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Beethoven foi uma criança-prodígio, mas não foi tão precoce quanto Mozart: enquanto a primeira peça deste foi composta aos cinco anos, Beethoven só se estreou por volta dos 11 anos, com nove variações para piano sobre uma marcha de Ernst Christoph Dressler, compositor cuja microscópica reputação assenta exclusivamente no facto de o jovem Beethoven ter tomado a sua anódina marcha como tema para variações.
Nos seus últimos tempos de vida, afligidos por problemas de saúde, Beethoven tinha nos seus planos a composição de uma Sinfonia n.º 10, de um quinteto para cordas e de uma sonata para piano a quatro mãos, mas destas peças apenas sobraram esboços fragmentários ou rumores – a última obra que completou foi o Quarteto de cordas n.º 16 op.135, composto entre Junho e Outubro de 1826. Depois, a insistente pedido do seu editor, ainda compôs um final alternativo para o Quarteto de cordas n.º 13 op.130, que terminou em Novembro desse ano. Nos últimos meses de vida a saúde de Beethoven declinou acentuadamente, de forma que não se lhe conhece outra partitura até à data da morte, em 26 de Março de 1827.
[VI andamento (Finale: Allegro) do Quarteto de cordas n.º 13 op.130, pelo Amadeus-Quartett (Deutsche Grammophon):]
722 peças em 44 anos
Entre 1782 e 1826 Beethoven compôs um total de 722 peças, porém, nem a todas foi atribuído um número de opus: estes totalizam 138 e abarcam 172 obras, já que alguns n.º de opus dizem respeito a colecções (é o caso, por exemplo dos Quartetos op.18, que incluem seis obras distintas). Por outro lado, Beethoven entendeu que nem tudo o que publicou era merecedor de um n.º de opus, pelo que quase tudo o que publicou na juventude foi excluído – assim, o op. 1 é uma colecção de três trios com piano publicada em 1795, quando tinha 25 anos.
[I andamento (Allegro) do Trio com piano n.º 1 op.1/1, por Daniel Barenboim (piano), Pinchas Zukerman (violino) e Jacqueline Du Pré (violoncelo) (EMI/Warner Classics):]
A juvenilia publicada entre os 12 e os 25 anos, as obras inéditas e os fragmentos acabaram por ser alvo de catalogação sistemática em 1955, pela mão de Georg Kinsky e Hans Halm, e são designadas pela abreviatura WoO, de “Werke ihne Opuszahl” ou seja “obras sem número de opus”.
Os n.º de opus seguem, aproximadamente, a cronologia da sua composição, embora algumas obras tenham sido publicadas muito depois de terminadas, como é o caso do Octeto op.103, composto em 1792 e publicado em 1834, sete anos após a morte do compositor. Desfasamento análogo ocorre com os op.136, op.137 e op.138, que poderíamos ser levados a crer serem as derradeiras obras de Beethoven, mas que foram compostas vários anos antes do Quarteto de cordas op.135 de 1826 (o op.136 em 1814, o op.137 em 1817, o op.138 em 1805)
O catálogo Kinsky-Halm, que contava originalmente com 205 números, não segue a cronologia, estando antes arrumado por temas, o que explica que as variações para piano com que Beethoven se estreou em 1782, não sejam o WoO.1 mas o WoO.63.
Salvo raras excepções, as grandes obras de Beethoven possuem um n.º de opus, mas no catálogo Kinsky-Halm, entre as obras menores e obscuras, há obras de valor e até peças imensamente populares, como é o caso da Bagatelle para piano Für Elise WoO.59, que foi composta em 1810 e só foi descoberta 40 anos após a morte de Beethoven.
[“Für Elise” WoO.59, por Rudolph Buchbinder (Teldec/Warner Classics):]
Entretanto, a investigação em torno de Beethoven permitiu a descoberta de mais obras e fragmentos inéditos e os musicólogos Willy Hess e Giovanni Biamonti optaram por criar, separadamente, catálogos de obras de Beethoven seguindo os seus próprios critérios e investigações e incluindo numerosas peças que não eram contempladas na edição de 1955 do catálogo Kinsky-Halm. Este acabou por ser alvo de uma edição revista em 2014, que incorporou parte das peças entretanto identificadas por Hess e por Biamonti: o número de peças com designação WoO subiu até 228 e os anexos com obras de atribuição duvidosa (designadas por Anh., de Anhang = apêndice) e obras fragmentárias (designadas por Unv., de Unvollendete = inacabado) passaram a ter 18 e 23 números, respectivamente. Ainda assim, ficaram de fora da nova edição Kinsky-Halm largas dezenas de peças dos catálogos Hess e Biamonti.
Estas divergências não deverão inquietar quem não seja musicólogo: em princípio, todas as obras indispensáveis de Beethoven são conhecidas há muitos anos e fazem parte dos programas de concertos e discos.
As integrais rivais
Na intensa actividade editorial em torno de Beethoven gerada entre o final de 2019 e o início de 2020, as apostas mais chamativas são as três edições integrais pela Warner Classics (80 CDs), Naxos (90 CDs) e Deutsche Grammophon (120 CDs), que foram precedidas em 2017 pela caixa da Brilliant Classics (85 CDs).
A caixa The complete works, da Warner Classics, tem por base os acervos das editoras EMI, Teldec e Erato, a que se somam (como no caso da Naxos e DG) registos cujos direitos foram comprados a editoras exteriores ao grupo editorial (como a Berlin Classics) e gravações realizadas em 2019 expressamente para este empreendimento, algumas delas incluindo obras inéditas em disco.
A caixa The complete works é a menos generosa em nº de CDs e é a que oferece o livrete mais sumário, contendo apenas uma breve introdução à vida e obra de Beethoven, uma cronologia e um índice de obras – a lista de faixas vem no verso de cada envelope de cartão, por vezes em caracteres no limiar da legibilidade. A caixa propriamente dita é a menos robusta e funcional das três, mas esta edição tem um pequeno requinte merecedor de elogio: cada um dos 80 envelopes de cartão dos CDs individuais ostenta uma pintura diferente, pertencendo estas maioritariamente ao Romantismo austro-germânico e sendo Caspar David Friedrich (1774-1840), eminente contemporâneo de Beethoven, o autor mais representado.
É, por larga margem, a mais económica das três caixas: custa 72 £ (c.81 €) na Amazon UK, o que quer dizer que os oitenta CDs custam o preço que há 30 ou 40 anos se pagava por quatro CDs.
[Apresentação da caixa Beethoven: The Complete Works (Warner Classics):]
A Complete Edition da Naxos tem mais cinco CDs do que a da Warner, o que se explica por a Naxos ter levado muito a peito o adjectivo “completa” e ter sido mais minuciosa e abrangente no registo de obras raras e inéditas: 111 peças na caixa Naxos não só são estreias mundiais como não têm par nas caixas Warner e Deutsche Grammophon, enquanto a caixa da Warner se fica por 5 “exclusivos” e a caixa DG por 23 “exclusivos”. Porém, tal não significa que a caixa Naxos traga revelações sensacionais: a maior parte dos seus “exclusivos” diz respeito a versões alternativas, esboços e fragmentos, que poderão ter interesse para musicólogos e músicos profissionais mas não para o público em geral.
A maior desvantagem da integral Naxos é que, como usual nesta editora low cost, não há nomes sonantes na sua galeria de intérpretes. Salvo algumas gravações históricas cujos direitos foram adquiridos a outras editoras, com intérpretes como o maestro Herbert Blomstedt ou os cantores Hermann Prey e Matti Salminen, o elenco é de segunda linha (a maioria dos intérpretes será desconhecida da esmagadora maioria dos melómanos), pelo que haverá que contar com interpretações correctas mas raramente excepcionais. E embora a Naxos possua, por larga margem, com o mais vasto catálogo entre as etiquetas de música clássica, a sua política editorial leva-a a evitar redundâncias de cobertura, pelo que, na esmagadora maioria dos casos, só tem disponível uma versão de cada obra, enquanto os grupos Warner e Deutsche Grammophon podem dar-se ao luxo de escolher nos seus acervos numerosas versões de primeira água das obras canónicas de Beethoven.
O design gráfico da Complete Edition é, como usual na Naxos, tão sedutor quanto o de uma embalagem de medicamentos e o preço, na Amazon UK, é de 107 £ (c.121 €).
[Apresentação da caixa Beethoven: Complete Edition (Naxos):]
A caixa BTHVN 2020: The New Complete Edition, da Deutsche Grammophon, surgida no final de 2019, não é o primeiro empreendimento da editora neste domínio: em 1965, surgira uma Beethoven Edition em 12 volumes e 76 LPs, suplantada em 1997 pela Complete Beethoven Edition, com um total de 87 CDs. Os 33 CDs que a nova integral acrescenta à edição de 1997 não correspondem a gravações de partituras entretanto descobertas – as novas gravações realizadas expressamente para este projecto perfazem 150 minutos – mas ao facto de a caixa incluir interpretações alternativas de algumas das obras mais relevantes do compositor. Por exemplo, no que diz respeito às sinfonias, elemento central no corpus beethoveniano, cada uma delas está disponível em três ou quatro versões: um ciclo integral dirigido por John Eliot Gardiner (em instrumentos de época); um ciclo integral dirigido por Herbert von Karajan em 1962 (apenas em Blu-ray Pure Audio); e sinfonias isoladas por maestros tão reputados quanto Claudio Abbado, Leonard Bernstein, Karl Böhm, Riccardo Chailly, Ferenc Fricsay, Wilhelm Fürtwangler, Erich Kleiber, Carlos Kleiber, Pierre Monteux e Hermann Scherchen (bem como um representante da nova geração, o letão Andris Nelsons, que lançou há poucos meses o seu ciclo de sinfonias de Beethoven), o que atesta bem a fabulosa riqueza dos arquivos combinados da Deutsche Grammophon, Archiv, Decca e Philips.
