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NUNO FOX/LUSA

NUNO FOX/LUSA

A versão mais bélica para agradar a uns deu o flanco para os tiros de outros: Bruno de Carvalho, nas entrelinhas

Bruno de Carvalho tem poucas fichas mas fez all in. Em muitas partes, regressou até à versão bélica de 2011. Foi à luta com as armas do passado para se segurar no presente mas o futuro está em risco.

Bruno de Carvalho sofreu uma autêntica metamorfose entre as eleições de 2011, em que surgia como um outsider ou o “candidato do um por cento”, como recentemente se intitulou, e o sufrágio de 2013, em que partia como favorito por ter marcado uma posição dois anos antes. E mudou exatamente por isso, por perceber o contexto em que se encontrava. Cinco anos depois, teve de novo essa perceção de, perante tudo o que tem acontecido ao Sporting, ter passado para um patamar de segundo plano perante um cerco apertado para o qual também contribuiu muito.

Esta tarde, mais de uma hora depois do que estava marcado, e durante cerca de 120 minutos, o presidente leonino falou. E falou. E falou. Com as demissões em catadupa, a pressão externa, a relação claramente debilitada com o plantel de futebol e notícias que dão conta de alegados esquemas de corrupção no Campeonato Nacional de futebol e andebol, Bruno de Carvalho tem sido um alvo com diversas miras apontadas. Diversas, ainda não demasiadas na sua ótica. Por isso, regressou ao estilo mais bélico, recordando as duas décadas que lhe antecederam e que deixaram a SAD com um PER — Processo Especial de Revitalização que pretende evitar a insolvência — em cima da mesa para sobreviver. Para muitos, ou quase todos, o mais importante foi os disparos que fez para fora; para ele, o mais importante eram as mensagens que passava para dentro, para aqueles que irão decidir sempre o seu futuro, seja em sessões de esclarecimento, reuniões magnas ou eleições.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

No entanto, entre tantos os disparos, também abriu o flanco e as reações de fora sucederam-se em catadupa (incluindo desmentidos de alguns órgãos de comunicação social, que voltou a ser estar na mira). Foi no estilo do passado que Bruno de Carvalho tentou assentar as suas hipóteses de ter um presente, mas o seu futuro em Alvalade está cada vez mais em risco, sobretudo depois da final da Taça de Portugal. E tudo com um outro ponto estrutural que terá reflexos a médio prazo muito maiores do que todos os problemas conjunturais: o ruído que está a ser criado coloca o clube numa posição onde as fações estão cada vez mais extremadas. Algo que, como se viu com vários exemplos que lhe antecederam na liderança, pode deixar feridas que nunca chegam a sarar.

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Alvo de bullying, (quase) vítima de chantagem

“Nós somos pais, filhos, maridos, temos a nossa dignidade, honra e respeitabilidade, e esta campanha que se instalou e que a comunicação social dá eco chegou ao limite de hoje na capa do Expresso, a dizer “Brunos de Carvalho devem ser mortos à nascença”. Temos outra capa com uma caricatura onde estou com uma matraca ou uma moca a dizer: “Bruno deu aval a agressões”. Outra que diz que jogadores acham que seria uma afronta ir ao Jamor. Outra que tem que os jogadores não querem Bruno. Outra que diz que comprámos outro atleta. E mais, e mais, e mais… Tem de ter o seu limite. É um total desrespeito pelo sentido das regras mais basilares da democracia e pelos princípios e direitos humanos. Estamos a ser alvo – e aqui falo de mim e dos meus colegas, a quem muito agradeço estarem comigo apesar das chantagens diárias – de bullying, de completo terrorismo e a única coisa que falta é entrarem por aqui como aconteceu naquele ato criminoso e arrancarem partes do corpo…”.

