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"And Just Like That...". "Quisemos que as roupas mostrassem esperança. Tudo muda num segundo e a vida é realmente sobre os amigos que temos"

Via zoom, os responsáveis pelo guarda-roupa da sequela de "O Sexo e a Cidade", Molly Rogers e Danny Santi explicam a evolução do estilo e quão difícil foi manter as peças em segredo.

Era uma vez uma história com cinco protagonistas: a Carrie, a Miranda, a Samantha, a Charlotte e a Moda. Quando “O Sexo e a Cidade” apareceu, em 1998, revolucionou a televisão por ter mulheres a falarem das respetivas vidas sexuais sem grandes pudores, mas desde o primeiro episódio ficou igualmente claro que tudo o que Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker) e as amigas vestiam e calçavam seria cobiçado e copiado.

Fãs em todo o mundo passaram a desejar ter uns sapatos Manolo Blahnik — e pés capazes de aguentar dias inteiros em cima de saltos agulha — e a “jurar pela Chanel”. Dos designers mais conhecidos a relíquias encontradas em lojas vintage ou na feira da ladra, tudo convivia em harmonia no closet de Carrie, ao longo de cada episódio das seis temporadas. Foi por isso que, ao ser anunciada a sequela do projeto, começaram as especulações sobre a evolução da história e também sobre o estilo de “And Just Like That…” — são dez episódios no total, quatro já estão disponíveis na HBO e há um novo todas as quintas-feiras.

Patricia Field, responsável pelo guarda-roupa na série original e nos dois filmes que se seguiram (em 2008 e 2010), já não faz parte do projeto mas deixou a pasta a Molly Rogers, uma das suas colaboradoras mais antigas, e a Danny Santiago, que tinha colaborado nos filmes. Deu-lhes dois conselhos: “não me liguem” e “mantenham as coisas leves”.

“And Just Like That”. As peças e os looks que vamos ver no reboot de “O Sexo e a Cidade”

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Os dois fizeram uma verdadeira caça ao tesouro a acessórios em lojas escondidas da Florida, descobriram jovens designers através do Instagram e repescaram peças icónicas que os fãs mais atentos vão reconhecer facilmente nos novos episódios — os sapatos Manolo azuis, a mala em forma de Torre Eiffel, o cinto preto com tachas e até uma mala Fendi roxa que é uma réplica daquela que Carrie Bradshaw viu desaparecer nas mãos de um assaltante na terceira temporada. A tarefa quase impossível foi conseguir manter os looks em segredo — para Molly Rogers foi difícil aceitar que tudo o que era filmado na rua era imediatamente fotografado e espalhado online. A equipa optou por se isolar e não ler nada para não ser influenciada. Agora, todas as semanas vão revelando pequenas histórias sobre a roupa, as malas e os sapatos através de uma conta de Instagram que vai acompanhando episódio a episódio.

Antes disso, Molly Rogers e Danny Santiago reuniram-se através do Zoom com o Observador e jornalistas de outros pontos do mundo, de Itália ao México, para explicarem o processo criativo e a evolução do estilo de três mulheres (Kim Cattrall não regressa como Samantha Jones) que têm atualmente mais de 50 anos.

Carrie, Miranda e Charlotte estão a aceitar uma nova fase da vida e a adaptar-se às mudanças. Como é que vocês os dois gerem isso e mantêm, ao mesmo tempo, os estilos individuais que cada personagem tem desde as primeiras temporadas?
Danny Santiago: Cada personagem sempre teve um estilo específico, criado pela Pat [Patricia Field, responsável pelo guarda roupa na série e nos filmes de “O Sexo e a Cidade”] e pela Molly para aquele período e acho que isso seguiu para os filmes e agora para esta série. As mulheres têm estilos diferentes e são conhecidas por esses estilos. A Sarah Jessica sempre foi muito criativa, sempre acrescentou qualquer coisa à personagem, é confiante em relação ao seu estilo e ao que usa. Pode um dia estar com um vestido de gala e no dia seguinte estar de jeans ou calças de fato de treino com um maravilhoso par de saltos. Isso é parte do que ela é. Portanto, para nós foi manter o estilo delas e trazê-lo para uma era moderna. Trabalhamos com designers do mundo todo que descobrimos online, através do Instagram, e divertimo-nos muito a trazer estas pessoas novas. Para nós foi realmente essa a mudança, termos mais acesso, trazermos mais coisas para cima da mesa. Quando a série estava a ser transmitida não era possível este alcance.