A BTHVN 2020 contém, além de 120 CDs, 2 Blu-ray (vídeo) e 3 Blu-ray Pure Audio – estes últimos albergam três gravações integrais históricas: as já mencionadas sinfonias por Karajan (1962), as sonatas para piano por Kempff (1964-65) e os quartetos de cordas pelo Amadeus-Quartett (1960-63), em remasterizações a 24 bits/96 KHz, que proporcionam, teoricamente, uma qualidade de som superior à dos CDs (desde que se possua leitor de Blu-ray e hi-fi à altura deste requinte técnico).
Os discos são complementados por 9 livretes de capa mole e um livro de capa dura, contendo listas das faixas, fichas técnicas dos registos, notas e ensaios e algo crucial que nem a Naxos nem a Warner providenciam: textos cantados. Claro que esta opulência se faz pagar: a caixa custa 224 £ (c.253 €), o triplo da caixa Warner Classics.
A caixa Warner Classics e a HIP
Convém começar por alertar os adeptos da “interpretação em instrumentos de época” ou “historicamente informada” (designada abreviadamente como HIP, de “historically informed performance”) que esta caixa tem para eles escassos motivos de interesse: embora existam algumas interpretações HIP dispersas pelos catálogos que estão hoje sob a alçada da Warner Classics – EMI, Virgin Classics, Teldec e Erato – os compiladores de The complete works ignoraram-nas e deram preferência a leituras em “instrumentos modernos”.
A opção é compreensível na música com piano, pois fora dos ciclo de fãs da HIP há poucos ouvintes susceptíveis de simpatizar com os pianoforti do tempo de Beethoven, que soam estridentes, quebradiços e pouco pujantes aos ouvidos habituados ao som cheio dos modernos Steinway de concerto. O pianoforte encaixa no que em língua inglesa se designa por “acquired taste”, isto é, algo de que (eventualmente) se aprende a gostar, e mesmo entre os fãs de instrumentos de época, nem todos têm apreço por ele.
A Virgin Veritas e EMI Reflexe, duas chancelas especializadas em música antiga e interpretações HIP, gravaram Beethoven de forma pontual. Um dos registos que mais chamou as atenções na altura em que foi editado foram as sinfonias pelos London Classical Players dirigidos por Roger Norrington, na EMI Reflexe, em 1986-88, um passo arriscado numa época em que a HIP só costumava avançar até Mozart (e, ainda assim, sob forte contestação) – até então apenas a Hannover Band de Roy Goodman e The Academy of Ancient Music de Christopher Hogwood tinham ousado começar a gravar as sinfonias de Beethoven em instrumentos de época. Porém, embora tenha mérito pelo pioneirismo, a leitura de Norrington empalidece face a outras interpretações HIP que se seguiram, como a de John Eliot Gardiner (Archiv) e Jos van Immerseel (Zig Zag Territoires).
Em 1988-89, Norrington e a sua orquestra de instrumentos de época registaram (também para a EMI) a integral dos concertos para piano, tendo como solista Melvyn Tan, um dos primeiros pianistas a gravar regularmente Beethoven em pianoforte. São interpretações com as suas virtudes, mas sempre dividiram a crítica e, tal como as sinfonias por Norrington, correm o risco de ser demasiado “excêntricas” para o público em geral, pelo que é compreensível a opção dos compiladores da caixa por leituras mais “ortodoxas”.
[III andamento (Rondo: Molto Allegro) do Concerto para piano n.º 2, por Melvyn Tan (pianoforte) e os London Classical Players, com direcção de Roger Norrington (gravação original EMI, reedição Erato:]
Sinfonias (CDs 01-05)
Não há, porventura, território com maior densidade discográfica do que as sinfonias de Beethoven: existem duas centenas de ciclos completos e milhares de gravações isoladas, o que não impede que surjam regularmente novos maestros que julgar ter algo a dizer sobre o assunto ou velhos maestros que pretendem retocar a sua interpretação anterior, à luz do que aprenderam com mais duas décadas de experiência a dirigir Beethoven. O acervo da Warner é particularmente rico neste domínio e inclui integrais de Otto Klemperer com a Philharmonia Orchestra e a New Philharmonia Orchestra, de Daniel Barenboim com a Staatskapelle Dresden, de Simon Rattle com a Filarmónica de Viena, de Wilhelm Fürtwangler com a Filarmónica de Viena e a Filarmónica de Estocolmo, de Herbert von Karajan com a Philharmonia Orchestra (gravada em 1951-55 e a primeira das quatro integrais Beethoven por Karajan), de Riccardo Muti com a Philadelphia Orchestra e de Wolfgang Sawallisch com a Orquestra do Royal Concertgebouw.
O maestro austríaco Nikolaus Harnoncourt gravou abundantemente para a Teldec com o Concentus Musicus Wien, o seu ensemble de instrumentos de época, mas o seu repertório deteve-se, cronologicamente, em Mozart e Haydn. Quando, no final dos anos 80, Harnoncourt começou a gravar repertório oitocentista, recorreu a orquestras “modernas”, nas quais, todavia, incutiu a sua visão, alicerçada em muitos anos de pesquisa e prática na área da HIP. Harnoncourt escolheu registar as sinfonias com a Orquestra de Câmara da Europa, em 1990-91, mas introduziu várias nuances: reduziu os efectivos e impôs o uso de trompetes naturais (sem pistões e com uma sonoridade mais cortante, como se usava no tempo de Beethoven).
[Andamento I (Allegro con brio) da Sinfonia n.º 3, pela Orquestra de Câmara da Europa e Harnoncourt:]
Estas leituras “híbridas”, conjugando instrumentos modernos (com a excepção mencionada) e abordagem “de época” teve um inesperado sucesso crítico e comercial e ainda hoje figura entre as leituras de referência, pelo que é natural a sua escolha para esta caixa.
[Andamento II (Allegretto) da Sinfonia n.º 7, pela Orquestra de Câmara da Europa e Harnoncourt:]
Só 25 anos depois da gravação com a Orquestra de Câmara da Europa, Harnoncourt tomaria a decisão de gravar as sinfonias de Beethoven com o Concentus Musicus Wien (agora para Sony Classical), numa vibrante interpretação, captada ao vivo no Musikverein de Viena, em 2015, com as Sinfonias n.º 4 e n.º 5 – infelizmente, o seu estado de saúde deteriorou-se passado pouco tempo e esta seria a derradeira gravação do maestro, que faleceu a 5 de Março de 2016 (ver Beethoven por Harnoncourt: Testamento vital).
Concertos para piano (CDs 06-08)
Em 1996, o pianista András Schiff e a Staatskapelle Dresden, com direcção de Bernard Haitink, registaram para a Teldec os cinco concertos que Beethoven compôs entre 1795 e 1809. Haitink extrai da sua orquestra “moderna” uma sonoridade muito transparente e claramente articulada, como é evidente, por exemplo, no Allegro con brio do Concerto para piano n.º 3.
[I andamento (Allegro con brio) do Concerto para piano n.º 3 por Schiff, Staatskapelle Dresden e Haitink:]
No acervo da Warner, a versão de Schiff e Haitink só tem rival na integral que Nikolaus Harnoncourt registou em 2000-02 para a Teldec com o pianista Pierre-Laurent Aimard (novamente com a Orquestra de Câmara da Europa), e logra conciliar o dramatismo e intensidade beethovenianos com uma graciosidade mozartiana, em trechos como o Rondo do Concerto n.º 3. 24 anos depois de gravada, continua a figurar entre as recomendações de referência.
[III andamento (Rondo) do Concerto para piano n.º 3, por Schiff, Staatskapelle Dresden e Haitink:]
A caixa inclui um concerto para piano “n.º 6”, que poucos, mesmo entre os mais ferrenhos beethovenianos, terão ouvido: a transcrição para piano e orquestra, realizada pelo próprio compositor (e publicada como op.61a) do Concerto para violino de 1806 – esta terá sido realizada a pedido de Muzio Clementi, um dos mais reputados pianistas da época (mister que partilhava com o de professor de piano, editor de partituras e fabricante de pianos) e é possível que na decisão de Beethoven de satisfazer o seu pedido tenha estado o facto de o Concerto para violino ter sido recebido com frieza quando da estreia.
Outros concertos (CD 09 e 10)
O Concerto para violino op.61 (1806) é um gigante, quer nas dimensões quer na imponência, elaboração e virtuosismo solicitado ao solista, quando comparado com os outros concertos para violino do período Clássico – até génios como Mozart e Haydn se ficaram por realizações modestas neste domínio. A escolha da Warner foi a versão de Itzhak Perlman (violino) e da Philharmonia Orchestra, com direcção de Carlo Maria Giulini, gravada para a EMI em 1980.
[II andamento (Larghetto) do Concerto para violino, por Perlman, a Philharmonia Orchestra e Giulini:]
O Triplo concerto para violino, violoncelo e piano op.56 (1804) foi, durante muito tempo, uma obra ímpar, pois nenhum outro compositor do Classicismo explorou esta combinação de solistas, que, aliás, só viria a ser retomada no século XX. A escolha da Warner recaiu sobre a versão gravada ao vivo em 1995 para a EMI por Itzhak Perlman (violino), Yo-Yo Ma (violoncelo), Daniel Barenboim (piano e direcção) e a Filarmónica de Berlim (Berliner Philharmoniker).
