismo, de bom comportamento e de amor pelo seu clube. É notável uma festa popular com milhares e milhares de pessoas e não ter havido sequer um desacato. Simplesmente admirável. E deixem-me destacar entre os milhares e milhares de pessoas, a presença de milhares de crianças e mulheres.

O facto de ter havido uma saudação especial aprovada por unanimidade na Câmara ao comportamento dos adeptos do Sporting na festa do título no Marquês de Pombal (só aí estiveram quase 90 mil, juntando-se a esse número todos aqueles que fizeram as celebrações entre Alvalade e o epicentro da noite) foi também um mote para Frederico Varandas abordar dois pontos sem ligação mas importantes no mesmo contexto: por um lado, “apagar” aquilo que se passou nos festejos limitados do título de 2021 e episódios de violência que se registaram com culpas colocadas pelos visados na operação montada; por outro, destacar aquela que é uma das vitórias sem “título” do Sporting de Amorim: ganhar uma nova geração não só de crianças mas também de mulheres que acompanham o fenómeno desportivo e ampliam a massa adepta verde e branca.

A minha segunda palavra vai para o nosso eterno rival. Para vencermos este Campeonato o nosso rival obrigou-nos a ter de bater todos os nossos recordes. Para um digno vencido, o nosso respeito e consideração. A minha terceira palavra vai para este grupo de jogadores, equipa técnica e staff. É preciso recuar mais de 70 anos na história do Sporting, à equipa dos Cinco Violinos, para encontrar uma verdadeira ‘máquina demolidora de futebol’ como esta equipa. Estes ‘Leões demolidores’ bateram o recorde de pontos, o recorde de vitórias e o recorde de golos marcados numa época. Muito obrigado por esta maravilhosa e inesquecível época. O mérito, a história e a glória é vossa!”

As relações institucionais do Sporting com o FC Porto não existem (pelo menos por agora) mas são saudáveis com o Benfica, a um nível suficientemente forte para superar uns pequenos “arrufos” que vão existindo nos bastidores mas sem impacto por aí além. Varandas quis dar um exemplo de como elogiar o adversário ainda pode reforçar mais os méritos que se tem nas conquistas, partindo a partir daí para algo que, entre as festas do título, foi sendo “secundarizado” mesmo tendo o papel principal: o conjunto de Rúben Amorim fez o seu melhor registo a nível de pontos, de vitórias e de golos, aqui apenas superado pelo tempo dos Violinos.

Mas a conquista deste Campeonato começou ainda antes do final da época anterior. Indiferentes ao ruído e às dúvidas que um quarto lugar pudesse levantar, mantivemos o rumo, mantivemos as pessoas e, sobretudo, mantivemos o que realmente interessa na base da nossa decisão: o processo de trabalho. Não procurámos desculpas nem discursos de vitimização ou de desresponsabilização. Procurámos sim, ser mais competentes onde tínhamos falhado. E aqui tenho de agradecer especialmente aos meus administradores e ao meu diretor desportivo. O mérito é vosso. Se a conquista do Campeonato de há três anos foi de extrema importância, por ter acabado com o jejum de 19 anos, a conquista deste Campeonato é ainda maior importância. É mais do que um campeonato, é uma mudança de paradigma. É o fim de uma era em que o Sporting vencia esporadicamente em intervalos de décadas. É a confirmação de uma nova era onde o Sporting deixa de olhar para cima para ver os seus rivais e volta a ser estruturalmente forte, preparado para vencer e para continuar a vencer.”

Na parte seguinte, o presidente do Sporting tentou tocar em três pontos, sendo que um, o primeiro, é uma visão “incompleta”. Varandas não esqueceu as críticas que foram feitas pela quarta posição da última época, sendo que a ideia que sobrou é que a temporada ficou condicionada ou “perdida” na primeira metade com as dúvidas no mercado, sobretudo com a saída de Matheus Nunes mesmo no final de agosto sendo um daqueles jogadores com influência chave no processo coletivo e na forma como a equipa jogava, voltando depois a uma “normalidade”. Depois, aproveitou para se afastar do que considera existir nos rivais perante o insucesso, que parecem tentar encontrar mais justificações para fora do que respostas para dentro. Por fim, anunciou a tal “nova era” em que sente o clube com condições para estar mais próximo de ganhar do que no passado.

No futebol diz-se que não há memória, mas eu tenho. E nem é preciso muito esforço de memória para me lembrar o que era este clube há seis anos. Lembro-me de em 2018 o clube estar numa guerra civil e éramos falados pelos piores motivos e por episódios de violência. Hoje somos falados e louvados por um comportamento exemplar numa festa de campeão com mais de 100.000 pessoas na rua unidas exclusivamente pelo amor ao nosso Sporting. Lembro-me em 2018 de o Sporting não ser campeão há um longo e um penoso jejum. Hoje acabámos de celebrar o segundo Campeonato desde essa altura e já vencemos mais outros cinco títulos só no futebol desde 2018.”

A determinada altura, o número 1 do clube de Alvalade quis colocar em perspetiva aquilo que aconteceu na presente temporada em comparação com o estado do universo verde e branco quando ganhou o primeiro sufrágio para o qual concorreu. Numa perspetiva desportiva, recordou que o Sporting ganhou tanto a nível de Campeonatos em quatro anos do que conseguira fazer do início do século até 2018, quando foi eleito; numa ótica mais institucional, recordou o contexto em que entrou para a presidência dos leões, na “ressaca” da invasão a Alcochete e com um clube particularmente dividido como esteve durante alguns anos. Cá fora, houve uma pequena “nuance” nessa parte do discurso que deverá merecer uma reflexão de tudo e todos: tirando a parte em que se referiu ao rival Benfica, foi o único momento em que se ouviram alguns assobios.

