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FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Leonel Vieira. "Não aceitei fazer mais comédias depois de ter feito os filmes que mais dinheiro deram neste país em 100 anos"

É o responsável pela adaptação de "O Crime do Padre Amaro" para a RTP. Em entrevista, o realizador Leonel Vieira fala do preconceito comercial, do efeito da pandemia e do futuro no streaming.

Talvez cause surpresa que o realizador Leonel Vieira tenha sido obrigado a fechar uma das suas produtoras durante a pandemia, a Stopline. Ele que, só com o remake de “Pátio das Cantigas”, fez 600 mil espectadores. Também será difícil de imaginar que Leonel Vieira tenha conseguido romper o mercado audiovisual brasileiro, em nome próprio, com um muito bem criticado “Último Animal” (vai estrear-se em Portugal este ano). E junte-se mais uma informação: neste momento, o realizador e produtor português já tem um pé, através de Espanha, nas plataformas de streaming.

Leonel Vieira conta já com 28 anos de carreira. Parece revigorado. Encontramo-lo à porta da Volf Entertainment, de que faz parte, na Rua Luciano Cordeiro, em Lisboa. Vem de óculos escuros, camisa, está descontraído. Antes de ser fotografado pelo Observador, pergunta: “Posso só ir buscar um casaco?”. E assim foi. Há quem tenha amuletos, um tipo de corte de cabelo ou até uma reza. O realizador português precisava do casaco para se sentir na pele que anda a construir desde os anos 90. É que num mercado como o português, que agora se quer universal, ou se segue confiante num rumo ou podemos cair na terceira via para qualquer pessoa que queira fazer disto vida: borda fora.

Estreou-se nas longas metragens em 1998, o mesmo ano em que foi estreado o filme “Zona J”. Ao mesmo tempo, realizou títulos como “Filme da Treta” (2006), “Arte de Roubar” (2008), “O Pátio das Cantigas” (2015), “Leão da Estrela” (2015) e “Canção de Lisboa” (2016) e conseguiu a proeza, segundo o próprio, de “não ter tido um desastre”. Agora, volta a trabalhar com a RTP, um dos seus parceiros mais antigos, na adaptação da obra de Eça de Queiroz, O Crime do Padre Amaro, que se estreia, em formato de série, na segunda-feira 16 de janeiro. É um regresso a um universo de época onde esteve uma vez em 2002, com o seu filme luso-brasileiro “A Selva”, adaptação do livro com o mesmo nome de Ferreira de Castro. Filmou em Leiria, esteve durante um ano envolvido na escrita e encarou o projeto como uma espécie de reerguer da sua própria profissão, depois de uma pandemia que lhe criou “problemas que não deseja a ninguém”. “Estive a falar com uns produtores estrangeiros que viram o ‘Crime do Padre Amaro’ e não acreditaram quanto tinha custado. Não acreditam que se possa filmar com aquilo. O que está ali realizado custa mais dinheiro do que aquilo que de facto custou. O que há é uma enorme dedicação e um esforço tremendo para multiplicar os meios que tínhamos. O orçamento desta série era maior. Só que como determinei que ia fazer este projeto, não voltei atrás. Tive de encontrar todas as condições no dia-a-dia para que não se percebesse que nos faltava dinheiro”, diz numa longa conversa com o Observador.

Como sempre “disse o que pensava”, foi criando inimigos, ainda que não saiba bem por onde andam. Pensou em emigrar mas não aconteceu. Acredita que no cinema todos têm espaço, mas que o financiamento público “não pode ir todo, como tem ido, para o cinema de autor”. Lança críticas ao Instituto do Cinema e do Audiovisual e à política cultural, aos atrasos sucessivos nos apoios e ao medo daqueles que diz serem os “donos disto tudo”, muito “avessos a qualquer tipo de mudança”. Ainda assim, e sempre com o casaco vestido, quer ser positivo. Mesmo quando o tema é a ausência de espectadores nas salas portuguesas. Anda tudo de cabeça para baixo a olhar para o telemóvel e cá, poucos querem ver cinema português. Sinais dos tempos. Ou sinais de que Portugal está ainda muito atrasado? Está, está. Será a culpa de Leonel Vieira? Vamos ver. “Não tenho filmado. Desde que essa quebra de espectadores aconteceu não tenho filmado. Também estive no meu pousio. Garanto que estou a fazer de tudo para voltar a fazê-lo”, garante. A confiança pode ser tramada. Ou não. Pode ser também o caminho para o sucesso.