[II andamento (Largo) do Triplo Concerto, por Perlman, Yo-Yo Ma, Barenboim e a Filarmónica de Berlim:]
Ainda mais inusitado do que o Triplo concerto é a Fantasia para piano, coro e orquestra op.80 Fantasia Coral (1808), pois começa como meditação intimista para piano solo, ganha uma componente orquestral e acaba por acolher também uma componente vocal, algo que nunca fora ousado até então (e não voltaria a sê-lo depois) e que mostra que Beethoven não estava disposto a aceitar as convenções que regiam a música do seu tempo. O compositor retomaria alguns dos conceitos e melodias da Fantasia Coral na Sinfonia n.º 9, também ela pioneira por juntar partes solistas e corais a uma estrutura sinfónica.
A versão seleccionada convoca novamente o maestro Nikolaus Harnoncourt e a Orquestra de Câmara da Europa, numa gravação de 2003 para a Teldec que teve como solista no piano Pierre-Laurent Aimard e as vozes de Luba Organosova, Maria Haid, Elizabeth von Magnus, Deon van der Walt, Robert Fontaine, Florian Boesch, Ricardo Luna e do Coro Arnold Schoenberg.
[III andamento (Finale) da Fantasia Coral, por Aimard, Coro Arnold Schoenberg, Orquestra de Câmara da Europa e Harnoncourt:]
https://youtu.be/_Cvik-v57Lk
Sonatas para piano (CDs 17-25)
Os arquivos da EMI contêm duas colecções de gravações integrais das 32 sonatas para piano de Beethoven que são bem cotadas pela crítica: as registadas por Artur Schnabel em 1932-35 para a His Master’s Voice (que foi o primeiro ciclo completo destas obras na história da música gravada) e as registadas por Daniel Barenboim em 1966-69 (que voltaria a gravar as 32 sonatas em 1981-84, agora para a Deutsche Grammophon). Outro registo “lendário” é o de Walter Gieseking para a His Master’s Voice, que, todavia não é integral, cobrindo apenas 23 sonatas. Quase em simultâneo com a saída de The Complete works, o catálogo da Warner Classics foi enriquecido com mais uma integral, registada em 2018-19 por Fazil Say, que já tinha gravado algumas das sonatas para a Naïve, no início do século XXI, e que oferece uma perspectiva das 32 sonatas que vale a pena conhecer.
As gravações de Schnabel e de Gieseking são muito prezadas (sobretudo entre a hoste dos que acreditam no mito da pretérita “Era de Ouro” da interpretação), mas a sua deficiente qualidade sonora iria levantar objecções no plano da qualidade sonora à maioria dos ouvintes, pelo que se compreende a opção pela integral realizada para a EMI entre 1992 e 2003 pelo britânico Stephen Kovacevich é de nível artístico superlativo e tem qualidade de som acima de qualquer reparo.
[I andamento (Adagio sostenuto) da Sonata n.º 27/2 “Ao luar”, por Kovacevich:]
Kovacevich já tinha gravado boa parte destas sonatas para a Philips ao longo da década de 1970, mas o amadurecimento das suas concepções sobre as sonatas resultou num ciclo que alguma crítica diz ser o único capaz de rivalizar com o de Schnabel, uma afirmação para ser tomada com um grão de sal, já que a riqueza das sonatas de Beethoven admite leituras variadas e igualmente satisfatórias, pelo que é tarefa vã tentar estabelecer hierarquias entre pianistas do gabarito de Kovacevich, Schnabel, Alfred Brendel, Paul Lewis ou Wilhelm Kempff.
[II andamento (Arietta: Adagio molto semplice e cantabile) da Sonata n.º 32 op.111, por Kovacevich:]
Às 32 sonatas “canónicas”, a caixa soma algumas peças raramente ouvidas: a Sonata para piano a 4 mãos op.6 e as três Sonatas WoO.47, compostas em 1783, quando Beethoven tinha 12 anos, e que são conhecidas como “Kurfürstensonaten” por terem sido dedicadas ao Príncipe-Eleitor (Kurfürst) de Colónia, Maximilian Friedrich, o primeiro patrão de Beethoven.
[I andamento (Allegro) da Kurfürstensonate n.º 3 WoO.47/3, por Rudolf Buchbinder:]
Outras obras para piano (CDs 26-32)
Muitos são os pianistas que gravaram as 32 sonatas, mas poucos, que muito poucos foram os que levaram a devoção por Beethoven ao ponto de gravar a sua obra completa para piano solo (juvenilia e miudezas incluídas). O austríaco Rudolf Buchbinder deu-se a esse trabalho entre o início da década de 1970 e o início da década de 1980, para a Teldec, e, naturalmente, é a ele que esta caixa recorre mais amiúde nos CDs 26-32.
Claro que há nestes sete CDs muita música irrelevante mas o génio pianístico de Beethoven não se esgotou nas sonatas: as 7 Bagatelles op.33 (1802), as 11 Bagatelles op.119 (1822), as 6 Bagatelles op.126 (1824) e as 33 Variações sobre um tema de Diabelli op.120 (1823) estão entre as suas peças mais inspiradas, pese embora o título algo derisório de “Bagatelas” e a génese pouco promissora das Variações Diabelli.
[Bagatelle op.126 n.º 4 (Presto), por Piotr Anderszewski:]
A caixa reparte as Bagatelles entre Georges Solchany (op.33), Stephen Kovacevich (op.119) e Piotr Anderszewski (op.126) e atribui as Variações Diabelli a Hans Richter-Haaser, sendo esta última uma opção inesperada, por Richter-Haaser (1912-1980) estar hoje muito esquecido e por no acervo Warner existir uma muito aclamada gravação desta obra por Piotr Anderszewski, realizada para a Virgin Classics em 2001, com qualidade de som muito superior ao registo de 1964 de Richter-Haaser para a EMI.
[Variação n.º 29 (Adagio, ma non troppo) das Variações Diabelli, por Hans Richter-Haaser:]
Sonatas para violino e piano (CDs 33-35)
Os arquivos da EMI contêm um registo integral das dez Sonatas para violino e piano por Pinchas Zukerman e Daniel Barenboim que é muito conceituado e tem sido alvo de numerosas reedições, mas a sua qualidade sonora nem sempre é a melhor, pelo que quem compre a caixa The complete works ficará a ganhar com a opção da Warner pela gravação de 2009 para a Erato por Renaud Capuçon e Frank Braley, com execução e som irrepreensíveis.
[II andamento (Adagio cantabile) da Sonata para violino e piano n.º 7 op.30/2, por Renaud Capuçon e Frank Braley:]
Sonatas para violoncelo e piano (CDs 36-37)
O catálogo EMI inclui uma gravação das obras para violoncelo e piano por Jacqueline Du Pré e Daniel Barenboim, ao vivo em 1970, e o catálogo Erato foi dilatado em 2016 com uma gravação por Gautier Capuçon (irmão do Renaud violinista) e Frank Braley, mas ambas têm qualidade sonora sofrível: a mais antiga tem um som pouco refinado e é perturbada pelo ruído do público; a mais recente enferma, inesperadamente, de uma captação distante e nebulosa (embora tenha sida efectuada numa sala com acústica reputada, no Schloss Elmau).
Não é pois de estranhar que a Warner tenha optado pelo registo de 1978 para a Teldec do violoncelista húngaro-americano János Starker e do pianista austríaco Rudolf Buchbinder. A escolha serve para recordar as qualidades de János Starker (1924-2013), cujas gravações estão hoje maioritariamente descatalogadas mas que foi um dos grandes violoncelistas do século XX: deu o primeiro concerto profissional aos 14 anos, sobreviveu miraculosamente à II Guerra Mundial em Budapeste (era judeu) e, após emigrar para os EUA em 1948, tornou-se num dos mais prestigiados violoncelistas do pós-guerra.
Como é usual, as cinco sonatas – n.º 1 & 2 op.5/1-2 (1796), n.º 3 op.69 (1808), n.º 4 & 5 op.102/1-2 (1815) – são complementadas pelas três séries de variações sobre as árias “Bei Männern, welche liebe fühlen” e “Ein Mädchen oder weibchen” (ambas de Mozart) e “See the conqu’ring hero comes” de “Judas Maccabeus” (de Handel).
[I andamento (Allegro con brio) da Sonata para violoncelo e piano n.º 5 op.102/2, por Starker e Buchbinder:]
Trios com piano (CDs 41-44)
A leitura das obras completas para trio para piano, violino e violoncelo por Daniel Barenboim, Pinchas Zukerman e Jacqueline Du Pré, efectuada em 1969-70 para a EMI, continua a reunir o favor da crítica. Percebe-se porquê escutando o II andamento do Trio n.º 5 op.70/1 “Geistertrio” (Trio dos espíritos), que poucas vezes soou tão nocturno, misterioso e “fantasmagórico”. A qualidade sonora é muito satisfatória, não deixando adivinhar que o registo já tem meio século de idade (o que nem sempre acontece com a música de câmara gravada pela EMI nesta época).
[II andamento (Largo assai ed espressivo), do Trio com piano n.º 5 op.70/1 “Geistertrio”, por Barenboim, Zukerman e Du Pré:]
Com o clarinetista Gervase de Payer no lugar de Zukerman, Du Pré e Barenboim gravaram também o popular Trio para clarinete, violoncelo e piano op.11 “Gassenhauer”.