Como responderia mais tarde Miguel Sousa Tavares, "qualquer pessoa inteligente não faria interpretações literais" à frase nomeada pelo presidente do Sporting no arranque da conferência. E o próprio Bruno de Carvalho sabe disso. No entanto, encontrou numa frase de oito palavras o arranque para duas horas de intervenção que quis balizar num embrulho de "mega campanha" montada para retirá-lo da liderança do clube, que envolve não só a alegada ligação aos ataques na Academia mas também à relação com os jogadores e à operação CashBall. Há um cerco muito claro ao número 1, todos perceberam, e perante isso o líder verde e branco utilizou (mais) um dia carregado de notícias que não o favorecem para responder com um ataque cerrado a inúmeras pessoas ou órgãos. Mas foi de passagem que falou naquilo que, em termos práticos, ainda o mantém em Alvalade: o vice-presidente e os cinco vogais que não apresentaram a demissão e que têm sofrido inúmeras pressões no sentido de saírem e provocarem um cenário de eleições antecipadas - pressões que surgem, inclusive, de alguns dos dirigentes que entraram e saíram com Bruno de Carvalho. Resultado na mistura das duas ideias: quem sair agora cede às campanhas externas e vai ficar "colado" a qualquer coisa de negativo que venha a acontecer no clube a partir desse momento.

As manobras externas e a (contínua) falta de militância

“Vamos aqui fazer um exercício que não queríamos fazer, da forma mais responsável e cuidadosa possível. Tenho pena que a comunicação social, assim como alertei os sportinguistas na Assembleia-Geral, esteja a contribuir para atos de verdadeiro terrorismo. Sempre disse que se não estivessem atrás de mim que me matavam e sempre me disseram para ir em frente porque estavam ali, eram o exército. Neste momento, perante o ataque mais vil, pessoal e indigno que me estão a fazer, não vejo afinal onde estão as pessoas que sabiam da capacidade de manipulação e estão a deixar morrer aquele presidente que juraram nas Assembleias Gerais e nas eleições que podia dar 24 horas do seu tempo e o corpo às balas para denunciar o que está mal no desporto. Entregámos o nosso destino nas mãos dos sportinguistas e 90% disseram que queriam este estilo e esta gestão.”

Bruno de Carvalho tem a completa perceção que, se fizessem uma sondagem a todo o universo Sporting entre os sócios e os adeptos do clube, mais ou menos desligados, atravessa de longe o pior período desde que ganhou as eleições de 2013. No entanto, e como também mostrou o pedido para uma Assembleia Geral Extraordinária, existe uma realidade paralela entre o que pensam os adeptos e o que acreditam os associados que têm participação ativa, com presença em reuniões magnas e eleições. Foi para esses, que serão amanhã, no próximo ano ou daqui a três aqueles que irão sufragá-lo nas urnas, que o presidente falou. Neste caso, numa perspetiva dupla: por um lado, recordando que se em dois meses acreditavam tanto nele, não pode ter havido uma quebra tão grande (na verdade pode, porque a forma e as razões que levaram à convocatória dessa Assembleia Geral não deixaram toda a gente satisfeita); por outro, para reclamar algo que fala desde que chegou a Alvalade – a falta de militância na defesa pública dos interesses dos leões.

O ataque a Sobrinho e a saída da Holdimo da SAD

“A Holdimo é um caso curioso da comunicação. Álvaro Sobrinho era dos homens mais mal falados, e ainda é mas esta semana passei a ser eu, por todos os motivos: BESA, congelamentos de contas, problemas em vários países… Aparece quase como herói nacional e aquilo que ele diz afinal tem relevância e para a vida do Sporting. Quero dizer que não tivemos nenhum relacionamento especial com a Holdimo, dos 20 milhões que colocaram na altura de Godinho Lopes – e quero relembrar porque isto é um jogo e ele foi trazido por José Maria Ricciardi – só fizemos um acerto de contas de 500 mil euros e ofereceram a tal carrinha para o futebol profissional. Para nós, enquanto sportinguistas e Comissão Executiva da SAD, [a Holdimo] já devia ter vendido a sua participação na SAD porque não é a marca ideal para dar nome e reputação ao Sporting. E recordo-me que, quando fomos buscar Jorge Jesus para o Sporting, isso era possível com o dinheiro sujo de Álvaro Sobrinho…”

