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E quando é ele que não quer ter sexo?

Os preconceitos dizem que quando não há sexo num casal heterossexual é porque "ela não quer". Mas a verdade é que o desejo dos homens não sobrevive a tudo. Tentámos descobrir porquê.

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“Tive praticamente de implorar para que o meu marido fizesse amor comigo na nossa noite de núpcias”. O relato é de uma mulher anónima, de 31 anos, que escreveu diretamente da África do Sul ao The Guardian a contar os problemas que enfrenta num casamento sem sexo. À semelhança dela, muitos outros leitores sentiram necessidade de desabafar e trocar dois dedos de conversa com o jornal britânico, que dias antes publicara um artigo com dicas para melhorar a relação sexual dos casais. A falta de sexo não é um tema novo, mas é seguramente pouco debatido quando se invertem os papéis: e se, ao contrário do que estamos habituados a ler, ouvir e dizer, for o homem que não tem apetite sexual?

Ultrapassados os três anos de namoro, a rotina instalou-se na relação de A.*. A frequência do sexo foi diminuindo progressivamente, até que a ausência total de intimidade protagonizou os últimos dois meses do namoro. “Ele preferia de manhã. Eu preferia à noite e, a essa hora, ele dizia sempre que tinha sono, que no dia seguinte acordava cedo”, recorda ao Observador. A. levou tantas “tampas” que pura e simplesmente deixou de tentar, reduzindo-se a ser alguém “que estava ali para quando ele finalmente tivesse vontade”. O casal perdeu a espontaneidade e, mais ainda do que a falta de sexo, foi isso que ditou o fim. “Os problemas no trabalho, os pais, a inspeção do carro e as mais pequenas coisas eram suficientes para o deitar abaixo, deixando-o num canto onde eu não entrava, mesmo que estivesse toda nua”.

"A ideia de que o homem está sempre disponível é um mito que ainda está muito presente na sociedade."
Fernando Mesquita, sexólogo

O homem está sempre predisposto, vontade nunca lhe falta e é quase sempre ele a iniciar o contacto. As ideias preconcebidas são muitas e estão enraizadas numa sociedade patriarcal que está pouco habituada a discutir o sexo, ou a falta dele, embora o use como ferramenta de marketing para vender os mais variados produtos.

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Existem preconceitos. Do género, “se ele não está interessado em mim é porque é gay ou, então, está com outra. Às vezes, deixa-se de ser tão afetivo com o outro para não criar ilusões. Quem não está tão interessado em ter sexo, deixa de ser tão carinhoso porque não quer criar ilusões”, diz a sexóloga Marta Crawford.

Se num passado não tão remoto quanto isso se pensava que a eventual falta de desejo era específica das mulheres, atualmente, as coisas estão mais equilibradas. Cada vez mais homens procuram ajuda e não é de todo incomum ver mulheres a dar o primeiro passo nesse sentido, mesmo quando o sintoma está do lado deles, assegura Fernando Mesquita, terapeuta em sexologia, que recebe muitos casais “nessas condições”. “A ideia de que o homem está sempre disponível é um mito que ainda está muito presente na sociedade.” Na mentalidade deles existe um grande constrangimento e frustração de cada vez que o desejo sexual não é “normativo”, esclarece o especialista.

Stress, depressão, disfunção erétil, falta de testosterona, trauma e até pornografia são fatores que podem contribuir para uma menor disposição sexual entre os homens. Quando não se trata de um problema de saúde, é a cabeça que comanda o desejo sexual, como já antes escreveu o Observador.

S.* vivia junta há dois anos com o namorado quando o sexo começou a rarear. Sentada à mesa de um café lisboeta, recorda ao Observador com alguma exatidão as vezes que se sentiu rejeitada, quando tentava trocar intimidades com o parceiro e ele reprimia-se, afastando-a. “De cada vez que íamos dormir ou estávamos deitados no sofá, eu começava a acariciá-lo e, quando chegava às partes íntimas, ele afastava as minhas mãos. Isso deixava-me sempre triste e frustrada.” Nos últimos seis meses da relação não houve sexo. S. refugiava-se na pornografia que via à porta fechada. Anos depois de a relação ter chegado ao fim, consegue perceber os motivos da diminuição sexual do então namorado: “A relação sexual nunca foi muito fácil. Ele perdeu a virgindade comigo aos 28 anos. No início não era um problema de rejeição, antes de performance, mas com o passar do tempo o sexo não evoluiu. Acho que o cansaço, o stress do trabalho, a autoestima e a influência negativa da família contribuíram para que tudo isto acontecesse”.