Quem são estas mulheres agora? Que histórias querem contar através da roupa?
Molly Rogers: Saindo de uma pandemia global, queria passar a mensagem de que a vida deve ser celebrada, porque tudo muda num segundo e a vida é realmente sobre os amigos que temos. Desejo que, de forma subliminar, as roupas mostrem esperança.

A Carrie é um ícone de moda. Como é que mostraram que um ícone de moda também pode envelhecer?
DS: Toda a gente envelhece e claro que o nosso estilo muda e há coisas para as quais nos inclinamos mais do que há 20 anos. Mas ela [Carrie] continua a ser a pessoa que era, continua a gostar de usar caro e barato, de misturar designers. Nunca foi o tipo de pessoa que usa o look de um designer da cabeça aos pés, saído de um desfile. Dependendo das cenas e do rumo que a história toma, talvez vejam algumas coisas que ela nunca tinha usado. Mas não interessa muito a idade, importa sobretudo manter-se fiel a si própria.

MR: Acho que, na nossa vida, não devemos atribuir um número a nada. Não devemos ter limites ou regras, temos de nos divertir.

Houve críticas nas redes sociais em relação à roupa das personagens, que não era apropriada à idade delas. O que acham disso?
MR: Que rude. Esta série, de entre todas as séries, é sobre mulheres e a confiança delas. Penso que não podemos usar algo com o qual não nos sintamos bem. Desde que nos sintamos bem, está tudo bem.

Usaram alguns acessórios de episódios antigos de “O Sexo e a Cidade”. Podemos saber quais e onde os guardaram durante estes anos todos?
DS: Tivemos sorte porque a Sarah Jessica arquivou muita coisa da série e também dos filmes. Quando falámos pela primeira vez, deu-nos a liberdade de escolhermos o que quiséssemos da coleção dela. Colocámos pequenas coisas em sítios muitos específicos. Queríamos pequenas surpresas que os fãs pudessem reconhecer. [Molly Rogers levanta-se e regressa com um cinto preto com tachas que Carrie usou no filme de 2008 com um vestido verde e outro cor de rosa]. Aqui está o cinto Roger. Uma das peças especiais é o Roger. O facto de ainda termos estas coisas deixa as pessoas empolgadas. São como velhos amigos.

As coisas mudaram muito desde a primeira série, sobretudo as questões éticas e ambientais. Também se nota no mundo da moda. Como é que isso influenciou o departamento do guarda-roupa?
MR: Penso que o mundo inteiro está a olhar para isso. Todos temos de fazer a nossa parte e sermos conscientes do nosso impacto e da nossa pegada ecológica. O mundo da moda pode fazer mais de certeza e penso que reciclar, reutilizar e reinventar ajuda e baixa o nosso consumismo. Acho que isso se reflete na série.

DS: Acho que isso sempre se viu na série. Sempre se usaram peças antigas, vintage, são as coisas que a Carrie adora e continuamos a fazê-lo.

Muitas grandes séries ou filmes definem-se pelas estrelas, pela narrativa, pelos efeitos especiais. Neste caso, a moda está no mesmo patamar das protagonistas. Isso muda a experiência de trabalhar no departamento de guarda-roupa de uma série?
DS: Desde o início, a moda era muito importante para estas mulheres e para os espectadores, como se fosse outra personagem. As pessoas estão sempre muito curiosas para saber quais são os sapatos novos, as silhuetas, o que é que a Carrie vai usar quando sair pela porta. Ela veste-se para ela e consoante o seu humor. Sempre nos divertimos a criar os looks, a ter ideias que alguns atores se calhar não usariam mas ela [Sarah Jessica Parker] tem sempre uma mente aberta. Portanto, foi algo que criámos mas também algo que ela sempre fez com a personagem.

“And Just Like That”: um regresso com graça e elegância ao Sexo e à Cidade

MR: A série tem uma reputação tão grande em relação ao seu estilo que penso que, se tivéssemos sentido essa pressão de alguma forma, isso ter-nos-ia limitado e podíamos julgar ou ser tímidos quanto a algumas ideias Mantivemo-nos isolados para fazermos o que gostávamos e o que queríamos mostrar. Sem julgamentos. Acho que isso ajudou muito.

