Habituámo-nos a conhecer Diogo Clemente como compositor, produtor, diretor artístico, por vezes como instrumentista a acompanhar outros em palco. Nascido e criado no fado, tornou-se num dos nomes que moldaram o género nos últimos 20 anos. Trabalhou com Carminho nos seus três primeiros discos; é uma figura essencial no percurso de Sara Correia, que acompanha em palco como guitarrista; colaborou com Mariza, Raquel Tavares, Marco Rodrigues ou António Zambujo. Agora, aos 39 anos, apresenta-se com um primeiro disco em nome próprio.
Na verdade, Amo-te e Outras Coisas P’ra Te Dizer partiu de um livro homónimo que será publicado no início de dezembro. Trata-se de uma compilação de 130 poemas que o autor tinha escrito e espalhado por cadernos e papéis soltos ao longo do tempo.
Foi há uma mão cheia de anos que nasceu a ideia de reunir e publicar estes escritos. “Isto porque encontrei um poema no meio de uns cadernos, de repente musiquei aquilo e deu um bom tema”, conta ao Observador. A canção haveria de ir parar às mãos (e à voz) de Marco Rodrigues, que ainda não a lançou, mas o poema serviu de rastilho para todo este processo. “Dentro do caos que são os meus papéis e os meus cadernos, pensei: tenho que organizar as coisas.” A partir daí, uma série de textos transformaram-se em canções e 14 delas formam este primeiro álbum.
De Camarate a Roma, um fadista desde o berço
Encontramo-nos com Diogo Clemente na Mesa de Frades, emblemática casa de fados de Alfama. Tinha 16 ou 17 anos quando o espaço, que ocupa uma antiga capela, foi reaberto após muito tempo fechado. Na altura, era aluno do conservatório e tornou-se num dos músicos residentes.
“Foi nessa fase que comecei a escrever e a produzir mais a sério. E vivia absolutamente de noite. Foi um antro de desenvolvimento pessoal e, a par disso, do fado. Esta foi a casa mais importante no que é a história do fado das últimas duas décadas. Os últimos 20 anos do fado passam muito por aqui. A Mesa de Frades também é a minha mãe artística.”
Numa Alfama menos turistizada e com uma cultura fadista pujante, entranhada nos largos e nas pedras da calçada, Diogo Clemente foi crescendo e aprendendo com os “mais velhos”. Conta que tinha “sangue na guelra”, uma fome voraz de experiências e conhecimento. Vivia tudo muito intensamente, tocando em várias casas de fado na mesma noite, cruzando as ruelas de Alfama ou do Bairro Alto de guitarra às costas.
[o álbum “Amo-te e Outras Coisas P’ra Te Dizer” está disponível na íntegra no Spotify:]
“Isto foi como um laboratório diário. Onde quer que estivesse a tocar, depois vinha para aqui. Toda a gente vinha ter à Mesa de Frades. É curioso isto ser uma antiga capela, porque o que sinto é que, nas noites de fado entre os fadistas, a sensação é mesmo de missa. É uma devoção a uma determinada linguagem, à nossa linguagem, à nossa mãe. Independentemente se cada um está a fazer projetos que são variações do fado, como eu faço muitos, mas isto é um antro da raiz. Isso foi muito importante para mim.”
Diogo Clemente é fadista desde o berço. O pai, José Clemente, também cantou e tocou o fado. Aos três anos, o pequeno Diogo lembra-se de estar numa casa de fados a assistir a uma atuação. Aos seis, começou a cantar. Aos 13, pegou na guitarra para nunca mais a largar. E aos 14 anos conquistou a Grande Noite do Fado do Porto, um concurso importante que lhe deu visibilidade no circuito. “Lembro-me de estar no fado como me lembro de beber água.”