A Holdimo já tinha mostrado o seu desconforto com Bruno de Carvalho após a crise institucional que sucedeu à derrota em Madrid. Mas desta vez foi o próprio Álvaro Sobrinho, com três/quatro intervenções em diferentes meios num curto lapso de tempo, que pediu directamente a saída do presidente leonino (primeiro da SAD, depois do clube também). Bruno de Carvalho e Sobrinho criaram uma boa relação, de confiança, quando o atual líder entrou em Alvalade. E a questão do autocarro citada por Bruno de Carvalho, por exemplo, tem uma simbologia muito maior do que o número 1 verde e branco lhe atribuiu. Foi a "prenda" e o momento alto da I Gala Honoris Sporting, no Meo Arena. Mais profundo ainda porque, se recuarmos a essa altura, e falamos de 2015, havia um movimento inverso – os sportinguistas torciam o nariz a um eventual aumento da percentagem da Holdimo na SAD e era Bruno de Carvalho que minimizava a questão, dizendo tratar-se de um parceiro importante para os leões e nada mais. Depois, as relações azedaram e muito, com a noção de que os 30% do maior investidor privado da sociedade poderiam ser reduzidos caso se concretizasse a entrada de um novo parceiro com 18 milhões. O presidente leonino não quis apenas "atacar" Álvaro Sobrinho; pretendeu, mesmo para quem deseja agora a sua demissão, deixar uma imagem negativa da Holdimo para que a sociedade nunca faça crescer a sua importância na SAD.

Ricciardi, o dono disto tudo com quem era hipócrita

“Durante estes anos errei muito e aprendi muito. Dizem que os líderes têm de ser hipócritas e fui, a bem da união e coesão do Sporting que sempre disse que era estéril. Há uma parte do Sporting que nos recusa e que sempre nos recusará. Ricciardi é o estratega de tudo isto, com promessas nos corredores de entradas de milhões no Sporting com Álvaro Sobrinho, quando só se viu o acerto de contas de 500 mil euros e uma carrinha. É um sobrevivente, um daqueles que vai passando pelos pingos da chuva nem que tenha de ter a família toda na cadeia… Quis assessorar com a sua nova empresa o empréstimo obrigacionista com o Montepio. A proposta foi analisada, recusada e entrou num loop de uma campanha vergonhosa. Continuava a achar que era dono do Sporting, que poderia pôr e dispor, e quando se disse ‘não’ entrou num loop completo e começou a juntar as suas tropas. Ricciardi, Rogério Alves, estamos a falar de tudo aquilo que o Sporting conseguiu afastar e que sempre me orgulhou e deve continuar a orgulhar os sportinguistas. Quando renovei com Jorge Jesus, prometeu 15 milhões ao Sporting que seria o incremento do contrato de Jesus e ele jurou que sim, que dava. Estamos à espera até hoje”

Este foi um dos momentos em que a versão belicista "Bruno de Carvalho 2011" mais se notou. Mas, ao mesmo tempo, acabou por servir também como um pedido de desculpa aos apoiantes que sempre teve e que não gostaram de ver a aproximação que o presidente leonino teve ao banqueiro nos últimos tempos, após muitas críticas entre ambos (até porque no Sporting é assim há alguns anos: Ricciardi escolhe um candidato e os restantes criticam-no para tentar capitalizar votos). Ao dizer que foi hipócrita na relação que tinha com o antigo conselheiro leonino, o líder do clube de Alvalade quis justificar essa ligação à figura que agora lhe retirou o apoio; depois, criticou de forma dura aquele que considera ser uma espécie de "dono disto tudo" no Sporting, ao ponto de colocar algumas questões familiares pelo meio do discurso. Bruno de Carvalho quis recuperar o fantasma de duas décadas onde o clube esteve mais colado àquilo que alguns consideram ser uma elite, focando-se também no "caso" do empréstimo obrigacionista, assunto que estava ainda fechado no clube. Em paralelo, o presidente leonino visou ainda dois pontos: o posicionamento de Rogério Alves em caso de eleições antecipadas e a ligação estreita que o banqueiro tem com o treinador Jorge Jesus.