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[o trailer de “O Crime do Padre Amaro”:]

Porque é que lhe pareceu relevante pegar nesta obra “mais controversa” de Eça de Queiroz sobre a religião?
Podia ter sido pertinente há 20 anos se tivesse conseguido fazê-la. Não foi uma decisão consciente, foi a minha oportunidade de a poder fazer. Quando li a obra e fizeram o filme mexicano e depois o português, entre 2002 e 2005, aí não teria condições. Muito menos no formato de série, nem achei que os direitos estariam disponíveis. A pertinência tem a ver com a grandeza da obra. E se não fosse com essa grandeza, seria por ser um relato de conflitos muito potente e elaborado sobre o ser humano. É uma história sobre como o ser humano pensa e se comporta. Tem a discussão social e religiosa, mas, primeiro, é sobre os pequenos detalhes do nosso comportamento. E isso fascina-me.

É sempre atual?
Tem uma atualidade brutal, por exemplo. Não temos a sensação de que estamos a ter uma discussão que não faz sentido. Provavelmente a abolição da escravatura tem pertinência por causa da nossa memória coletiva, mas hoje, nos países ocidentais, ainda se fazem filmes sobre isso. A discussão sobre o papel da Igreja ainda não está nem no adro. A Igreja católica precisa de acompanhar a mudança dos tempos.

Interessa-lhe que as séries e os filmes façam parte da reflexão?
Interessa-me tudo o que me incomoda e me faz pensar de alguma forma. Fazer um projeto, de alguma maneira, serve para refletir sobre isso. Tenho de passar meses a pensar sobre os conflitos. Existe uma escala de valores e essa decisão é minha. Como é que a personagem se comporta. Como é que vai dizer determinada frase de uma determinada forma. É uma decisão que me cabe a mim.

Já passaram muitos anos desde a sua primeira adaptação de um livro português, A Selva de Ferreira de Castro.
Vinte anos.

Sendo esta uma série, o que é que lhe trouxe mais dores de cabeça?
Havia um interesse pela história, mesmo que não fosse do Eça. Vi dois filmes do norte da Europa, muito premiados, adorei-os. Já vi várias vezes.

Quais são?
Não me lembro, nunca me lembro dos títulos. E lembro-me pouco dos nomes das pessoas. São duas grandes falhas minhas. Comprei os filmes numa loja em Madrid, pela capa e pelos prémios. Eram religiosos. Mas não são conhecidos, só que são fabulosos. E porque é que gostei? Por tratarem este tema. Cada um de nós tem os seus interesses. Porque é que gosto do “Tudos Bons Rapazes” do Scorsese? Não sei. Fiz muitos projetos sem ser por interesse pessoal, foram oportunidades que surgiram de conversas entre operadores e produtores. Não me lembrei um dia de os fazer. Muitos dos projetos não foram vontade minha. Encarei como fazendo parte da minha profissão. Esta série pertence a outro universo: o da “Sombra dos Abutres”. Faço porque a mim me apetece falar daquilo. Colaborei nos guiões, tinha uma visão absolutamente clara.

"Queixamo-nos demasiado. Está mais nas nossas mãos transformar do que não fazer nada. É preciso protestar no lugar certo. Até isso é um trabalho. Mas não é preciso andar sempre nessa filosofia."

Não foram mudando?
Vão mudando sempre. Mas sabia claramente o que queria fazer. Nos detalhes, muda-se, claro. Mas não tinha grandes dúvidas, os atores sabem, os guionistas também.

Senti que há um upgrade visual ao nível da realização, da edição, da correção de cor. Está tudo ligado a haver mais dinheiro?
É uma parte da questão muito importante. Não acho que em Portugal o problema seja só dinheiro. É fundamental. Mas é preciso resolver outras questões. Estive a falar com uns produtores estrangeiros que viram o “Crime do Padre Amaro” e não acreditaram quanto tinha custado. Não acreditam que se possa filmar com aquilo. O que está ali realizado custa mais dinheiro do que aquilo que de facto custou. O que há é uma enorme dedicação e esforço tremendo para multiplicar os meios. O orçamento desta série era maior. Só que como determinei que ia fazer este projeto, não voltei atrás. Tive de encontrar todas as condições no dia-a-dia para que não se percebesse que nos faltava dinheiro.

Não é mau ao fim de tantos anos de carreira continuar com esse dilema?
É, é. É muito raro ter o dinheiro que se deseja para filmar. Claro que há consciência de quando há mais condições. No “A Selva” tinha mais condições, talvez. Foi uma grande escola porque me convidaram para realizar e supervisionar a escrita de guião. Acho que não tive a maturidade para fazer uma adaptação com a liberdade e a segurança que é preciso ter. Não tinha. Muitos dos erros que estão nesse filme surgiram de não saber por onde ir. Lembro-me dessas dúvidas enormes. Desta vez, tinha tudo mais claro. O que podia e não podia fazer. Já o dinheiro é uma condição importantíssima na nossa cinematografia. Ainda não estamos perto. Consegui aqui um pouco mais do que a normalidade. Mas posso dizer-lhe que há dois ou três projetos que estrearam que tiveram mais dinheiro do que esta série.