Quartetos de cordas (CDs 48-54)
Os arquivos da Warner Classics estão muito bem servidos de gravações de referência dos 16 quartetos de cordas: entre os candidatos estariam o Quarteto Húngaro (num registo de 1953, inevitavelmente prejudicado pela qualidade de som), o Alban Berg Quartett (gravado em 1982-84 para a EMI), o Vermeer Quartet (gravado em 1984-89 para a Teldec) e o Endellion String Quartet (gravado em 2005-2008 para a Warner Classics). Somam-se a estas integrais as gravações parciais pelos históricos Pro Arte Quartet e Busch Quartet.
A opção dos compiladores foi, algo inesperadamente, para o não muito conhecido Artemis Quartet, que gravou as obras para a Virgin Classics, entre 1998 e 2011. O grupo, iniciou a integral para a Virgin Classics, entretanto incorporada na etiqueta Erato, e quer esta integral quer os seus outros discos têm recebido críticas consistentemente favoráveis, embora os Artemis não desfrutem de grande visibilidade junto do público em geral (a verdade é que os quartetos de cordas estão longe de ser o género mais popular do universo clássico).
[II andamento (Adagio affetuoso ed appassionato) do Quarteto n.º 1 op.18/1, pelo Artemis Quartet:]
Note-se que a constituição dos Artemis têm passado por substanciais alterações: começou por ser formado por professores da Universidade das Artes da Berlim e, quando do início das gravações da integral Beethoven incluía Natalia Prishepenko, Heime Müller (substituído por Gregor Sigl a partir de 2005), Volker Jacobson (substituído por Friedemann Weigle a partir de 2005) e Eckart Runge, mas as fileiras foram renovadas desde a conclusão da integral e, actualmente, destes membros só resta Gregor Sigl.
[I andamento (Poco adagio – Allegro) do Quarteto n.º 10 op.74 “Harpa”, pelo Artemis Quartet:]
A interpretação dos Artemis está ao nível de outros reputados intérpretes beethovenianos, como o Quartetto Italiano, o Takács Quartet, o Lindsay Quartet, o Emerson String Quartet, o Cuarteto Casals, o Tokyo String Quartet, o Quatuor Mosaïques ou o Quatuor Ébène, e tem a seu favor uma excelente qualidade de som (o que não é surpreendente se se souber que a maior parte do ciclo foi gravado no infalível Teldex Studio de Berlim). A única reserva que poderá pôr-se à integral pelos Artemis é que não é… integral.
[IV andamento (Alla danza tedesca) do Quarteto n.º 13 op.130, pelo Artemis Quartet:]
Ao longo da sua vida criativa, Beethoven foi tomando cada vez maiores liberdades e descartando convenções em uso no seu tempo, uma progressão que está bem patente nos seus quartetos de cordas. O n.º 13 op.130, composto em 1826, por exemplo, desenvolve-se não nos usais quatro andamentos mas em seis, sendo o último uma Grande Fuga (Grosse Fugue), cuja extensão (cerca de um quarto de hora), densidade polifónica e adstringência levaram o editor dos quartetos, a casa Artaria, a suplicar a Beethoven que compusesse um final alternativo, por recear (fundamentadamente!) que a Grande Fuga repelisse potenciais compradores da partitura, intimidados pela intensidade demoníaca e pelo alto nível técnico necessário para a execução. Beethoven acabou por aceder ao pedido e em Novembro de 1826 concluiu um VI andamento alternativo, um Allegro amável e de sabor popular, que não só está nos antípodas da Grande Fuga como é um seguimento desconcertante para o V andamento (uma Cavatina de sublime serenidade).
[V andamento (Cavatina) do Quarteto n.º 13 op.130, pelo Artemis Quartet:]
A casa Artaria, aliviada, publicou o Quarteto n.º 13 com esta nova disposição e a atormentada Grande Fuga foi editada à parte, como op.133. Ora, o Artemis Quartet decidiu, como outros intérpretes têm feito, repor as intenções iniciais de Beethoven, descartando o Allegro e inserindo a Grande Fuga no seu lugar – mas, ao contrário de outros intérpretes, não gravou o Allegro separadamente. Esta opção, embora legítima, deixou um “buraco” na integral, que a Warner poderia ter colmatado recorrendo a uma leitura do andamento por outro quarteto de cordas. Porém, não o fez – e é difícil de perceber que um Complete works que foi desenterrar as mais obscuras e anódinas peças que Beethoven escreveu, exclua um andamento de uma das mais famosas obras do compositor.
[Grande Fuga op.133, o VI andamento original do Quarteto n.º 13, pelo Artemis Quartet:]
Ópera (CDs 61-64)
A relação de Beethoven com o género operático não foi fácil: idealizou sucessivos projectos, considerou vários libretos, compôs algumas páginas de esboços, chegou a ter em vista uma parceria com Goethe, mas acabou por compor apenas uma ópera, e, ainda assim, esta nunca se lhe afigurou satisfatória, pelo que, ao longo de dez anos a submeteu a várias revisões, que foram suficientemente substanciais para justificar que a caixa The complete works inclua duas versões.
A primeira versão, intitulada Leonore, oder Der Triumph der ehelichen Liebe (Leonore, ou O triunfo do amor conjugal), estreou no Theater an der Wien, em Viena, a 20 de Novembro de 1805, com libreto de Joseph Sonnleitner a partir de um libreto de Jean-Nicolas Bouilly intitulado Léonore, ou L’amour conjugale, que já tinha sido musicado por vários compositores, como Pierre Gaveaux (1798), Ferdinando Paer (1804) e Simon Mayr (1805). A estreia da Leonore de Beethoven, cujo título o teatro alterou, nos cartazes e programa, para Fidelio, a fim de não se confundir com as Leonores precedentes, foi um fiasco, a que não será estranho o facto de, à data, Viena estar sob ocupação francesa – decorriam as Guerras Napoleónicas – e de a elite intelectual ter abandonado a cidade.
Beethoven foi persuadido pelos seus amigos e mecenas a fazer alguns cortes na partitura e acabou por empreender uma revisão que resultou na Leonore que estreou em Viena em 1806, com acolhimento um pouco melhor, mas que teve apenas duas récitas.
Foram necessários mais oito anos para que Beethoven concluísse uma nova revisão – já sob o título de Fidelio – que estreou no Kärntnertortheater de Viena a 23 de Maio de 1814. Desta feita, Fidelio conseguiu obter a adesão do público, de forma que a ópera foi reposta nesse mesmo ano em Praga e, no ano seguinte, em Leipzig, Dresden e Berlim, e ganhou difusão internacional a partir de 1819.
[“Mir ist so wunderbar”, de Fidelio, por Ingeborg Hollstein (Marzelline), Christa Ludwig (Leonore), Eberhard Büchner (Jaquino), Gottlob Frick (Rocco) e Philharmonia Orchestra, com direcção de Otto Klemperer:]
É esta 3.ª versão que costuma ser tocada e gravada e foi ela que o maestro Otto Klemperer dirigiu em 1962 para a EMI num registo de estúdio (na sequência de uma série de récitas em Covent Garden) com a Philharmonia Chorus & Orchestra e os solistas Christa Ludwig (Leonore), Jon Vickers (Florestan), Walter Berry (Don Pizarro), Gottlob Frick (Rocco) e Ingeborg Hollstein (Marzelline).
Ainda hoje é considerada como referência (não deverá ser confundida com a gravação ao vivo dirigida por Klemperer no Covent Garden em 1968 e editada pela Testament) e quem tenha, à partida, reservas quanto à qualidade sonora de uma gravação com 58 anos de idade, não tem razão para recear: a generosa acústica do Kingsway Hall realça a intensidade e grandiosidade imprimidas por Klemperer e a gravação tem apreciável definição.
[“Abscheulicher!”, de Fidelio, por Christa Ludwig (Leonore) e Philharmonia Orchestra, com direcção de Klemperer:]
A Leonore original de 1805 só regressou à vida por ocasião da passagem do centenário da sua estreia, pela mão de Richard Strauss, e tem, desde então, tido vida intermitente e discreta. Uma das versões mais estimadas (e que é a que faz parte desta caixa) é a que Herbert Blomstedt gravou em 1976 para a Berlin Classics, com Edda Moser (Leonore), Richard Cassilly (Florestan), Theo Adam (Don Pizarro), Karl Ridderbusch (Rocco), Helen Donath (Marzelline), o Rundfunkchor Leipzig e a Staatskapelle Dresden.
A Leonore de 1806 é um híbrido que tem merecido a atenção de poucos maestros.
[“Wer ein solches Weib errungen”, de Leonore (1805), na versão dirigida por Herbert Blomstedt:]
Missas (CDs 66 e 67)
Ao contrário dos mestres do Barroco e dos mestres do período Clássico que o precederam – Mozart e Haydn – Beethoven deixou escassa produção de música sacra: resume-se à oratória Christus am Ölberg (Cristo no Monte das Oliveiras), de 1803, à Missa em dó maior op.86 de 1807 e à Missa Solemnis op.123 de 1823.
