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Sobre se se arrepende do saudosismo da RDA nos anos 90, Sahra Wagenknecht garantiu que "tinha uma opinião na altura que já não tem hoje em dia"

dpa/picture alliance via Getty I

Sobre se se arrepende do saudosismo da RDA nos anos 90, Sahra Wagenknecht garantiu que "tinha uma opinião na altura que já não tem hoje em dia"

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Anti-imigração, populista e pelas classes trabalhadoras. Sahra Wagenknecht, a alemã da esquerda "autoritária"

Fundado há meses, partido de Sahra Wagenknecht tornou-se um fenómeno na política alemã. Mulher de 55 anos pró-russa consegue cativar eleitores da esquerda à direita. E não descarta acordos com AfD.

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“Rainha das eleições”, “estrela em ascensão”, “controversa” e “extremista”. São várias as designações usadas pela imprensa internacional para descrever Sahra Wagenknecht. Nascida na República Democrática Alemã (RDA) e com um passado comunista, a política que criou um partido com o seu nome está a agitar as águas no panorama político germânico. Não só pelos bons resultados eleitorais que tem obtido nas eleições mais recentes, como também por não se identificar com o conceito tradicional de esquerda ou direita.

Por causa da sua passagem no Die Linke — um dos partidos mais à esquerda na Alemanha — é natural que Sahra Wagenknecht esteja associada àquele lado do espetro político. No entanto, a mulher de 55 anos recusa o rótulo de ser esquerda. “Não o usaria, porque as pessoas não o entendem. Objetivos importantes para mim são a justiça social, salários dignos, boas pensões e menos desigualdade. Isso costumavam ser preocupações centrais da esquerda”, afirmou, numa entrevista ao jornal Taggespiel publicada na passada segunda-feira.

Sondagens à boca da urnas dão vitória a partido de Olaf Scholz nas regionais. Extrema-direita a três pontos de distância

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Há vários pontos do discurso político do partido de Sahra Wagenknecht, chamado de Aliança Sahra Wagenknecht — Razão e Justiça (BSW, sigla em alemão), que o ligam à esquerda, nomeadamente no que diz respeito à política económica. No entanto, há outras partes que o afastam por completo. Por exemplo, o BSW, à semelhança do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD, sigla em alemão), é bastante crítico da entrada de imigrantes em território alemão, bem como da política de asilo em vigor. Este domingo, dia de eleições regionais em Brandenburgo, ambos podem ter bons resultados, com as projeções à boca das urnas, conhecidas às 17h00, a darem a vitória à AfD e o quarto ou quinto lugar ao BSW.

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Partido de Sahra Wagenknecht chama-se de Aliança Sahra Wagenknecht — Razão e Justiça (BSW, sigla em alemão)

Getty Images

O “populismo” de Sahra Wagenknecht e os bons resultados do BSW

Uma nova “esquerda conservadora” ou mesmo “autoritária”. É assim que vários politólogos têm definido Sahra Wagenknecht, contrapondo-a a uma esquerda mais progressista e liberal. Além disso, há algo em que todos parecem concordar: o BSW é um movimento político com uma natureza populista.

Uma análise do especialista em política comparada da Universidade de Potsdam, Jan Philipp Thomeczek, sublinha que existem “três pilares” que distinguem o BSW: “A popularidade de Sahra Wagenknecht, o programa eleitoral de esquerda autoritária e ainda o seu populismo”. Entre os três, o politólogo destaca o cariz populista, que desempenhou um papel fundamental na “orientação política” do partido.

“Isso pode providenciar uma explicação sobre porque é que o BSW apela a grupos aparentemente opostos — como eleitores do Die Linke ou da AfD”, prossegue Jan Philipp Thomeczek, referindo que esses dois partidos também são populistas. Em declarações à Deutsche Welle, o mesmo especialista realça ainda: “O BSW preencheu um vazio: eleitores de esquerda que pretendem uma economia de bem-estar com uma política social de direita”.

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Sahra Wagenknecht num evento partidário na véspera das eleições regionais de Brandeburgo

dpa/picture alliance via Getty I

Este movimento político populista de Sahra Wagenknecht, fundado apenas em outubro de 2023, está a resultar. Mais: está a ser um verdadeiro fenómeno na Alemanha. Nas primeiras eleições que disputou a nível federal — as europeias — o BSW ficou em quinto lugar, com 6,17% de votos, elegendo seis eurodeputados.