"De cada vez que íamos dormir ou estávamos deitados no sofá, eu começava a acariciá-lo e, quando chegava às partes íntimas, ele afastava as minhas mãos. Isso deixava-me sempre triste e frustrada."
S., testemunho anónimo

“Eu não sou como os outros. Os outros são super-heróis na cama”

A falta de desejo sexual pode corresponder ao Transtorno do Desejo Sexual Masculino Hipoativo. No DSM-5 (Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais), encontra-se a seguinte definição: “Pensamentos ou fantasias sexuais/eróticas e desejo para atividade sexual deficientes (ou ausentes) de forma persistente ou recorrente”, sendo que os sintomas definidos persistem por um período mínimo de aproximadamente seis meses. De acordo com este manual, cerca de 6% dos homens mais jovens, com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos, e 41% dos homens mais velhos, entre 66 e 74 anos, têm problemas ao nível do desejo sexual. No entanto, “a falta de interesse persistente pelo sexo, com duração de seis meses ou mais, afeta apenas uma pequena proporção de homens com idades entre 16 e 44 anos (1,8%).”

Isto não é uma questão de género, diz Marta Crawford ao Observador, para explicar que a falta de desejo sexual nos homens manifesta-se de forma semelhante à falta de vontade das mulheres. A sexóloga reitera a noção de uma sociedade hiperssexualizada, que promove a ideia errada de uma “potência sexual masculina”. Muitas vezes, acontece o homem não estar disponível por motivos relacionados com a vida profissional, com a vida interior ou com a própria relação a dois.

Num artigo de 2016 da BBC, lê-se que durante décadas persistiu a ideia de que os homens têm mais desejo sexual do que as mulheres — até porque existem vários estudos que confirmam esta descoberta. O artigo continua, citando “evidências mais recentes”, que sugerem que as diferenças entre os géneros podem ser “mais subtis ou até mesmo não existentes”, dependendo de como definimos e tentamos medir o desejo. Há estudos — tal como este — que referem que os homens são tão prováveis quanto as mulheres de ser o membro do casal com menos desejo sexual. Investigações há muitas, mas, ainda assim, as sugestões assinaladas dão que pensar.

"O homem é logo avaliado pela sua ereção. A ereção é o sinal para a outra pessoa de que ele está disponível, antes de estar junto o homem já está a ser avaliado. Nesse aspeto, existe uma maior pressão sobre os homens do que sobre as mulheres — é mais difícil perceber a disponibilidade das mulheres."
Marta Crawford, sexóloga

“Eu não sou como os outros, os outros são super-heróis na cama”, exemplifica Crawford. Quando um homem se compara com os outros, diz a sexóloga, identifica-se como sendo diferente porque não está sempre disponível para o sexo. “O homem é logo avaliado pela sua ereção. A ereção é o sinal para a outra pessoa de que ele está disponível. Antes de estar junto com alguém, o homem já está a ser avaliado. Nesse aspeto, existe uma maior pressão sobre os homens do que sobre as mulheres — é mais difícil perceber a disponibilidade das mulheres”, continua. À semelhança do que disse numa entrevista de vida ao Observador, Crawford insiste que tanto homens como mulheres continuam a achar que o sexo é apenas penetração, e salienta: “O homem pode ter sexo extraordinário sem ereção. A sexualidade é muito mais abrangente”.

Quando existe persistência de sintomas, talvez o melhor seja fazer um despiste médico. Crawford enuncia alguns motivos mais abrangentes que possam ser responsáveis pela diminuição de desejo:

