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Como Luís se tornou Pizzi, convenceu os pais a jogar pelo Braga e não ligava nada à agora mulher

Começou como Luís mas depressa se tornou Pizzi graças ao argentino do Barça. Foi de jóquer de Vitória a certeza de Lage e mentor de Félix e tornou-se um dos mais importantes na conquista do título.

Juan Antonio Pizzi tem quase 51 anos e foi até janeiro o selecionador da Arábia Saudita. Antes de ser treinador, foi avançado entre a Argentina, o país onde nasceu, Espanha e até Portugal. Viveu o pico da carreira no Barcelona, onde coabitou com Figo, Baía e Couto e passou pelo FC Porto já no início do novo milénio, ainda que com pouco sucesso. Foi na Catalunha e em Camp Nou que Pizzi que viveu os melhores dias dentro dos relvados, ao conquistar uma Liga espanhola e uma Taça dos Campeões Europeus. Nessa reta final dos anos 90, porém, o avançado argentino estava longe de imaginar que iria servir de alcunha a um miúdo franzino de Bragança que tinha o sonho de jogar futebol ao lado dos grandes.

Luís Filipe, o goleador de serviço nos descampados e nos jogos com balizas feitas com pedras e sem linhas laterais, depressa ficou com a alcunha de Pizzi, o melhor goleador da Liga espanhola naquela altura. Conforme os golos cresciam, mais depressa desaparecia o Luís Filipe: Pizzi tinha chegado para ficar.

Luís Miguel, quando ainda era Luís Miguel, jogava à bola na rua com os amigos e tinha sempre vestida uma camisola do Barcelona. O Barcelona dos portugueses, o Barcelona que merecia mais atenção por parte da comunicação social portuguesa do que a maioria dos clubes da Primeira Liga. Luís Miguel, o goleador de serviço nos descampados e nos jogos com balizas feitas com pedras e sem linhas laterais, depressa ficou com a alcunha de Pizzi, o melhor goleador da Liga espanhola naquela altura. Conforme os golos cresciam, mais depressa desaparecia o Luís Filipe: Pizzi tinha chegado para ficar.

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A história do médio português começa como tantas outras de tantos outros miúdos que viviam com a bola debaixo do braço e o sonho de um dia terem um estádio inteiro a chamar por eles. Pizzi começou a jogar no Bragança, o clube da terra, e também foi um de outros tantos rapazes franzinos, mais pequenos do que a maioria, mais magrinhos do que a maioria, que acabou desvalorizado pela estatura. O que fazia em campo, porém, convencia qualquer um e não demorou muito até todos os envolvidos no futebol de formação de Trás-os-Montes conhecerem “o Pizzi”, o miúdo irreverente que dificilmente estava parado. Foi no Bragança e no futebol que o atual jogador do Benfica descobriu um escape para a energia que o levava a fugir de casa para ir brincar com os amigos quando os pais não estavam: Pizzi não perdeu a genica, só encontrou uma forma diferente de a aplicar.

Pizzi mostrou ao longo da temporada que assumiu um papel de mentor de João Félix, festejando os golos do jovem jogador sempre de forma muito efusiva

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A energia descrita por Rui, o irmão mais velho, durante uma reportagem feita pelo próprio Benfica no início do ano passado, é visível dentro de campo e foi particularmente útil esta temporada — assim como já tinha sido em 2016/17, o ano em que os encarnados carimbaram o tetracampeonato. Pizzi é o motor de uma equipa que recuperou com Bruno Lage a vontade de correr atrás dos resultados e ir à procura de todas as vitórias como se de finais da Liga dos Campeões se tratassem mas que sempre teve uma espécie de capitão sem braçadeira que funciona como trampolim entre a vontade de chegar ao golo e o verdadeiro momento em que se chega ao golo.

Essa importância, a rebeldia de menino que nunca desapareceu, só se aprimorou, foi visível durante toda a época mas teve o seu epíteto em Braga, numa segunda parte em que o Benfica perdia por um golo e precisava de dar a volta para não deixar fugir o FC Porto na liderança da classificação. O transmontano converteu duas grandes penalidades e foi a figura maior de uma equipa que acabou por vencer por 4-1 e que mostrou, no exemplo do médio internacional português, que os campeonatos se ganham com pormenores: como aquele em que Pizzi foi buscar a bola ao fundo da baliza logo depois de empatar e deixou claro que o objetivo era marcar mais e fazer melhor.

Joga (muito), marca e assiste. Mas a diferença de Pizzi esteve noutro gesto (a crónica do Sp. Braga-Benfica)

Pizzi, que esta época se superou no que toca ao número de golos e assistências (leva 15 golos e 22 assistências em 53 jogos para Campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga, Liga dos Campeões e Liga Europa, mais do que todos os registos anteriores desde que é profissional), é o jogador, a par do inevitável Rafa, que mais subiu de rendimento desde a chegada de Bruno Lage. No início da temporada, o médio internacional português foi sendo, de forma um tanto ou quanto inexplicável, o principal alvo da insatisfação dos adeptos face aos resultados da equipa e uma espécie de extensão das críticas a Rui Vitória. A elevada utilização do número 21 encarnado foi na reta final da época passada e no início da que agora termina um dos grandes focos da desilusão dos adeptos e Pizzi começou a ser encarado como um quase “jogador do treinador”, um jóquer de Vitória que rapidamente ficou associado ao pouco sucesso do atual técnico do Al Nassr nos últimos meses na Luz.

