Bem-vindo ao admirável mundo de quem desafia lógicas reinantes e treina, por sistema, um pensamento próprio, criativo e ousado. Reunir numa plataforma os ensinamentos de várias personalidades deste calibre é o objetivo do SAS Portugal através da 5 Great Things Talks, uma série de conversas inspiracionais que marca o arranque da iniciativa 4Leaders, integrada no projeto Do Great Things – From Home. Este é o nome do hub lançado em abril por aquela companhia, como resposta à situação resultante da pandemia, em que o confinamento ditou que uma parte considerável dos profissionais ficasse em teletrabalho. Para ajudar empresas e colaboradores na transição do presencial para o virtual, o SAS Portugal passou a disponibilizar eventos online, formação e conteúdos destinados a executivos, profissionais de tecnologias de informação, data scientists e pessoas interessadas em aprofundar o conhecimento sobre analítica, tendências tecnológicas ou acrescentar valor às suas carreiras e empresas. Tudo isto de forma gratuita e sem ninguém sair de casa.
Inicialmente focado em três dimensões – 4Business, 4Data Scientist e 4Social – o projeto Do Great Things – From Home inclui agora mais uma vertente – a 4Leaders – e o desafio para o arranque não podia ser mais atrativo. Chama-se 5 Great Things Talks e consiste numa série de entrevistas a conceituados líderes de opinião, que irão partilhar a sua visão do mundo através da resposta a, pelo menos, cinco perguntas. Identificar a sua maior realização pessoal e profissional, o livro mais marcante ou a personalidade histórica mais inspiradora são algumas das questões a que todos irão responder, revelando os fios com se tece o pensamento de cada um.
Encontrar o flow e seguir em frente
O primeiro entrevistado da 4Leaders é conhecido não só pelos seus talentos de académico e gestor, mas também por ter o condão de colocar plateias inteiras a rir – mas não, não é humorista – levando-as a refletir e a aguçar o espírito crítico até ao limite. À conversa com Sofia Real, do SAS Portugal, Nadim Habib, professor na Nova School of Business and Economics, não hesitou em apontar a sua maior realização, que é simultaneamente pessoal e profissional: “Os meus filhos dizem-me que estou a ficar velho e eu digo-lhes que tive sorte, porque aos 45 anos encontrei o meu flow, encontrei a coisa que queria fazer para o resto da vida.” Encontrar o que designa por flow, o seu fluxo, foi sinónimo de encontrar “um sítio onde nunca sentia stress e que gostava de explorar mais”. Em termos práticos, significa que descobriu que aquilo que mais o realizava era juntar a gestão à academia e à ciência. “A minha vida está feita, já fiz a transição”, pensou, quando percebeu o caminho, livrando-se assim da tensão que – sabe por experiência própria – assola quem ainda não sabe bem o que quer fazer ao longo da vida. “Estou a divertir-me, gosto do que faço. Claro que também tenho dias maus, como toda a gente, mas não estou com aquela ansiedade do falta-me qualquer coisa”, remata.
Quanto a destacar uma grande personalidade da história, aponta de imediato Nelson Mandela. Sim, o também consultor internacional nas áreas de estratégia, inovação e criatividade reconhece-lhe, como toda a gente, as capacidades de grande homem e grande estadista, mas o que mais o fascina é “aquela capacidade de olhar para a frente em vez de ficar preso no passado”. Enquanto professor de gestão, assume que é determinante o exemplo fornecido por Nelson Mandela de “ser muito mais estratégico e muito menos operacional e olhar para a frente e conseguir dizer: Ok, é por aí que quero ir e é assim que vou construir o meu futuro.” Nas suas palavras, esta é uma capacidade que por vezes sente falta “não só nos estados, nas nossas democracias, mas também nas organizações e também nas nossas escolas”.
Os livros que marcaram Nadim Habib
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Questionado sobre um grande livro, Nadim Habib mantém-se na zona de conforto da gestão – porque não lê ficção, acaba por confessar – e identifica não apenas um, mas dois. Good Strategy, Bad Strategy, de Richard P. Rumelt, porque nele viu pela “primeira vez” o que entende como a estratégia analisada de forma “completa e clara”. Outro livro que o marcou igualmente foi The Tipping Point: How Little Things Can Make a Big Difference, da autoria de Malcom Gladwell, porque marcou “o início do mundo em que começamos a dizer que há maneira de utilizar dados para entender pessoas e mesmo coisas mais complexas sem ser da maneira mais clássica”. Na sua opinião, este livro inicia o que pode ser designado como a “lógica de personalização que estamos a ver cada vez mais”.
