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As dúvidas, as críticas e os hambúrgueres de madrugada: as vencedoras do Festival contam tudo

Isaura e Cláudia Pascoal chegaram a gravar outra canção antes de escolherem "O Jardim". As vencedoras do Festival da Canção revelam tudo sobre o antes, o durante e o depois da final.

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Luísa Sobral disse-lhes que estava muito feliz por “passar isto [o troféu do Festival da Canção] de mulher para uma mulher compositora e uma mulher intérprete”, Carolina Deslandes — namorada do concorrente Diogo Clemente — fez o obséquio de ir ao McDonald’s buscar mantimentos de madrugada e “O Jardim”, a canção vencedora do Festival da Canção 2018, foi apenas a segunda canção que Isaura e Cláudia Pascoal gravaram para o concurso.

“Fiz duas canções num dia, as duas sobre o mesmo assunto, sobre a minha avó”, revelou Isaura ao Observador. Na primeira, “Aonde estás?”, Isaura expunha menos os seus sentimentos. Na segunda, “O Jardim”, revelava-os tanto que achou que “nunca ia ser capaz de dar a canção a ninguém”, porque tinha lá deixado “o coração e a alma”.

Percebendo, contudo, que “O Jardim” era melhor do que a primeira canção que compôs, e seguindo o exemplo da avó — “possivelmente a pessoa mais altruísta que alguma vez conheci”, que inspirou a escrita do tema –, Isaura decidiu entregá-la a Cláudia Pascoal. A escolha foi a mais acertada.

Em entrevista ao Observador, as vencedoras fazem revelações sobre o antes, durante e depois do Festival e falam, em discurso direto, sobre muitos temas, entre os quais a Eurovisão: “Vamos com toda a força, queremos o melhor resultado possível”, diz Isaura. Até lá, contudo, ainda há muito trabalho, sobretudo para a compositora: “Eu tenho um trabalho a tempo inteiro [trabalha em marketing digital ligado à saúde e ciência], isto está a ser dificílimo de gerir para mim”. Foi para lá que seguiu, depois desta conversa.

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A escolha de Cláudia Pascoal:

Isaura — “Demorei muito tempo a encontrar a Cláudia. Queria uma voz que tivesse muito carisma, que me transmitisse assim um quentinho, uma emoção. Às vezes há uma pessoa que tu sabes que canta muito bem e que consegues apreciar, mas depois não te emociona. Queria mesmo uma voz que me emocionasse. A procura dessa pessoa foi até à última. Encontrei a Cláudia e resultou muito bem, acho eu. Para mim, escolher o intérprete era 50% da receita. Era uma responsabilidade gigante. Acho que este formato da RTP funciona bem porque os compositores têm nas canções o seu bebé e têm o maior cuidado a entregá-lo. Eu ia até ao final do mundo — e fui — para encontrar a intérprete certa. E este cuidado na escolha, nas coisas, só traz bons resultados. E viu-se nas canções.

Passou-me pela cabeça interpretar a canção. Eu nunca escrevi para mais ninguém e acabei por dar a canção mais pessoal que alguma vez fiz a outra pessoa. Se me dissessem que eu ia fazer isso, eu não acreditava. Mas acabou por ser natural deixar outra pessoa trazer um input criativo diferente. Para mim, o mais importante era apresentar a melhor equipa, a melhor canção. E eu acho que a Cláudia exponencia a canção, tem uma voz que cai ali muito bem. Eu também tenho a minha versão de “O Jardim”, a minha forma de a interpretar é diferente e é possível que a coloque no meu álbum, mas acho que para o festival era mesmo mais importante a Cláudia.