Pizzi é o motor de uma equipa que recuperou com Bruno Lage a vontade de correr atrás dos resultados e ir à procura de todas as vitórias como se de finais da Liga dos Campeões se tratassem mas que sempre teve uma espécie de capitão sem braçadeira que funciona como trampolim entre a vontade de chegar ao golo e o verdadeiro momento em que se chega ao golo. 

A chegada de Bruno Lage provou o contrário. Pizzi joga porque é importante, Pizzi joga porque marca golos, porque faz assistências e porque é inequivocamente um dos principais responsáveis pela conquista da Primeira Liga por parte do Benfica. De “jogador do treinador” e braço direito de Rui Vitória tanto no topo da montanha russa como na queda livre do carrossel, Pizzi passou a representante de Lage dentro das quatro linhas, mentor de João Félix e voz de ordem na ausência do mais experiente Jardel.

Pizzi jogou no Bragança até aos 17 anos, altura em que era já titular da equipa transmontana. Foi nessa altura que participou num torneio em Braga onde deu nas vistas e acabou por chamar a atenção do Sp. Braga, que começava a apostar de forma mais constante e coerente na formação. Ir até Braga para os treinos de captação foi uma decisão fácil de tomar e fácil de levar os pais a aceitar; ficar, caso o convite fosse feito, envolveu mais insistência e perseverança. “Foi cobiçado, contactaram-nos e ele só pedia para o deixarmos ir. Eu na altura disse que não, que ia só lá fazer um treino e vinha embora. Mas ele passava o tempo todo: ‘Vá lá, mãe, vá lá, pai, deixem-me ficar’. Ele sempre quis”, conta a mãe na reportagem especial feita pelo Benfica. Pizzi venceu os pais pelo cansaço e acabou por conseguir assinar pelo Sp. Braga ainda enquanto júnior, mas a relação com o clube bracarense acabou por se revelar um tanto ou quanto bipolar.

"Foi cobiçado, contactaram-nos e ele só pedia para o deixarmos ir. Eu na altura disse que não, que ia só lá fazer um treino e vinha embora. Mas ele passava o tempo todo: 'Vá lá, mãe, vá lá, pai, deixem-me ficar'. Ele sempre quis", conta a mãe na reportagem especial feita pelo Benfica.

Se é verdade que o médio saltou para a alta roda do futebol português através do Sp. Braga, também é verdade que só representou os arsenalistas em dois escassos jogos, já enquanto sénior. Assim que chegou a Braga, foi emprestado ao Ribeirão, uma equipa satélite dos minhotos, seguindo-se depois um empréstimo ao Sp. Covilhã. Os quatro golos marcados ao longo de 20 jogos na primeira metade da temporada 2009/10 levaram a um salto para voos mais altos, ainda que sempre sob a asa do Sp. Braga. Pizzi foi emprestado ao Paços de Ferreira, que na altura estava na Primeira Liga há já quatro anos, tinha chegado à final da Taça de Portugal no ano anterior (perdeu com o FC Porto) e vinha progressivamente a galgar lugares de uma época para a outra. Quando chegou, o treinador era Ulisses Morais — mas a mudança de equipa técnica logo no verão de 2010 viria a marcar a carreira de Pizzi até aos dias de hoje.

A ida de Rui Vitória para o comando técnico do Paços de Ferreira tornou-se importante na carreira de Pizzi, já que viria a ser o jóquer do treinador quando os dois chegaram ao Benfica

Ulisses saiu e foi substituído por Rui Vitória, que tinha acabado de levar o Fátima até à promoção à Segunda Liga. Com Vitória no banco, Pizzi tornou-se um elemento fulcral da equipa pacense que terminou o Campeonato numa histórica sétima posição e que chegou à final da Taça da Liga (onde perdeu, curiosamente, com o Benfica). Em 2010/11, o médio marcou 11 golos em 34 jogos e chamou a atenção do Sp. Braga, que depressa chamou de volta o talento em bruto que pertencia aos quadros do clube mas andava perdido entre empréstimos. A relação, porém, foi curta ou inexistente: Pizzi jogou os tais dois jogos pelos bracarenses mas não resistiu a uma saída precoce para o Atl. Madrid. Os colchoneros, que meses antes tinham contratado Sílvio ao Sp. Braga e que tinham por isso relações privilegiadas e de primazia quanto aos jogadores do clube minhoto, solicitaram o empréstimo do médio com uma cláusula de opção de compra que acabaram por exercer, em 2012, rendendo mais de 13 milhões de euros aos cofres bracarenses.