A Missa de 1807 resultou de uma encomenda do antigo patrão de Joseph Haydn, o príncipe Nicolaus Esterházy II. Haydn, que servira os Esterházy durante décadas, compusera, entre 1796 e 1802, uma série de seis missas, ao ritmo de uma por ano, para celebrar o aniversário onomástico de Marie Hermenegild Esterházy, esposa de Nicolaus II. Porém, a deterioração do estado de saúde de Haydn impediu-o de continuar a assumir essa responsabilidade, pelo que o príncipe recorreu a outros compositores, como Johann Michael Fuchs e Johann Nepomuk Hummel – em 1807 coube a vez a Beethoven, mas o príncipe ficou muito desiludido com o resultado, manifestando o seu desagrado ao compositor em público e classificando a missa, numa carta, como “insuportavelmente ridícula e detestável”
Embora tenha ficado parcialmente ofuscada pela Missa Solemnis, a posteridade tem julgado a Missa de 1807 com menos severidade do que Nicolaus II, pelo que a obra tem sido regularmente tocada e gravada. Está representada nesta caixa pela versão dirigida por Carlo Maria Giulini em 1970, para a EMI, com Ally Ameling (soprano), Janet Baker (mezzo-soprano), Theo Altmeyer (tenor), Marius Rintzler (baixo) e a New Philharmonia Chorus & Orchestra.
[“Kyrie” da Missa em dó maior, pela New Philharmonia Chorus & Orchestra e Giulini:]
A Missa Solemnis teve por pretexto a nomeação, a 24 de Abril de 1819, do arquiduque Rodolfo (1788-1831) como Arcebispo de Olmütz (hoje Olomóc, na República Checa). Uma vez que Rodolfo tinha sido aluno (dotado) de piano e composição de Beethoven e era o seu mais generoso e fiel mecenas, o compositor, que já lhe tinha dedicado algumas das suas obras-primas, propôs-se escrever uma missa para a cerimónia de consagração do novo arcebispo, que teria lugar a 9 de Março de 1820. Porém, escoados 11 meses, Beethoven ainda labutava na missa e assim continuou durante mais três anos, com interrupções para trabalhar nas suas derradeiras sonatas para piano.
A missa acabou por estrear a 18 de Abril de 1824, não em Olmütz mas em São Petersburgo, sob os auspícios de outro mecenas de Beethoven, o príncipe Nikolai Galitzin (embora Beethoven a tivesse dedicado ao arquiduque Rodolfo). Quer a publicação da partitura quer a primeira apresentação integral da obra em território austro-germânico só tiveram lugar após a morte de Beethoven.
[“Kyrie” da Missa Solemnis, na versão de Otto Klemperer (1965):]
Ouvindo a Missa Solemnis, compreende-se a demora na sua composição: é uma obra que desafia as convenções da música sacra do seu tempo (a começar pelas dimensões vastas, que a tornam imprópria para fins litúrgicos) e que, ao mesmo tempo que se apoia na tradição (para a compor, Beethoven mergulhou no estudo do cantochão e da polifonia dos mestres flamengos da Idade Média e Renascença), se projecta no futuro. Beethoven estava consciente da magnitude da obra e em 1822, dois anos antes de terminá-la referia-se a ela como “a obra mais grandiosa que compus até agora”.
[I parte (“Gloria in excelsis Deo”) do “Gloria” da Missa Solemnis, na versão de Otto Klemperer (1965):]
A Missa Solemnis está seguramente entre os mais altos cumes da música sacra e não é de estranhar que tenha sido alvo de numerosas gravações por grandes maestros – no acervo da Warner Classics avultam as versões (ambas ao vivo) de Nikolaus Harnoncourt com o Coro Arnold Schoenberg e a Orquestra de Câmara da Europa, gravada para a Teldec em 1992, e de Daniel Barenboim com o Coro & Orquestra Sinfónica de Chicago, gravada para a Erato em 1993, mas os compiladores de The Complete Works inclinaram-se para a versão que Otto Klemperer registou em 1965 para a EMI com o New Philharmonia Chorus & Orchestra.
Não é a única versão por Klemperer disponível: há uma datada de 1951, em mono, para a Vox, e outra proveniente de uma transmissão radiofónica de um concerto em 1963, com a Philharmonia Orchestra (registo editado pela Testament), mas nenhuma delas tem qualidade sonora que faça justiça às colossais massas corais e orquestrais postas em movimento por Beethoven. Já a gravação de 1965 soa surpreendentemente fresca e límpida para os seus 55 anos e deixa ouvir na sua plenitude o New Philharmonia Chorus, que é um dos trunfos desta versão. O elenco solista, com Elisabeth Söderström (soprano), Marga Höffgen (contralto), Waldemar Kmentt (tenor) e Martti Talvela (baixo), tem sido encarado com reservas pela crítica que entende que os resultados não estão à altura dos pergaminhos dos cantores – embora estes dêem boa conta de si em passagens como o “Et incarnatus est”.
[III parte (“Et incarnatus est”) do “Credo” da Missa Solemnis, na versão de Otto Klemperer (1965):]
Canções (CDs 71-80)
Os Lieder são uma área que mesmo os apreciadores de Beethoven costumam negligenciar. É certo que a produção de Beethoven nesta área não é comparável, nem em qualidade média nem em quantidade, com a de Schubert, mas não faltam motivos de interesse entre os seus cerca de 90 Lieder, sobretudo no ciclo An die Ferne Geliebte (À bem-amada distante) op.96, composto em 1816 sobre textos de Alois Isidor Jeitteles, que tem, para mais, a particularidade de ser o primeiro ciclo de canções para voz e piano da autoria de um compositor de relevo.
[“Wo die Berge so blau”, Lied n.º 2 do ciclo An die Ferne Geliebte, por Olaf Bär (barítono) e Geoffrey Parsons (piano):]
Os Lieder de An die Ferne Geliebte estão à altura do que Schubert compunha pela mesma altura (e do que Schumann ou Brahms comporiam algumas décadas depois), mas ficaram ofuscados pela fama das sinfonias, dos quartetos e das sonatas para piano. Esta caixa é uma oportunidade para muitos descobrirem esta faceta menos conhecida do compositor, até porque são apresentados em leituras muito recomendáveis, por Olaf Bär com acompanhamento de Geoffrey Parsons, por Hermann Prey com acompanhamento de Gerald Moore ou Leonard Hokanson e por Dietrich Fischer-Dieskau com acompanhamento de Hartmut Höll.
[“Es kehret der Maien”, Lied n.º 5 do ciclo An die Ferne Geliebte, por Bär e Parsons:]
Faceta ainda mais obscura da produção de Beethoven são os seus arranjos de canções populares, que na edição The complete works preenchem (quase na íntegra) sete CDs. Estas 179 canções resultaram quase todas de encomendas efectuadas por George Thomson, um editor de Edinburgh e um apaixonado coleccionador e divulgador de música tradicional da Escócia (e das Ilhas Britânicas em geral), que fez encomendas análogas a Haydn e Hummel.
A atestar o escasso interesse a que estas canções têm despertado está o facto de toda a música nestes sete CDs ter sido gravada expressamente para este projecto, pois não estava representada nos arquivos da Warner Classics (infelizmente, a dicção e a pronúncia das interpretações deixam por vezes a desejar). Para quem nunca imaginou Beethoven associado a gaitas-de-foles e kilts, eis uma amostra, retirada das 25 Scottish songs op.108, a única colecção a que foi atribuído n.º de opus e que foi publicada em Edinburgh e Londres em 1818 e em Berlim quatro anos depois.
[“Bonny laddie, highland laddie”, n.º 7 das 25 Scottish songs op.108, por Natalie Pérez (mezzo-soprano), Alessandro Fagiuoli (violino) e Jean-Pierre Armengaud (piano):]
É também para isto que estas edições integrais servem: para nos revelar facetas surpreendentes de compositores sobre os quais julgávamos tudo saber.
Lista completa das obras na caixa Beethoven: The complete works
Nota: As datas junto das obras dizem respeito ao ano de conclusão da obra; as datas após a listagem de intérpretes dizem respeito ao ano de gravação das interpretações.