[Dois dias antes de vencer o Festival da Canção, Cláudia Pascoal viajou por Guimarães com o Observador. Veja o vídeo:]

Isto pode soar um bocadinho ‘cheesy’ [foleiro] mas eu genuinamente sinto isto: a minha avó era possivelmente a pessoa mais altruísta que alguma vez conheci, era capaz de preparar a refeição mais bonita do mundo e ter tudo organizado e preparado e depois dava sempre aos outros. Acho que na minha cabeça fiz um clique e pensei: como é que eu posso homenagear a minha avó se eu não for como ela? Não, eu vou fazer esta canção, vou dar o meu melhor, vou produzi-la o melhor que souber e vou dar a interpretação a uma pessoa que realmente vai ser capaz de a tomar como sua, que vai pegar nela e torná-la mais bonita. Eu no vídeo acho que digo que fiquei muito sossegada porque sabia que a Cláudia ia fazer disto bonito. E foi isso mesmo.”

A escolha da canção “O Jardim” (e as dúvidas):

Isaura — “Eu não convidei a Cláudia para “O Jardim”, convidei a Cláudia para outra canção. Porque fiz uma outra canção primeiro, só que não era a canção certa. Fiz as duas canções num dia, as duas sobre o mesmo assunto, sobre a minha avó. Foi “O Jardim” e uma que se chama “Onde estás?”. Assim que fiz “O Jardim” pensei: ‘eu nunca vou dar esta canção a ninguém’, esta canção tem o meu coração e a minha alma lá dentro, nunca vou ser capaz de dar isto a ninguém. Então fiz uma outra em que acho que resguardava um bocadinho mais os meus sentimentos, não me expunha tanto. E convidei a Cláudia para cantar essa canção.

Cláudia Pascoal: "Eu fiquei assim muito atentamente a ouvir a música ["O Jardim"] e só me virei para ela e perguntei: o que é que estamos a fazer? É esta, é esta, é esta a música."

Fomos gravar a tal “Aonde estás?”. Eu gostei muito de ouvir a Cláudia, senti que ela tinha uma sensibilidade muito grande para o assunto e para as canções [que pudesse fazer sobre ele]. Mas depois não me sentia bem com a decisão, porque eu sabia que a melhor canção estava guardada e isso corroía-me por dentro. E depois lá ganhei à vontade e disse: ‘olha, Cláudia, agora que já gravámos esta, vou-te mostrar aqui outra canção’.”

Cláudia Pascoal — “Eu fiquei assim muito atentamente a ouvir a música [“O Jardim”] e só me virei para ela e perguntei: ‘o que é que estamos a fazer?’ É esta, é esta, é esta a música. Depois apercebi-me imediatamente que a música era super pessoal para a Isaura, então disse: mas só se quiseres [ri-se], só se achares mesmo… Depois foi uma coisa muito natural, decidimos gravar só para ver como ficava. E depois concordámos que era a melhor.”

O dia da final:

Cláudia Pascoal — “Acho que o meu nervosismo foi diminuindo ao longo do dia. Acordei super nervosa a dizer: ‘Oh meu deus, é hoje, é hoje’… Depois o ambiente no Multiusos estava muito tranquilo, muito calmo. Ainda deu para pegar num livro e ler um bocadinho, para ficarmos as duas um bocado no sofá… Claro que antes de entrar em palco aí começou-me a bater a sério os nervos. ‘OK, é agora, depois destas semanas todas de preparação, estes meses. Antes do palco estava apavorada, a Isaura até se virou para mim do género: ‘Estás bem? Vais conseguir, OK?’.

No dia é muito normal os amigos, familiares e as pessoas que gostam da música mandarem mensagens a dizer: pronto, está ganho, vão vencer. Eu sempre odiei isso. Eu até disse para a nossa equipa: ninguém diz que vamos ganhar, acabou. Não gosto, acho que dá mesmo azar, sou um bocado supersticiosa nessa aspecto, não gostam que digam que vai tudo correr bem.”