A curiosidade como motor
“Ser humano é ser curioso”, diz o entrevistado quando lhe é pedido para partilhar uma grande ideia para a humanidade. Lembra-se de uma citação de Walt Whitman – “Be curious, not judgmental”, que em português poderá aproximar-se a algo como “sê curioso, não preconceituoso” – e que, para si, contém a essência da humanidade. A curiosidade é importante “para continuamente aprender, tentando nunca julgar neste processo”, defende, mas admitindo que “estamos numa década mais difícil”. Porquê? Porque “deixámos cair a curiosidade e temos pessoas com certezas a mais; acho que é uma pena para a humanidade ter tanta certeza sobre coisas em relação às quais deveríamos ser muito mais curiosos”, diz, apontando a curiosidade “sobre os que os outros povos fazem, o que outras culturas pensam” ou até em relação a “outras maneiras de trabalhar, de pensar, de viver a vida”. “Acho que quando perdemos esta curiosidade perdemos muita coisa e quando nos tornamos judgmental travamos na vida e travamos no mundo e por isso, para mim, é isso que nos torna humanos, foi isto que fez construir o mundo moderno e seria uma pena pararmos de ser assim”.
Uma das ferramentas hoje disponíveis para responder a perguntas e saciar curiosidades é a analítica de dados. Mas, qual será o seu impacto hoje e no futuro? Nadim Habib acredita que tal “depende de nós”. “Acho que vai ter um impacto grande, sem dúvida nenhuma. O que estamos a começar a ver é que o que antigamente era complexo demais para analisar, hoje conseguimos analisar e isto dá-nos uma força ou cria desafios”, afirma. O académico volta a Whitman para lembrar que perante os dados devemos seguir o princípio da curiosidade em detrimento do preconceito. “Se eu utilizar a analítica para confirmar um bias [viés] que eu já tenho para tomar decisões erradas, acho que é utilizar [a analítica] de forma errada”, salienta, deixando clara a importância que atribui a este recurso: “Acho que a analítica pode dar-nos enormes vantagens do ponto de vista da tomada de decisão na nossa sociedade.”
O poder da analítica de dados
Um exemplo de como a analítica de dados pode ser um importante contributo para a tomada de decisão tem vindo a verificar-se a propósito da pandemia de Covid-19. Embora esta seja “uma coisa negativa que nos apanhou a todos”, também “nos fez lembrar da importância da ciência e de dados e da tomada de decisão com base em dados”, sustenta. “Não há dúvida nenhuma que vemos acelerar [o desenvolvimento de] vacinas por causa desta lógica de poder analisar grandes volumes de dados”, reconhece, reforçando que, ao mesmo tempo, estamos a pedir aos governos do mundo inteiro que “tomem decisões com base em ciência e em factos”.
Enquanto destaca as virtudes da analítica, o entrevistado adverte também para as suas implicações e a necessidade de um debate na sociedade: “O futuro está nas analytics, acho que todos nós gostamos de tomar decisões com base em analytics, todos estamos fascinados por perceber melhor os nossos clientes, o seu comportamento, etc., mas temos de ter o cuidado de utilizar isto como parte da nossa curiosidade e não para o lado mais negativo das coisas.”
A curiosidade é, pois, a força motriz para Nadim Habib, o que justifica que, já a terminar a entrevista, quando lhe foi pedida uma grande palavra para o futuro, o também mestre em economia pela London School of Economics não tenha hesitado: “Vou ter de dizer: é curiosidade.” A este propósito diz mesmo que um dos conselhos que dá à filha adolescente, que “tem agora 14 anos e está naquela fase em que tem muitas certezas”, é sobre isto precisamente: “No dia em que tens certezas paraste de crescer.” Por isso, desafia-a: “Olha para o mundo lá fora, aprende. Quando encontras alguém que não conheces faz perguntas. É isto que nos faz crescer como pessoas.” A rematar, reforça que “temos tudo para sermos curiosos”, mas “parece que, às vezes, fazemos tudo para pararmos de pensar e para julgar e tomar decisões com base em falta de informação”.
Admite que ser curioso possa ser uma “doença” resultante de ser professor e de trabalhar numa instituição de ensino, mas não é só isso: “Continuo a ser curioso, porque é isso que faz o mundo progredir e acho que é isto que nos torna humanos e é a inspiração que devemos dar aos nossos filhos.”
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