Criado em Camarate, onde na escola já era conhecido como o “fadista”, conta que costumava estar ensonado nas aulas por passar as noites a escrever. À luz das velas, enchendo cadernos de palavras e mais palavras, na mesa de cabeceira que partilhava com a irmã. “Escrever foi uma necessidade terapêutica. Era uma coisa nova para mim e essa coisa nova começou a ser diária. Não dormia, era uma tortura. E tinha vergonha de dizer às pessoas que estava a escrever durante a noite. No sítio de onde venho, tinha era de jogar bem à bola, isso é que valia socialmente.”
Nunca considerou qualquer outra coisa que não fosse a música. Nem sequer teve tempo para pensar nisso, explica. Aos 15 anos, começou a tocar em projetos profissionais. Aos 16, estava a tocar guitarra com Carlos do Carmo, Ana Moura ou Mafalda Arnauth, embarcando em digressões internacionais que expandiam (e muito) os horizontes de um miúdo de Camarate.
“Fui resgatado pela música. Venho de um sítio onde a preocupação nas veias é trabalhar. O trabalho tem que ser certo, não dá para aventuras. E eu arranquei para aventuras e decidi que iria ser a minha vida. Tive contrastes imediatos, muito grandes. De repente, saí de Camarate e fui levado para Roma. Entrou-me a beleza pelos olhos adentro e aprendi o que era o Renascimento, encantei-me com a pintura e com a escultura, com todas as coisas que me poliram na altura. Com o Paulo Valentim, que era guitarrista e professor de Belas-Artes. Foi uma lavagem interior — e um conflito, também. A beleza entrar por uma pessoa adentro e aprender o que é a beleza, e a sensibilidade de ser invadido por isso… Foi tudo na mesma altura. É uma época da vida muito visceral, em que se bebem as coisas com muita força. Até hoje, Roma é a minha segunda cidade e tenho de lá ir todos os anos.”
Lisboa, naturalmente, é a primeira. O Faia, Fado ao Carmo, Tasca do Chico ou o antigo Nônô foram algumas das principais casas de fados por onde passou ao longo da adolescência e início da idade adulta. Depois de ter conquistado a Grande Noite do Fado, o percurso mais óbvio teria sido continuar a cantar e desenvolver um trajeto profissional a partir daí. “Em termos nacionais era muito importante e toda a gente dizia: ‘agora, o miúdo vai gravar um disco’. Não, não vou gravar disco nenhum, porque nem me sentia preparado para isso. Além disso, estava a assustar-me porque tinha muito medo que o cantar pudesse ofuscar todas as coisas pelas quais estava muito apaixonado, que era sobretudo a parte criativa.”
Mais do que um intérprete, Diogo Clemente almejava ser aquilo em que se tornou: um criador. As letras noturnas que iam ganhando forma no seu quarto, as melodias à guitarra, os arranjos e a formação musical que foi tendo no conservatório, eram aquilo que de facto o estimulavam e que o tornaram na referência que é hoje. “O canto foi ficando para trás. Pus o canto num sítio onde ele tinha de estar, um sítio de prazer. Todas as noites era capaz de cantar. Mas enveredar por um caminho de palco e fazer concertos… Isso não me encantava sequer.”
As primeiras artistas com quem trabalhou enquanto produtor e diretor musical foram Raquel Tavares e Ana Laíns. “Tornou-se muito viciante. Adoro tomar conta, adoro cuidar. Adoro ver as pessoas felizes com um cuidado meu. E se puder juntar isso à música, tornava-se muito impactante. Dirigir, produzir e estar integrado a 360 graus dentro dos projetos sempre foi aquilo que mais me fascinou. Mais do que tocar. Sempre adorei, adoro que me convidem e vou, porque é uma celebração da relação pessoal e artística que tenho com alguém, felizmente tive a sorte de poder tocar com nomes como o Carlos do Carmo ou o Camané, mas os sítios onde estou são este bloco criativo que construo com alguém, que para mim é genial e sou devoto a essa pessoa.”
Também, desde cedo, descobriu que tinha uma apetência para trabalhar com outros géneros musicais. Nomeia o tango, o flamenco, o jazz ou a música africana como as linguagens que mais lhe dizem além do fado. Mas também fez incursões pela pop, contribuindo para o sucesso da mãe dos seus três filhos, Carolina Deslandes, que Diogo Clemente considera a “mulher mais forte em criatividade de sempre na música portuguesa”.