Isaura — “Domingo o ensaio começou às 14h. Às 16h/17h eu e a Cláudia já estávamos a ser maquilhadas — como éramos as últimas fomos as primeiras a maquilhar. Depois jantámos e começou o direto.  Não estávamos nada preocupadas com o resultado, estávamos orgulhosas. Eu estava muito feliz com a canção que tinha apresentado, estava super contente com a interpretação da Cláudia. Até falámos antes de entrar em palco sobre isso: independentemente do que acontecer vamos dar o nosso melhor. Porque chegámos a um ponto em que todas as canções eram boas.

Podemos falar sobre gostos pessoais, sobre estilos e aí toda a gente tem direito à sua opinião e é subjetivo — mas a dado momento já se tratava só de subjetividade porque as coisas estavam bem feitas, não havia ninguém a cantar mal, não havia uma voz menos boa… as coisas estavam já num nível muito bom e fico mesmo feliz por ter feito parte disso. Eu genuinamente sentia que já tínhamos ganho antes, porque ganhámos muita experiência, conhecemos muitas pessoas inspiradores e fizemos uma boa canção. O resto era extra.”

A atuação na final:

Cláudia Pascoal — “Mal eu entrei em palco e vi aquela multidão toda disse para mim mesma: OK, é um concerto, vamos lá. Pensei que o melhor era esquecer o Festival da Canção, que eu e a Isaura íamos só cantar uma música que sabíamos para trás e para a frente e que íamos fazer o nosso melhor. Tenho aquela coisa: quanto menos pessoas tenho em frente a mim pior. Sinto-me mais tranquila quando tenho mais.

Nós fomos as penúltimas a atuar. A única atuação que eu não vi foi a do Peu [Madureira] porque saíamos do palco por trás do pavilhão e ele cantou logo a seguir. Mas vi todas as outras e foi uma gala brilhante, senti-me muito feliz por fazer parte dela. Quando cheguei à ‘green room’, depois da atuação, quase me emocionei um bocadinho, fiquei assim com os olhos em água. Quando eles passam [no ecrã] a nossa música e a multidão levanta-se e bate palmas, eu fiquei tipo.. wow.”

Isaura: "Não existe uma escolha unânime e percebo isso, ainda para mais num ano em que há outras canções tão bonitas. Estou sempre a falar da Catarina [Miranda] que teve uma actuação brilhante, do Peu..."

Isaura — “Acho que também foi na Green Room que percebi que as pessoas tinham gostado. Eu ouvi as reações a todas as canções e foram sempre positivas. Quando aparece a nossa, que raio de coisa, as pessoas estavam mesmo a puxar para nós. Sei que também há pessoas que não gostam da nossa canção e que estão chateadas. Não existe uma escolha unânime e percebo isso, ainda para mais num ano em que há outras canções tão bonitas. Estou sempre a falar da Catarina [Miranda] que teve uma actuação brilhante, do Peu… Mas fiquei contente.

Para mim houve uma coisa que foi mesmo especial e completamente diferente do que já tinha feito: entrar num sítio, num programa em direto a cantar uma canção que escrevi e compus. Eu depois tive mesmo pena porque estava com os ‘in-ears’ [‘phones’ internos], não consegui apanhar bem o momento mas apercebi-me que as pessoas estavam a cantar com a Cláudia. Para mim foi incrível uma coisa que eu escrevi, que para mim era importante e que foi escrita para uma pessoa importante, ser cantada por uma multidão.”

A votação renhida e a quebra de tensão:

Isaura — “Eu estava super nervosa no meio das votações e houve ali um momento qualquer em que houve um clique dentro de mim que me fez pensar: não quero saber se ganho. Acho que isso depois acalmou-me até ao fim. Mas depois de repente ganhámos e eu desato a chorar. Ainda não ultrapassei isso, que vergonha… desato a chorar não por causa da tensão daquele dia mas por causa da tensão de tantos dias, desde que me convidaram para compor. Desde essa altura que eu queria fazer uma coisa bonita.