NUNO FOX/LUSA

Balizar o início do filme na Madeira e não no pós-Madrid

“Vamos falar do sucedido na Academia e vou tentar ser o mais cuidadoso possível estando 100% disponível para auxiliar a Justiça em todos os aspetos do que aconteceu. Foi um ato bárbaro de terrorismo e aproveitaram-se de um homem que estava abatido e estava em estado de choque com o que viu, tentando e conseguindo colar na opinião pública que “0 crime era chato e faz parte do dia a dia”. Foi um ato hediondo mas que tem o seu início. Aquilo que sabemos é que na Madeira houve atletas do Sporting que infelizmente, por impulsividade, pelo seu temperamento quente, não conseguiram aguentar aquilo que é a frustração. Confesso que os percebo porque já passei por isso, é duro para quem se sente injustiçado, mas temos de saber na vida aguentar e aceitar. Sem o nosso conhecimento, foi dito por um dos ex-líderes da claque Juventude Leonina que iria na terça-feira falar com esses atletas que lhes chamaram nomes e que se viraram. Mas continuo a dizer que os atletas não têm culpa nenhuma. Foi um ato vil, que teve uma origem mas não foi a 6 ou a 7 de abril, quando estava a um dia de saber se a minha filha mais nova sobrevivia ou não. Teve início na Madeira, local onde infelizmente não fui porque gosto de acompanhar [a equipa] mas havia uma prova europeia e uma Taça de Portugal, mas era minha forte convicção que íamos à Madeira ganhar. Não era minimamente expectável perdermos o jogo.”

Por mais de uma ocasião, o presidente leonino condenou os ataques a jogadores e à equipa técnica na Academia. E cumpriu aquilo que o Observador tinha colocado durante a semana como ponto de honra de Bruno de Carvalho: deixar claro que não teve nada a ver com as agressões, nem nenhuma ligação ao que se passou. Nesta primeira fase, teve três grandes objetivos: 1) a descontextualização que houve, na sua ótica, da primeira reação, ainda na Academia, através do canal do clube, logo nessa terça-feira à noite, e da qual só teve consciência quando se apercebeu das reações que se viam na blogosfera leonina; 2) a explicação para não ter estado na Madeira, justificada pela Liga Europeia de hóquei em patins no Porto e pela Taça de Portugal de futsal em Gondomar (embora, cruzando com aquilo que disse depois, não façam muito sentido as justificações, porque o jogo frente ao Marítimo "valia" uma possível quantia de 22 milhões de euros e uma planificação completamente diferente da próxima temporada); 3) a confirmação de algo que tem vindo a ser escrito e que tem a ver com a reação de alguns elementos da Juventude Leonina após a "resposta" em tom duro de alguns jogadores (Battaglia e Acuña) às críticas que foram feitas ainda no estádio, no aeroporto e na garagem de Alvalade após a derrota na Madeira que atirou o Sporting para o terceiro lugar e deixou a Liga dos Campeões para o Benfica.

A defesa dos jogadores, a sua família, até à morte

“Não foi a SAD que deu autorização para alguém entrar. Nunca houve nada em cinco anos, tínhamos uma folha de limpa e ficámos manchados por isto. Lamento que, com o apoio da bem montada teia cartilheira do Benfica, se diga que sou culpado moral. Falou-se em provas, testemunhos fidedignos. Sou pai. Os atletas são a minha família, posso criticar ou dar os parabéns, mas são a minha família e jamais em tempo algum deixaria que fizessem mal à minha família (…) Só não estive lá porque nesse dia do treino saem as notícias mentirosas do Cashball. Temos um nome e uma política contra tudo o que é corrupção e estivemos com o gabinete jurídico a perceber aquele claro ataque. Por um ato que desconhecia na totalidade, podia estar com pontos e fraturas porque eu ia lá estar (…) Jogadores que vão ser nossos, como o Raphinha, também sofreram situações destas mas como não era Bruno de Carvalho, Portugal não ficou assim. Não fazia a menor ideia deste ‘pedido’ do “Vais dizer-me isso na cara”. O que me foi transmitido pelos jogadores quando perguntei o que se tinha passado era que estava bem, que não era nada que não se resolvesse. Tenho pena que não me tenham dito o que se passou e tenho pena de não estar lá porque, para passarem por mim, tinha de sair de lá morto. Pela minha família e pelo meu clube, eu morro”