  • alteração ao nível da testosterona;
  • problemas neurológicos (como hipertiroidismo ou diabetes);
  • psicopatologias, como depressão ou perturbações de ansiedade — “Quando um homem está deprimido, deprime em todos os sentidos”;
  • medicação, uma vez que existem fármacos “que podem ter efeitos colaterais sobre a libido”;
  • stress;
  • autoimagem negativa — “Um homem que não se sente interessante ou bonito pode acionar mecanismos de defesa”;
  • valores negativos em relação à sua própria sexualidade — “O não sentir-se capaz e ter receio de falhar pode fazer com que a pessoa evite o estímulo sexual porque não se sente competente e não gosta de se sentir avaliado”;
  • disfunção erétil;
  • ejaculação precoce;
  • medo de contrair doenças sexualmente transmissíveis — “Certo que já houve momentos da nossa história em que o motivo para ter medo era muito maior do que é agora, mas ainda há pessoas muito receosas da sua saúde”;
  • problemas relacionais, como degradação da imagem do parceiro, alteração dos afetos ou hostilidade na relação;
  • trauma, físico ou psicológico, embora isso seja difícil de definir — “Imaginemos uma relação durante a qual foram vividos momentos traumáticos. Após o divórcio, e com o retomar da vida amorosa, pode existir dificuldade em relacionar-se com um novo parceiro/a. Mas também há traumas da infância e da adolescência, relacionados com o próprio desenvolvimento sexual, com a forma como lidamos com o corpo, etc. Há situações em que as pessoas ficam a pensar nos problemas durante anos sem nunca perguntar”;
  • pornografia — “Não é bem uma diminuição de desejo sexual em si. A resposta sexual está intacta, mas a forma de realização sexual exclui a parceira. Pornografia não é realidade, é ficção”.

A estes pontos, Fernando Mesquita acrescenta a possibilidade de existir uma terceira pessoa ou, então, a experiência alargada da parceira/o como algo intimidante.

A discrepância do desejo sexual no casal, quando um tem mais vontade do que o outro, não é suficiente para diagnosticar o transtorno. A falta de desejo pode não ser mais do que expectativas desfasadas, alertava Patrícia Pascoal, responsável pela Consulta de Sexologia da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, num artigo do Observador datado de 2015. Quando isso acontece numa relação, instala-se o desequilíbrio. Nestes casos a terapia sexual conjugal pode ser uma ajuda válida.

“Não temos sempre o mesmo desejo”, alerta Marta Crawford. “O desejo vai-se alterando ao longo da vida. Só existe um problema quando a outra pessoa da relação sente que algo se alterou e identifique uma situação prolongada que cause mau-estar ao casal.

Muitos casais preocupam-se em saber qual a média “ideal” de relações sexuais por semana ou por mês, como se fosse preciso preencher uma quota. Fernando Mesquita faz questão de sublinhar que “não existe um número ideal, mas sim um número satisfatório para os dois”. O problema é precisamente quando existe uma diferença em termos de vontade. E quanto mais cedo se identificar o problema, melhor.

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Carreira, família e amor. O desejo não sobrevive a tudo isto

Ana Alexandra Carvalheira, psicoterapeuta, sexóloga e investigadora no ISPA – Instituto Universitário, liderou um estudo em três países com vista a analisar os motivos por detrás pela falta de interesse sexual nos homens heterossexuais. O estudo publicado no Journal of Sexual Medicine teve por base um inquérito online feito a 5.255 homens com idades compreendidas entre os 18 e os 75 anos, oriundos de Portugal, da Croácia e da Noruega. A falta de interesse sexual prevalente por dois meses (pelo menos) foi relatada por 14,4% dos participantes, sendo que a associação mais recorrente foi a disfunção erétil (48,7%). A perda de desejo verificada foi maior na Noruega (22%) e menor em Portugal (10%).

“Homens com baixos níveis de confiança na função erétil, sem atração pela parceira e em relações de longa duração eram mais propensos a experimentar falta de desejo sexual do que os homens com elevados níveis de confiança, que se sentiam atraídos pelas parceiras e em relações de curto prazo”, lê-se no estudo disponibilizado ao Observador pela investigadora portuguesa.

"Até então sempre considerámos que o desejo sexual masculino, quando comparado com o das mulheres, era mais sólido, quase inquestionável, o que não é verdade."
Ana Alexandra Carvalho, sexóloga e investigadora no ISPA - Instituto de Lisboa

O stress profissional foi o motivo mais vezes relatado associado à falta de vontade sexual. As conclusões do estudo referem que a falta de desejo sexual entre os homens heterossexuais está associada a variáveis intrapessoais (como a confiança na função erétil), interpessoais (duração da relação, atração do parceiro) e socioculturaisNo estudo também se determina que a falta de desejo sexual tem sido mais estudada nas mulheres em detrimento dos homens. 

O desejo sexual masculino sempre foi tido como uma entidade muito sólida e constante, quase inabalável”, diz a investigadora Ana Alexandra Carvalheira.