Em duas eleições regionais, que tiveram lugar este mês, o sucesso foi ainda maior: na Saxónia e na Turíngia, no leste da Alemanha, o partido ficou em terceiro lugar com mais de 12% dos votos. Este domingo, nas eleições de Brandeburgo, deverá aproximar-se daquele resultado, mas pode ficar em quarto lugar, como indicavam as sondagens durante a semana e as projeções após os votos parecem confirmar.

Como terceiro partido mais votado, o BSW tornou-se uma peça fundamental nas dinâmicas políticas daqueles governos regionais, mesmo que até acabe na oposição. Além disso, nestas regiões, o Alternativa para a Alemanha também tem obtido excelentes resultados — aliás, ficou em primeiro na Turíngia e em segundo, muito próximo do partido de centro-direita, CDU, na Saxónia.

Estas eleições regionais têm servido como tubo de ensaio para a verdadeira prova de fogo de Sahra Wagenknecht: as eleições federais, marcadas para setembro de 2025. Os partidos que formam a coligação liderada pelo chanceler Olaf Scholz (o SPD, o Partido Social-Democrata alemão pertencente à família dos socialistas europeus, os liberais e os Verdes) deverão registar perdas eleitorais significativas, segundo mostram as sondagens. Por exemplo, o SPD poder-se-á ficar apenas pelos 15%, os Verdes pelos 10% e os liberais nem sequer devem atingir a marca obrigatória (5%) para chegar ao Bundestag, o Parlamento alemão.

epa11483181 German Chancellor Olaf Scholz attends the weekly cabinet meeting of the German government at the Chancellery, in Berlin, Germany, 17 July 2024.  EPA/FILIP SINGER

Partido de Olaf Scholz, mostram as sondagens, não deverá ir além dos 15% nas eleições federais de setembro de 2025

FILIP SINGER/EPA

Ainda que o centro-direita lidere de forma confortável, o BSW pode obter igualmente um bom resultado. O partido liderado por Sahra Wagenknecht pode aproximar-se dos 10% e eleger mais de 70 deputados, um feito inédito para um partido que, em setembro de 2025, nem dois anos terá de existência. E pode mesmo complicar a formação de um novo governo.

A política de alianças que o BSW vai seguir ainda não é totalmente conhecida. Em termos ideológicos, Sahra Wagenknecht dificilmente se aliará a partidos como o SPD, a CDU, os liberais ou os Verdes. Mas há uma incógnita. Ainda que já tenha descartado uma coligação com a extrema-direita nas eleições regionais, a política de 55 anos deixou no ar que poderia haver acordos pontuais em alguns tópicos com a Alternativa para a Alemanha, se considerar pertinente para o país.

Em declarações à televisão estatal ZDF, Wolfgang Schröder, professor de Ciência Política na Universidade de Kassel, refere que há muitas “parecenças” entre a AfD e o BSW: “Mobilização da abstenção e dos apolíticos e a forma como eles tentam chegar às classes mais baixas”. Não é apenas o estilo, ainda assim; o especialista frisa que existem assuntos — como as migrações ou a guerra na Ucrânia — em que os dois partidos concordam, o que pode levar a uma aliança. Como tal, o politólogo não tem dúvidas que uma coligação poder-se-á formar no futuro — e será “relativamente rápida”, estando a ser “preparado terreno” para que tal aconteça.

Coligação de Sahra Wagenknecht recusa coligações com a AfD, mas admite acordos pontuais

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De ser pró-russa a anti-imigração. As principais ideias de Sahra Wagenknecht

Sahra Wagenknecht usa uma retórica simples, um tom populista e gosta de se apresentar como uma defensora dos mais fracos. Como relata o The Guardian, num evento partidário para as eleições regionais de Bradenburgo, a política de 55 anos ridicularizou o governo de Berlim, dizendo que vive numa “bolha de lojas de alimentos orgânicos, lattes e bicicletas elétricas”.

Numa mensagem que ressoa particularmente no leste da Alemanha, mais pobre do que o resto do país, Sahra Wagenknecht encarna uma persona política que se apresenta como antissistema e, segundo refere Jan Philipp Thomeczek à Deutsche Welle, não tem medo de criticar “aqueles que estão no topo”. Gosta de passar a imagem de “uma advogada dos mais fracos” que se diferencia dos “burocráticos e hipócritas” que estão nos partidos que governam o país há décadas.