Bruno de Carvalho leva as palavras e as promessas ao exagero quando quer que uma mensagem não passe mesmo ao lado de ninguém. Foi o que aconteceu, colocando-se também ele como vítima de uma alegada campanha que o tenta colar a um ato que diz que desconhecia por completo que pudesse acontecer e que também o poderia ter envolvido a ele, antes de passar ao ataque. Ao dizer que, se estivesse na Academia seria preciso matá-lo para chegarem aos jogadores, o presidente leonino deu uma versão paternalista da relação com o plantel, tal qual uma família. Para Bruno de Carvalho, sendo um "pai" do plantel, tem direito para elogiar ou criticar os seus "filhos", mas sempre com limites, que neste caso foram extravasados por completo. Mas aqui também foram deixados dois "recados": para todos aqueles que, não sendo da esfera do desporto, vieram falar sobre o caso sem que tivessem feito o mesmo quando os adeptos do V. Guimarães invadiram um treino; e para a própria opinião pública, porque depois daquilo que disse sobre a liderança de Jesus no balneário na crise institucional pós-derrota em Madrid, quis vincar que as coisas só aconteceram porque não estava na posse de todos os dados e antecedentes.

O aviso para as rescisões unilaterais e a “farpa” em Patrício

“Criou-se uma campanha de pânico para sermos corridos do Sporting, dizendo que os jogadores estavam a preparar rescisões de contrato. Pedir rescisão por um ato que começa numa rixa, e entendam como termo para os jogadores que não perceberam o impacto nem a dimensão, mas que pelos vistos o teve. Começa nos jogadores. O Rui Patrício tem tempo suficiente no Sporting, e eu respeito-o, e não pode nem deve nos estacionamentos dirigir-se a sócios e adeptos a chamar nomes e a dizer que sabiam que estavam pagos, como quando aconteceu quando chegaram de Madrid. Tem mais inteligência emocional do que isto. Não devemos entrar neste tipo de situações com os adeptos. Alguma vez estou a dizer que merecia um ato criminoso? Nunca! (…) Já disse a Joaquim Evangelista, por exemplo, que não pode haver uma tentativa de rescisão por algo que involutariamente saiu dos jogadores. Eles não merecem nada do que passaram, aquilo não é o Sporting nem vai ser nunca mais, mas manter este terror, este silêncio ensurdecedor (…) Cheguei a colocar-me à frente de centenas de adeptos, em Chaves ou em Portimão, e coloquei-me à frente para que se quisessem fazer alguma coisa fizessem a mim e não a eles (…) Tive uma reunião com eles na segunda-feira e disse que tinha sido uma desilusão mas que nos tínhamos de focar. Todos eles responderam que sim e fui perguntar a um atleta do Sporting se ele tinha a noção do que era virar-se a um líder de uma claque; respondeu-me que tinha um sangue quente. Fui falar com o outro e ele disse que só foi ajudar. E com outro, disse que não houve problemas. Isto na véspera do ataque hediondo, mas disse aos jogadores que se houvesse qualquer indício ou ameaça para transmitirem a mim ou ao André [Geraldes]. Em momento algum transmitiram que havia aquele encontro apalavrado para terça-feira e podiam-me ter dito isso. Teríamos motivo para fazer alguns processos disciplinares perante o que aconteceu mas com um crime daqueles não merece, mas não me venham falar mais de rescisões.”