Portugueses?
Sim. Talvez não tenha achado quando viu.

Depende do que o que cada um faz com o dinheiro.
Exatamente.

Este salto qualitativo para uma série de época portuguesa também tem a ver com ter o trabalho desenvolvido com uma equipa brasileira?
A equipa de rodagem é toda portuguesa, mas fomos para o Brasil fazer a pós-produção. E tem a ver com o facto de ter trabalhado dez anos em publicidade. Tenho essa vantagem. A minha carreira mais longa é no cinema, depois faço incursões em televisão, como aconteceu com a “Conexão” ou o “Ballet Rose” e depois estou durante dez anos em publicidade. Trabalhei em estúdios muito bons na Europa, de Londres a Barcelona. Aprendi muito sobre as potencialidades técnicas da pós-produção. Esse caminho deu-me essa bagagem. A multiplicação dos pães aqui deve-se a conhecimento técnico. Tudo o que preparei sabia que dava para fazer.

A adaptação de "O Crime do Padre Amaro", a partir da obra original de Eça de Queirós, estreia-se esta segunda-feira, 16 de janeiro, na RTP1, às 22h45

PEDRO PINA

Qualquer autor português pode agora também olhar para o contexto universal. Este projeto pode ser uma história universal?
Ela vai ser. Já tem o interesse de uma das maiores distribuidoras do mundo.

Podemos saber qual é?
Não.

Mais para a Europa?
Sim.

Isso está-lhe sempre na cabeça?
Claro. A “Conexão” foi há 14 anos, comecei a produzir séries aí. Deixei de as realizar. Essa foi líder de audiências em Espanha. Teve uma excelente performance na RTP, com meio milhão de espectadores à meia noite. Foi nomeado ao FIPA D’Or em Biarritz (2010), que era o melhor prémio de séries televisivas na altura. Isto não acontece sempre que queremos, mas é possível. No “Crime do Padre Amaro” achei que o produto era muito local, mas de tão local tornar-se-ia universal. O relato que está ali ultrapassa qualquer cultura. Os que não são religiosos talvez o entendam, mas não terão tanta proximidade.

O público português pode ser também universal? Está em quase todas as plataformas de streaming…
Devemos olhar, primeiro, para dentro de portas. Ao fim de acertar e de falhar muitas vezes, percebi que é preciso identidade. Se têm uma força grande, de necessidade de serem contadas, isso nota-se. Se os projetos a têm, vão ultrapassar fronteiras. Mas não adianta só ter boas histórias. É um conjunto de pequenas felicidades juntas. E são tentativas. É preciso tentar fazer um bom guião, uma boa produção, um bom elenco e uma equipa de arte, mais um bom montador. E a banda sonora. Tudo. Se for tudo bom, existe essa chance. É preciso ter a consciência de que existe uma procura enorme no mundo por conteúdos audiovisuais. Há produtos que ficam pelo caminho e que não se distribuem. Há a tendência para dizer que há uma procura maior do que nunca, mas está relacionada com a qualidade.

E os agentes em jogo no mercado.
Também. Sempre existiu um excesso de produção de baixa qualidade.

Em Portugal?
No mundo. Que o público entende que não quer ver. Não se identifica, seja nas salas de cinema ou na televisão. São produtos que ficam pelo caminho. Ou que os próprios compradores nem veem quando compram. Isso sempre existiu. E continua a existir. Claro que a qualidade é algo muito relativo. Também aumentou brutalmente a quantidade de dinheiro que há no mercado.

E o país tem capacidade para pegar nessa fatia do bolo?
É como a transformação da rede de caminhos de ferro. Temos vários dilemas. Depende de nós. Mas temos oportunidade. Desde sempre que há queixume. Eu não me queixo. Nunca.

"Há sempre um tipo qualquer que tem de decidir e tem medo que corra mal, que lhe cortem o pescoço e a carreira acaba. As grandes empresas caem quase todas porque não fazem uma grande transformação. Mas tenho um pensamento positivo sobre isto. E envolve o público e os agentes que trabalham em cinema. As salas vão reajustar-se e vão ficar com uma quota do mercado."

Tem de se queixar de alguma coisa.
Não, não. Queixamo-nos demasiado. Está mais nas nossas mãos transformar do que não fazer nada. É preciso protestar no lugar certo. Até isso é um trabalho. Mas não é preciso andar sempre nessa filosofia.

Aqui há três anos deu uma entrevista em que disse que não há nenhum filme português que tenha ganho um prémio e depois tenha feito 100 mil espectadores. O Leonel Vieira faz parte de um grupo restrito de realizadores que está no top de audiências da cinematografia portuguesa. Não se sente “culpado” por estarmos perante uma razia de espectadores nas salas neste momento?
Não tenho filmado. Desde que isso aconteceu, não tenho filmado. Também estive no meu pousio. Garanto que estou a fazer tudo para voltar a fazê-lo.