01-05: Sinfonias
n.º1 op.21 (1800), n.º2 op.36 (1802), n.º3 op.55 “Eroica” (1803), n.º4 op.60 (1806), n.º5 op.67 (1807), n.º6 op.68 “Pastorale” (1808), n.º7 op.92 (1812), n.º8 op.93 (1812), n.º9 op.125 (1824)a ● Charlotte Margionoa, Birgit Remmerta, Rudolf Schaschinga, Robert Holla, Arnold Schoenberg Chor (dir. Erwin Ortner)a, Chamber Orchestra of Europe, dir. Nikolaus Harnoncourt (1990-91 live, 5cd 73’59 + 69’37 + 73’45 + 71’06 + 66’44)
06-08: Concertos para piano
n.º1 op.15 (1795), n.º2 op.19 (1798), n.º3 op.37 (c.1800), n.º4 op.58 (1806), n.º5 op.73 “Imperador” (1809); Rondo p/ piano e orquestra WoO.6a; Concerto p/ piano op.61a (transcr. do Concerto p/ violino op.61)b ● András Schiff, Staatskapelle Dresden, dir. Bernard Haitink; Pierre-Laurent Aimard, Chamber Orchestra of Europe, dir. Nikolaus Harnoncourta; François-René Duchâble, Sinfonia Varsovia, dir. Yehudi Menuhinb (1996, 1999b, 2003a, 3cd 74’17 + 77’49 + 79’55)
09: Triplo concerto e Fantasia Coral
Triplo concerto p/ violino, violoncelo e piano op.56 (1804); Fantasia p/ piano, coro e orq. op.80 “Fantasia Coral” (1808)a; Concerto p/ piano WoO.4 (reconstr. Ronald Brautigan)b ● Itzhak Perlman, Yo-Yo Ma, Daniel Barenboim, Berliner Philharmoniker, dir. Daniel Barenboim; Luba Organosova, Maria Haid, Elizabeth von Magnus, Deon van der Walt, Robert Fontaine, Florian Boesch, Ricardo Luna, Arnold Schoenberg (dir. Erwin Ortner), Pierre-Laurent Aimard, Chamber Orchestra of Europe, dir. Nikolaus Harnoncourta; Ronald Brautigan, Norrköpping Symphony Orchestra, dir. Andrew Parrottb (1995 live, 2003a, 2008b, 78’04)
10: Obras para violino e orquestra
Concerto p/ violino op.61 (1806); Romances p/ violino e orquestra n.º 1 op.40 & n.º 2 op.50a; Concerto p/ violino WoO.5 (fragm.)b ● Itzhak Perlman, Philharmonia Orchestra, dir. Carlo Maria Giulini; Itzhak Perlman, Berliner Philharmoniker, dir. Daniel Barenboima; Sergiu Luca, The Rochester Philharmonic, dir. David Zinmanb (1980, 1981b, 1986 livea, 74’29)
11: Aberturas
Aberturas: “Coriolan” op.62 (1807)a, “Zur Namensfeier” op.115b, “Die Weihe des Hauses” op.124c, “Leonore” I op.138d, Introdução ao acto II de “Fidelio” WoO.2b (versão 1805)b; “Wellington’s Victory” op.91b; Marchas n.º 1 WoO.1e, n.º 2 WoO.19e & in C WoO.20e, Polonaise WoO.21f, Écossaise WoO.22f, Marcha WoO.23f ● Philharmonia Orchestra, dir. Otto Klemperera; Swedish Chamber Orchestra Örebro, dir. Thomas Dausgaardb; Philadelphia Orchestra, dir. Riccardo Mutic; Staatskapelle Berlin, dir. Daniel Barenboimd; The London Baroque Ensemble, dir. Karl Haase; Zentrales Orchester der Nationalen Volksarmee, dir. Gerhard Baumannf (1957a, 1958e, 1970f, 1985c, 1999d, 2002-05b, 71’43)
12-14: Música para teatro e bailado
“Egmont” op.84a; “Die Ruinen von Athen” op.113b; “Die Weihe des Hauses”c ● Sylvia McNair, Neumar Starling, Vladimir de Kanell, Bryn Terfel, Will Quadflieg, Bruno Ganz, New York Philharmonic Orchestra, dir. Kurt Masura; Berliner Konzertchor, Berliner Symphoniker, dir. Hans-Hubert Schönzlerbc; Rundfunkchor Berlin (dir. Dietrich Knothe), Berliner Philharmoniker, dir. Claudio Abbadobc (1970 (Schönzler), 1992 livea, 1994 (Abbado), 79’08)
“König Stephan” op.117a, “Musik zu einem Ritterballet” WoO.1b, “Triumphmarsch” WoO.2ac, Insert arias WoO.91d, “Germania” WoO.94e, “Est ist vollbracht” WoO.97e, “Leonore Prohaska” WoO.96f, “Gesang der Mönche” WoO.104g ● Dietrich Fischer-Dieskau, Boris Aljinovicz, Helmut Rühl, Frank-Thomas Mende, Ulrike Jakwerth, Coro & Orchestra dell’Academia Nazionale di Santa Cecilia, dir. Myung Whun Chunga; Swedish Chamber Orchestra Örebro, dir. Thomas Dausgaardb; Philharmonia Hungarica, dir. Hans Ludwig Hirschc; Hanne-Lore Kuhse, Eberhard Büchner, Staatskapelle Berlin, dir. Artur Apeltd; Gerald Finley, BBC Singers, BBC Symphony Orchestra, dir. Andrew Davise; Sylvia McNair, Karoline Eichhorn, Rundfunkchor Berlin (dir. Dietrich Knothe), Berliner Philharmoniker, dir. Claudio Abbadof; Joachim Vogt, Günther Beyer, Siegfried Hausmanng (1972d, 1975c, 1976g, 1994f, 1996ae, 1998b, 81’02)
“Die Geschöpfe des Prometheus” op.43 ● Chamber Orchestra of Europe, dir. Nikolaus Harnoncourt (1993, 68’30)
15-16: Danças
“Gratulationsmenuett” WoO.3, “12 Menuette WoO.7, 12 Deutsche Tänze WoO.8, 6 Ländlerische Tänze WoO.15a ● Philhamonia Hungarica, dir. Hans Ludwig Hirsch; Consortium Classicum (Werner Grobholz, Dietmar Forster, Helmar Stiehler)a (1975, 1976a, 61’55)
6 Menuette WoO.9, 6 Menuette WoO.10, 12 Contretänze WoO.14, Mödlinger Tänze WoO.17a ● Philhamonia Hungarica, dir. Hans Ludwig Hirsch; Consortium Classicuma (1975, 1976a, 63’38)
17-25: Sonatas para piano
n.º1 op.2/1, n.º2 op.2/2, n.º3 op.2/3 (1795), n.º4 op.7 (1797), n.º5 op.10/1, n.º6 op.10/2, n.º7 op.10/3 (1795-8), n.º8 op.13 “Pathétique” (1798), n.º9 op.14/1, n.º10 op.14/2 (1798-9), n.º11 op.22 (1800), n.º12 op.26 (1801), n.º13 op.27/1 “quasi una fantasia”, n.º14 op.27/2 “Moonlight” (1801), n.º15 op.28 “Pastoral” (1801), n.º16 op.31/1, n.º17 op.31/2 “The tempest”, n.º18 op.31/3 (1802), n.º19 op.49/1, n.º20 op.49/2 (1795-7), n.º21 op.53 “Waldstein” (1804), n.º22 op.54 (1804), n.º23 op.57 “Appassionata” (1805), n.º24 op.78 (1809), n.º25 op.79 (1809), n.º26 op.81a “Les Adieux” (1810), n.º27 op.90 (1814), n.º28 op.101 (1816), n.º29 op.106 “Hammerklavier” (1818), n.º30 op.109 (1820), n.º31 op.110 (1822), n.º32 op.111 (1822)a; Sonata p/ piano a 4 mãos op.6b; Sonatas WoO.47 “Kurfürstensonaten” n.º 1c, 2d e 3e ● Stephen Kovacevicha; Doomin Kim & Guillaume Vincentb; Guillaume Vincentcd; Rudolf Buchbindere (1977e, 1992-2003a, 2019bcd, 9cd 61’30 + 75’04 + 70’05 + 70’35 + 78’06 + 78’10 + 67’38 + 60’38 + 81’27)
26-32: Outras obras para piano
7 Bagatelles op.33 (1802)a, 11 Bagatelles op.119 (1822)b, 6 Bagatelles op.126 (1824)c; Presto WoO.52d, Allegretto WoO.53d, Bagatelle WoO.56d, “Für Elise” WoO.59d, Lustig-Traurig WoO.54e, Ziemlich lebhaft WoO.60e, 4 Bagatelles WoO.213f, Allegretto WoO.214e, Bagatellen WoO.216/1 & 2e; Sonatina WoO.50e ● Georges Solchanya, Stephen Kovacevichb, Piotr Anderszewskic, Rudolf Buchbinderd, Doomin Kime, Aurélien Pontierf (1969a, 1977d, 2001b, 2007c, 2019ef, 79’34)
6 Variações sobre um tema original op.34a, 6 Variações sobre um tema de “Die Ruinen von Athen” op.76a, 33 Variações sobre um tema de Diabelli op.120 (1823)b, 2 Peças WoO.51c ● Georges Solchanya, Hans Richter-Haaserb, Tobias Kochc (1963b, 1969b, 2013c, 77’39)
9 Variações sobre um tema de Ernst Christoph Dressler WoO.63, 6 Variações sobre uma canção suíça WoO.64, 24 Variações sobre a arieta “Venni amore” de Vincenzo Righini WoO.65, 13 Variações sobre a arieta “Es war einmal ein elter Mann” de Karl Ditters von Dittersdorf WoO.66, 12 Variações sobre o “Minuet à la Vigano” do bailado “Le nozze disturbate” de Jakob Haibel WoO.68 ● Rudolf Buchbinder (1976, 67’50)