Este contraste em relação ao mainstream político revela-se noutros pontos. Um deles é um tema quente na Alemanha e que já permitiu a AfD crescer em várias regiões: a imigração. Opondo-se fortemente à política de braços abertos inicialmente adotada pela ex-chanceler alemã Angela Merkel, Sahra Wagenknecht defende regras restritivas para quem quer viver na Alemanha. Uma das mais medidas mais controversas da política de 55 anos passa pela proibição de quase todos os pedidos de asilo. 

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Imigrantes na Alemanha

dpa/picture alliance via Getty I

É uma “medida muito radical”, reconheceu Sahra Wagenknecht, mas necessária: todos aqueles que entrem na Alemanha “de países terceiros seguros” não poderão pedir asilo. Em termos concretos, os imigrantes que entrem por fronteiras terrestres da União Europeia (que são a maioria) não terão autorização para viver na Alemanha. Assim, segundo as contas da política, os requerentes de asilo passam a ser uma “escassa minoria”.

Confrontada com a rigidez da medida, a líder partidária atirou que as “pessoas que são perseguidas devem receber proteção. Mas não na Alemanha”. No entender de Sahra Wagenknecht, o número de imigrantes que entram no país é “avassalador” — e a situação não pode continuar assim. Na entrevista à Taggespiel, num discurso muito idêntico à extrema-direita, acrescentou que existem “problemas culturais” com a chegada de imigrantes, nomeadamente relacionados com a “radicalização e o islamismo”.

Em declarações ao Politico, Sahra Wagenknecht justificou a medida — e outros idênticas — com a “sensação de pertença”, a base “para um Estado de bem-estar forte”. “Se as pessoas não se conectam com aqueles que recebem subsídios, em algum momento vão recusar-se a pagar esses benefícios”, disse. Tem de haver, defende, uma identidade coletiva que seja capaz de gerar laços de solidariedade que sustentem as políticas de distribuição de riqueza — e a entrada de imigrantes gera ameaças a essa identidade.

Sahra Wagenknecht quer terminar com quase todos os pedidos de asilo na Alemanha

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Na senda mais conservadora, a alemã chocou o partido a que pertencia nessa altura — o Die Linke — quando, num livro publicado em 2021, criticou diretamente as “minorias bizarras”, numa alusão ao movimento LGBT+. “Presta-se cada vez mais atenção às minorias bizarras que se distinguem da maioria da sociedade e que ganham o estatuto de vítima”, escreveu a política, lamentando que os pobres “brancos e heterossexuais” não sejam vistos como uma “vítima” e não obtenham, por conseguinte, a atenção dos políticos.

No Die Linke há anos, a política decidiu abandonar o partido em 2023, depois de várias controvérsias. A que causou a rutura tornou-se a grande bandeira eleitoral de Sahra Wagenknecht: o fim imediato da guerra na Ucrânia.

Conhecida pelas suas ligações pró-russas, Sahra Wagenknecht defende que o Ocidente deve deixar de enviar armas para a Ucrânia e deve chegar-se um cessar-fogo o mais cedo possível. Na região do Donbass e da Crimeia, a política defende que deve ser feito um “referendo sob supervisão da Organização das Nações Unidas” para determinar se os habitantes querem viver na Rússia ou na Ucrânia. “A estratégia de dar armas à Ucrânia para que possa vencer falhou”, declarou na entrevista ao Tagesspiegel.

epaselect epa11580157 A 12-storey residential building, damaged by a missile strike, stands not far from an underground school during the start of the new school year, known as the 'Day of Knowledge,' in Kharkiv, Ukraine, 02 September 2024, amid the Russian invasion. The underground school, which opened on 13 May 2024, is located not far from the 12-storey residential building, which was hit by a Russian missile strike on 30 August 2024, leaving at least six people dead, head of the Kharkiv Military Administration Oleg Synegubov said on telegram. The third school year since the war with Russia started, most schools in Ukraine resumed on 02 September, except for those in territories close to the front lines, which will implement online teaching. Day of Knowledge is celebrated annually on 01 September as the traditional start date of the new school year, mainly in former Soviet republics.  EPA/SERGEY KOZLOV

Sahra Wagenknecht defende o fim da guerra na Ucrânia e o início de negociações de paz imediatas

SERGEY KOZLOV/EPA

Apresentando-se como uma defensora da paz, a mulher deixa igualmente duras críticas às sanções aplicadas pelo Ocidente contra Moscovo, em particular o facto de a Alemanha ter deixado de importar gás natural da Rússia — o que causou, diz, dificuldades económicas aos alemães. E Sahra Wagenknecht nunca escondeu a sua animosidade em relação à NATO, opondo-se por completo a uma possível entrada da Ucrânia na Aliança Atlântica. Este argumento — que encontra paralelismos na propaganda russa — já foi, aliás, usado pela política: por causa da eventual entrada de Kiev na organização militar, o Kremlin foi provocado e teve de responder, invadindo a Ucrânia, justifica Vladimir Putin.