Como é que isto se resolve?
Não acredito que tenha uma solução rápida e fácil. Podemos é tentar resolver, mas ainda não percebemos bem as causas e como estão alicerçadas. Sabemos que tivemos a pandemia, que foi um gatilho.

Uma desculpa.
Sim. As bilheteiras estavam a crescer em 2019 isoladamente, mas não sabíamos bem porquê. Mas há muito tempo que falamos das crises das salas. Vão ter de se adaptar à transformação da sociedade, das artes e do entretenimento. São um instrumento disto tudo. Tendo em conta que as artes se vão transformando tal como o nosso pensamento cívico ou político, estes instrumentos que nasceram por necessidade também vão ter de seguir essa tendência. As máquinas das grandes empresas têm uma tendência enorme de não querer mudar.

Medo.
É, é. Há sempre um tipo qualquer que tem de decidir e tem medo que corra mal, que lhe cortem o pescoço e a carreira acaba. As grandes empresas caem quase todas porque não fazem uma grande transformação. Mas tenho um pensamento positivo sobre isto. E envolve o público e os agentes que trabalham em cinema. As salas vão reajustar-se e vão ficar com uma quota do mercado.

Temos grandes realizadores como o Scorsese a fazer filmes só para a Netflix. Mudou muito.
Vão ter notícias boas sobre a minha carreira nos próximos tempos.

Surpreendentes?
Inesperadas.

"Porque é que cá se tem vergonha da comédia? Há coisas que precisam de ser construídas. Eu não gostava de comédias, sabe."

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Certo. Já lá voltamos.
As salas de cinema têm de perceber que, como negócio, não vão ocupar 50%. Nas últimas décadas o theatre ficava com 30%, o home video ficava com outros 30, e depois o resto ia para o cabo ou free TV. O streaming apareceu e está a criar uma mudança de paradigma. Porque isto não é um DVD. Mas vai haver um reajuste, até em perda. Vai continuar a crescer, mas não sempre. A televisão linear, como dizia o brasileiro, morreu. A dos anos 60, em que o modelo é sempre o mesmo, com o mesmo alinhamento, espaços publicitários, um pequeno ecrã. Onde se consumia mais era na televisão aberta. As pessoas não se dão conta, mas era assim. As gerações novas estão educados de forma diferente. Gostam de consumir conteúdos em vários meios, como ecrãs pequenos. Até já eu o começo a fazer. É o que tenho, viajo muito. Se o que quero ver está ali dentro, a qualidade e o som é brutal, faço isso. Até eu vou habituar-me. A minha filha não olha para uma televisão enorme e dispensa ir ao cinema. Há um público que não quer trabalhar tantas horas, que quer viajar fisicamente, mas também pela internet. Isso tem um domínio sobre a vida que nós não tínhamos.

Esse público não poderá exigir mais do que os conteúdos portugueses que fazemos? O filme que fez mais espectadores foi o “Curral de Moinas”.
Se faço um “Pátio das Cantigas 2”, há muita potencialidade de ser um grande sucesso. Essa geração foi ver o primeiro. Para fazer um milhão de espectadores, chegou a quase toda a gente. O que é que representa o “Curral de Moinas”? Um filme-marca. É esta a travessia que estamos a fazer. Substituíram com gosto pelo não linear. Quando fui jurado em Shangai não havia uma paragem de autocarro, até os senhores da construção civil estavam ao telemóvel a ver uma série ou filme.

Mas o que é isso de um “filme-marca”?
As pessoas só se deslocam às salas se o título é uma marca. Ou ouviram falar na imprensa, ou ganhou imensos prémios.

Ou se for um remake.
É marca, sim. As pessoas movem-se para não correr riscos.

Mas quem faz esses filmes também parte de um lugar seguro.
Nunca é totalmente, mas é o mais próximo, claro. Porque é que se fazem remakes?

Agora estamos na era da nostalgia.
Há uma crise financeira brutal e há muitos financeiros a mandar neste negócio. Nunca há garantias de nada nesta área. O “Pai Tirano” foi-me proposto e eu não quis fazer, porque sempre achei que nunca mais queria fazer. Naquela época foi um desafio tremendo.

Porquê?
Por tudo. Podia estar completamente errado. Como quis fazê-los, havia muita gente contra. Foi uma luta brutal. Já me ligaram 500 pessoas a pedir para fazer, mas disse que não. Quer dizer, se o Scorsese já fez, e é o tipo que mais admiro no cinema… nunca digo nunca. Podem entregar-me esse projeto e fascinar-me, claro. Sobre remakes portugueses, estamos atrasados. A nossa indústria está muitíssimo atrasada. Podíamos tê-los feito há 20 ou 30 anos. Podíamos já ter comédias originais como os argentinos ou os espanhóis. Já viu quem ganhou os prémios todos no último ano? Foi o “El Patron”. Porque é que cá se tem vergonha da comédia? Há coisas que precisam de ser construídas. Eu não gostava de comédias, sabe.