Incentivou-a a gravar em português, trabalharam letras e instrumentais. Deixou-se levar por iniciativas de Carolina Deslandes, como as kitchen sessions que ambos partilhavam na cozinha da casa onde moravam e que acabaram por ter bastante impacto nas redes sociais.
Na ressaca do estrondoso single A Vida Toda, esse projeto culminou numa série de concertos intimistas, de título Eu e Ele, que os levou à Livraria Férin, em Lisboa; à Estação de São Bento, no Porto; e a diferentes teatros espalhados pelo país. Foi uma rampa para os voos mais altos que Deslandes iria fazer a partir daquele momento, tornando-se numa das principais estrelas pop nacionais. Agora, a dupla resolveu ressuscitar o formato com espetáculos no Coliseu dos Recreios, em Lisboa (24 de janeiro, com “probabilidade” de existir uma segunda data) e no Coliseu do Porto (7 de fevereiro).
Foi precisamente quando foi pai que tomou a decisão de viver menos de noite, de não viajar tanto. Deixou de frequentar diariamente as casas de fados, assumiu-se cada vez mais como produtor e compositor para outros. “A partir do momento em que fui pai, muitas coisas mudaram, porque acima de tudo quero viver a vida dos meus filhos, quero vê-los crescer, quero tê-los presentes comigo, é algo irrepetível. Tenho três filhos de seguida, eles vão crescer juntos e ainda bem porque assim vão estar grandes ao mesmo tempo e eu vou poder voltar [à vida das casas de fado], se me apetecer.”
Ainda hoje, conta, não é estranho chegar a uma casa de fados e espontaneamente dizer aos músicos que podem ir descansar para casa que ele assume aquele lugar como forma de catarse, como um devoto que não passa sem a sua missa, o seu credo.
“Não consigo entender como é que seria não ser do fado. É uma forma de vida. É como um filtro de fotografia, é o filtro com que se vê a vida. Faz parte da identidade, do carácter, tudo é traçado por aquilo. A análise às coisas, à beleza, a capacidade de ver beleza nas coisas. Ou de ver a tristeza e de nos apaixonar-mos por ela. Saber que, na tristeza, há uma dose brutal de prazer. Há um prazer lá dentro. E há um desprazer se a tristeza não existe em determinados momentos. As relações com a verdade e com a mentira, com a honestidade, com a vaidade, com o ego, a traição, as perspetivas perante o amor, perante a ausência, a importância da saudade… Todas as coisas são embrulhadas na arte das letras… Isto é o dia a dia, cantado e falado e escrito, entre os fadistas. Então as coisas tornam-se todas um modo de vida.”
Os poemas que deram origem a um livro, que fez nascer um álbum
Quando começou a juntar os cadernos recheados de poemas que tinha escrito ao longo da vida, redescobriu e deu novos significados aos versos. “Comecei a redescobrir coisas, a redescobrir-me, a ter perspetiva sobre mim, porque passaram os anos, passaram as relações tão próximas com o que estava escrito… E os cadernos vão ficando nos cantos onde têm de ficar, porque aquilo é escrito e é encostado. Eles tiveram de estar no canto deles e eu no meu. Tive que lhes ganhar distância. Já escrevi, está um bocado desafogado e vai para ali. E, nesse momento, quando reuni tudo, fiquei a pensar: tenho aqui um livro.”
Diogo Clemente olha para o processo como uma escultura. “Era uma pedra, tive de a esculpir, e para a esculpir fiz feridas, cortes, sujei-me todo. E acabei a estátua. Só que acabei a estátua e preciso de sair dali. Preciso de ir tratar das feridas, preciso de ir tomar banho, preciso de estar bem, para depois vir com um copo de champanhe, olhar para a estátua e dizer: OK, está feito e eu estou bem.”