9 Variações sobre “Quantt’e più bello” da ópera “La molinara” de Paisiello WoO.69, 6 Variações sobre o dueto “Nel cor più non mi sento” da ópera “La molinara” de Paisiello WoO.70, 6 Variações sobre a dança russa do bailado “Das Waldmadchen”, de Wranitzky WoO.71, 8 Variações sobre o romance “Une fièvre brûlante” da ópera “Richard Couer de Lion” de Grétry WoO72, 10 Variações sobre o dueto “La stessa, la stessissima” da ópera “Fakstaff” de Salieri WoO.73, 7 Variações sobre o quarteto “Kind, willst du ruhig schlafen” da ópera “Das unterbrochene Opferfest” de Winter WoO.75, 8 Variações sobre o trio “Tändeln und scherzen” da ópera “Soliman II” de Süßmayr WoO.76, 6 Variações sobre um tema original WoO.77, Andante WoO.57 “Andante favori” ● Rudolf Buchbinder (1976, 75’20)
7 Variações sobre “God save the King” WoO.78, 5 Variações sobre “Rule Britannia” WoO.79, 32 Variações sobre um tema original WoO.80, 8 Variações sobre a canção “Ich hab ein Kleines Hüttchen nut” WoO. Anh.10, 15 Variações com fuga op.35a, Variações p/ piano a 4 mãos sobre um tema do conde Waldstein WoO.67b, Lied com variações p/ piano a 4 mãos “Ich denke dein” WoO.74b, Rondos WoO.48 e WoO.49c ● Rudolf Buchbinder, Cyprien Katsarisa, Doomin Kim & Guillaume Vincent, Doomin Kimc (1976, 1989a, 2019bc, 76’58)
2 Rondos op.51, Fantasia op.77, Polonaise op.89, Rondo a capriccio op.129 “Die Wut über den verlornen Groschen”a, 3 Marchas p/ piano a 4 mãos op.45b, Grosse Fugue p/ piano a 4 mãos op.134 (arr. de op.133)b ● Rudolf Buchbinder, Aurélien Pontiera, Doomin Kim & Guillaume Vincentb (1976, 2019ab, 78’30)
7 Ländler WoO.11, 12 Deutsche Tänze WoO.13, Fuga WoO.31, Peças p/ relógio mecânico WoO.33a & WoO.33ba, Prelúdio WoO.55, 2 Cadenzas para o Concerto p/ piano K.466 de Mozart WoO.58b, Allegretto WoO.61, Allegretto quasi andante WoO.61ac, Allemande WoO.81, Minueto WoO.82, 6 Écossaises WoO.83, Valsas WoO.84 & WoO.85, Écossaise WoO.86, Andante WoO.211c, Anglaise WoO.212, Fuga a 3 vozes WoO.215, Minuetos WoO.217 & WoO.218, Valsa WoO.219, Exercícios para piano Hess.58 & Hess.59, 2 Deutsche Tänze Hess.67 ● Aurélien Pontier ou Doomin Kim, Hans-Ola Ericssona, Annie Fischerb, Rudolf Buchbinderc (1959b, 1976c, 1993a, 2019, 75’59)
33-35: Sonatas para violino e piano
n.º 1-3 op.12/1-3 (1798), n.º4 op.23 (1800), n.º 5 op.24 “Frühling” (1801), n.º6-8 op.30/1-3 (1802), n.º 9 op.47 “Kreutzer” (1803), n.º 10 op.96 (1812) ● Renaud Capuçon, Frank Braley (2009, 3cd 71’40 + 77’45 + 73’46)
36-37: Sonatas para violoncelo e piano
n.º 1 & 2 op.5/1-2 (1796), n.º 3 op.69 (1808), n.º 4 & 5 op.102/1-2 (1815); 7 Variações sobre “Bei Männern, welche liebe fühlen” WoO46 (c1801), 12 Variações sobre “Ein Mädchen oder weibchen” op.66 (1797), 12 variações sobre “See the conqu’ring hero comes” de “Judas Maccabeus” WoO45 ● János Starker, Rudolf Buchbinder (1978, 2cd 79’16 + 69’34)
39-40: Outros duos
6 Temas & variações p/ flauta e piano op.105, 10 Temas & variações p/ flauta e piano op.107 ● Wolfgang Schulz & Rudolf Buchbinder (1976, 71’22)
Allegro & Minueto p/ 2 flautas WoO.26a, 6 Deutsche Tänze p/ violino e piano WoO.42b, Sonatinas p/ bandolim e cravo WoO.43a e WoO.44ac, Adagio p/ bandolim e cravo WoO43bc, Variações p/ bandolim e cravo WoO.44bc, Notturno p/ viola e piano op.42 (arr. da Serenata p/ violino, viola e violoncelo op.8 por F.X. Kleinheinz)d, 12 Variações p/ violino e piano sobre “Se vuol ballare” de “Le nozze di Figaro” de Mozart WoO.40e, Allegro WoO.34f, Peça Breve WoO.35f ● Frans Vester & Martine Bakkera; Werner Grobholz & Werner Genuitb; Maria Scivittaro & Robert Veyron-Lacroixc; Gérard Caussé & François-René Duchabled; Mathilde Potier & Aurélien Potiere; Clémence Dupuy & Jordan Costardf (1966a, 1969b, 1976c, 1994d, 2019e, 78’22)
41-44: Trios com piano
n.º 1-3 op.1/1-3 (1795), n.º 5 op.70/1 “Geistertrio” (1808), n.º 6 op.70/2 (1808), n.º 7 op.97 “Arquiduque” (1811), n.º 8 WoO38 (c.1790-91), n.º 9 WoO39 (1812), n.º 10 (14 variações sobre um tema original) op.44 (1792-93), n.º 11 (10 Variações sobre “Ich bin der Schneider Kakadu”) op.121a (c.1815-16), Allegretto WoO.39, Allegretto Unv.9a; Trio p/ clarinete, violoncelo e piano op.11 “Gassenhauer”b; Trio p/ clarinete, violoncelo e piano op.38c (arr. do Septeto op.20 por Beethoven) ● Daniel Barenboim, Pinchas Zukerman, Jacqueline du Préa; Gervase de Payer, Jacqueline du Pré, Daniel Barenboimb; Paul Meyer, Claudio Bohórquez, Éric Le Sagec (1969-70a, 1970b, 2017c, 78’22)
45-46: Trios de cordas
op.3 (c.1792, pub.1797) & op.9 n.º 1-3 (1798); Serenata p/ trio de cordas op.8 (c.1796-97) ● Itzhak Perlman, Pinchas Zukerman, Lynn Harrell (1989 live, 2cd 69’24 + 73’12)
47: Outra música de câmara
Serenata p/ flauta, violino e viola op.25a, Trio p/ 2 oboés e cor anglais op.87b, 8 Variações p/ 2 oboés e cor anglais sobre “Là ci darem la mano” WoO.28c, Trio concertante WoO.37d ● Michel Debost, Gérard Jarry, Serge Collota; André François, Robert G. Casier, Étienne Baudob; Marc Schachman, John Abberger, Lani Spahrc; Les Vents Français (Emmanuel Pahud, Gilbert Audin, Éric Le Sage)d (1961b, 1970a, 1999c, 2016d, 78’41)
48-54: Quartetos de cordas
n.º 1-6 op.18 n.º 1-6 (1800), n.º 7-9 op.59 n.º 1-3 “Razumovsky” (1806), n.º 10 op.74 “Harpa” (1809) & n.º 11 op.95 “Serioso” (1810), n.º 12 op.127 (1825), n.º 13 op.130 (1826), n.º 14 op.131 (1826), n.º 15 op.132 (1825), Grande Fuga op.133 (1826), n.º 16 op.135 (1826); Quartetos de cordas Hess.34 (arr. da Sonata p/ piano op.14/1 por Beethoven) ● Artemis Quartet (Natalia Prishepenko, Gregor Sigl, Friedemann Weigle, Eckart Runge) (1998-2011, 7cd 80’22 + 79’27 + 74’09 + 79’47 + 74’18 + 59’04 + 73’59)
55-60: Outra música de câmara
Allegretto p/ quarteto de cordas “Pencarrow” WoO.201, Prelúdios & Fugas p/ quarteto de cordas Hess.30 e Hess.31, Minueto p/ quarteto de cordas WoO.209a; Quartetos c/ piano op.16b e WoO.36 n.º 1c ● Endellion String Quartet (Ralph de Sousa, Andrew Watkinson, Garfield Jackson, David Waterman)a; Salvatore Accardo, Luciano Moffa, Umberto Eggadi, Lodovico Lessonab; Quartetto Beethoven (Félix Ayo, Alfonso Ghedin, Enzo Altobelli, Carlo Bruno)c (1969b, 1977c, 2005-08a, 61’07)
Quartetos c/ piano WoO.36 n.º 2a & n.º 3b; 3 Aequale p/ 4 trombones WoO.30c ● Alissa Margulis, Lyda Chen, Mark Drobinsky, Karin Lechnera; Renaud Capuçon, Lyda Chen, Gautier Capuçon, Martha Argerichb; Triton Trombone Quartet (Olaf Ott, Ulrich Dieckmann, Ulrich Behrends, Hermann Baume)c (1993c, 2005 liveb, 2007 livea, 41’24)
Duos p/ clarinete e fagote WoO.27 n.º 1-3, Octeto p/ sopros op.103a, Rondino p/ octeto de sopros WoO.25a ● Kazunori Seo & Mitsuo Kodama; Melos Ensemblea (1969ª, 2016, 71’17)
Quinteto de cordas op.4a, Quinteto p/ piano e sopros op.16b, Quinteto p/ sopros WoO.208c ● Endellion String Quartet & David Adamsa; Les Vents Français & Éric Le Sageb; Ad Mater, Brian Pollard, Hermann Baumann, Adriaan van Woudenberg, Werner Meyendorfc (1969c, 2008a, 2014b, 71’17)
Quinteto de cordas op.29 “Tempestade”, Fuga p/ quinteto de cordas op.137; Prelúdio & Fuga p/ quinteto de cordas Unv.7 (fragm.); Quinteto de cordas op.104a ● Endellion String Quartet (Ralph de Sousa, Andrew Watkinson, Garfield Jackson, David Waterman) & David Adams; Fine Arts Quartet (Ralph Evans, Efim Boico, Chauncey Patterson, Wolfgang Laufer) & Gil Shahama (2008, 70’57)