"Não sou medroso. Vou pelo desafio. Tinha essa consciência. Se ninguém fez, não devia ser fácil. Produzi cinco comédias. Sou a única pessoa que fez cinco e não tive um desastre. Tive um amigo que me disse que era um caso raro na Europa. Para um gajo então que não gosta de comédias..."

Agora já gosta?
Não. Não vejo. E fiz três. Foi um desafio. Estudei numa escola de cinema, conheço o género e conheço as regras. Fiz filmes de ação em publicidade que precisavam de carros. Olhei, estudei-o e filmei-o. Um que fiz para uma operadora de comunicações foi finalista em Londres, no segundo maior festival de publicidade no mundo. Se calhar as pessoas não sabem. Não fiz só isso, fiz outros. É um desafio artístico brutal que muita gente não consegue assumir. Porque a maior parte dos realizadores tem uma forma de narrar única, que não se adequa a mais nada.

Voltando à comédia.
Sim. Fiz por necessidade. Havia o desafio de em Portugal não se produzir comédias porque o ICA não financia. Quando se mandava um guião para aquele instituto… há 50 anos que temos essa maldade. Os impostos de todos os portugueses pagam algo que querem ver, mas que o ICA não lhes dá. Eu quis provar a esses senhores que os portugueses podem rir-se na língua de Camões como fazem os franceses. Não me pus numa posição de achar que era o próximo Billy Wilder. Sei mais de cinema para pensar assim. Achei que queria fazer bem feito como se faz lá fora. Há uma grande diferença entre o “Leão da Estrela” e as comédias francesas? Não há. Toda a estrutura é assim, as famílias, os diálogos, a forma de filmar. Só que lá fazem cem por ano. De vez em quando, fazem a história do homem de cadeira de rodas, que é genial. Cá, se não fosse só o Leonel a fazer… fiz cinco e acertaram as cinco em público.

Já sabia que iam acertar?
Não, zero. Não sou medroso. Vou pelo desafio. Tinha essa consciência. Se ninguém fez, não devia ser fácil. Produzi cinco comédias. Sou a única pessoa que fez cinco e não tive um desastre. Tive um amigo que me disse que era um caso raro na Europa. Para um gajo então que não gosta de comédias… claro que aqui também funcionou o estado de graça.

Mas isso não tem a ver também com uma certa ideia de nostalgia de outro tempo que conta muito na memória portuguesa?
Não, não. Vou-lhe fazer uma pergunta.

Força. Isto é uma conversa.
Acha que o português não é igual ao argentino ou espanhol e que, na maior parte do dia, quer estar a rir?

Sim, sim.
E já perdemos o complexo de Salazar de que somos pequenos. Eu não tenho, tenho 1,90, no estrangeiro achavam que era francês.

Também estudei em Madrid e diziam-me que era russo.
Exatamente. Porque nunca esperam que seja um português a estudar ali. São problemas do passado. Mas andamos a estudar pelo mundo inteiro. Andámos e andamos. E agora temos uma formação idêntica aos outros. Sou parecidíssimo com os meus colegas de Madrid. Até de outros países.

Este ano temos três pré-nomeados aos Óscares.
Ah é?

Sim.
Uau. Parabéns, parabéns.

Tratamo-nos  mal?
E aqui já tratamos o problema do idioma. O papel das novelas, que nem aprecio muito, foi fundamental. Não as vejo, não gosto nem tenho tempo. Só para ver atores. Mas tiveram o seu papel. Habituaram o espectador português a ver outros a falar em língua portuguesa. Esse problema já desapareceu. O que é que o público não perdoa? Se tem acesso a todos os conteúdos no planeta, há de estar preocupado se não foram contratados bons atores ou se o projeto tem dinheiro? Querem lá saber. Esta transformação de que falamos tem coisas muito boas e outras pesadíssimas.