Criado com os mais velhos e com um percurso iniciado desde tão tenra idade, o músico sente ter vivido bem mais do que os seus 39 anos poderiam indiciar. “Adoro os poemas e o livro, mas lamento imenso escrevê-lo antes dos 40 anos. Se o lesse, diria que aquela pessoa tinha 70 e escreveu um livro de uma vida inteira. E pensar que grande parte das coisas não foram escritas agora, foram escritas há muitos anos… Mas o fado tem isso, essa intensidade. As almas são livres para viver intensamente, sem complexo de o serem. O fado deu-me essa liberdade, destrancou-me as portas.”
Amo-te e Outras Coisas P’ra Te Dizer reúne poemas que abordam o amor de múltiplas formas e olhares. Baseado em momentos da sua vida em que precisou da poesia para purgar o que estava a experienciar, são “fotografias de estados e posições no amor”, quase tudo inspirado nas suas próprias vivências, muitas delas ligadas a Alfama, o bairro onde diz ter vivido mais intensamente, mesmo que lá nunca tenha morado.
“Lembro-me de ter escrito um poema aqui na Mesa de Frades, sobre uma conversa que tinha tido. Não era uma história minha, mas era de uma pessoa muito próxima, que chorou muito à minha frente e foi muito forte. E é alguém tão próximo de mim que senti a história como minha e escrevia-a. A grande parte, naturalmente, é feita de coisas da minha vida. E, curiosamente, Alfama tem um grande peso. Porque é o bairro onde mais vivi. A minha vida rodou toda aqui. Foi onde o amor foi mais forte, onde surtiu mais resultados, onde a minha vida foi mais marcada.”
Muitos dos poemas, alguns com 18 anos e outros com meses de existência, deram origem a canções, mas muitas vezes eram textos tão íntimos que Diogo Clemente não queria entregar aos intérpretes com quem costuma trabalhar. Foi juntando temas, colocando-os numa gaveta, num processo que “não foi nada forçado” e que acabou por originar também um álbum. E, mesmo assim, havia versos tão intensos e vulneráveis que o músico preferiu não partilhar de todo. “Havia coisas que eram tão pessoais, tão próximas de mim ou eram tão fortes para mim e não queria estar a ouvi-las… Foram momentos absolutamente terapêuticos, são coisas mesmo minhas e não quero pô-las num álbum. Vou deixar gravado, um dia que morra podem editar”, diz, entre risos.
Há anos que os seus amigos e colaboradores lhe pediam e perguntavam por um disco. “Toda a gente dizia: como é que isso não acontece? Mas foi agora que foi natural, apeteceu-me fazer agora. Tornou-se um lugar muito agradável e quero que seja, sobretudo, isso.”
Para gravar Amo-te e Outras Coisas P’ra Te Dizer, passou cinco dias a viver num estúdio em Vila Nova de Gaia, com vista sobre o Douro. Gravou cerca de 20 temas. Embora tivesse uma enorme bagagem em torno dos processos de gravação, a experiência de cantar perante o microfone era nova — e arrepiante, sobretudo tendo em conta a natureza íntima dos poemas.
“Uma coisa é fazer as canções, mas isto para fazer fogo é preciso uma voz para cantar. E aquilo só existe efetivamente no momento em que se interpreta. Eu nunca tinha passado pela experiência de gravar um álbum a cantar, apesar de ter dirigido com a maior reverência as vozes mais especiais que conheço, de grandes fadistas, e de conhecer o que é a experiência do canto. Mas chegar à frente do microfone e cantar… Achei que seria um lugar tranquilo para mim pela experiência que tinha, mas fui absolutamente inocente. Não estava à espera de aquelas histórias me desmontarem. Tive situações em que ia só fazer um take e aquilo mexe comigo de uma forma que fiquei num sítio desconfortável. De repente percebi: isto não é um sítio desconfortável, simplesmente voltei ao sítio onde escrevi isto. E depois fica-se sentado a chorar… É uma tortura, não estava à espera.”