DS: Quando trazemos peças, não é só de um designer. Misturamos coisas e fazemos uma apresentação gigante: pronto a vestir, vintage, de designer. Agrupamos tudo em tops, casacos, vestidos — para que depois, quando estamos a editar e a juntar coisas, seja muito orgânico. Não estamos a pensar: temos de usar esta marca, temos de conjugar com estes sapatos. Limitamo-nos a brincar, temos tanta coisa por onde escolher. Misturar tudo é o que nos dá criatividade.

Mostrar os bastidores no Instagram [através da conta @andjustlikethatcostumes] é uma forma de manter os fãs empolgados? O que acham do facto de algumas contas terem documentado todos os looks ainda antes da estreia?
MR: Foi muito difícil aceitar que, a partir do momento em que [as atrizes] saíam do trailer e estavam a fazer uma cena exterior, [o segredo] estava queimado. Em cinco minutos estava em todo o lado na Internet. O que a antiga série tinha de incrível era o mistério, ninguém tinha câmaras nos telefones. Neste caso, só podíamos manter as coisas secretas quando estávamos a fazer cenas no estúdio e essas serão as surpresas nos episódios. No Instagram tentamos mostrar os bastidores e não mostrar nada que expusesse demasiado — havia outros a entregarem as cartas todas quando viam algo nas ruas. Quando há uma estreia e parece que já vimos tudo através dos paparazzi, queremos algumas surpresas e mistério. Estava fora do nosso controlo, por isso tivemos de aprender a processar isso e guardar alguma coisa.

O Danny referiu que encontraram muitos designers internacionais através das redes sociais. Por outro lado há esse problema de estar tudo exposto. Qual foi o papel das redes em “And Just Like That…”?
MR: Não seguíamos as coisas online porque é quase tudo negativo. Mantivemo-nos numa bolha a fazer coisas de que gostávamos, a gravar em sítios de que gostávamos, a trabalhar com pessoas de França, Itália, de todo o lado. Temos de manter as persianas fechadas porque, se acompanhamos o que está a ser dito na arena pública, isso retrai-nos, ficamos com limites ou editamo-nos a nós próprios inconscientemente. Ver um perfil que documenta todas as roupas e os acessórios, que mostra de onde são e quanto custam é aborrecido. Pode ser algo que as pessoas querem ver mas é aborrecido. É como o catálogo da Sears [uma loja de retalho multi-marcas]. Acho que é muito mais divertido contar a história de como encontrámos a peça. Vamos fazer isso no nosso Instagram à medida que os episódios forem transmitidos.

Conseguem escolher uma dessas peças e contar a história?
MR: Vou tentar fazer isso sem spoilers. Um dos nossos produtores, o John Melfi, eu e o Danny estávamos na Florida — no sul, perto de Cuba, onde às vezes não parece que estamos nos EUA. Eu e o Danny estávamos lá e o John deu-nos autorização para nos prepararmos e fazermos compras durante cerca de duas semanas. Conduzimos, explorámos, fomos ao condado de Palm Beach e usamos tantas coisas dessa América mainstream, acho que lhe posso chamar assim. Não é rural, o que lhe chamamos? Cosmopolita? Não interessa, não sei a palavra. Mas safámo-nos bem a encontrar sítios que não estavam no mapa, foi como uma caça ao tesouro, e usámos muita coisa. Houve um artigo que não usámos mas que queríamos muito. Era um chapéu de palha. Quando o tirávamos da cabeça, tinha um espelho na coroa. Podíamos usá-lo para retocar o batom.

A Patricia Field, que esteve envolvida na série e nos filmes, passou-vos o testemunho. Deu-vos algum conselho?
MR: Disse: não me liguem, não me chateiem. Ela é das minhas amigas mais antigas e chegadas. O único conselho que me deu foi: não se esqueçam de manter a fantasia, não se esqueçam de manter a leveza. É uma comédia, não é um drama ou um documentário, mantenham as coisas leves. Acho que foi um bom conselho. Tivemos a sua bênção.

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