Bruno de Carvalho tinha um objetivo claro: combater a ameaça que tem vindo a ouvir de várias pessoas, incluindo do clube, sobre a possibilidade de haver uma rescisão unilateral do plantel após a final da Taça de Portugal. E deixou várias indicações nesse sentido, incluindo a conversa que manteve com Joaquim Evangelista, o presidente do Sindicato dos Jogadores. Argumento? Uma visão alternativa do que se passou na Academia, que, sublinhou, nunca deveria ter acontecido nem tem justificações, mas que, ao contrário do que poderia sustentar uma intenção radical dos atletas, não teve início nem a mando nem por causa de declarações do presidente, mas sim por causa da altercação com elementos da claque. E sustentou essa análise num outro ponto: caso os jogadores lhe tivessem dito o que se tinha passado, teria tido uma perceção do real teor da ameaça, algo que os jogadores não terão tido. Mas esta é também a parte que está a ser mais criticada em todo o discurso, não só pela farpa deixada a Rui Patrício (um dos jogadores que pior relação tem nesta altura com Bruno de Carvalho e a quem o presidente voltou a criticar), mas também pelo panorama traçado que deixa a clara ideia de que as claques, com quem o Sporting tem uma ligação concreta através de um protocolo, possui um poder e uma força acima do que seria normal.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Guerra aberta às instituições e a operação CashBall

“A Academia é e sempre foi um local seguro. As pessoas têm de tirar as ilações, fazer as auditorias e alterações que devem ser feitas, mas jamais posso dizer que não é um local seguro para os atletas estarem a treinar. Até porque, volto a dizer, a Sporting SAD garantirá toda a segurança de todos os atletas de todas as modalidades e são 55. Todos os atletas e staff podem estar calmos porque o que for preciso mudar, mudaremos, mas parem este ato de terrorismo. Lamento que não tenha chegado nenhuma nota oficial de nenhum órgão de soberania de lamento por aquilo que aconteceu ao Sporting. É de cortesia institucional um voto de solidariedade e de repúdio e solidariedade com órgãos sociais, atletas, treinadores e staff. Bem sei que afronto os interesses instalados (…) Os sportinguistas podem estar orgulhosos daquilo que é o clube, da Direção e da Comissão Executiva da SAD. Aqui não há sacos azuis nem verdes, não há contratos com o Braza, não há emails a pedir nomeações que escamotearam. Existem jogadores em choque mas muitas vezes, por trás, aproveita-se emocionalmente um advogado ou um agente”.

Para rematar a argumentação a propósito de todas as reações ao bárbaro ataque na Academia, Bruno de Carvalho colocou o enfoque num argumento que há muito já vinha a usar internamente. O facto de tanta gente da esfera pública não ligada ao desporto ter condenado o ataque e inclusive ter tentado chegar à fala com jogadores e Jorge Jesus para manifestar essa posição de forma privada deixou o presidente leonino perplexo. Entende que esses gestos, sem deixar uma única palavra ao clube, acabou por corroborar, de forma indireta, a ideia que teria algum tipo de ligação ao sucedido. Aproveitando isso, o líder leonino enfrentou de novo as polémicas que têm assolado o clube, como a operação CashBall, alegando a total inocência de André Geraldes no caso. Ao mesmo tempo, virou o enfoque para os novos emails do rival, depois de ter havido esta sexta-feira mais uma fuga de correspondência comprometedora através do blogue Mercado de Benfica. Por fim, falou no aproveitamento que está a ser feito do ataque em Alcochete por terceiros.

A cimeira pedida por Luís Filipe Vieira, via Marta Soares

“Dias antes do jogo de Madrid, Marta Soares veio propor-me a pedido de Luís Filipe Vieira uma cimeira com o mesmo, uma cimeira secreta com o amigo Luís Filipe Vieira. Quando diz que não tem sido fácil falar com o presidente, confesso que nunca tinha dito tanto palavrão numa frase só porque o simples convite é um desrespeito por mim e pelo Sporting. Devia era ser um homem de bom senso que colocasse os interesses do Sporting acima de tudo. É mais um sobrevivente. Apareceu tipo emplastro na Academia. Tem direito a ir lá? Sim. Mas não o direito de mentir. Disse que tinha trocado parcas palavras com Jesus, falei duas horas com ele. Diz que jogadores não falaram,  com um deles, o Bruno Fernandes, foi à frente dele. E o Bruno diz: “Isso foi terrível, já disseram que vou para o Norte mas não ligue a isso, o que interessa é o que aconteceu”. Horas ali, falei com vários jogadores. Relembro palavras de Jesus ontem: “Quando vi a notícia que tinha provas que o presidente tinha sido o mandante, a primeira coisa que fiz foi ligar ao presidente” (…) Neste momento, não sei onde está a minha filha Diana porque a minha ex-mulher diz que não estão reunidas condições de segurança e desapareceu com a minha filha Diana. É criminoso o que estão a fazer e espero que os sportinguistas percebam isso. O que está a ser armadilhado por Jaime Marta Soares? Se apresentarmos a demissão, só nos permite recandidatar seis meses depois. Entretanto, coloca uma Comissão de Gestão, e Ricciardi, que sabe que estamos a acabar uma negociação para ficar com a dívida por metade, a tentar vir dizer depois que eles é que são bons.”