Por tudo isto, Diogo Clemente acredita que não voltará a fazer um álbum tão honesto como este. Compara mesmo a intensidade e verdade destes escritos às cartas de amor de Mariana Alcoforado, a freira portuguesa cujos textos se tornaram uma autêntica referência literária no campo do amor. “São os textos mais bonitos de amor que conheço. E este disco tem um bocadinho disso. Eu não queria fazer canções, elas é que aconteceram. Por isso, provavelmente não farei um álbum tão honesto. Não consigo, por mais honestidade que tenha. E também não queria passar pelo mesmo que passei para escrever este disco [risos].”
Musicalmente, não é um disco de fados. “Tem fado, mas não tem fados. Vá, tem um fado, o Senta-te À Mesa.” O imaginário da canção francesa e italiana do século passado, nomes como Charles Aznavour ou Jacques Brel, acabaram por influenciar o som do disco. “Sinto a presença muito forte da minha mãe com essas canções. Foram coisas muito fortes para mim e ainda hoje oiço e são casa. Influenciaram muito a minha composição. São músicas que também banharam a música portuguesa na altura, seguíamos sempre o que França dissesse. Temos todo um repertório do Carlos do Carmo que poderia ser do Jacques Brel. Foi música que me influenciou muito.”
Depois dos espetáculos com Carolina Deslandes — onde estará disponível a edição em vinil deste álbum, com “conteúdos” extra — Diogo Clemente irá apresentar este disco ao vivo. O músico explica que pretende conciliar os seus espetáculos com os de Sara Correia e com as colaborações que vai fazendo com outros artistas.
“Quero muito experimentar tocar isto ao vivo. Vou vivendo o dia a dia, acima de tudo quero viver sempre o prazer. Trabalhei com artistas que fazem 160 concertos por ano, e há pessoas como o Chico Buarque, com quem trabalhei e falei sobre isto, que diz que tem um prazer enorme em escrever e compor, e depois marca uns dias no Rio de Janeiro, em São Paulo, uns dias em Paris, uns em Lisboa… Pronto, são os concertos dele. São perspetivas diferentes. E aqui também me identifico um pouco com o Chico Buarque. Não via o meu projeto a ser um lugar de reprodução massiva. Acima de tudo, preciso de tempo para produzir. Mas quero muito fazer alguns concertos.”
A perda da tradição oral do fado e a nova vaga de talentos
Enquanto produtor e compositor, Diogo Clemente tem sido determinante para a evolução do fado ao longo das últimas duas décadas, trabalhando com muitos dos principais nomes do género. É como se o fado tivesse diferentes dimensões. Numa casa de fados, o local de culto sagrado, o espaço primordial da sua existência, importam as regras da missa. “O fado é o fado, é intemporal. É assim, foi assim que nasceu e é assim que deve ser. Que ninguém procure que isto tenha que ter uma evolução.”
Mas, da porta para fora, acredita que é possível “fazer um mundo inteiro”. “Se se quiser fundir o fado com heavy metal, está tudo bem. Nos anos 60 já se dizia que o fado não é o que era. Nos anos 80 também. Foi sempre uma maré. No entanto, esse assunto sempre foi da porta da igreja para fora. Dentro de uma casa de fados, não é assunto.”
Embora sinta que a tradição oral do fado, que considera “preciosa e insubstituível”, se esteja a perder graças à perda dos “mais velhos” e da “invasão das tecnologias” — “a cultura fadista cai quando se baseia na Wikipédia e não na tradição oral” —, por outro lado também tem esperança numa nova geração que tem aparecido muito ligada às casas de fados.
“Com a aquisição das casas de fado por uma quantidade de guitarristas — como o Fado ao Carmo, O Corrido, a Mesa de Frades, a Parreirinha de Alfama —, acredito que isso está a ser responsável por uma nova vaga de novos e incríveis fadistas. Há uma nova vaga de cultura fadista nas casas de fado. Claro que as ruas de Alfama estão muito diferentes. Olhamos como vampiros uns para os outros, identificamo-nos, mas todo o ambiente é diferente. E não é pior, é diferente. Não há momento em que a frase do Ary dos Santos tenha mais força: Alfama não cheira a fado, mas não tem outra canção.”