A decisão foi mesmo no fim. A Catarina [Miranda] recebeu os dez pontos e nós os 12. Sinceramente estou contente por ter sido tão renhido porque acho que estas canções mereciam que o fosse. Eu era a mais descrente de toda a gente quanto a ganhar. Acho que isso tem a ver com a minha forma de ser, eu gosto de baixar as expectativas, estava sempre preocupada: então mas agora está tudo entusiasmado e se não ganhamos? como é que as pessoas se vão sentir? Estava preocupada com a gestão das expectativas da Cláudia, das pessoas que trabalham connosco, dos nossos amigos, da minha família. Mas pronto, acabou por correr tudo bem.

Cláudia Pascoal: "Eu estava super pessimista, só dizia: não faz mal, não faz mal [se não ganharmos]. Quando dizem que ganhámos, virei-me para Isaura, abracei-a e disse: não chores! Eu já estava super emotiva, depois ao ver a Isaura a chorar, ainda chorei mais."

Houve também uma coisa de que fiquei mesmo orgulhosa e que vou guardar para sempre: quando a Luísa Sobral entrou em palco para nos dar o prémio, disse-nos assim: estou mesmo feliz por passar isto de mulher para uma mulher compositora e uma mulher intérprete. Fiquei contente com isso porque vi que ela estava contente. E eu admiro imenso a Luísa.”

Cláudia Pascoal — “Eu estava super pessimista, só dizia: não faz mal, não faz mal [se não ganharmos]. Quando dizem que ganhámos, virei-me para Isaura, abracei-a e disse: não chores! Eu já estava super emotiva, depois ao ver a Isaura a chorar, ainda chorei mais. Naquele caminho da ‘green room’ para o palco estava meio descontrolada. Só ouvia barulho, pensava sobre o que é que se estava a passar e de repente vem a Luísa Sobral, muito serena, muito calma, dar-me o prémio. Aí ficou tudo calmo: OK, boa. Estavam lá os meus familiares e amigos mais próximos. Fiquei mesmo de coração cheio quando, depois daquilo tudo acabar, pude descer e dar um abraço a todos. Foi muito bom. Sabia que eles estavam ali para mim. Sempre estiveram mas naquele momento, fisicamente, foi bom.

Depois de ganharmos, estivemos no palco com dezenas de jornalistas. Fizeram-nos perguntas, criaram um círculo muito fechado à nossa volta. Deu-me uma quebra de tensão, não comíamos nada desde as 19h, isso somada à emoção daquele momento da votação… Lembro-me perfeitamente de que me pediram uma entrevista e eu disse: eu faço, eu faço, mas vou desmaiar, se calhar é melhor comer qualquer coisa. Estava já a ver tudo preto… mas pronto, não foi nada de mais, acontece.”

Os festejos com McDonald’s de madrugada:

Isaura — “Nós depois saímos e fomos beber um copo com os nossos amigos, fomos comer qualquer coisa todos juntos e para aí se calhar às 4h e tal da manhã estávamos de volta ao hotel. A Cláudia ainda teve mais coragem do que eu e não foi logo dormir, eu fui para o quarto, achei que ia dormir mas não consegui, mais valia ter ficado…”

Cláudia Pascoal — “Eu fiquei no átrio [do hotel] com o Diogo Clemente, com o Janeiro, com uma série de pessoas do festival, a tocar guitarra, de uma forma muito tranquila, a viver um bocadinho mais a música enquanto aguentámos de olhos abertos. O ambiente estava incrível, a Carolina Deslandes foi buscar McDonald’s [ri-se]. Era aquilo que eu precisava: um ambiente relaxado, onde consegui finalmente descansar um bocadinho mas ao mesmo tempo dividir um momento bonito com todos eles.”