Com 21 anos, Pizzi tinha vivido em Bragança, Braga, na Covilhã e em Paços de Ferreira. Os pais acompanharam-no sempre e desta vez, em que a mudança envolvia mudar de país para uma das principais capitais europeias, a situação não foi diferente. Os pais do médio mudaram-se para Madrid e Pizzi integrou a equipa que era então orientada por Quique Flores, mas só marcou um golo ao longo de 15 jogos e acabou emprestado ao Deportivo (onde também estava Nélson Oliveira), onde se tornou titular de forma regular e acabou por encontrar uma montra constante e que lhe permitiu voltar a Portugal. Entretanto, e por entre a mudança para Braga, as passagens pelas restantes cidades do norte do país e a ida para Espanha, o jogador português tinha já uma companhia adicional que não a dos pais ou do irmão. Começou a namorar com Maria, que conhecia quase desde que nasceu, a partir do 12.º ano e os dois são já pais de Afonso e também de Francisco, que nasceu no passado mês de março.

Foi nessa altura que participou num torneio em Braga onde deu nas vistas e acabou por chamar a atenção do Sp. Braga, que começava a apostar de forma mais constante e coerente na formação. Ir até Braga para os treinos de captação foi uma decisão fácil de tomar e fácil de levar os pais a aceitar; ficar, caso o convite fosse feito, envolveu mais insistência e perseverança.

“As nossas mães já estiveram grávidas juntas. Nós temos diferença de um mês e as mães já se conheciam grávidas. Andei com ele na escola desde o 5.º ano e desde o 7.º éramos da mesma turma. Já nos conhecemos desde sempre. No recreio não me ligava nenhuma. Nós estávamos num evento em que nos chamaram para ir cantar no coro e o Luís estava lá com os pais. Na altura, eu gostava dele, tinha ali uma paixoneta e as miúdas diziam: ‘Não és capaz de ir ali à mãe dele dizer que gostas dele’. Eu sou quieta, mas se me estão ali a picar… cheguei à mãe dele e disse: ‘Eu gosto do seu filho, mas ele não me liga nenhuma, só quer jogar à bola’. E ela disse: ‘Eu não posso fazer nada, mas pronto’. Mais tarde somos da mesma turma. Depois era eu que não lhe ligava nenhuma. A partir do 7.º ano, quando me começou a ligar mais, eu já não lhe ligava nenhuma. Ele era um minorca, mais pequeno do que eu”, contou a mulher do médio num programa da TVI, em conversa com o alfaiate Paulo Battista, conhecido por tratar da imagem de muitos jogadores de futebol. Maria, a par dos pais do 21 do Benfica, é a única que o trata por Luís, numa “tentativa de ter mais proximidade”, como a própria explica.

'Eu gosto do seu filho, mas ele não me liga nenhuma, só quer jogar à bola'. E ela disse: 'Eu não posso fazer nada, mas pronto'. Mais tarde somos da mesma turma. Depois era eu que não lhe ligava nenhuma. A partir do 7.º ano, quando me começou a ligar mais, eu já não lhe ligava nenhuma. Ele era um minorca, mais pequeno do que eu", contou a mulher do médio num programa da TVI.

As boas prestações no Deportivo motivaram o interesse do Benfica, que em julho de 2013 pagou seis milhões de euros ao Atl. Madrid pelo passe de Pizzi mas emprestou de imediato o médio ao Espanyol. O rendimento não se alterou e o português voltou a ser utilizado em praticamente todos os jogos dos catalães na Liga espanhola, sendo um elemento importante da equipa orientada por Javier Aguirre onde também estava Simão Sabrosa e que terminou a temporada no 14.º lugar da tabela.

No início de 2014/15, a última temporada de Jorge Jesus na Luz, o treinador português chamou Pizzi para a pré-temporada e o médio acabou por integrar o plantel principal, ainda que sempre enquanto substituto do titular Enzo Pérez. No verão de 2015 e depois de o Benfica se sagrar bicampeão nacional, Jorge Jesus saiu para o Sporting e foi substituído por Rui Vitória, que entretanto tinha dado nas vistas no V. Guimarães.

Pizzi foi para o Atl. Madrid a título de empréstimo do Sp. Braga mas acabou novamente cedido ao Deportivo quando os espanhóis exerceram a opção de compra

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A chegada de Rui Vitória, aliada à saída de Enzo Pérez para o Valencia, beneficiou em toda a linha o internacional português, que não só tinha uma relação especial com o treinador como ganhou a confiança necessária para ser bem mais do que apenas um elemento dos encarnados. Tornou-se progressivamente mais importante na equipa, foi fulcral para a conquista do tetracampeonato, sobreviveu às críticas a Vitória que o afetavam diretamente e subiu de rendimento com Bruno Lage, sendo agora um dos poucos jogadores que esteve em mais do que um dos quatro Campeonatos ganhos entre 2014 e 2017 e que está agora na reconquista da Primeira Liga.

Inovador na forma como celebra os golos, tem festejos específicos para cada um dos filhos mas ficou conhecido por um outro: aquele em que olha para a bancada, com um semblante muito sério, e faz continência. Explicou há algum tempo que esses golos são dedicados aos amigos, a Tropa. Mas o festejo que lhe valeu a alcunha de Comandante ganha um duplo significado sem pensarmos que Pizzi foi o líder de uma equipa que parecia perdida em janeiro e que sorri agora em maio.

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