"Filme da Treta" (2006), "Pátio das Cantigas" (2015), "Leão da Estrela" (2015) e "Canção de Lisboa" (2016)

Temos atores em Hollywood, nas plataformas de streaming. Temos vários realizadores a vencer prémios em festivais de cinema. Acha que o autor português não quer virar mainstream? O estigma de: lá fora é que somos bons, cá dentro ninguém quer saber.
Se confundirmos os dois públicos, isto choca. Quem reconhece os filmes lá fora são os cinéfilos, os que vão aos festivais, que são locais para promover cinema diferenciado. Só escolhem cinema alternativo, por isso é que promovem. Se colocarmos em paralelo o público cinéfilo, que vê a Filmin, que vai aos festivais, que gosta deste tipo de filmes, são promovidos no lugar certo. Há dois caminhos para o cinema, o terceiro é ficar fora e não fazer nada. Primeiro, é fazer relatos pessoais, autorais que três ou quatro pessoas percebem e gostam. Mas vai provar se pode existir e há uma necessidade de contar esse relato. Se for lá com o “Pátio das Cantigas”, ninguém abre a porta nos festivais.

Mas há filmes que saem desses festivais e chegam aos Óscares. Transformam-se em mainstream.
Mas não há nenhum português. Falemos da nossa capacidade e competência. Se é para tentar esse caminho, vamos ser bons. Já ganhámos Palma de Ouro? Já chegamos aos Óscares? Não.

Isso é incompetência nossa?
Acho que é. Quantos milhões de euros já não se investiram nesse cinema de autor? Há um desequilíbrio brutal entre o dinheiro que se investe do erário público. O dinheiro está todo no cinema de autor.

É um conceito de cinema de autor muito alargado.
Bom, não quero entrar em polémicas.

Queria perceber o raciocínio.
Quase nenhum tem vocação de público. Então qual é? Há uns tipos que trabalham nisto, OK? Ou acha que os estúdios funcionam através de ar? Há tipos bem pagos que vivem nisto e que decidem. Essa forma narrativa não tem a preocupação de ter grande público. E o cinema só existe porque, do outro lado, todo o circuito precisa de público. Começa nas salas até à televisão. Não se fariam filmes se não houvesse ninguém para os ver. Isto começou porque alguém percebeu que podia expor um filme que sentiu a necessidade de fazer. Rapidamente se transformou numa indústria, numa guerra entre franceses e norte-americanos. Com a sofisticação e a elaboração do pensamento cinematográfico, criaram-se filmes premiados, mas que o público não aceita.

Não quer dizer que não seja bom.
Não. Provavelmente é bom. Não é por não se ver. Eu vejo filmes que ninguém viu e que adorei. Fico com pena.  O problema de Portugal é que aposta tudo num caminho.

Acha mesmo isso?
Desde o 25 de Abril que não se aposta dinheiro nenhum no cinema comercial.

Também só podemos falar da RTP e do ICA…
Não há mais nada. O Joaquim Leitão, o Tim Navarro, eu, o António Pedro Vasconcelos, vão todos dizer o mesmo: são muito poucos os filmes financiados que têm uma capacidade comercial forte. 10% contra 90%. Às vezes nem se financia nenhum. O ICA rejeita-os. Dizem que não é culturalmente relevante, como se o instituto só servisse para isso. O que é que é isso? O maior país da Europa, o que mais comédias produz, que é França… Copiamos em tudo, mas aí já não interessa. Porque é que o ICA não funciona como o de lá?

Se o ICA fizesse isso que estava a dizer, outros autores iriam ficar insatisfeitos.
Já se queixaram. Pediram o dinheiro todo para o cinema autor. Financiam-se os filmes de festival. É o que acontece, claramente. É um erro. Têm de sobreviver os dois. Está-se a abandonar uma parte do país. Se não chegamos às pessoas através da cultura popular, não vão consumir a nossa língua. E assim tornam-se ingleses. É um erro tremendo para o futuro.

"Há uma velha estrutura no cinema em Portugal que não quer alterações. Quando fizemos essa proposta [de mudança], um certo número de pessoas foram dizer ao ministro de que não era preciso mudar a lei. Só precisávamos de mais dinheiro."

E o cinema de autor pode ajudar a conservar a língua portuguesa? 
Pode. É pena que só fala com mil. Muda aqueles mil. É utópico achar que se não mudamos as bases, mudamos alguma coisa. Claro que tem um papel fundamental. Só que não é único. Em Espanha divide-se 60% e 40%. O primeiro vai para o comercial, com os distribuidores a determinar. O resto vai para o autoral, onde o guião é que manda. É assim. Financia-se essa cultura de risco. Há filmes que podem nem ir a festivais.

Bom, sendo uma indústria mais oleada, o cinema de autor lá não tem nada a ver com o nosso.
Têm os mesmos problemas. É tudo uma questão de perceção. A máquina é maior, quando se sobressais, os meios são maiores. É escala. Eles produzem 150 longas-metragens por ano.

É capaz de ser adepto então de uma lei de mecenato. Para não se estar sempre a lutar por “migalhas”.
Isso veio de França. A espanhola é inspirada na francesa. Porque não a fazemos? Custa aprender com os bons? Conheço o país vizinho com a palma das minhas mãos. E vou lá trabalhar…

Bom, está-me quase a dizer qual é o próximo projeto…
Verá. O futuro não é tão desinteressante… colaborei num grupo para fazer uma nova lei do cinema e tentei apresentar um cruzamento entre a espanhola e a brasileira. Tirei um curso sobre a lei brasileira. Pago por mim. Estudei-a com os melhores advogados do mundo.