Os dias em Guimarães e as amizades criadas:

Isaura — “Na quinta-feira ensaiámos, na sexta-feira à noite tive concerto em Ovar e vim revitalizada mas ao mesmo tempo cansada. No sábado voltámos a ter ensaio, por volta das 13h, e conseguimos descansar à tarde, foi o dia mais tranquilo que tivemos. O ensaio geral de sábado depois começou às 22h e acabou às 2h. Existiram ensaios individuais e gerais, estes no sábado à noite e no domingo, já a preparar o direto. Nos ensaios gerais acabámos por nos cruzar todos. Foi giro porque já conhecíamos as pessoas da nossa semifinal mas não conhecíamos as da primeira. O ambiente esteve bom, dava gosto estar ao pé daquelas pessoas, trocar impressões com elas…

Fiquei fã do Peu [Madureira], é espetacular, dá mesmo gosto conversar com ele. Descobri que ele é historiador. Tem uma família linda, uma bebé mesmo pequenina e um filho que é o Peu mas mais pequenino e loiro [ri-se], é muito engraçado. Achei o Janeiro uma pessoa também muito interessante, gostei muito de conversar com o David [Pessoa], que já ia da nossa semifinal. Veio-me dizer que gostava muito de trabalhar comigo, foi engraçado, foi um ambiente fixe.”

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Cláudia Pascoal — “O Peu é tão amoroso. Mas todos os concorrentes foram espetaculares, havia uma grande unidade, todos queriam fazer o melhor no domingo e estávamos genuinamente felizes por estar lá. Nós [Cláudia Pascoal e Isaura] acabámos por não visitar grande coisa, estivemos mesmo a descansar porque os ensaios são sempre muito puxados, então as oportunidades que tínhamos para ir para o hotel descansar um bocadinho, aproveitávamos. Também porque esteve sempre muita chuva…

Tínhamos horários muito definidos, eles [RTP] separaram bem os horários das pessoas que iam para o Multiusos e as outras que iam para o hotel. Tirando os ensaios gerais, as pessoas com quem convivíamos mais eram as que cantavam antes e a seguir a nós. Os pequenos-almoços eram dos momentos mais carinhosos, era uma altura em que nos juntávamos mais. Calhei ficar sempre com a Lili, do “Voo das Cegonhas”. Ela é muito amorosa e a filha dela também. Foi giro ver tanta gente de vários sítios de Portugal, com carreiras e profissões diferentes, às vezes fora da música, a encontrar-se para o mesmo…”

As reações e as críticas:

Isaura — “Recebi tantas mensagens de pessoas a contar a história dos avós deles e de pessoas que tinham perdido que isso para mim foi a validação de que realmente a canção tinha atingido algo. Houve pessoas que me vieram dar um abraço a dizer que esta tinha sido das homenagens mais bonitas que todas as avós do mundo tinham recebido. Eu fiquei muito contente com isso.

Fui muito pouco às redes sociais, fui só ver algumas coisas e publicações de pessoas que eu realmente gosto de ler a opinião delas. Eu não estava preparada para isto. A Operação Triunfo já foi em 2010, na altura já havia o Facebook e partilhávamos as coisas dessa maneira mas não havia Instagram e não era tudo tão imediato. Eu gosto de ler as mensagens que me enviam mas nas entrelinhas consigo sempre perceber se me estão a fazer uma crítica construtiva ou se me estão só a tentar magoar e deitar abaixo. Essas críticas tento pôr um bocadinho de lado porque às vezes impedem-nos de trabalhar com motivação. Eu e a Cláudia agora acho que temos de parar um bocadinho para estar genuinamente felizes, temos a oportunidade de representar Portugal e é mesmo importante que haja espaço para isso.”

Cláudia Pascoal — “Eu também não tenho ido às redes sociais. Tenho mesmo medo [risos]. Tenho muitas notificações e acho que num ambiente mais calmo, quando chegar à minha casa, é que vou ter tempo para ver isso. Eu vim ainda um bocado “aquecida” do programa The Voice, acho que fui daquelas concorrentes que foi adorada e odiada, era de extremos. Então já vim um bocado preparada. Ainda bem que as pessoas têm opiniões, quer dizer que viram, que assistiram. Boa. Eu também tenho as minhas opiniões sobre tudo na vida.”