Sexteto p/ sopros op.71a; Sexteto p/ 2 violinos, viola, violoncelo e 2 trompas op.81bb; Marcha p/ sopros WoO.29b, Septeto p/ sopros e cordas op.20b ● André Boutard, Henri Boutard, Gérard Faisandier, André Dhellemmes, Michel Bergès, Georges Barboteua; Melos Ensembleb (1961a, 1969-70b, 78’48)
62-64: Ópera
Ópera “Fidelio” op.72; Overtura “Leonore” n.º 3 op.72ba ● Christa Ludwig, Jon Vickers, Walter Berry, Gottlob Frick, Ingeborg Hollstein, Gerhard Unger, Franz Crass, Kurt Wehofschitz, Raymond Wolanski, Philharmonia Chorus & Orchestra, dir. Otto Klemperer (1962, 1963a, 2cd 76’15 + 76’15)
Ópera “Leonore” Hess.109 (versão de 1805) ● Edda Moser, Richard Cassilly, Theo Adam, Karl Ridderbusch, Helen Donath, Eberhard Büchner, Hermann Christian Polster, Reiner Goldberg, Siegfried Lorenz, Rundfunkchor Leipzig (dir. Horts Neumann), Staatskapelle Dresden, dir. Herbert Blomstedt (1976, 2cd 77’20 + 78’19)
65: Oratória
Oratória “Christus am Ölberge” op.85 ● Cristina Deutekom, Nicolai Gedda, Hans Sotin, Philharmonischer Chor der Stadt Bonn, Chor des Theaters der Stadt Bonn (dir. Theodor Scheer), Orchester der Beethovenhalle Bonn, dir. Volker Wangenheim (1970, 55’20)
66-67: Missas
Missa Solemnis op.123 (1823) ● Elisabeth Söderström, Marga Höffgen, Waldemar Kmentt, Martti Talvela, New Philharmonia Chorus (dir. Wilhelm Pitz) & Orchestra, dir. Otto Klemperer (1965, 55’20)
Missa em C op.86 (1807) ● Ally Ameling, Janet Baker, Theo Altmeyer, Marius Rintzler, New Philharmonia Chorus (dir. Wilhelm Pitz) & Orchestra, dir. Carlo Maria Giulini (1970, 48’35)
68-69: Cantatas
Cantatas “Meerestille und glückliche Fahrt” op.112 (1814-5)a; “Sanft wie du lebtest” op.118b; “Die Flamme lodert” op.121bc; “In allen gutten Stunden” op.122c, Cantata “Der glorreiche Augenblick” op.136d ● Audrey Michael, Lilia Bizimeche-Eisinger, Markus Schäfer, Michel Brodard, Coro & Orquestra Gulbenkian, dir. Michel Corboza; Collegium Musicum 90, dir. Richard Hickoxb; Adele Stolte, Ingeborg Springer, Gertraud Prenzlow, Berlin Radio Choir (Ehjm Kurzwerg), Berlin Radio Symphony Orchestra, dir. Helmut Kohlc; Claire Rutter, Matilde Wallevik, Peter Hoare, Stepehn Gadd, Westminster Boys’s Choir; City of London Choir, Royal Philharmonic Orchestra, dir. Hilary Davan Wettond (1969c, 1988a, 2002b, 2011d, 60’18)
Cantata “Auf den Tod Kaiser Joseph II” (Cantata fúnebre para o imperador Joseph II WoO87) WoO.87 (1791)a; Cantata “Auf die erhebung Leopolds II zur Kaiserwürde” WoO88 (Cantata para a subida ao trono do imperador Leopold II) WoO88 (1790)b; Coro “para os príncipes aliados” “Ihr weisen Gründerc; “Un lieto brindisi” WoO.103d; “Hochzeitslied” WoO.105e; Cantata de aniversário para Lobkowitz WoO.106f ● Nadine Denize, Robert Gierlach, Krakow Philharmonic Choir & Orchestra, dir. Jean-Paul Penina; Christine Schäfer, Ulrike Helzel, Clemens Bieber, Victor von Halem, Chor & Orchester den Deutschen Oper Berlin, dir. Christian Thielemannb; Chamber Choir of Europe, Nicol Mattc; Barbara Emilia Schedel, Daniel Schreiber, Rainer Tetenberg, Michael Wagnerd; Dania El Zein, Natalie Pérez, Vincent Lièvre-Picard, Jean-François Rouchon, Jean-Pierre Armengaude; Pamela Coburn, Heinrich Schütz-Kreis, Wolfgang Matkowitz, Leonard Hokansonf (1987-89f, 1992-93a, 1996b, 2007cd, 2019e, 78’09)
70: Árias orquestrais
“Ah! Perfido” op.65ª; “Prüfung des Küssens” WoO.89, “Mit Mädeln sich vertragen” WoO.90b; “Tremate, empi, tremate” op.116, “Primo amore” WoO.92, “No, non turbati” WoO.92ª, “Ne’ giorni tuoi felici” WoO.93c ● Karita Mattila, Staatskapelle Dresden, dir. Colin Davisa; Thomas Hampson, Concentus Musicus Wien, dir. Nikolaus Harnoncourtb; Hanne-Lore Uhse, Eberhard Büchner, Siegfried Vogel, Staatskapelle Berlin, dir. Arthur Apeltc (1971c, 2001a, 2003b, 60’51)
71-73: Lieder
“Adelaide” op.46 (1794-5), “An die Hofnung” I op.32 & II op.94, “Der Kuss” op.128, 6 Lieder op.48, 8 Lieder op.52, 4 Ariettas & a Duet op.82, Trinklied “Erhebt das Glas mit froher Hand” WoO.109, Punschlied WoO.111, “Que le temps me dure” WoO.116, “O care selve” WoO.119, “An die Geliebte” WoO.140 ● Olaf Bär & Geoffrey Parsons; Hermann Prey & Gerald Moore ou Leonard Hokanson; Dietrich Fischer-Dieskau & Hartmut Höll; Dania El Zein, Natalie Pérez, Vincent Lièvre-Picard, Jean-François Rouchon, Jean-Pierre Armengaud (1961-2019, Warner Classics, 72’51)
6 Lieder op.75, “Schilderung eines Mädchen” WoO.107, “Selbstgespräch” WoO.114, 2 Lieder WoO.118, “Zärtliche Liebe” WoO.123, “La partenza” (“Der Abschied”) WoO.124, Opferlied “Die Flamme lodert” WoO.126, “Plaisir d’aimer” WoO.128, “Der Wachtelschlag” WoO.129, “Gedenke mein” WoO.130, “Als die Geliebte sich trennen Wollte” WoO.132, Arietta “In questa tomba oscura” WoO.133, “Die laute Klage” WoO.135, “Andenken” WoO.136, “Gesang aus der Ferne” WoO.137, “Der Jüngling in der Fremde” WoO.138, “Der liebende” WoO.139, “Der Bardengeist” WoO.142, “Das Geheimnis” (Liebe und Wahrheit) WoO.145, “Sehnsucht” III WoO.146, “Ruf vom Berge” WoO.147, “Resignation” WoO.149, “Abendlied unterm gestirnten Himmel” WoO.150 ● Natalie Pérez & Jean-Pierre Armengaud; Dietrich Fischer-Dieskau & Hartmut Höll; Pamela Coburn & Leonard Hakanson (1982, 1984, 1987-89, 2019, Warner Classics, 71’21)
3 Lieder op.83a, “An die ferne Geliebte” op.98a, “Das Glück der Freundschaft” (Lebensglück) op.88a; “Der Mann von Wort” WoO.108, “Merkenstein” II op.100, “An einen Säugling” WoO.108, “Elçegie auf den Tod eines Pudels” WoO.110, “An Laura” WoO.112, “Klage” WoO.113, “An Minna” WoO.115, “Que le temps me dure” WoO.116, “Der freie Mann” WoO.117, “Man strebt, die Flamme zu verhehlen” WoO.120, “Abschiedsgesang an Wiens Bürger” WoO.121, “Kriegslied der Österreicher” WoO.122, “La Tiranna” WoO.125, “Neue Liebe, neues Leben” I WoO.127, Sehnsucht” I WoO.134, “der Gesang der Nachtigall” WoO.141, “Des Kreiegers Abschied” WoO.143, “Merkenstein” I WoO.144, “So oder so” WoO.148, “Der edle Mensch sei hilfreich und gut” WoO.151 ● Olaf Bär & Geoffrey Parsonsa; Dania El Zein, Karen Wierzba, Natalie Pérez, John Bernard, Vincent Lièvre-Picard, Jean-François Rouchon, Jean-Pierre Armengaud (1992a, 2019, 71’21)
74-80: Arranjos de canções tradicionais
25 Canções Escocesas op.108; 63 Canções Irlandesas Partes I WoO.152, II WoO.153, III WoO.154; 26 Canções Galesas WoO.153, 22 Canções Escocesas WoO.156; 4 Canções Inglesas WoO.157; 29 Canções de várias nações WoO.158; Canções Polifónicas Italianas WoO.99; “O Hoffnung” WoO.200, “Abschiedsgesang” WoO.102a; Cânones & Brincadeiras Musicaisb ● Juliette Alan, Karen Wierzba, Dania El Zein, Natalie Pérez, John Bernard, Vincent Lièvre-Picard, Jean-François Rouchon, Alessandro Fagiuoli, David Petrlik, Andrea Musto, Max Kim, Jean-Pierre Armengaud; Joachim Vogt, Günther Beyer, Siegfried Hausmanna; Accentusb (1976a, 2019, 7cd 75’13 + 78’06 + 76’22 + 69’36 + 67’14 + 66’58 + 76’51)