Porque é que cá não é possível?
Não querem. Há uma velha estrutura no cinema em Portugal que não quer alterações. Quando fizemos essa proposta, um certo número de pessoas foram dizer ao ministro de que não era preciso mudar a lei. Só precisávamos de mais dinheiro.

Não tem havido vontade política.
Não há vontade da classe.

Qualquer dia muda.
Pode mudar tarde de mais.

Falemos então de política cultural. Não sei se tem estado atento, o cash rebate começou muito bem em Portugal, só que o plafond esgotou a meio do ano passado. O programa foi renovado, a dotação aumentou, mas há ainda problemas por resolver, como o futuro incerto da Portugal Film Comission. Há produtores preocupados com o ano de 2023 porque têm projetos em andamento que podem ficar parados por causa destas indecisões.
É a história de Portugal. Não acredito que não vai atrasar este ano. Acredito que vai acontecer. Mas os atrasos são crónicos.

"A política funciona como clubes de futebol. Dão a mão se estivermos do lados deles, se não estamos, fazemos um jejum num inverno nórdico"

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

A grande novidade é sempre um bocadinho mais da migalha.
Acho que era necessário um reforço brutal. Já que me pergunta, acho que o cash rebate é brutal. Os cálculos estão feitos. Já se percebeu as vantagens, o retorno financeiro, e espero que tenham percebido como é que estes grandes projetos que vêm para cá filmar estão a promover Portugal. Aumentou-se pouco. Não podemos é criar a fama e a reputação e depois cair no esquecimento.

Não pode acontecer como aconteceu com o CEO de um grande estúdio norte-americano tentar falar com o governo português e não conseguir.
O que não entendo são os atrasos do ICA, por exemplo. Um co-produtor suíço não perceberia o porquê dos atrasos. Pensam que é tudo a mesma Europa. Não é. A data foi alterada muitas vezes e ele estava desesperado. Não sabíamos dar essa informação. No PIC também não deveria acontecer. Também sofri com esses atrasos. O feitiço volta-se contra os feiticeiros. Os produtores viram-se para outros países. Há uma guerra para atrair nas rodagens. Quem começou isto foi o mayor de Nova Iorque há décadas. Disse que naquela cidade rodavam-se 150 filmes por ano.

Falemos do “Último Animal”. Porque é que ainda não se estreou em Portugal?
Há sempre uma estratégia para lançar as coisas. Achei que não devia ser em 2022 para o estrear. Assim será daqui a uns meses. O filme é da NOS, eles gostam muito do filme. É preciso concertar a data.

O Leonel tem trabalhado muito no Brasil. O que é preciso para furar esse mercado?
Trabalho há 28 anos. Logo no início fui para lá e para Espanha. O dinheiro do “Conexão” é quase todo espanhol. Tinha um elenco enorme espanhol, foram todos parar ao “Farinha”, da Netflix. Eu sou meio espanhol, penso e escrevo nessa língua. Fiz o mesmo pensamento para o Brasil. Viajava para lá constantemente. Fui sócio de uma produtora lá, tal como em Espanha. Fui para agir dentro do mercado. A verdade é que foi acontecendo a espaços, mas para chegar onde eu queria só cheguei agora.

Onde?
Ser respeitado e fazer grandes projetos.

O que foi preciso?
Aprender muito, fazer este filme e o “Crime do Padre Amaro”. Foram eles que me levaram a entrar nesses mercados. Já entrei.

O que é que tem de se deixar para trás?
Nada. Hoje tenho projetos para filmar em Espanha e no Brasil. Projetos deles. Sonhei com isto a vida toda? Sim. Trabalhei a vida toda para isto. O problema não és tu. Eles não te aceitam. São mercados muito fechados, protecionistas. O americano não é, tal como o francês.

Fala de coproduções?
Não, Falo de contratarem estrangeiros para fazerem projetos deles. Estar à frente no comando de séries e filmes deles.

De que género? Filmes ou séries?
As duas coisas.

Plataformas de streaming?
[ri-se e faz silêncio]

Diga lá…
Também para plataformas de streaming.

"[um conselho para jovens realizadores:] Escrevam um guião. É a forma mais eficiente para fazer um filme. Tem é de ser bom. Alguém vai pegar. Foi o que me aconteceu e foi o que fiz com outros. Não falha. Não desistam. Nada de esperar em casa. Mesmo com sucessos."