Ao Observador, a investigadora portuguesa explica que decidiu avançar com o estudo citado porque não raras vezes chegam-lhe ao consultório homens na casa dos 30 anos que relatam diminuição do desejo sexual. “Até então sempre considerámos que o desejo sexual masculino, quando comparado com o das mulheres, era mais sólido, quase inquestionável, o que não é verdade”, aponta Ana Alexandra Carvalheira, que explica que o desejo masculino é tão afetado quanto o  feminino.

O estudo que liderou revela que a perda de desejo nos homens entre os 30 e os 40 anos está em grande parte relacionada com o investimento e a ascensão na carreira. “O stress profissional é um fenómeno dos tempos modernos”, diz, fazendo referência a uma sociedade que pressiona para nos realizarmos em todas as esferas da vida — da exigência de formação contínua à dimensão social, passando pelas pressões cultural, familiar, amorosa e ainda sexual. “O desejo não sobrevive a isto tudo.” A afirmação leva a crer que as gerações anteriores, que não enfrentaram este tipo de pressões, terão sido menos afetadas, com um desejo sexual particularmente mais estável. “A vida moderna está a afetar o desejo sexual dos homens. Há três razões que os homens apontam para esta diminuição: stress profissional, cansaço e fatores relacionais.”

Outro fenómeno dos tempos modernos, refere a investigadora, é a pornografia: “Há homens entre os 30 e os 40 anos com perda de desejo sexual porque mantêm um padrão de sexualidade a solo com o consumo de pornografia”. Ana Alexandra Carvalheira fala de uma sexualidade sem investimento erótico, solitária, fácil e rápida. “O homem acaba por utilizar o sexo como um escape para lidar com o stress.” 

“Há casos de homens que procuram ajuda sozinhos por terem falta de desejo pela parceira ou pelo parceiro, estão mais direcionados para o uso da pornografia, para a masturbação”, diz também o terapeuta sexual Fernando Mesquita. A pornografia passa a ser um problema quando os homens preferem-na à interação sexual. “Às vezes, essa preferência é clara mas não é feita de forma consciente.”

O transtorno do desejo sexual hipoativo é a queixa mais comum das mulheres, não dos homens. Mas começa a existir nos homens com mais frequência”, salienta a investigadora.

Pornografia foi precisamente o problema que P.* teve de enfrentar. Depois de alguns encontros com o rapaz que conheceu no Tinder, finalmente ouviu a confissão de que há muito esperava: a falta de ereção era consequência do vício na pornografia. P. ainda ponderou se ele seria gay, mas as vezes que foi sexualmente recusada estavam apenas relacionadas com a ideia mais extrema que ele tinha do sexo. “Ele queria mais do que o sexo pela via tradicional. Cheguei a ser recusada e achar que não era atraente o suficiente”, conta ao Observador. P. sentia-se frustrada quando tentava fazer sexo oral e nada funcionava. “Era muito difícil estimulá-lo.”

"Aos homens foi transmitido que uma boa performance sexual é fundamental para a masculinidade. As mulheres tiveram uma socialização mais repressiva. Agora estamos a caminhar para um meio-termo."
Ana Alexandra Carvalheira, sexóloga e investigadora

O desejo sexual dos homens não é tão flutuante como o das mulheres, já que o desejo das mulheres varia em função do ciclo menstrual e do próprio ciclo de vida, como a gravidez ou a menopausa, diz ainda Ana Alexandra Carvalheira. Mas a investigadora faz um alerta: o desejo masculino não é nenhum super-herói. “Pode ser normal um homem fazer sexo menos vezes porque está cansado ou porque teve um dia difícil e, quando aterra no sofá, só quer é dormir. Mas também é verdade que os homens, mais do que as mulheres, usam o sexo para aliviar o stress. Já as mulheres não pensam assim”, acrescenta. “Aos homens foi transmitido que uma boa performance sexual é fundamental para a masculinidade. As mulheres tiveram uma socialização mais repressiva. Agora estamos a caminhar para um meio-termo.”

Tabu: os homens que não conversam entre si

“Os homens não falam entre si. Falam sobre o número de parceiras/os que tiveram, mas jamais comentam que perderam o desejo sexual ou a ereção”, destaca Ana Alexandra Carvalheira. Fanfarronices em detrimento das fragilidades, porque uma coisa é comentar experiências sexuais caricatas e/ou interessantes, outra é desabafar receios. “Eles não partilham porque são capazes de se sentir diferentes do que é mainstream”, tenta esclarecer Marta Crawford. “Em regra, os homens são menos participativos do que as mulheres.”