O dia seguinte e a Eurovisão:

Cláudia Pascoal — “Eu não dormi de domingo para segunda-feira. A minha maior desilusão foi que pensava que, no dia a seguir à final, na viagem do Porto a Lisboa ia poder dormir três horas. Mas não, estivemos a viagem toda a dar entrevistas por telefone. Depois chegámos a Lisboa, fomos à Rádio Comercial. Esta terça-feira de manhã já estávamos na RFM, fizemos uma maratona com todas as rádios ali do grupo…”

Isaura — “Na segunda-feira acordei às 9h. Às 10h apanharam-nos no hotel porque às 11h30 entrávamos em directo na Praça da Alegria. Tivemos de ir para o Porto, chegámos lá por volta das 11h para nos maquilharem. Assim que isso acabou fomos à Casa da Música ter com a Sílvia Alberto para o programa Sociedade Recreativa, estivemos com ela imenso tempo, foi muito bom. Eu tenho um carinho gigante pela Sílvia porque ela era a apresentadora da Operação Triunfo (OT). O Pedro Fernandes também fazia as entrevistas da escola [da OT]. Senti-me mesmo em casa. Acabou para aí às 15h, nós ainda sem comer… Depois começo a ficar enjoada, muito mal dispota, a achar que vou ficar com uma crise de vesícula. Era a Cláudia em modo zombie [não tinha dormido] e eu super mal disposta.

Isaura: "Agora vamos à Eurovisão com toda a força. Queremos mesmo o melhor resultado possível"

Acho que vamos andar neste ritmo quase a semana toda. Eu tenho um trabalho a tempo inteiro [trabalha em marketing digital ligado à saúde e ciência], isto está a ser dificílimo de gerir para mim. Esta terça-feira já trabalho [a entrevista foi feita na terça-feira de manhã] e estou desejosa disso porque quando estou a trabalhar, isto desliga-se, eu consigo descansar [da azáfama], acho eu. Mas faz parte e é bom sinal. Agora vamos à Eurovisão com toda a força. Se não era importante ganhar o Festival da Canção, porque era uma coisa diferente, envolvia a composição de uma canção e dar o nosso melhor, agora para o Eurovisão queremos mesmo o melhor resultado possível. Havemos de ouvir as canções [concorrentes], até as duas juntas, se calhar para a semana.”

As acusações de plágio a “O Jardim” nas redes sociais:

Isaura –” Não acho natural que estas coisas aconteçam, não vejo isso com bons olhos porque não me parece que seja a bem. No entanto, não fico presa a isso. Para mim é muito natural que as músicas nos lembrem outras músicas, acho que as pessoas estão a confundir duas coisas: uma canção ter referências e influências com ser um plágio. Plágio é uma coisa muito grande, é o desrespeito pelo trabalho de autor que alguém teve. Acho que as pessoas estão a baralhas dois conceitos completamente diferentes.

A mim dizerem-me que a nossa canção é parecida com esta ou aquela, eu até às vezes quando vou ouvir as canções [de que se fala: “To Build a Home” dos Cinematic Orchestra e “Strong” dos London Grammar] fico super contente, porque são canções de que eu gosto, bonitas. O conceito de plágio é que eu acho que já é uma questão muito específica, que as pessoas estão a falar de uma forma até leviana, sem pensar e é uma coisa muito grave.

Agora, eu estou completamente descansada. Mesmo que agora me aparecesse aí uma canção que era exactamente igual ao “O Jardim”, eu estava na mesma situação do Diogo [Piçarra] que é: olha, não foi de propósito, eu nunca ouvi isso. Estou absolutamente descansada. (…) O Festival da Canção tem um escrutínio muito grande, é o que difere para o que acontece com outras composições. É normal que as canções façam lembrar alguma coisa. Agora se as pessoas ouvirem com um ouvido mais atento vêem que não há tradução nenhuma, nem melódica nem de letra.”

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