Nos restantes partidos alemães, apenas a Alternativa para a Alemanha é tão categórica a defender o fim imediato da guerra na Ucrânia. O SPD, a CDU, os liberais e os Verdes querem continuar a dar auxílio militar a Kiev. Mas, como nota a Deutsche Welle, esta aproximação à Rússia é bem-vista pelos habitantes das regiões que integravam a República Democrática Alemã. A RDA era uma das maiores aliadas da União Soviética durante a Guerra Fria — e essa época ainda permanece na memória coletiva de muitos alemães, apesar de já terem passado 35 anos desde a reunificação do país.

A saudosista da RDA que lia Hegel e Marx: quem é Sahra Wagenknecht?

Nascida em Jena, cidade pertencente à RDA, a mulher de 55 anos é filha de mãe alemã e pai iraniano, com quem nunca manteve contacto. Foi criada com a ajuda dos avós maternos e, quando tinha sete anos, mudou-se para Berlim Oriental. Sempre foi uma leitora ávida, interessando-se particularmente por filosofia e política. Sendo uma criança com uma natureza “teimosa e solitária”, Sahra Wagenknecht recordou, numa entrevista em 2011 ao jornal Die Zeit, que “achava os livros mais interessantes do que as discotecas”.

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Jena, na Alemanha Oriental, em meados dos anos 60

Corbis/VCG via Getty Images

Quando fez 18 anos, recebeu de presente “toda a obra de Karl Marx”. “Estudei-a em detalhe. Eu já tinha lido Hegel, Kant, Aristóteles. E claro, Rosa Luxemburgo, Hilferding e Georg Lukács. E Goethe. A minha visão do mundo e valores vieram da teoria”, recordou no seu blogue pessoal. Juntou-se, no início de 1989, ao Partido Socialista Unificado da RDA, mas os ventos de mudança que sopravam no país já se faziam sentir. Ainda assim, Sahra Wagenknecht acreditava que era possível “mudar o partido” — e “torná-lo atrativo” para os mais jovens.

Quando o Muro de Berlim caiu, em vez do entusiasmo que muitos sentiam pela reunificação da Alemanha, Sahra Wagenknecht achou que estava em curso uma contrarrevolução, a que se opôs inicialmente. Nos primeiros anos, nunca abandonou os ideais comunistas — e reconheceu, na entrevista à Tagesspiegel, que chegou a defender o regresso do regime da RDA, mas sempre como uma “forma de rebeldia”.

Após a reunificação, estudou filosofia e economia política na Universidade. Juntou-se depois a movimentos de esquerda na Alemanha reunificada. Filiou-se no Partido Socialismo Democrático (PDS, sigla em alemão), o sucessor do Partido Socialista Unificado da RDA. Dentro do PDS, Sahra Wagenknecht chegou a liderar a fação mais à esquerda, a Plataforma Comunista.

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Sahra Wagenknecht num comício do PDS em 1995

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Gregor Gysi, um dos membros mais influentes do Die Linke e atual deputado, recordou, numa entrevista ao Der Spiegel, como conheceu Sahra Wagenknecht no PDS: “Reparei nela num comício do partido em meados dos anos 90. Ela estava vestida de forma completamente diferente aos restantes, não de uma forma moderna, mas de uma forma conservadora. Os seus discursos eram impactantes.”

O deputado, que protagonizou algumas disputas dentro do Die Linke com a atual líder do BSW, recorda que Sahra Wagenknecht “tentava defender” o regime comunista da RDA “de uma forma que já não era possível” nos anos 90. “Era uma jovem mulher que queria os bons velhos tempos de volta”, resume Gregor Gysi. Além disso, era bastante “solitária” e “polarizadora”: “Alguns entusiasmavam-se com ela e pensavam que era absolutamente fantástica. Outros queriam livrar-se dela o mais cedo possível”.