Em março de 2015, um artigo da publicação The Bustle dava destaque à iniciativa do Reddit, que procurou saber o quanto os homens realmente falam com os amigos sobre as respetivas vidas sexuais. A “cruzada” do Reddit não pode ser equiparada a um estudo rigoroso, de âmbito académico, mas não deixa de ser curioso analisar as respostas dadas: ao contrário do que possamos pensar, os homens podem não falar assim tanto de sexo. Exemplo disso é a resposta dada por de um homem com mais de 50 anos, que escreve que o cenário típico do nosso imaginário — “os homens a falar sobre sexo nos balneários”  — “é capaz de ser o mito mais impreciso sobre a sexualidade masculina e as relações masculinas”.

Imagem de uma das respostas publicadas no artigo da Bustle.

Há homens que, numa fase inicial, tentam lidar com a situação em mãos sozinhos, assumem que o problema é deles e, por isso, tentam não envolver a parceira. O retrato é feito por Fernando Mesquita, com base na experiência em consultório. O terapeuta refere que os homens responsabilizam-se muito e sentem vergonha. “Acho que é uma questão cultural. O assumir que existe dificuldade é um risco para a masculinidade.”

"Parece que o sexo está disponível para quem quiser saber e perguntar, mas, por outro, é fundamental que a sexualidade seja conversada, mastigada e esclarecida."
Marta Crawford, sexóloga

Crawford salienta que sempre houve tabu relativamente ao sexo, mas que atualmente existe uma nova dinâmica: “O sexo está em todo o lado e toda a gente sabe procurar por respostas. Supostamente estamos todos muito esclarecidos, mas isso não é verdade. As informações que encontramos na internet são muito díspares e nem sempre os sites que as tratam são sérios. Por um lado, parece que o sexo está disponível para quem quiser saber e perguntar, mas, por outro, é fundamental que a sexualidade seja conversada, mastigada e esclarecida”.

Pessoas assexuais: quando o desejo não faz mesmo falta

Falar de desejo sexual é coisa que não se aplica de todo quando em causa estão pessoas assexuais. A definição de pessoa assexual refere-se a alguém “que não sente atração sexual pelo outro, independentemente do género“, explica ao Observador a antropóloga e a investigadora Rita Alcaire, que se encontra a desenvolver um doutoramento na Universidade de Coimbra voltado para a assexualidade e para os Direitos Humanos. As pessoas assexuais podem ter libido e masturbar-se, diz, porque “em termos fisiológicos, tudo funciona”. A diferença está na falta de vontade para ter relações sexuais. Ainda assim, toques e conversas íntimas são passíveis de acontecer.

Para o seu projeto de doutoramento, intitulado “The asexual revolution: discussing human rights in Portugal through the lens of asexuality”, Rita Alcaire entrevistou várias pessoas que se identificam como assexuais. Algumas delas tinham práticas masturbatórias — algo tido como mais “instrumental” e não ligado a fantasias sexuais.

Na demanda por testemunhos, Rita Alcaire pensou que ia encontrar mais mulheres do que homens. “Culturalmente, prevê-se que as mulheres não tenham tanto desejo como os homens. Pensava que ia encontrar mais mulheres disponíveis para falar comigo. A ideia caiu por terra. A diferença não foi significativa para se poder dizer que os homens têm mais interesse por sexo do que as mulheres.” Curiosamente, uma das entrevistadas da investigadora era bissexual e admitiu sentir mais compreensão por parte dos homens do que das mulheres nas vezes em que não queria ter sexo. “Esta pessoa sentia-se romanticamente ligada a ambos os sexos, mas não sentia atração sexual. Não queria sexo nas relações, mas a frequência era negociada.” Evitemos confusões, se possível: “Pessoas assexuais não são pessoas que obrigatoriamente não têm sexo. Depende do que é negociado em casal.”

Não é possível determinar quantas pessoas assexuais existem em Portugal, país onde o conceito “é largamente desconhecido”. A maioria dos estudos internacionais não são específicos para a população assexual, diz a investigadora. Só muito recentemente é que aquela que é considerada a maior comunidade do mundo realizou um censo para a população assexual — o processo começou há dois anos e ainda não está concluído.

* Estas pessoas entrevistadas pelo Observador não quiseram ser identificadas

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