Voltemos ao Brasil. Eles querem saber o que nós fazemos?
Notei uma diferença enorme nos últimos cinco anos. Agora é que vai começar uma relação win win cultural entre os dois países. Fui para lá fazer isto. Mas não adianta se o outro está de costas voltas. Quando fui para o Brasil, alucinei. Em São Paulo há 140 peças em cena. Eles produzem muito mais peças de teatro do que nós em cinema. Produzem centenas de filmes. Veja os Emmys latinos. Metade dos prémios são para eles.

É quase independente de quem está na política.
Com o Bolsonaro, não. Rebentou-lhes toda a base. Tiveram a sorte de serem dos melhores para o mercado de streaming. O Brasil tinha ruído com o Bolsonaro. A perceção diz-nos que não, mas os streamings seguraram aquilo. O Bolsonaro congelou o dinheiro todo do cinema durante quatro anos. Morreram centenas de produtoras. Passaram muito mal. O Collor de Melo fechou a Embrafilme. Nos anos 90 tivemos a chamada retomada, porque não tinham cinema. Faziam-se coisas comerciais ruins de algum empresário com dinheiro. Desapareceram as estruturas, não havia estúdios nem pós produção ou materiais. Vou para lá quase nessa altura. Construíram tudo de novo. O Bolsonaro fez quase o mesmo. Não fechou, mas congelou. Eles têm perto de 900 milhões de reais e outros 700 congelados. Vão agora ser largados pelo Lula da Silva. No fim destas eleições, lá abriu um concurso com 50 milhões. Como se fosse possível enganar um setor inteiro…

Um produtor e realizador tem de saber mexer-se na política? 
Quanto mais afastado, melhor. No passado, colegas meus mais velhos prejudicaram-se por terem outra proximidade com a política. Era outra época. Ninguém podia não ter intervenção política no pós 25 de Abril. Havia uma causa. Isso gerou um lastro e muitos desses cineastas tiveram um posicionamento e pagaram a fatura. A política funciona como clubes de futebol. Dão a mão se estivermos do lados deles, se não estamos, fazemos um jejum num inverno nórdico. Não tenho partido, mas tenho a minha consciência. Não voto muito, agora vou mais. Já votei PS e PSD. O meu posicionamento é pelas pessoas.

Mas o cinema é político.
Também é. Às vezes é só uma história de poesia. O “Último Animal” é político. Mas pelas circunstâncias, não por mim. Tem um discurso contra um sistema. Reinvindica outro. É um filme de denúncia. Vendi a minha casa, não tive dinheiro norte-americano para não o alterar. Disseram-me que é o melhor filme que fiz na carreira. E também me contaram porque é que entendiam que um dos maiores críticos de cinema brasileiro gostou do filme.

A Stopline fechou?
Sim, por causa da pandemia. Foi um tsunami. Não fui imune.

Não chega vender muitos bilhetes?
Posso garantir que tive problemas de uma dimensão que ninguém imagina. Dei a volta com trabalho e foco.

É preciso ter inimigos?
É preciso aceitar alguns, sim.

Onde é que eles estão?
Descobrem-se. Nem sei porque os tenho, às vezes. Quem não tem inimigos deve ter uma postura muito apática na vida. Digo o que penso. A mim vão-me julgar pelo resumo que o José vai fazer desta entrevista. Comecei com muito pouca idade nisto e um espírito muito são. Não quis guerras, tive a sorte de fazer filmes com 25 anos. E fui andando por aí. Vim de uma escola onde não um telefonema com um guião para ser filmado não choca ninguém. Fiz isso, às vezes não era bem assim, fui bem pago, muito bem pago. Filmei todos os anos. Há quem só filme de sete em sete anos. Esta é a minha vida. Não queria trabalhar no McDonald’s ou escrever bulas de remédios. Não quis fazer telenovelas. Ofeceram-me muito dinheiro para as fazer. Não aceitei fazer mais comédias depois de ter feito os filmes que mais dinheiro deram neste país em 100 anos. Sei, claro, o que quero fazer.

Se estivesse muito mal, faria a novela?
Diria que não, acho. Nem me passou pela cabeça fazer isso nessa altura. Cheguei a pensar em ir para fora do país. Sabia que tinha trabalho no Brasil ou em Espanha. Como fizeram alguns cineastas na América Latina.

Pode ser sempre uma hipótese.
Sim. Felizmente, esses produtores, ainda assim, propuseram-me trabalho.

Algum conselho para futuros realizadores?
Escrevam um guião. É a forma mais eficiente para fazer um filme. Tem é de ser bom. Alguém vai pegar. Foi o que me aconteceu e foi o que fiz com outros. Não falha. Não desistam. Nada de esperar em casa. Mesmo com sucessos. O “Último Animal” nasceu assim. Ou o “Crime do Padre Amaro”. Sabia que um deles ia trazer contratos, afinal trouxeram os dois.

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