Bruno de Carvalho tinha na mão aquilo que considerava ser uma "bomba atómica", que foi partilhando com algumas pessoas próximas e que estava a guardar para um momento em específico pelas ondas de choque que a mesma poderia provocar. A cimeira que lhe teria sido proposta pelo Benfica (mas que o clube encarnado negou ainda durante a conferência do presidente leonino), através de um contacto de Luís Filipe Vieira com Marta Soares. Na semana passada, em declarações feitas à Sporting TV, onde acabou a responder às declarações de Jorge Jesus umas horas antes em conferência de imprensa, falou nessa cimeira; esta tarde, rebentou com o resto: revelou que foi Jaime Marta Soares que o abordou com essa possibilidade. Não foi por acaso que o líder da Mesa da Assembleia Geral ficou para o fim do seu rol de críticas. Bruno de Carvalho queria também abordar as palavras que este dissera na Academia, assumindo que o plantel se recusava a falar com Bruno de Carvalho. Houve a ideia clara de colar o ónus de toda esta situação no líder demissionário da Mesa da AG, ao ponto de falar num suposto plano feito entre Marta Soares com José Maria Ricciardi. Na ótica do presidente sportinguista, existe uma campanha que já teve reflexos na vida pessoal, por causa de toda a instabilidade entretanto gerada. Bruno de Carvalho não perdoa o facto de Marta Soares ter cedido perante as pressões externas para aquilo que cataloga de "golpe"

As sessões de esclarecimento, a última tábua de salvação

“Vamos fazer três sessões de esclarecimento pelo país, não preciso de um presidente da Mesa da Assembleia Geral que anda a brincar. Vamos ouvir e dar explicações às pessoas. Vamos lutar pela nossa dignidade e pelo Sporting. Somos honrados e sérios, não brinquem mais com os sportinguistas. A operação CashBall vai dar, como diz o meu treinador, bola (…) No Sporting não há corrupção e não há sacos azuis. Somos pessoas honradas, trabalhadoras, que não vão deixar que tomem de assalto o clube e o coloquem como esteve 20 anos (…) Portugal quer destruir o seu enfant terrible. Espero que tudo acabe com os sportinguistas a perceberem tudo o que se está a passar. Avisei que estava a guardar muita coisa, hoje foi uma abertura de porta. Vou dizer tudo o que quiserem e mais, que não disse hoje porque amanhã tem de ser um dia de paz. Não vou ao Jamor, não acho que estejam criadas as condições para ir ao Jamor. E não mereço o que se está a passar e que me tirem isso.”

O presidente do Sporting saiu sempre por cima nas Assembleias Gerais do clube. É aí que se sente bem, é aí que gosta de estar para tentar mover plateias com as palavras. No entanto, percebe-se que a hipótese de haver uma "cedência" para que se fizesse uma Assembleia Geral Extraordinária não vai acontecer tão depressa, pelo que surgiu um plano B: a figura das sessões de esclarecimento. Aí, é muito provável que Bruno de Carvalho continue a lançar "bombas" como a suposta cimeira pretendida pelo Benfica e outras mais graves, sobre as quais deixou o aviso. Apercebendo-se que o espaço para ir ao Jamor era nulo, com mais contras do que prós em qualquer dos sítios em que pudesse assistir ao jogo, o líder verde e branco anunciou que não irá à final da Taça de Portugal, mas nem por isso baixou a guarda contra um adversário que recuperou na sua linha de pensamento: as duas décadas conhecidas como "Projeto Roquette".

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