O percurso de Sahra Wagenknecht nunca foi linear no PDS e depois no Die Linke, partido que se formou em 2007 através da junção de partidos de esquerda. Pertenceu sempre à ala mais esquerda e defendia soluções mais radicais. Foi eleita eurodeputada em 2004 e chegou ao Parlamento em 2009, tendo alcançado o cargo de líder parlamentar. Pelo meio foi vice-presidente do Die Linke.

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Gregor Gysi e Sahra Wagenknecht em 2015

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Nos últimos anos, a mulher outrora saudosista da RDA foi fazendo um percurso diferente, desviando-se de algumas ideias defendidas pelo Die Linke. Em 2021, quando escreve o livro em que fala sobre as “minorias bizarras”, vários membros do partido pediram a sua expulsão. Os críticos acusavam Sahra Wagenknecht de se “afastar dos princípios elementares da esquerda” e causar “sérios danos” na reputação do Die Linke.

Não foi o suficiente para a afastar. Mais tarde, um acontecimento iria dividir fortemente o Die Linke: a guerra na Ucrânia. Tendo herdado alguns nostálgicos da RDA, o partido tinha duas fações. A primeira criticava diretamente a Rússia pela guerra “imperialista” e apoiava a aplicação de sanções contra o Kremlin; a segunda considerava impensável sancionar a Rússia e apontava o dedo ao Ocidente, que considerava ter inicialmente provocado Vladimir Putin. Sahra Wagenknecht pertencia à segunda.

Antecipando uma crise dentro do Die Linke — que foi perdendo vários dos seus membros após o início do conflito — Sahra Wagenknecht começava a preparar terreno para a formação de um novo partido, no qual teria um papel de destaque. Nos bastidores, tentava reunir aliados descontentes com a direção e era acusada de enfraquecer a formação partidária de esquerda.

"Sahra Wagenknecht está a construir um novo partido com os recursos do nosso partido. Tornou-se insustentável para nós."
Sofia Leonidakis, líder do grupo parlamentar do Die Linke parlamento regional de Bremen

No início de outubro de 2023, vários membros do Die Linke dão um murro na mesa e avançam com uma proposta para a expulsar do partido. “Sahra Wagenknecht está a construir um novo partido com os recursos do nosso partido. Tornou-se insustentável para nós”, afirmou Sofia Leonidakis, líder do grupo parlamentar do Die Linke no parlamento regional de Bremen.

Sahra Wagenknecht saiu pelo próprio pé no final de outubro e abandonou o partido em que esteve durante décadas. “A liderança do partido basicamente estava a sugerir que tomasse esse passo”, justificou numa entrevista ao canal estatal ARD. Mas Sahra não saiu do Die Linke sem ter um plano. Pouco depois de anunciar a sua saída, lança o partido Aliança Sahra Wagenknecht — Razão e Justiça.

À ARD, a política justificava que era necessário resolver os problemas dos alemães, que eram muitos e para os quais o Die Linke não estava a oferecer soluções. Realçou que a Alternativa para a Alemanha “estava a tirar vantagem disso”: “A AfD converteu-se na casa dos insatisfeitos”. Para combater esse fenómeno, Sahra Wagenknecht apresentava já algumas linhas-mestras do seu novo partido: aumentar o salário mínimo, implementar uma reforma do sistema de pensões e avaliar se valia a pena manter as sanções económicas aplicadas contra a Rússia.

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Sahra Wagenknecht saiu pelo próprio pé no final de outubro e abandonou o Die Linke em meados de outubro

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Foi o pontapé de saída para o BSW. A jovem “polarizadora” e “solitária” que se juntou a PDS empreendeu um novo caminho e criou algo novo na política alemã. Para trás, ficou o saudosismo da RDA. Questionada sobre se arrepende de algumas declarações políticas que fez sobre o antigo regime na Alemanha de Leste, Sahra Wagenknecht garantiu que “tinha uma opinião na altura que já não mantém hoje em dia”. É normal que as pessoas mudem de opinião durante a vida”, salientou ao Tagesspiegel.

O movimento político de esquerda na economia e de direita nos valores sociais está a dar os primeiros passos na Alemanha. Contra as elites e querendo cativar às classes mais baixas, Sahra Wagenknecht apostou num tom populista que convence eleitores de quase todo o espetro político. Mas é no leste da Alemanha, onde as marcas da reunificação ainda se fazem sentir, que as suas mensagens são ouvidas com particular entusiasmo.

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