Lembro-me que em 2018 o clube detinha apenas 66% da SAD e que em 2026 íamos perder a maioria do capital para os bancos. Hoje detemos 88% da SAD e o Sporting é livre e dono do seu futuro. Lembro-me que em virtude dos acontecimentos de 2018 a SAD chegou a ter capitais próprios negativos de 23 milhões. No último Relatório semestral apresentámos capitais próprios positivos de 67 milhões, o melhor de sempre. Lembro-me que em 2018 tínhamos cerca de 80.000 sócios com quotas em dia, hoje temos 110.000 de um universo de 150.000 sócios. Lembro-me que em 2018 fazíamos oito milhões de euros em quotização, este ano fazemos 12 milhões. Lembro-me que em 2018 fazíamos cinco milhões euros em receitas de merchandising, este ano vamos fazer 14 milhões. Lembro-me que em 2018 o Sporting tinha um estádio feio com cadeiras  esquisitas. Hoje temos um estádio cada vez mais bonito, mais verde, mais funcional e em 2026 sem fosso.

Nessa comparação com o que era o Sporting de 2018 e o que é hoje o Sporting de 2024, Varandas quis puxar dos números para mostrar o crescimento sustentado que o clube teve a todos os níveis, do número de sócios pagantes (que depois tendencialmente, por ser uma receita que reverte para as modalidades, pode trazer outro músculo às necessidades existentes) à parte do merchandising. Ainda assim, há dois pontos que, por si só, fariam da sua figura o mais popular possível: por um lado, acabou com a “novela” dos VMOC, garantindo que o clube não corre o risco de perder a maioria do capital social da SAD; por outro, foi mexendo naquilo que é o Estádio José Alvalade e prepara-se para dar o salto que muitos ansiavam mas poucos acreditavam com uma operação que vai permitir “afundar” o relvado, eliminar o fosso e aumentar a capacidade do recinto em ano de eleições (2026) entre outros projetos relacionados de forma indireta que podem ser estudados.

Mas também me lembro que em 2018 quase nenhum treinador querer vir treinar o Sporting. Hoje temos um dos melhores treinadores do mundo. Temo-lo hoje, temo-lo há quatro anos e temo-lo para o ano. E não é pela vertente financeira nem pela falta de interesse de outros clubes que ele permanece aqui, ano após ano. Permanece aqui porque o Sporting é um clube que lhe dá proteção, estabilidade, condições para ter sucesso e sobretudo ser feliz. Obrigado, mister Amorim. O mérito é teu.

O presidente do Sporting voltou a deixar um sinal de confiança na permanência do técnico Rúben Amorim, que teve uma influência como há muito não se via no clube a partir do banco, recordando o contexto da sua chegada a Alvalade numa época iniciada com Marcel Keizer, que teve Tiago Fernandes como técnico interino e que contou ainda com Silas até à chegada de Rúben Amorim. Entre esse “elogio”, Varandas aproveitou para deixar mais uma “farpa” aos rivais, que não apresentam hoje a mesma estrutura ligada ao futebol nem a mesma capacidade para “proteger” os respetivos treinadores que têm a sua permanência em dúvida.

Gostaria de realçar os milhares e milhares de jovens e crianças que festejaram esta vitória e que nos dias de hoje saem à rua vestidos, orgulhosamente, de leão ao peito. Vencer ajuda muito mas não há nada mais forte, mais aglutinador e inspirador do que vencer sob os nossos valores. O Sporting demonstra que é possível vencer com coragem, com dignidade, com integridade, sem a mancha de processos judiciais e sem qualquer guarda pretoriana paga. Apenas com o nosso sonho, com a nossa visão, com os nossos valores e com os nossos adeptos a caminharem lado a lado connosco apenas por amor ao nosso Sporting.

Mais uma vez, sem nunca se referir a Benfica e FC Porto mas falando de Benfica e FC Porto, o presidente do Sporting aproveitou para enaltecer o crescimento dos leões em contraponto com as dificuldades que os rivais diretos apresentam. A questão dos valores e da integridade tem estado presente no discurso de Frederico Varandas desde 2018, quando começou a dizer vezes atrás de vezes que preferia perder com dignidade do que ganhar como outros faziam, foi também utilizada como exemplo para a capacidade aglutinadora de novas gerações que o conjunto verde e branco tem conseguido sem qualquer tipo de vestígios de problemas com a Justiça, ao contrário do que aconteceu com encarnados e azuis e brancos ainda na última semana.

A minha última palavra vai para o meu Conselho Diretivo e restantes órgãos sociais. A estabilidade ímpar que hoje o Sporting tem deve-se a vocês. Muito obrigado, o mérito é vosso. O Sporting é hoje um clube estruturado, sustentável, saudável, jovem, pujante e campeão! ‘Leões demolidores’, sportinguistas, manteremos a nosso rumo, continuaremos a crescer, continuaremos a vencer. Meu caro presidente, muito obrigado por esta receção e espero voltar a vê-lo daqui a uma semana pois domingo temos uma final e é para vencê-los!

Por fim, na última ideia partilhada no discurso lido no Salão Nobre, Frederico Varandas quis deixar uma espécie de promessa para o futuro: tudo o que está a acontecer não se trata de um fenómeno conjuntural mas sim de um movimento estrutural que deixe o clube sempre mais perto dos títulos e sem os longos jejuns sem capacidade de voltarem. Em paralelo, e por não ter falado nisto antes em termos públicos, o líder do clube não gostou da forma como um vídeo seu num jantar privado com jogadores, treinadores e staff apareceu a acabar o discurso com um pouco de humor à mistura ao dizer apenas que o Sporting tentaria vencer o FC Porto para conquistar a dobradinha depois da frase “vamos rebentar com eles” que dissera nesse momento.